O Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) é gigantesco, com vários polos nas mais diversas linguagens, da música às artes visuais, do cinema à cultura popular. Passando por patrimônio, literatura, fotografia e artes cênicas. Durante dez dias do mês de julho, esse evento consolidado, e que já conta um quarto de século, atrai gente de todo o Brasil interessada na programação artística gratuita, na gastronomia, nas iniciativas educativas e no friozinho que confere um charme especial a essa cidade do Agreste pernambucano.
Com tantos predicados e um público faminto por consumir arte e cultura, a programação da 25ª edição FIG surpreendeu, frustrou e deixou indignada a classe teatral do Recife e de outras cidades do estado: nenhum espetáculo de teatro adulto de Pernambuco foi selecionado para participar do evento. A única peça de teatro adulto de Pernambuco que entrou nessa grade foi Frei Molambo, de Marcelo Francisco, mas na cota de Garanhuns (do mesmo modo como acontece com a música na Praça Dominguinhos, que sempre traz uma atração da cidade).
Já na categoria para infância e juventude, as três peças que compõem a programação são pernambucanas: Era Uma Vez Um Rio, da Cênicas Cia de Repertório; Haru – A Primavera do Aprendiz, de Carla Souza Navarro; e Salada Mista, da Cia 2 em Cena. Cafuringa, de José Alexandre Menezes de Andrade, também de Pernambuco, foi para a grade de teatro de rua.
Teatro adulto – A programação de teatro adulto do FIG este ano é composta por cinco espetáculos do Rio de Janeiro (Gonzagão, A Lenda, da Companhia A Barca dos Corações Partidos; Oleanna, de Pasodarte Eventos; As Bondosas, da Cia. SOS de Teatro Investigativo; O Pastor, do Cine Teatro Produções e No Buraco, Etc e Tal Produção Cultural), um da Paraíba (Quincas, do Grupo de Teatro Osfodidário,), um do Rio Grande do Norte (Jacy, Grupo Carmin) um do Rio Grande do Sul (GPS Gaza, Cia. de Solos e Bem Acompanhados) e o já citado Frei Molambo, de Pernambuco.
A questão é delicada: não se pode pensar em barrar os bons espetáculo nacionais. E, este ano, as peças até agora tem mostrado ótima qualidade, a exemplo de Gonzagão, A Lenda; Jacy; Quincas e Oleanna. Mas o questionamento também é inevitável. Se o FIG tem todo esse destaque – até o governador faz questão de dizer que o festival valoriza a cultura pernambucana -, como não incluir os pernambucanos?! Os grupos teatrais do estado se sentiram desvalorizados. Com a dificuldade de circular pelo estado, é também uma oportunidade perdida de ver produções ganharem outros públicos.
Convocatória – A seleção de propostas para o 25º Festival de Inverno de Garanhuns – FIG 2015 foi feita através de uma Convocatória Nacional. Esse edital previa a composição da programação cultural com “oficinas, shows, cortejos, performances, intervenções, recitais, vivências criativas, espetáculos, palestras, debates, exposições, mostras, encontros, ações de patrimônio cultural e outras atividades artístico-culturais”.
As propostas inscritas foram avaliadas em duas etapas: a primeira – Análise Preliminar (eliminatória), realizada por equipes técnicas da Secult-PE/Fundarpe; a segunda etapa – Análise de Mérito Artístico-Cultural (classificatória e eliminatória), consiste na avaliação do conteúdo das propostas habilitadas. A Comissão de Análise de Mérito de atividades artístico-culturais de fruição de teatro foi formada por Jorge Clésio e Wellington Júnior, indicados pela Secult-Pe; e Carlos Lira e Ronaldo Lopes Brissant, representantes da sociedade civil.
As 87 propostas aprovadas na Análise de Mérito Artístico-Cultural estão listadas por ordem alfabética. O arquivo está disponível no site Cultura.pe. A tabela inclui tanto espetáculos adultos quanto infantis.
Das propostas para teatro adulto do Recife ou de outras cidades de Pernambuco, nenhuma entrou na programação. Identificamos como pernambucanos ao menos 13 espetáculos (a lista não diz a procedência de cada obra): Abraço – Nunca Estaremos Sós, de Lívia Rodrigues Lins; Auto da Compadecida, do Teatro Experimental de Arte – Tea; A Mandrágora, de Galharufas Produções (Taveira Belo LTDA); A Visita, de José Severino Florêncio de Souza; A Receita, d’O Poste Soluções Limitadas; Borderline, de José Barbosa Neto; Em Nome do Pai, da Rec Produtores Associados; Madleia + Ou – Doida, de Henrique Celibi; Matheus e Catirina – 25 Anos de Munganga, de José Brito do Nascimento; O Pranto De Maria Parda, de José Gilberto Bezerra De Brito; Obscena, Um Encontro Com Hilda Hilst, de Fabiana Pirro; Senhora de Engenho Entre a Cruz a Torá, de Patrícia Assunção de Souza e Tapioca, de Bóris Trindade Júnior.
