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Nanini enaltece arte do ator
Crítica a partir da peça Traidor

Marco Nanini e o boneco Naninão no espetáculo Traidor. Foto: Divulgação

Marco Nanini subiu ao palco do Teatro do Parque, na Boa Vista, região central do Recife, para abrir a programação do 23º Festival Recife do Teatro Nacional com o espetáculo Traidor, de Gerald Thomas, na quinta-feira, (21/11), com mais duas sessões nos dias seguintes. Leia como foi a abertura. O primeiro impacto dessa montagem é o cenário, uma representação visual pesada do caos e da fragmentação presentes na dramaturgia e na encenação. Concebido por Fernando Passetti, o palco se apresenta como um mundo em ruínas, repleto de escombros e objetos desconexos que refletem o estado mental conturbado do protagonista. O elemento mais impactante é um boneco gigante amarrado. Uma metáfora visual do personagem aprisionado em seus próprios delírios? De todo modo, o ator não se relaciona com o Naninão e em algum momento comenta. “Não consigo (olhar). É muito fake”, 

Espalhados pelo palco, encontram-se restos de colunas de concreto, adereços variados, inclusive uma cafeteira largada, que o protagonista diz não ter nenhuma utilidade na cena e que até debocha que deve ser teatro “moderno”. A iluminação transforma constantemente a percepção do cenário, alternando entre focos específicos e iluminação geral, contribuindo para a sensação de instabilidade. Este panorama amplifica a sensação de um mundo em ruínas.

Tudo parece tão confuso. Tem obras assim. Não sei por onde entrar. Me chamam, mas não me pegam. É a terceira vez que assisto Traidor, título que intriga e não entrega. A primeira vez foi na estreia no Teatro Antunes Filho, do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com todas aquelas pedras cenográficas no caminho; uma segunda vez no mesmo teatro, com algumas alterações na montagem. E desta vez no Festival Recife do Teatro Nacional, onde o cenário fica mais concentrado. Esse festival bancado pela Prefeitura do Recife quase foi extinto; resgatado ano passado para o bem da cultura, pois é um evento muito importante.  

Com sua metralhadora falatória, o protagonista pula do mundo em guerra, com as bombas que explodem em Gaza, para as redes sociais que  estilhaçam imagens. A dramatugia/encenação de Thomas brinca com a ideia de que a narrativa tradicional está morta. Ele estica até esgarçar a convicção de que o teatro contemporâneo não comporta enredo e personagem convencionais. Em fragmentos desconexos, aciona o fluxo de consciência de um homem beirando à loucura, refletindo a cacofonia do mundo atual.

Na construção do protagonista, observa-se um vasto painel de referências culturais e literárias. Do vulto de Samuel Beckett ao niilismo do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o personagem central incorpora elementos do enigmático Próspero, o mago desterrado da obra-prima shakespeariana A Tempestade, absorvendo sua solidão e o domínio sobre um reino que existe apenas na imaginação. Paralelamente, ele ressoa as angústias de Joseph K., o emblemático anti-herói de Kafka em O Processo, enredado em uma teia de absurdos burocráticos e dilemas existenciais. A característica marcante do cabelo desgrenhado do renomado maestro britânico Leopold Stokowski (1882-1977) é incorporada ao personagem como uma nota da genialidade caótica e da excentricidade artística.

 “Roubei de Shakespeare. Sim, do Próspero de A Tempestade. Mas essa voz é minha. Até certo ponto, claro. Somos quem somos, até certo ponto. Isso também não é meu. É… de Kafka. Como veem, nada em nós é totalmente original. Mas nada é inteiramente falso também. Estamos no meio. Do quê? É assim! O Século 21. Bem-vindos a essa zona!”, solta o personagem.

Em meio à narrativa ficcional, Nanini, que atua em uma cadeira de rodas, explica ao público que ainda se recupera de uma cirurgia para a reparação do menisco – estrutura interna do joelho, – e que faz o seu melhor para que o público goste do espetáculo.

Do espetáculo, há quem goste, há quem não. Mas da atuação do Nanini, da dignidade do seu trabalho, é praticamente uma unanimidade. O que fica ao final é uma comovente ode à arte do artista da cena. 

