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Derivas erótico-sociológicas de Túlio Carella

Orgía Ou De Como Os Corpos Podem Substituir As Ideias, do Teatro Kunyn

Orgía Ou De Como Os Corpos Podem Substituir As Ideias, do Teatro Kunyn

Foi nos anos 1960, na cidade do Recife, que um discreto professor universitário deixou emergir seus secretos desejos homoeróticos e mergulhou na prática homossexual registrada em detalhes no seu caderno. Essas memórias são descritas no livro Orgia, Os Diários de Tulio Carella. A publicação inspirou o Teatro Kunyn, dirigido por Luiz Fernando Marques, a montar a peça itinerante Orgia ou De Como os Corpos Podem Substituir as Ideias, que estreou em 2015. A encenação integra a programação do Trema! Festival de Teatro e faz três apresentações na cidade, de hoje a sexta-feira. A peça começa no Espaço Pasárgada e o público segue para um apartamento, onde será encenado o primeiro ato.

Nessa primeira parte, Carella (interpretado por Ronaldo Serruya, Paulo Arcuri e Luiz Gustavo Jahjah), está de malas prontas para viajar ao Brasil. Contratado pela Universidade Federal de Pernambuco, ele deixa a mulher em Buenos Aires e se encanta com os corpos de homens, do cais do porto e de outros pontos da cidade.O público participa dessa festa de despedida. De lá, segue até o Parque 13 de Maio, munido de aparelhos de MP3 para ouvir as falas sobre as descobertas do dramaturgo argentino.

Serruya, Arcuri e Jahjah circulam e contracenam com os 12 atores pernambucanos selecionados para a oficina Deriva. O espetáculo OrgÍa discute a homoafetividade na esfera pública e vasculha a reação da cidade diante da multiplicidade de desejos.

FICHA TÉCNICA
Criação: Teatro Kunyn (Luiz Fernando Marques, Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya)
Direção: Luiz Fernando Marques
Atuação: Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri E Ronaldo Serruya
Dramaturgia Ato I e Ato Ii: Teatro Kunyn
Dramaturgia Ato Iii: Alexandre Dal Farra
Direção De Arte: Yumi Sakate
Iluminação: Wagner Antônio
Assistente De Iluminação: Robson Lima
Desenho De Som: Alessa
Produção: Fernando Gimenes
Realização: Teatro Kunyn E Lei De Fomento Ao Teatro Para A Cidade De São Paulo

SERVIÇO
Orgia Ou De Como Os Corpos Podem Substituir As Ideias
Teatro Kunyn (SP)
Quando: 10, 11 e 12 de maio, às 14h30
Onde: Espaço Pasárgada
Quanto: R$ 20 e R$ 10
Duração: 120 minutos
Recomendação: 18 anos

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Grandezas negativas da política

Tablado de Arruar traça trajetória do PT para expor barbárie na política. Foto:

Tablado de Arruar traça trajetória de partido de esquerda para expor barbárie na política. Foto: Cacá Bernardes 

Qual o preço ético para se chegar ao poder? O que está em jogo? E que tipos de mudanças um partido político de esquerda precisa fazer para atingir esses objetivos? A montagem do grupo Tablado de Arruar, de São Paulo, trata desse percurso, da realidade política e da crise vivenciada pelo PT nos últimos anos. A Trilogia Abnegação está dividida nas peças Abnegação I, que trata sobre poder e política no Brasil de forma mais difusa. Abnegação II é sobre os trâmites da política e o PT a partir do caso da morte do Celso Daniel. Em Abnegação III são expostos fragmentos, narrativas entrecruzadas, trechos de histórias e personagens envolvidos com a política. E o que sobrou depois das fissuras.

A Trilogia Abnegação focaliza o declínio dos setores progressistas da sociedade e o avançar da direita, no Brasil e no mundo.  Há discursos cínicos de várias figuras da malha social e não só   políticos, truculência nas ações e um clima de insegurança na vida real. Isso fricciona com os assuntos das peças, que traçam suspeição de pactos, traições e suspeitas de crimes.