Debate – O questionamento dos produtores é, justamente, se nenhuma dessas encenações mereceria estar no FIG. O produtor Taveira Júnior, de A Mandrágora (Galharufas Produções) considerou a programação do Festival muito ruim, porque contemplou tão somente espetáculos de fora de Pernambuco. “Achei sem identidade com o povo pernambucano que é quem, na verdade, paga o Festival. Minha surpresa maior não foi não constar na lista, e sim saber que uns cem números de espetáculos locais e de qualidade não estavam presentes na mesma, sob a alegação de que não houve pontuação mínima”, argumentou Taveira.
“Acho que não fica claro qual o critério para essas ‘contratações’”, pontua o ator José Barbosa Neto, de Borderline. Também com um sentimento de frustração, Barbosa Neto diz que um dos motivos de ter se mudado para o Recife, além da pesquisa de um novo espetáculo, foi constatar o quanto o pernambucano consome cultura.
As duas atrizes, diretoras e produtoras de Abraço – nunca estaremos sós, Lívia Rodrigues Lins e Duda Martins, são mais moderadas – consideram a programação boa: “diversificada em suas linguagens, traz grandes e ótimos espetáculos, como é o caso de Gonzagão – A lenda, mas deu pouco espaço para as produções locais”, ponderam.
Gilberto Brito, ator de O Pranto de Maria Parda, é mais enfático e se diz não convencido com as escolhas: “parece arrumadinho”. Outro que também discorda do resultado é o ator, dramaturgo e produtor Henrique Celibi, de Madleia + ou – doida. “O tempo passa e a política cultural dos festivais que acontecem aqui é de exclusão do teatro local”, avalia.
Sem desmerecer outros trabalhos, a atriz Fabiana Pirro insiste que é preciso que haja espaço para a produção do estado no FIG. “Estou com uma peça novinha – Obscena, Um Encontro Com Hilda Hilst-, pronta para ser mostrada. E que foi montada sem nenhum apoio do governo ou da prefeitura”. Fabiana lembra que a grade de música contempla os locais e acredita que a de teatro deveria fazer o mesmo. “Sem bairrismo de ser tudo de Pernambuco. Já vi coisas lindas de fora no FIG como o Galpão, Denise Stoklos, mas poxa, vamos botar para trabalhar os da casa também, a gente precisa pagar conta, a gente precisa continuar nossa atividade, porque a gente faz toda a produção para ir pro palco”.
A produção de Em nome do pai (Rec Produtores Associados) atendeu aos critérios exigidos pelo edital, passou por todas as etapas, mas não houve acordo quanto à questão financeira. “Era necessário que o valor colocado (exigência do edital), fosse comprovado em vendas anteriores e como nosso espetáculo ainda não possui este currículo, pois estreou no final de abril e fez apenas uma temporada, não conseguimos uma comprovação de valor que correspondesse à apresentação mais as despesas”, explica a diretora Cira Ramos.
A proposta inicial do grupo foi de R$ 12 mil, porque a produção calculou duas diárias para toda a equipe e todas as despesas (impostos, cachês, translado, transporte de cenário, hospedagem, alimentação e outros. “Foi negociado para baixarmos para R$ 9 mil. Mas as comprovações que conseguimos, não chegaria a este valor”, expõe Cira. Em nome do pai então declinou do convite, já que, segundo os cálculos, o grupo teria prejuízo.
Pela lei de responsabilidade fiscal, todos os espetáculos precisam cumprir as mesmas regras. Mas aí entra a lógica do mercado. Espetáculos, shows, com gente mais famosa e com produtores mais articulados, conseguem maiores cachês. Ao exigir essas comprovações de apresentações feitas, as montagens mais antigas e as que tem mais poder de persuasão ganham espaço.
Cira Ramos entende que a exigência de comprovação de cachê é excludente para as montagens locais. “Os grandes espetáculos de fora conseguem vender para o FIG com valores reais aos praticados em outras realidades”, deduz. A diretora faz questão de deixar registrado que os funcionários da Fundarpe foram cuidadosos e fizeram esforço para tentar manter o espetáculo na programação. “Enquanto não houver uma mudança neste formato, a nossa produção local continuará excluída deste Festival. Ou então a Fundarpe arque com as despesas das produções pernambucanas, para que o cachê de apresentação fique direcionado para pagamentos dos profissionais. Não é possível embutirmos todas as despesas dentro de um cachê absurdamente baixo! Principalmente sabendo que só recebemos com três ou mais meses depois de finalizado o FIG”, complementa.