Marco Nanini atua em uma cadeira de rodas. Foto: Divulgação

Em sua construção dramatúrgica, Thomas tece fios de memórias, observações mordazes e desabafos, entrelaçados com referências à cultura pop e à publicidade. Essa estrutura aparentemente caótica revela-se como um meticuloso exercício de autorreferência. As vivências do autor – desde sua estadia em Nova York e a angústia burocrática da imigração até suas passagens por Punta Cana e elucubrações sobre a realidade brasileira – são destiladas em um mosaico autobiográfico.

Na última parte de Um Circo de Rins e Fígados, de 2005, escrito e dirigido por  Thomas, Nanini encerrava a peça com uma reverência à sua profissão: “Quando dizem que o ator não se emociona, estão errados. A gente se emociona sim”. Esta frase retorna em Traidor: “A gente se emociona, a gente se emociona sim.” A repetição desta afirmativa permeia diversos momentos da apresentação, até que o protagonista admite: “Gente, vamos ser honestos. Sério. Eu vou parar com essa coisa de dizer ‘A gente se emociona sim’. É truque. É bobagem. É efeito. Sim, sim, a gente se emociona sim, mas não precisa ficar afirmando isso na frente das crianças não”.

É provocação em muitas escalas, essa dramaturgia erguida a partir de fragmentos, como se o personagem fosse um roteiro do Instagram, onde imagens passam rapidamente sem conexão aparente entre si. Nesta estrutura, o encenador espalha sua erudição pelo palco, transitando de um assunto a outro, citando artistas e conceitos na velocidade de um feed de rede social. É como se Thomas tivesse mergulhado na piscina do conhecimento, desafiando o público a acompanhá-lo neste fluxo vertiginoso de informações.

A cena do comercial da salsicha. Foto: Divulgação

A crítica ao mercado e ao capitalismo neoliberal é elaborada através de cenas em que o protagonista faz publicidade de salsichas vestido de mulher. Enquanto alguns podem considerar esses quadros hilários, eles também podem ser percebidos como irritantes, devido às falsas inocentes exaltações fálicas embutidas na publicidade. Em um momento, o ator na propaganda da peça declara: “É com chucrute no bumbum é que se vai… É isso aí…”. Em outra intervenção comercial, ele se rebela: “Não vou, não vou e não vou fazer mais um desses comerciais ridículos! Eu descobri tudo! Você acha que vai me tapear com chucrute no bum bum? Ora? Essa linguiça não tem nada a ver com Chico Mendes e nem com Punta Cana. Tem a ver com… Tira isso tudo de mim, tira essa cozinha daqui…”

Estas cenas satirizam a indústria publicitária e questionam o papel do ator neste sistema, criando um contraponto irônico à afirmação recorrente sobre a emoção do ator.

O humor, a ironia e o nonsense são oferecidos e alguns identificam e compram. A gravidade dos assuntos apontados se diluem na velocidade do processo de desumanização causado pela tecnologia e pela constante exposição a tragédias mundiais. Com isso, a peça escancara nossa relação com a informação na era digital, onde o Google substitui a leitura aprofundada e as redes sociais moldam nossas percepções. O protagonista, em um momento, exclama: “O Instagram é pior do que as fogueiras da Inquisição! O Facebook é pior do que o Terceiro Reich!” – uma hipérbole talvez, mas que carregada desse sentimento de alienação na era digital.

Afirmações seguidas de negações dão o tom da montagem. E que ninguém busque uma salvação. “Nada nessa história faz sentido. Nada. O corpo da minha mãe não foi jogado ao mar. (…) Não havia barco onde morávamos. Não morávamos no litoral. Não tinha praia”, aponta o personagem. 

Foto: Divulgação

Quatro atores coadjuvantes trabalham como elementos cênicos vivos, amplificando a atmosfera surreal da peça. Apollo Faria, Hugo Lobo, Marllon Fortunato e Wallace Lau forma o coro que executa uma variedade de ações performáticas em apoio ao monólogo de Nanini.