Apesentada de hoje a quarta-feira, dentro da programação do Trema! Festival de Teatro.  As peças tratam de política e políticos brasileiros (e seus pares de outras profissões), alguns que já foram militantes comprometidos com a utopia de justiça para o coletivo.

Vivemos em tempos de muitas guerras. De nervos, de narrativas. Confrontos físicos nos espaços públicos e uma defesa de interesses privados como sendo público. A realidade é um caleidoscópio em que cada vertente tenta impor sua versão, apagar imprecisões , convencer com o interpretações esdrúxulas das leis ou pela constante repetição de algumas notas pela mídia, que aceitou esse papelão.

O dramaturgo Alexandre Dal Farra e o grupo Tablado de Arruar eletrizam temas polêmicos. Em Mateus, 10, de 2012, eles se lançaram nas questões da fé e sua relação com a sociedade. Abnegação leva à cena as contradições do circuito de poder nos bastidores da política.

Com texto de Dal Farra, que divide a direção com Clayton Mariano, a Abnegação I aborda as relações de poder. Mas não se sabe exatamente sobre o que eles falam, mas dá uma sensação que é em relação à política brasileira.

A encenação minimalista joga a carga no trabalho dos atores para criar de uma atmosfera abarrotada de armadilhas, intrigas e infidelidades. No fim de uma festa, numa reunião madrugada a dentro, cinco personagens ligadas à estrutura de poder debatem sobre o o que deverá ser feito, pois um ocorrência do passado veio à tona. E as decisões podem ter consequências trágicas. Regados a muita bebida, as discussões são permeadas por danças ao som de hits sertanejos e brigas, até a decisão final.

SERVIÇO

Abnegação I
8 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho
Abnegação II – o começo do fim
9 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho
Abnegação 3 – restos
9 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho

Ficha técnica:
Texto: Alexandre Dal Farra
Direção: Clayton Mariano e Alexandre Dal Farra
Com: Alexandra Tavares, André Capuano, Carlos Morelli, Vinícius Meloni e Vitor Vieira.
Direção de arte: Eduardo Climachauska
Assistente de direção: Ligia Oliveira
Preparação corporal: Lu Favoreto
Provocadora: Cibele Forjaz
Figurino: Melina Schleder
Trilha sonora: Alexandre Dal Farra
Iluminação: Francisco Turbiani
Assistente de iluminação: Marcela Katzin
Direção de produção: Carla Estefan
Assistente de produção: Ariane Cuminale
Assessoria de imprensa: Arteplural Comunicação. Fernanda Teixeira e Adriana Balsanelli
Foto divulgação: Cacá Bernardes
Desenho gráfico: Vitor Vieira

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O presidente que o Brasil nunca teve

Marcio Fecher no espetáculo Meu Nome é Enéias. Foto:

Marcio Fecher no espetáculo Meu Nome é Enéias. Foto:

As campanhas políticas no Brasil têm como principal canal de convencimento o horário eleitoral. Boas propostas podem até ficar submersas em meio a um mar de bizarrices, que apelam para nomes estranhos, paródias e muitas invenções. Os candidatos ao Executivo têm mais tempo que os do Legislativo. Mas a distribuição do espaço é bem desigual. E aqui não vamos discutir se isso é justo ou não, porque o capitalismo não é justo. Mas um candidato a presidência por três vezes criou uma estratégia para se sobressair da monotonia.

Com 15 segundos para falar, Enéas Ferreira Carneiro chegou ao 12º lugar entre 21 candidatos, nas eleições de 1989. Em 1994, galgou o terceiro lugar, na base do discurso de um minutos e dezessete segundos na propaganda eleitoral gratuita. E garantiu o quarto lugar em 1998, com o tempo de 35 segundos. Se fosse no esporte, seria recorde.

Meu Nome É Enéas – O Último Pronunciamento, um solo do ator Marcio Fecher, estreia no Trema! Festival de Teatro, nesta sexta-feira, no Espaço Cênicas, às 21h.