O produtor Taveira Júnior sugere um percentual mínimo para espetáculos pernambucanos no FIG. Já José Barbosa Neto propõe a possibilidade de criar mostras, como ocorre em alguns festivais. “Isso poderia equilibrar e promover mais o acesso e a fruição de nossas produções”, acredita.
Lívia Rodrigues e Duda Martins atestam que não são contra a participação de grupos de fora. “Isso faz parte de um festival do porte do FIG e é bom para o intercâmbio cultural. No entanto, a prioridade deve ser das produções locais, pelos motivos óbvios de valorização da cultura local”. Para a dupla de Abraço a questão não é “incluir os espetáculos pernambucanos”. É sim “incluir alguns de fora”. “A sugestão é implantar uma cota para os nacionais e “incentivar” a comissão julgadora a conhecer mais a fundo o que está sendo produzido no estado, o que acreditamos que aconteça muito bem em outros campos artísticos, como a música”.
Para o Grupo O Poste Soluções Luminosas, cujo núcleo permanente é formado pelo diretor Samuel Santos e pelas atrizes Agrinez Melo e Naná Sodré, “Se a Fundarpe, toda vez e a cada ano, vem diminuindo os espaços de escoamentos da cena local, ela está trabalhando contra o que ela mesma se destina. É dar um tiro no próprio pé. É preciso, de fato, ter esse objetivo como meta. Já ouvimos dizer que o FIG não é um festival local e sim nacional e, como nacional, a prioridade são os grupos e as atrações de fora. Mas aqui não estamos falando em termos de conceito de festival, mas sim de diretrizes da Secretaria e da Fundação. Estamos falando da Portaria Fundarpe nº 05, de 24/08/2009. Estamos falando de arte e artistas locais e seus principais campos de escoamentos”, atestam. O grupo explicita o Artigo 2º da referida Portaria: “É dever da Fundarpe preservar seu patrimônio histórico, cadastrar os seus bens culturais materiais e imateriais, apoiar e incentivar a valorização, a difusão e a fruição das suas manifestações, pluralidade da produção cultural e impulsionar a sua sustentabilidade econômica”.
“Nós, enquanto grupo de teatro, abrimos um espaço (que fica ao lado da Fundarpe, inclusive) sem nenhum apoio institucional. Como não há apoio, como sobreviver? Como manter esses novos espaços que vem fomentando Pernambuco? Como? Levando as produções locais para os festivais, mostras, municípios de Pernambuco. Criando ações fora edital do Funcultura. Aí é que entra o governamental, o pensamento do estado antenado com a arte e os artistas locais e suas prioridades”, complementam os artistas do O Poste. Eles também questionam o espaço físico disponibilizado para as apresentações. “Nem todas as peças se adequam naquele palco (Teatro Luiz Souto Dourado). Primeiro por que ele não oferece uma estrutura, está obsoleto, tem uma péssima acústica e torna qualquer peça distante do público. Mas por que não procurar outros espaços para a prática do teatro além do teatro da estação? Casarões, mercados, galpões etc. Inclusive mandamos proposta de fazer A Receita num espaço alternativo. Caso não fosse possível faríamos no palco da estação. Por que não pensar noutros espaços que não só o teatro?”
De acordo com o edital, as produções são responsáveis por todos os custos de transporte, hospedagem e alimentação; além disso, os produtores denunciam ainda a demora nos pagamentos dos cachês.
Entrevista // Jorge Clésio – Coordenador de Artes Cênicas da Fundarpe
Quantos espetáculos se inscreveram?
Das 140 propostas inscritas, 124 foram selecionadas para a análise de Mérito Artístico-Cultural, dentre elas, 87 foram habilitadas e 53 desabilitadas.
Essa convocatória foi divulgada no Brasil inteiro. De que forma? Jornais? Sindicatos de artistas?
A convocatória teve divulgação nacional, por meio do Portal da Secretaria de Cultura do Estado|Fundarpe: cultura.pe.gov.br, além do mailling de artes cênicas, inclusive para os inscritos nas convocatórias das edições anteriores do FIG.
Os pareceristas também se inscreveram, não é mesmo?
Sim, por meio de convocatória estadual para seleção de profissionais do 25º Festival de Inverno de Garanhuns – 2015. Enfatizar que essa convocatória foi aberta também para todos os segmentos artístico-culturais.