Suas intervenções são diversas: iluminam o protagonista com lanternas, manipulam guarda-chuvas, simulam cenas de guerra, realizam coreografias em nudez e executam pantomimas. Essas ações tem intenção de preencher espaços físicos e metafóricos da peça.

Complementando o elenco presencial, a voz em off de Fabiana Gugli interpreta uma diretora imaginária, funcionando como uma espécie de consciência externa ou alter ego do protagonista ou do diretor.

Embora os elementos adicionais em Traidor representem uma escolha estética e conceitual deliberada, é plausível argumentar que a peça poderia funcionar bem como um monólogo, prescindindo do cenário grandioso e do coro de atores. A dramaturgia autorreferencial de Thomas, aliada à presença magnética de Marco Nanini, potencializada pelo uso eficiente do ponto eletrônico, e realçada pela iluminação exuberante característica do diretor, seria mais que suficiente para sustentar a obra.

A estética experimental de Gerald Thomas, que causou furor nas décadas de 1980, 1990 e 2000, revela-se paradoxal em Traidor. Sua estrutura e estética podem parecer nostálgicas, um teatro particular que não dialoga plenamente com as sensibilidades atuais. Talvez seja justamente nessa aparente singularidade que resida seu fascínio peculiar. O texto enigmático de Thomas, permeado de referências particulares e divagações existenciais, serve como um veículo para algo mais profundo: a revelação da humanidade de Marco Nanini.

É nos interstícios entre o personagem e o ator que Traidor encontra sua força. Nanini, figura icônica do teatro, cinema e televisão brasileiros, traz para o palco não apenas sua técnica apurada, mas também fragmentos de sua própria essência. A ambiguidade entre o real e o fictício, característica intrínseca do teatro, é aqui elevada a um novo patamar, convidando o público a um exercício de percepção sobre onde termina o personagem e onde começa o homem.

Um episódio emblemático na estreia no Teatro Antunes Filho, do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, ilustra perfeitamente essa dualidade. A queda acidental de Nanini no palco, um momento potencialmente catastrófico, transformou-se em uma demonstração pungente de sua grandeza profissional. Sua determinação em retornar e concluir o espetáculo transcendeu a mera atuação, tornando-se uma afirmação poderosa sobre resiliência e compromisso com a arte. Leia sobre o incidente.

Enfim, Nanini é um grande ator que potencializa qualquer material com o qual trabalha. Nesta 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional, ele é acarinhado por seus conterrâneos, sendo ele mesmo recifense que ainda na infância se mudou para o Rio de Janeiro. Sua presença no festival enriquece o evento e reafirma sua conexão com suas raízes pernambucanas.

Ficha técnica:
Texto, direção e concepção visual: Gerald Thomas
Iluminação: Wagner Pinto
Cenografia: Fernando Passetti
Figurinos: Antonio Guedes
Direção musical e trilha sonora: Alê Martins
Direção de movimento: Dani Lima
Assistente de direção: Samuel Kavalerski
Direção de produção: Fernando Libonati
Coordenação de produção: Carolina Tavares

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

 

 

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Recife do teatro nacional
11 dias de festival

Peça Traidor, com Marco Nanini, abre Festival Recife do Teatro Nacional. Foto: Annelize Tozetto / Divulgação

A 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional começa nesta quinta-feira, 21 de novembro, prometendo uma intensa maratona cultural até o dia 1º de dezembro. Este evento, que se firmou como um dos mais significativos no panorama teatral brasileiro, reúne 31 espetáculos de companhias pernambucanas e de outros estados, em diversos teatros e espaços públicos do Recife. A programação inclui apresentações gratuitas, oficinas e rodas de diálogo, com ingressos distribuídos mediante a doação de um quilo de alimento não perecível, promovendo uma ação solidária que beneficia a comunidade local.

Este ano, o festival presta homenagem a Marco Nanini e Ivonete Melo (in memoriam).