A montagem vende a imagem de um homem humilde e de poucos recurso que se tornou médico cardiologista, físico, matemático, professor e nos últimos 18 anos de sua vida se dedicou a um plano de se tornar presidente do Brasil. Por seu projeto de uma nova política nacional perdeu quase tudo, casamento, bens conquistados e morreu no esquecimento.

Entrevista Márcio Fecher

Marcio Fecher é ator, dramaturgo, diretor e videasta. Foto: Tiburtino Caio

Márcio Fecher é ator, dramaturgo, diretor e videasta. Foto: Tiburtino Caio

Qual a motivação para esta montagem?
Depois que iniciei meus estudos com a Trilogia Vermelha, com o afastamento temporário quando criei Andarte Andarilho, meu primeiro solo, depois a volta para o projeto de Junior Aguiar que eu voltei a produzir, comecei a ver vários vídeos do Dr. Enéas viralizados na Internet e eu gostei do discurso. De cara percebi a aparência física, e depois disso procurei onde tinha informações sobre ele, sua vida, sua trajetória e encontrei três livros, que na verdade são voltados para a sua defesa política, seu livro sobre cardiologia O Eletrocardiograma, e não tinha nada sobre sua vida particular, filhas, mulher e subsídios que como ator eu acreditava importantes.
De fato, todas as informações que consegui sobre ele foram recolhidas das entrevistas concedidas por ele e também os vídeos produzidos por ele mesmo para o PRONA, e todos estes vídeos estão disponíveis para qualquer pessoa no canal do Youtube do Espaço Dr. Enéas. Senti segurança em ouvir o Dr. Enéas falando, porque não tinha como a fonte ser mentirosa, era ele ali, dizendo aquelas palavras.
Entendi que seu discurso, por vezes difícil e talvez contraditório – digo talvez porque depende do referencial- era atual e necessário para este momento que estamos vivendo.
Seu nome está na memória da política nacional como sinônimo de verdade, transparência e também contradições, mas não podemos negar que, acende várias discussões acerca de questões importantes para o entendimento político que estamos vivendo. Por isso escolhi viver este personagem.

O que o Dr. Enéas teria a dizer sobre os acontecimentos do Brasil atual, a partir do que se tornou público do pensamento dele?
Durante sua vida pública, que durou 18 anos, seu discurso por várias vezes se repetia. Afirmava ele que nossa classe de políticos é composta de indivíduos semianalfabetos, e a diferença é que alguns são completamente analfabetos. Afirma que o Brasil tem tudo o que um país precisa para se colocar de pé – riquezas minerais de alta categoria, que são vendidas a preço de banana para o exterior; fontes de energia sustentável, por exemplo a luz solar que em um dia de sol no Brasil pode-se gerar energia comparável a 120 mil usinas de Itaipu funcionado a todo o vapor. Afirma que nada do que for feito dará certo, porque o cidadão comum não acredita no governo. Isso é a pior coisa eu se pode acontecer. Que estamos vivendo uma total desordem. Que precisamos checar tudo o que noticia a imprensa, porque ética está praticamente extinta entre os jornalistas da grande mídia. Sua conduta é retilínea, o que revela sua formação no exército e sua conduta transparente o fez ganhar a simpatia do povo.

Na sua opinião, o que faz um homem que para o senso comum venceu na vida – de origem humilde se tornou médico e professor – a se envolver com política?
Como diz o próprio Dr. Enéas, após entender o processo político em que estamos inseridos, ficou indignado com a realidade nacional. E com o conteúdo que absorveu em anos de estudos, por acreditar em sua postura enérgica e na criação em um novo modelo político, decidiu entrar no processo para modifica-lo, não por que ele precisava de cargo público, ele era médico e professor, não precisou de troca de favores para ocupar cargo público porque tinha de onde ganhar seu dinheiro.

