O dramaturgo russo Anton Tchekhov é um dos maiores poetas do teatro de todos os tempos. E não precisa ser especialista nas suas obras-primas, como A gaivota, Tio Vânia, As três irmãs e O jardim das cerejeiras para se deixar tocar pela vida que pulsa em suas palavras. A história de amor do dramaturgo e da atriz Olga Knipper é tão tocante que pode provocar lágrimas. Com marcações simples, a força do texto desperta sentimentos diante daquele homem numa situação penosa.
A base do espetáculo são as mais de 400 cartas trocadas entre o escritor e sua atriz preferida, uma das estrelas do Teatro de Arte de Moscou. Com ela, o escritor viveu seus seis últimos anos de vida. Mas devido à doença pulmonar, Tchekhov passava longas temporadas longe de Moscou e da esposa.
A montagem que esteve no último Festival Recife do Teatro Nacional tem dramaturgia de Carol Rocamora, tradução e adaptação e direção de Leila Hipólito. No elenco Roberto Bomtempo e Miriam Freeland, casados na vida real. Ele no papel de Tchecov e ela no de Olga. Ela, jovem e apaixonada; ele velho e apaixonado. O tom é de delicadeza e a iluminação de Maneco Quinderé contribui para isso. A cenografia de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque compõe com engenhosidade um espaço de permanência e de passagem, camarim, casa, escritório.
Tomo suas mãos nas minhas opera numa clave que emociona . A diretora opta por uma contracenação à distância quando um lê a carta e outro responde – suprimindo o tempo da espera da correspondência – mas sem se olharem frente a frente. E no contato direto, quando eles estão juntos. A história é linda e dramática. E ganha contornos mais emocionais quando é agravada a doença do escritor.