Marco Nanini é uma figura icônica no cenário artístico brasileiro, com uma carreira que se estende por mais de seis décadas. Nascido no Recife, Nanini se mudou ainda criança para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória no teatro, televisão e cinema. Ele é amplamente reconhecido por sua versatilidade como ator, capaz de transitar entre o drama e a comédia com maestria. Nanini ganhou destaque nacional por seu papel na série de televisão A Grande Família, onde interpretou o personagem Lineu Silva, conquistando o carinho do público brasileiro.

No teatro, Nanini é conhecido por sua dedicação e paixão pela arte cênica. Ele já participou de inúmeras produções teatrais, muitas delas ao lado de outros grandes nomes do teatro brasileiro. Sua contribuição para as artes cênicas é inestimável, e sua presença no Festival Recife do Teatro Nacional é uma celebração de suas raízes pernambucanas e de sua trajetória.

Ivonete Melo. Foto: Reprodução

Ivonete Melo é lembrada como uma das grandes referências do teatro pernambucano. Com uma carreira marcada pela militância e dedicação, Ivonete presidiu o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Pernambuco (SATED-PE) por mais de 20 anos. Ela foi uma figura central no grupo Vivencial, conhecido por sua atuação inovadora e provocativa no teatro entre as décadas de 1970 e 1980, frequentemente desafiando normas sociais e artísticas da época.

A influência de Ivonete Melo no teatro pernambucano é inegável, refletindo seu compromisso inabalável com a defesa dos direitos dos artistas e a promoção da cultura local. Admirada por sua habilidade em inspirar e liderar, ela desempenhou um papel crucial no fortalecimento da comunidade artística. A homenagem a Ivonete no festival celebra sua dedicação e militância, ao mesmo tempo em que reconhece o impacto duradouro de seu legado na cena teatral pernambucana.

Foto: Matheus José Maria / Divulgação

Traidor é uma peça que marca a abertura do Festival Recife do Teatro Nacional, estrelada por Marco Nanini e dirigida por Gerald Thomas.

Marco Nanini, em uma performance tour de force, encarna um náufrago da própria mente, isolado em uma ilha que é tanto física quanto metafórica. Seu personagem, batizado com seu próprio sobrenome, “Nanini”, navega por um mar de memórias fragmentadas e delírios vívidos, confrontando sua identidade como ator e a própria essência do que significa ser humano em um mundo cada vez mais desconexo.

A frase que norteia Traidor, citada várias vezes ao longo da peça, é justamente aquela que encerrava Um Circo de Rins e Fígados, outra parceria Nanini Thomas: “A gente se emociona, a gente se emociona sim.” Esta declaração ressoa como um manifesto da arte da interpretação, ecoando através do tempo e das obras de Gerald Thomas. Em Traidor, que estreou em novembro de 2023 em São Paulo, essa afirmação ganha novas camadas de significado, transformando-se em um farol que ilumina a jornada labiríntica de um ator perdido entre realidade e ficção.

A dramaturgia fragmentada de Thomas encontra em Nanini um intérprete capaz de dar corpo e voz às angústias e contradições de um artista acusado de um crime que não cometeu, mas que talvez tenha cometido em alguma de suas múltiplas personas teatrais. A peça trata de muitos assuntos, refletindo o caos contemporâneo, a ansiedade gerada pelo excesso de informações e o uso viciante das redes sociais, enquanto simultaneamente se apresenta como uma declaração de amor ao ofício da representação. 

Programação Diversificada

Édipo Rec. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Márcia Luz em Antígona – A Retomada. Foto: Divulgação

Othon Bastos em Não me entrego não. Foto: Beti Niemeyer/ Divulgação

Rei Lear. Foto: Mariana Chama / Divulgação

A programação diversificada do festival inclui 13 espetáculos nacionais e 18 locais na programação principal (ver programação completa abaixo), abrangendo desde peças infantis e sátiras até musicais e dramas. Entre as produções estão Édipo REC; Eu Não Me Entrego, Não; Antígona , Rei Lear.

Édipo REC, produção do grupo recifense Magiluth, é uma releitura contemporânea da tragédia grega de Sófocles. Ambientada em um imaginário Recife de 2024, a peça explora temas como o excesso de produção de imagens e a manipulação da realidade nas redes sociais. A direção de Luiz Fernando Marques traz elementos do cinema, com referências a filmes como Édipo Rex de Pasolini. O espetáculo brinca com a cronologia e questiona a noção de tempo no teatro. 