Esse homem, esse político foi injustiçado?
Com certeza! Pense você, ele falava para o povo brasileiro através dos meios de comunicação! Teve nas eleições de 1989, 15 segundos para falar e ficou em 12º lugar em um total de 21 candidatos. Nas eleições de 1994, teve um minutos e dezessete segundos na propaganda eleitoral gratuita, e ficou em 3º lugar. Em 1998 com 35 segundos ficou em 4º, imagina se o Dr. Enéas tivesse tempo de se colocar devidamente para o povo brasileiro o que podia ter acontecido?! Ele foi vítima de um processo de histrionismo na imprensa, foi ridicularizado, foi chamado de fascista. Fazer este espetáculo, também é dar voz a um homem que tinha ideias claras e que não tinha medo de se exprimir. Que estava aberto para o diálogo, que apesar de exaltar o exército, sabe muito bem criticá-lo a apontar erros e equívocos históricos praticados por esta instituição.

Quais os procedimentos da encenação Meu Nome É Enéas – O Último Pronunciamento?
Como ele foi um homem muito reservado em sua vida particular, eu também o deixei reservado neste campo. Com o material recolhido nos vídeos, entendi sua vida desde seu nascimento até sua morte. Como o grande conflito em sua vida pública era o tempo, e sua proximidade com o relógio era tamanha, pensei em como seria se ele tivesse a oportunidade de ter um último pronunciamento feito por ele. E que mesmo assim ele não tivesse o tempo necessário para falar tudo o que pode para contribuir para uma sociedade melhor.

Serviço:
MEU NOME É ENÉAS – O último pronunciamento
Quando:
Sexta-feira (5), às 21h
Onde:
Espaço Cênicas
Ingressos:
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

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TREMA!, Entre utopias e distropias

Noite. Foto José Caldeira

Espetáculo português Noite abre programação do festival. Foto José Caldeira / Divulgação

Teatro serve para quê? Não tenho respostas daquelas definitivas ou complexamente articuladas. Sinto necessidade dessa arte como os dependentes químicos dizem sentir da droga. O teatro é meu vício maior e melhor. Mas deixando essa sentimentalidade de lado, recebo com entusiasmo a chegada da quinta edição do TREMA! Festival de Teatro, que começa nesta quarta-feira, e segue ate o dia 14 movimentando os teatros no Recife.

São 15 peças em sua programação que, em 12 dias, reúne oito montagens nacionais, uma internacional e seis pernambucanas. Abre com o espetáculo português Noite, inspirado na obra do poeta lusitano Al Berto, que vibra com música manipulada ao vivo por um DJ e no bailado frenético de três homens de energia selvagem e caótica. A encenação remete para subúrbios e subterrâneos.

Os cariocas do Coletivo Complexo Duplo trazem Cabeça (um documentário cênico), calcado no álbum Cabeça Dinossauro, da banda paulistana de rock Titãs. As músicas guardam um feroz posicionamento político e são tocadas ao vivo pelos atores. É o Brasil dos anos 1980 com suas problematizações sobre violência e estado, capitalismo e família tradicional. Dizem muito sobre hoje.

Das inspirações sonoras para as inspirações literárias. Erguido a partir da obra homônima de Chico Buarque de Holanda, Leite Derramado põe uma lupa sobre motivos éticos e os procedimento políticos da História do Brasil. Encenado pelo dramaturgo e diretor Roberto Alvim (SP).

Orgía ou de como os corpos podem substituir as ideias, baseado no livro de Tulio Carella, narra as aventuras eróticas e intelectuais do professor argentino que veio parar no Recife da década de 1960. A montagem do Teatro Kunyn (SP) – destinada a apenas 30 espectadores por sessão – começa no Espaço Pasárgada, antiga casa de Manoel Bandeira e depois segue para o Parque Treze de Maio.

A Primeira Guerra Mundial é pano de fundo da montagem cearense Diga que você está acordado! MáquinaFatzer , a partir da obra inacabada do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Já o grupo paulista Tablado de Arruar traz a Trilogia Abnegação, que investiga cenicamente as contradições de um partido de esquerda quando chega ao poder. Obra polêmica que envereda pelas operações do mundo político, suas escolhas e consequências, e a realidade fraturada das pressões internas e externas pelo poder.