Qual a comissão que julgou o mérito artístico dos projetos, além de você como representante da Fundarpe?
A Comissão foi formada por profissionais de notório saber em suas áreas de atuação, José Carlos de Oliveira Lira e Ronaldo Lopes Brissant, selecionados pela convocatória estadual para seleção de profissionais do 25º festival de Inverno de Garanhuns – 2015, e José Wellington Fernandes Júnior, indicado pela Secult/Fundarpe, conforme previsto na convocatória nacional.
Para chegar a esse resultado, a comissão avaliou os projetos mediante o quê? Projetos em papel? Vídeos? Ou espetáculos presenciais?
As propostas foram analisadas em meio físico, mediante as informações contidas no Anexo XIII – do Formulário de Teatro FIG 2015, e do DVD contendo a gravação do espetáculo na íntegra, segundo critérios constantes na Convocatória:
a) Qualidade artística/cultural da atividade;
b) Currículo do artista, grupo, profissional ou da equipe principal;
c) Relevância da proposta/originalidade/singularidade;
d) Histórico da atividade.
Imagino que o espetáculo Gonzagão, A Lenda, da Companhia A Barca dos Corações Partidos (RJ), tenha sido convidado para abertura. Gosto muito do espetáculo. Mas gostaria que você expusesse as razões dessa escolha, por quem foi feita.
Trata-se de um espetáculo muito bem recebido pela crítica e pelo público nacional. Achamos muito pertinente que Gonzagão – A lenda, se apresentasse nessa edição do FIG 2015, no Palco Pop/Forró, o que possibilitou o acesso a um público bem maior, considerando a capacidade do Teatro Luiz Souto Dourado, de 600 lugares! Além da temática, emblemática para a cultura brasileira, e direção do consagrado pernambucano João Falcão, a disponibilidade de agenda do grupo para abertura das Artes Cênicas no FIG 2015. Além disso, o espetáculo dialoga com a cultura da região, fortalece a identidade a partir de uma narrativa de um personagem mítico. Esse foi o único espetáculo de Artes Cênicas, convidado para o FIG 2015.
Podemos citar uma dúzia de espetáculos pernambucanos que se inscreveram, passaram pela análise técnica e não entraram na lista final do festival. Você não acha estranho um festival do porte do de Garanhuns não acolher essa produção?
Seguimos criteriosamente a convocatória pública e de abrangência nacional. Nesse caso, todas as 140 propostas inscritas foram submetidas aos mesmos critérios de análise. As propostas habilitadas na Análise de Mérito Artístico-Cultural, mesmo as bem pontuadas, não têm necessariamente sua participação assegurada na programação do 25º FIG, conforme o item 7 da Convocatória. Nesse sentido, vale observar que a programação do Teatro Para Infância e Juventude está 100% pernambucana e isso se deu pelos mesmos critérios, já citados e utilizados pela Comissão de Análise de Mérito. Diante do cardápio das 87 propostas habilitadas pela Comissão, foi possível incluir na Programação de Teatro Adulto 7 espetáculos; 2 de Teatro de Rua; e 3 espetáculos Para Infância e Juventude. Esse trabalho foi feito a partir das seguintes variáveis: respeito à hierarquização da pontuação; disponibilidade de agenda do grupo para o período do FIG 2015; adequação ao espaço e, ainda, a oportunidade do espetáculo em se apresentar com recursos próprios, oriundos de prêmios/fomentos nacionais, como o Myriam Muniz e/ou Lei Rouanet. O processo de composição da programação se deu à luz da transparência, de maneira democrática, o que representa uma conquista da sociedade civil.
Essa produção citada pernambucana é realmente inferior ao que foi escolhido?
Essa afirmativa não reflete, em absoluto, nosso pensamento sobre a produção teatral no estado de Pernambuco, nem de nenhum outro estado brasileiro.
Insisto nisso porque os artistas da área ficaram bem indignados e talvez fosse legal dar uma explicação.
Concordamos com você e sabemos da importância do retorno que precisamos dar aos proponentes sobre o processo e resultado da convocatória. Estamos estudando uma forma mais ágil, por meio da internet, ou carta a ser endereçada aos artistas, além do atendimento usual que damos pelo e-mail cenicas.fundarpe@gmail.com, pelo telefone 81 3184.3077 e, de forma presencial, na Coordenadoria de Artes Cênicas.
Na sua opinião, como está a programação de artes cênicas deste ano?
Consideramos todos os espetáculos que compõem a Programação de Artes Cênicas – Circo, Dança e Teatro – do FIG 2015, com excelente qualidade artística e técnica. Convidamos o público a conferir a diversidade de temas, estilos, conceitos e visões presentes nesse recorte de 41 espetáculos da cena contemporânea brasileira, oriundos de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo.