Solo da atriz pernambucana Márcia Luz, Antígona – A Retomada reinterpreta a clássica tragédia grega de Sófocles sob uma perspectiva contemporânea e afro-brasileira. A montagem radicaliza o protagonismo feminino já presente na obra original, entrelaçando a voz da personagem Antígona com as vivências da própria atriz como mulher negra. Dirigida por Quiercles Santana, a peça busca fazer reflexões sobre raça, gênero e poder na sociedade atual.

Eu Não Me Entrego, Não marca a estreia solo do veterano ator Othon Bastos. Escrita e dirigida por Flávio Marinho, a peça percorre os principais momentos da carreira de Othon, incluindo seu papel icônico em Deus e o Diabo na Terra do Sol. E utiliza um formato  descrito como “monólogo híbrido”, onde a atriz Juliana Medella atua como uma “memória” em cena, interagindo com Othon. 

Adaptação ousada da Cia. Extemporânea, Rei Lear traz a tragédia de Shakespeare para o universo das drag queens. Com um elenco composto inteiramente por artistas drag, o trabalho funde a estética drag com a poesia trágica shakespeariana. Dirigida por Ines Bushatsky e adaptada por João Mostazo, o espetáculo utiliza elementos como lipsync (Sincronia Labial) e performances de boate para reinterpretar cenas clássicas. A produção celebra a arte drag, destaca sua capacidade de expressar emoções complexas e desafiar normas de gênero, oferecendo uma visão contemporânea de Rei Lear.

Jéssica Teixeira em Monga. Foto: Ligia Jardim / Divulgação

O evento também marca a estreia do OffREC, uma agenda dedicada a experimentos e espetáculos em processo, que ocorrerá no Teatro Hermilo Borba Filho, de 25 a 30 de novembro. Na programação estão a provocante peça Monga, da cearense radicada em São Paulo Jéssica Teixeira, o  espetáculo itinerante ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos e a Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com as atrizes Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales, com mediação de Hilda Torres. A curadoria do OffREC é assinada por Rodrigo Dourado.

Projeto Arquipélago de Critica

Nesta 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional quatro profissionais ligados ao Projeto Arquipélago participam de uma ação de  prática da crítica. Kil Abreu, da Cena Aberta, Heloisa, da Farofa Crítica, Fredda Amorim (convidada) e Ivana Moura, do Satisfeita, Yolanda? tod_s com ampla experiência na produção de conteúdos críticos. 

O projeto arquipélago é uma iniciativa coletiva inovadora de fomento à crítica apoiado pela produtora Corpo Rastreado, de São Paulo, que surgiu em novembro de 2022 para fortalecer a crítica teatral independente no Brasil. Atualmente, seis casas virtuais participam do projeto: Guia Off, Farofa Crítica, ruína acesa, Satisfeita, Yolanda?, Tudo, Menos Uma Crítica, Cena Aberta e Horizonte da Cena.

Programação Principal

Quinta-feira (21 de novembro)

19h30 – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.

Sexta-feira (22 de novembro)

15h – Palhaçadas – História de um Circo sem Lona (Cia. 2 em Cena/PE), no Teatro Barreto Júnior.
18h – Cara do Pai (Coletivo Opte/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Eu no Controle (Cia da Baju/PE), no Teatro Apolo.

Sábado (23 de novembro)

17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Macaxeira.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
18h – Antígona – A Retomada (Luz Criativa/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – 2 Mundos (Lumiato Formas Animadas/DF), no Teatro Apolo.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.
20h – Traidor (RJ), no Teatro do Parque.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.

Domingo (24 de novembro)

16h – Hélio, o Balão que não consegue voar (Coletivo de Artistas/PE), no Teatro do Parque.
17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Tamarineira.
17h – Frankinh@ (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.
18h – Mulheres de Nínive (Nínive Caldas/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.

Segunda-feira (25 de novembro)

20h – Instinto (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.