De Pernambuco, participam o Coletivo Angu de Teatro, com Ossos e Ópera; o ator Marcio Fecher com Meu nome é Enéas; Carolina Bianchi (SP) e Flávia Pinheiro (PE) com Utopyas to every day life; Flávia Pinheiro com o solo Diafragma 1.0: como manter-se vivo? e o Núcleo de Teatro do Sesc Petrolina em parceria com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, grupo gaúcho, apresenta Procura-se um corpo – Ação nº3, sobre feridas ainda abertas pela ditadura militar.

Leite Derramado, Trilogia Abnegação, Ossos e Utypias.

Leite Derramado, Trilogia Abnegação, Ossos e Utopyas to every day life

O Trema! Festival de Teatro cresceu em relevância no panorama pernambucano e nacional desde sua primeira edição. Na cidade, enquanto eventos da mesma natureza foram se descaracterizando, precarizando sua programação e as intersecções com a potência da arte, o Trema! fortaleceu sua identidade nômade dentro de um campo do teatro experimental e de pesquisa.

As inquietações com o contemporâneo marcam a trajetória de sua curadoria, assinada pelo encenador e ator Pedro Vilela e que este ano vem com as provocações de distopias e realidades. Realizado pela Trema! Plataforma de Teatro, o festival conta ainda na realização com Mariana Rusu e Thiago Liberdade.

Se, no primeiro ano, o programa foi realizado sem verba, o quinto chega robustecido mesmo diante da crise. Voltado para um público jovem (não só em idade) e inquieto, a produção junta no seu programa obras que refletem o clima de inconformismo e perplexidade porque que passa o país.

Entrevista // Pedro Vilela

Pedro Vilela é o curador do Trema! Foto: Reprodução do Facebook

Pedro Vilela é o curador do Trema! Foto: Reprodução do Facebook

“Já não sabemos o que podemos fazer em torno desta inércia”, diz você no catálogo. Então o que fazer com essa distopia, que evidencia a plena decadência humana?
Hoje se iniciarmos a reflexão sobre o atual estado pode se configurar como um paradigma inicial. E arte nos aponta horizontes, pelo menos desconfiamos disso. Na história da humanidade ela teve esse papel, a de ser agente transformador de realidade, de escancarar distopias. E neste sentido, estamos falando de arte, não de entretenimento. Estamos mergulhados numa sociedade fugaz que preza por possíveis “diversões” em suas horas vagas, pós-trabalho. Então o festival, infelizmente, não poderá te dar só isto… é isso, e é também uma tentativa de reviravolta dentro de si, para enfim poder revirarmos nossa sociedade. É uma tentativa de caminho…

A reflexão do escritor Aldo us Huxléya: ¨E se esse mundo for o inferno de outro planeta?¨ É uma bela frase de efeito!
É? É, né? Talvez por isto nos encante tanto! E me encanta ainda mais por se tratar de um questionamento! Por nos apequenar de alguma maneira… logo nós, tão especiais, seres únicos neste universo imenso, detentores de tantas verdades…

São 24 sessões, de 15 espetáculos, dos quais 1 é internacional, 8 nacionais e 6 pernambucanos. Você diz “Quando montamos um festival, não temos controle sobre as conexões que o público fará….”. Mas então quais as conexões que os diretores do Trema! fizeram?
Acho que a principal seja com o festival do ano passado… se anteriormente apontávamos para uma necessidade de ré-construção de nossa sociedade, neste afirmamos nosso mergulho à barbárie e nossa inércia em combater isto, porque no fundo talvez sejamos bárbaros mesmos… mas ainda que indiretamente podemos também ver um mergulho em tornos de questões que se tornaram ainda mais urgentes em nosso País…

Por que o teatro de pesquisa é melhor que os outros?
Isso você está a afirmar (risos). Escolhemos este recorte pois é a partir dele que pensamos arte e mundo. Quando você cria algo objetivando “sucesso” e dinheiro na maioria das vezes esquece de sua função principal de agente modificador de realidades. Outros veículos sabem “entreter” o público com mais tenacidade do que o teatro e tenho visto que reside no teatro de grupo esta “escolha” pelo caminho mais tortuoso, onde artistas muitas vezes abdicam de certas “regalias” sociais por tentar construir uma sociedade mais justa, solidaria… no fundo somos bastante utópicos! (Risos)

