Meiga, sensível, emotiva e única em cada sessão. Sonhos para vestir, espetáculo escrito e interpretado pela atriz Sara Antunes, com direção de Vera Holtz, ancora-se nas palavras, no jogo da memória e na relação com a plateia da vez para costurar com suavidade o espetáculo que está em cartaz ainda hoje, no Teatro Paiol, dentro do Festival de Curitiba. O belo e envolvente cenário-instalação é assinado pela artista plástica Analu Prestes e a música de Daniel Valentini é tocada ao vivo.
A obra do mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, principalmente o livro O Nome do Pai foi inspiração das artistas. No monólogo em clima de conto de fadas, uma personagem feminina percorre os labirintos da memória e da linguagem enquanto o sono não vem. Mas Sonhos para vestir depende muito do diálogo ao vivo com o público. A personagem de Sara faz perguntas à plateia e, a partir das respostas, ela improvisa e cria novos caminhos.
No dia em que fui assistir Sonhos para vestir a atriz me pediu um verbo. Eu disse amar. E assim ela fez com outras pessoas, solicitando palavras e criando frases e situações. Ao curador do festival de Curitiba, Celso Curi, pediu um lugar especial. Ele falou Praga. As pessoas falaram o que fariam em Praga cada um dizendo uma palavra demandada. Da atriz e produtora Paula de Renor ela pegou o anel para falar do pai, da mãe, da infância e das fantasias dos tecidos suaves.
E entre tecidos fluidos, sua figura etérea passeou pelo palco e expos seu universo imaginário. E esse universo lúdico prossegue quando ela se lembra dos conselhos do pai. Quando chora e contagia a plateia com sua emoção. O público sai da peça com os olhos mareados. Sonhos para vestir é uma pequena joia de delicadeza.