Não discordo de nenhum dos comentários dos artistas entrevistados sobre as reais formas de seleção para a composição da grade do FIG esse ano, no entanto, ressalto que essa portaria de comprovação dos cachês tem prejudicado e muito a contratação dos artistas locais. Sem falar da dificuldade que isso gera num trabalho de um novo espetáculo como cita Cira Ramos. Essa portaria é arbitrária e sem a menor lógica de mercado dentro do que se discute hoje de economia da cultura, economia criativa. A Fundarpe e outros órgãos governamentais só tem dificultado e burocratizado cada vez mais a contratação de artistas, grupos, espetáculos, etc…Não cabe mais dentro do possível numa realidade onde a transparência com os gastos públicos está em voga e se faz cada vez mais necessário. Todos nós sabemos que muitos grupos que estão na programação é porque independe de sua qualidade artística – e aqui me isento de fazer tal julgamento – pois o mesmo referente à arte seja de qual estilo/expressão é bastante questionável do ponto de vista quem observa e julga. Mas, muitos grupos, espetáculos entraram na programação porque conseguiram cumprir com a BUROCRACIA exigida de uma série de documentos e comprovações que foge ao comum numa contratação. cada vez mais se burocratiza a arte em detrimento do seu mérito. Precisamos pensar de que formas vamos lidar e conseguir trabalhar com as programações de eventos/festivais, etc., ficando cada vez mais BUROCRÁTICAS e menos ARTÍSTICAS/CRIATIVAS. Os papéis estão vencendo para o ato da criação.
Muito boa a exposição dos problemas que vivenciamos no nosso estado e em nossa cidade. Grata Ivana Moura. É importante compreendermos que não se trata, apenas, de valores. E por isso me senti na obrigação de expô-los. Há espetáculos bem mais caros e outros bem mais baratos, independente da qualidade artística. Trata-se mais da burocracia nas comprovações. Temos que nos unir para, juntos, exigirmos mudanças na lei. Uma lei iguala, mas não prevê equidade. E isso não é de responsabilidade dos funcionários da FUNDARPE. Jorge Clésio e a equipe que compõe a Coordenação de artes cênicas, é de profissionais qualificados e comprometidos com a nossa cultura. Cabe a nós, cobrarmos mudanças, porque, infelizmente ainda, não podemos concorrer com grandes produções nacionais. E não falo aqui, de qualidade artística. Muitos de nós vimos esse Festival nascer e participar dele é sempre uma honra. Mas temos que participar, cientes da nossa contribuição, com dignidade e respeito. Devemos ser tratados com o mesmo profissionalismo com que todos os artistas “reconhecidos”, o são. A programação deste ano está excelente e sempre estará, pois o FIG é um festival consolidado. Não queremos paternalismo, queremos reivindicar equidade. Afinal, não é papel do estado fomentar/incentivar a nossa produção e também promover a diversidade cultural? Quem sabe em 2016, mais produções pernambucanas poderão estar em sua grade! Abs.
Cira Ramos, agradeço a você pelo depoimento e a todos os outros artistas que colaboraram com a matéria.
Agradeço também a Jorge Clésio pela entrevista.
E como você, Cira, propõe, é preciso estabelecer canais de diálogo para melhorar a vida dos artistas de artes cênicas de Pernambuco. Abraço
Obrigada Fátima Pontes pelos apontamentos sobre a política cultural em Pernambuco e as dificuldades nos processos de contratação. Se a realidade é essa, é preciso fazer alguma coisa. Abraço
Ações afirmativas das iniciativas públicas. Tem muita coisa distante do ideal e da nossa realidade. Parece que não há conexão entre os realizadores cênicos e o poder público.
Quando um teatro é fechado, uma lei de incentivo não é posta em prática ou quando as produções locais deixam de participar dos festivais estadual temos o caos em quatro pilares: a fruição, montagem, formação e circulação. Sabe o que isso ocasiona? O desemprego, a baixa estima e o empobrecimento para a cena pernambucana. É preciso salvaguardar e colocar as nossas produções como protagonista e não como antagonista ou uma mera figuração. O cinema fez e faz isso e olhe o que aconteceu? Hoje é o principal polo de cinema do País. Eles salvaguardaram os realizadores locais, fortaleceram seus editais, juntaram forças e tem uma estima que está no ponto mais alto. Encaram de frente e não de baixo como as artes cênicas locais encara. Ou se muda o foco ou vamos amargar a cada ano perdas irreparáveis.