Qual o orçamento do Trema neste ano? Como vocês conseguiram os recursos? E o que ficou faltando?
O orçamento neste ano é de 230 mil, fruto desta trajetória que vem sendo criada. A parceria com Itaú é bastante frutífera, pois percebemos a busca desta instituição por projetos como o nosso, haja vista as ações que realizam como a própria manutenção do instituto Itaú Cultural e o programa Rumos. Louvável também pela descentralização dos recursos e potencialização de uma ação com este caráter em pleno Nordeste. Já estamos de olho em 2018 e consolidando-se estas parcerias, podermos ampliar a presença de espetáculos internacionais no festival.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

NOITE
Circolando (Portugal)
3 e 4 de maio – Teatro Barreto Júnior, 20h

PROCURA-SE UM CORPO – AÇÃO Nº 3
Núcleo de Teatro do Sesc Petrolina & Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
13 de maio – Casa da Cultura, 11h
14 de maio – Recife Antigo, 15h

DIGA QUE VOCÊ ESTÁ DE ACORDO! MÁQUINAFATZER
Teatro Máquina (Ceará)
05 de maio – Teatro Hermilo Borba Filho, 20h
06 e 07 de maio – Teatro Hermilo Borba Filho, 18h

MEU NOME É ENÉAS – O ÚLTIMO PRONUNCIAMENTO
Márcio Fecher (PE)
05 de maio – Espaço Cênicas, 21h

CABEÇA (UM DOCUMENTÁRIO CÊNICO)
Coletivo Complexo Duplo (RJ)
06 de maio – Teatro Apolo, 20h
07 de maio – Teatro Apolo, 19h

UTOPYAS TO EVERY DAY LIFE
Carolina Bianchi (SP) e Flávia Pinheiro (PE)
08 e 09 de maio – Museu de Artes Afro Brasil, 16h

ORGÍA OU DE COMO OS CORPOS PODEM SUBSTITUIR AS IDEIAS
Teatro Kunyn (SP)
10, 11 e 12 de maio , Espaço Pasárgada, 15h

TRILOGIA ABNEGAÇÃO
Tablado de Arruar (SP)
8, 9 e 10 de maio, Teatro Hermilo Borba Filho, 20h

OSSOS
Coletivo Angu de Teatro (PE)
11 de maio – Teatro Marco Camarotti, 20h

ÓPERA
Coletivo Angu de Teatro (PE)
12 de maio , Teatro Apolo, 20h

DIAFRAGMA 1.0: COMO MANTER-SE VIVO?
Flávia Pinheiro (PE)
11 de maio , Teatro Hermilo Borba Filho, 20h

SALMO 91
Cênicas Cia de Repertório (PE)
12 de maio , Espaço Cênicas, 18h

LEITE DERRAMADO
Morente Forte Produções Teatrais e Club Noir (SP)
13 de maio – Teatro de Santa Isabel, 20h
14 de maio – Teatro de Santa Isabel, 18h

ENCONTROS TREMÁTICOS

DIÁLOGOS TREMÁTICOS 1
Experiências Compartilhadas em Gestão (BRA/PT)
06 de maio , Centro Apolo-Hermilo, 15h

DIÁLOGOS TREMÁTICOS 2
Demonstração pública de processo criativo (Máquina/CE)
07 de maio , Centro Apolo-Hermilo, 15h

DIÁLOGOS TREMÁTICOS 3
Debate ¨Esquerda Brasileira – distopias e realidades¨
10 de maio , Centro Apolo-Hermilo, 18h

DIÁLOGOS TREMÁTICOS 4
Encontro com programadores do Palco Giratório SESC
13 de maio , Centro Apolo-Hermilo, 15h

ATIVIDADES FORMATIVAS

OFICINA 1
TEATRO DOCUMENTÁRIO CONTEMPORÂNEO IBERO-AMERICANO
Dias 05, 06 e 07 de maio , Sesc Santa Rita, 10h as 13h

OFICINA 2
DERIVA com participação no espetáculo ORGÍA
Dias 07 a 12 de maio , Espaço Pasárgada, 13h às 18h

