Realizado entre a bilionária Copa do Mundo de Futebol no Brasil e as eleições presidenciais vindouras, o Cena contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília faz da 15ª edição um ato de resistência e dignidade. Com menos recursos, o programa reduziu a quantidade de atrações (com a interrupção neste ano do braço musical), mas verticaliza o ato de refletir sobre o é que fazer cultura num país em que este setor não é prioridade nem na capital do poder.
“Enquanto isso”, destaca o curador Guilherme Reis no livreto do Cena Contemporânea, “a humanidade segue em sua complicada caminhada em direção a um futuro incerto, convivendo com a violência, os conflitos, o preconceito e a perversidade de uma sociedade globalizada que se baseia no consumo e em uma falsa riqueza. E o teatro segue nos auxiliando a compreender toda essa complexidade, apontando para a poesia que persiste entre os homens”.
O festival começou no último dia 19 de agosto e segue até domingo, 31/08, com 23 encenações da Espanha, Escócia, França, Argentina e Brasil. E tem o patrocínio da Petrobras, copatrocínio do Banco do Brasil e Funarte. Guilherme Reis assina a curadoria e direção do evento, que é uma realização da Cena Promoções Culturais e da Fundação Athos Bulcão.
A falta e o excesso que movem a humanidade nestes tempos de fúria e incertezas palpitam nos espetáculos do programa, com questões sobre identidade cultural, utopia, velhice e a prosaica poesia cotidiana. Esses alumbramentos podem ocorrer de mãos dadas com Plínio Marcos, Shakespeare, Pirandello ou dramaturgias mais autorais.
O Grupo Sutil Ato [DF] retrabalha trechos de peças do Plínio Marcos em Autópsia I e Autópsia II). Luigi Pirandello (1867-1936) comparece com a trilogia do ator Cacá Carvalho, dirigido pelo italiano Roberto Bacci – O homem com a flor na boca, A poltrona escura e umnenhumcemmil. Além da adaptação do clássico Seis personagens à procura de autor pela companhia espanhola Kamikaze, em La función por hacer.
A moda chama para uma contradança na montagem A Feia Lulu, de Fause Haten (SP) inspirada em La Vilaine Lulu, personagem de quadrinhos criada pelo estilista francês Yves Saint Laurent.
Tomorrow (foto no alto), do grupo Vanishing Point, da Escócia, dirigido por Matthew Lenton é a principal aposta do festival. A dura realidade de quem envelhece e carece de cuidados especiais está no centro de uma reflexão que se propaga na medida que atitudes podem de (des)respeito podem ser repetidas por outros jovens. A montagem é uma coprodução entre Vanishing Point (Escócia), Cena Contemporânea, Brighton Festival (Inglaterra), Tramway (Escócia) em associação com Platform (Escócia) e National Theatre Studio, Londres (Inglaterra).
Othelo, a tragédia de William Shakespeare com suas intrigas de engano, traição e vingança, ganha ares de clown na versão do argentino Gabriel Chame Buendía. Sob encomenda, outro argentino, o dramaturgo Santiago Serrano (mesmo autor de Dinossauros), escreveu Noctiluzes, para a Cia. Plágio de Teatro para tratar de uma combinação explosiva entre covardia e solidão e sobrevivência da amizade.
O Cena Contemporânea deste ano já tem uma fortuna crítica dos espetáculos apresentados nos primeiros dias. Indicamos o nosso parceiro, o site Teatro Jornal, onde o leitor pode conferir mais informações sobre o festival e algumas críticas.
http://teatrojornal.com.br/2014/08/brasilia-abraca-pirandellianos-e-coproduz/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/ o-circulo-de-giz-da-resignacao/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/outras-portas-de-entrada-para-a-danca/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/transfusao-rodriguiana/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/um-intimo-mal-estar-de-seculo/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/nos-dobras-de-plinio-marcos/
http://teatrojornal.com.br/2014/08/as-fontes-vivas-em-cenas-e-narrativas-ageis/
Outras notícias sobre o festival, programação completa e as atividades formativas no próprio site do Cena Contemporânea: www.cenacontemporanea.com.br/#”
* A jornalista Ivana Moura viajou a convite da organização do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Texto escrito no âmbito da DocumentaCena – Plataforma de Crítica, iniciativa que envolve os espaços digitais Horizonte da Cena, Satisfeita, Yolanda?, Questão de Crítica e Teatrojornal.