LANÇAMENTO DE PUBLICAÇÕES

REVISTA , TREMA ! Revista de Teatro

LIVRO , O menino na gaiola, Cleyton Cabral
04 de maio , Teatro Barreto Junior, 19h30

LIVRO , Trilogia Abnegação, Alexandre Dal farra
10 de maio , Centro Apolo-Hermilo, 19h

SERVIÇO
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Canal de Venda Web: www.compreingresso.com.br

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Grace Passô é invadida por Uma Voz

Grace Passô no colo Grão da Imagem: Vaga Carne. Foto: Kelly Knevels

Grace Passô no solo Grão da Imagem: Vaga Carne. Foto: Kelly Knevels

As peças da dramaturga, atriz e diretora mineira Grace Passô têm um toque surreal, porque a realidade – sob determinada perspectiva – é mesmo um absurdo. Na ciranda de medos e afetos, abacates desabam sem pudor na montagem Por Elise, do grupo Espanca!. “Cuidado com o que planta no mundo!”, avisa a mulher que cultivou a árvore e tem medo das frutas que caem. O homem dorme, mesmo quando acordado em Amores Surdos, também do Espanca!, porque os personagens não se ouvem, não se enxergam, não se percebem. Um estranho acordo de amor. Na peça Grão da Imagem: Vaga Carne, com texto, direção e atuação de Grace Passô, os elementos kafkianos se aproximam da realidade ilógica (ou perversa) subvertendo seu status a partir de temas identitários.

Grãos da Imagem: Vaga Carne é a atração desta sexta-feira (6), no Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h, da programação do Trema Festival.

A personagem é Uma Voz errante, que invade matérias sólidas, líquidas ou gasosas, e decide, pela primeira vez, apossar-se de um corpo humano. “A peça parte da noção de construção da identidade, do contraste do ser social e subjetivo, dos conflitos e comunhão entre público e privado, do que há entre o julgamento social e as existências”, conta Grace no relato íntimo sobre o espetáculo, publicado na revista Trema!.

É uma jornada de auto reconhecimento, onde Uma Voz ocupa o cenário, “um corpo de mulher”, narrando o que sente ou finge sentir; o que é insondável em si, como sua imagem chega aos outros que veem. A proposta é de uma experiência complexa. São investigações e urgências estéticas de Passô contaminadas pelas inquietações do real.

Em Grãos da Imagem: Vaga Carne a atriz verticaliza sua identidade de mulher e negra. Uma instigação contra prescrições de nossa sociedade falocêntrica e racista. E nessa plataforma de gênero e étnica que o discurso é desenvolvido, os fragmentos de vida dessa Uma Voz vão aquém e além do corpo.

Jeito de moleca da atriz camaleônica. Foto: Lucas Ávila

Jeito de moleca da atriz camaleônica. Foto: Lucas Ávila

O espetáculo estreou no Festival de Curitiba em março, mesmo evento que a projetou junto com seu ex-grupo Espanca! em 2005. A atriz de 35 anos tinha 24 quando apresentou Por Elise no Fringe. Seu domínio técnico e carisma ficam mais apurados no decorrer dos anos.

Grace Passô é uma intérprete admirável. Que cria e encara provocações, que surpreende, que modula com expressões corporais e vocais, que sabe carregar bem as emoções, que faz seus gestos transbordarem de sentidos. E que usa tão bem a ironia com poderosa arma crítica. É incrível como ela pode se transformar nos seus personagens. Com uma propriedade que desperta a cumplicidade do público. É uma alegria acompanhar desde Por Elise da trajetória dessa artista brasileira.

Ficha Técnica
Direção, texto e atuação: Grace Passô.
Fotografia: Lucas Ávila.
Identidade Visual: 45 Jujubas.
Interlocutores: Ricardo Alves Jr. e Kenia Dias.
Luz: Nadja Naira.
Produção: Nina Bittencourt.
Gênero: Drama
Classificação indicativa: Livre
Duração: 60 minutos

Serviço
Grãos da Imagem: Vaga Carne
Quando: Sexta-feira, 6 de maio, às 20h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10
Informações: (81) 3355-3320

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