Terça-feira (26 de novembro)

20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quarta-feira (27 de novembro)

15h – Malassombros – Contos do Além Sertão (Grupo Teatro de Retalhos/PE), no Teatro Barreto Júnior.
20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quinta-feira (28 de novembro)

20h – Kalash – Ensaio sobre a Extinção do Outro (Coletivo Opte/PE), no Teatro Apolo.

Sexta-feira (29 de novembro)

20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.

Sábado (30 de novembro)

17h – Paraíso (Grupo Teatro Máquina/CE), no Teatro Apolo.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Domingo (1º de dezembro)

17h – Quatro Luas (O Bando Coletivo de Teatro/PE), no Teatro Apolo.
18h – Esquecidos por Deus (Cícero Belmar/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Programação OffREC (25 a 30 de novembro, no Teatro Hermilo Borba Filho)

25 de novembro

16h às 18h – Roda de Diálogo Corporalidades e Estranhamentos, com Johnelma Lopes (UFPE), Ana Marques (UFPE) e Alexsandro Preto (Vale PCD). Mediação: Clara Camarotti.
20h – Espetáculo Monga, de Jéssica Teixeira (CE).

26 de novembro

9h às 12h – Vivência de Teatro Hip Hop, com o coletivo À Margem (PE) e Bento Francisco (PE).
15h às 17h – Espetáculo ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos (PE). Espetáculo itinerante, com concentração no Teatro Apolo.
17h30 às 19h – Roda de Diálogo Teatro Negro em Perspectiva, com Marcos Alexandre (UFMG). Mediação: Jefferson Vitorino (Cia. Máscara Negra).
20h – Espetáculo Xirê, do Coletivo À Margem.

27 de novembro

9h às 12h – Vivência Criando Autoficções, com a Cia. Teatro da UFPE (PE).
16h às 17h30 – Roda de Diálogo Processos Criativos Autoficcionais, com Marcondes Lima (UFPE) e Rodrigo Dourado (UFPE). Mediação: Fátima Pontes (Escola Pernambucana de Circo).
18h – Espetáculo Não. Tá. Fácil, do Coletivo À Margem (PE).
20h – Espetáculo Palestra Babau, Pancadaria e Morte, com Marcondes Lima e Mão Molenga (PE).

28 de novembro

9h às 12h – Vivência Contornos do Tempo: Ensaio na Terceira Idade, com o grupo Memória em Chamas (PE).
16h às 18h – Roda de Diálogo Teatro, Memória e Envelhecimento, com Rodrigo Cunha (IFPB) e equipe do espetáculo Senhora. Mediação: Manu de Jesus, da Creative’se Cultural.
18h – Espetáculo Baba Yaga, da Cênicas Cia. de Repertório (PE).
20h – Espetáculo Senhora, de João Pedro Pinheiro (UFPE).

29 de novembro

9h às 12h – Vivência Dramaturgias Urgentes: Escritas e Cenas Negras, com Kléber Lourenço (PE).
18h – Espetáculo Poema – Desmontagem, da Cia do Ator Nu (PE).
20h – Espetáculo Negro de Estimação – Desmontagem, com Kléber Lourenço (PE).

30 de novembro

10h às 12h – Abertura de Processo Senhora dos Sonhos, com Ceronha Pontes e Gonzaga Leal (PE).
14h às 17h – Roda de Diálogo Teatro e Comunicação na Era Digital: por e para onde caminhamos, com Aline (Vendo Teatro), Fernanda (Teatralizei), Ricardo Maciel (Palco Pernambuco). Mediação: Márcio Bastos.
18h – Performance O Problema é a Cerca, com Renna Costa (PE).
20h – Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales. Mediação: Hilda Torres.

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

 

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Nanini leva tombo em estreia e mesmo assim retoma peça

Marco Nanini estreia Traidor, texto e direção de Gerald Thomas. Foto: Matheus José Maria

Grande Nanini. Na estreia do espetáculo Traidor, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, na noite deste sábado, 18/11, o ator de 75 anos levou uma queda no percurso de saída do palco.

Era uma transição de cena, estava escuro, e o ator tropeçou em duas pedras cenográficas que estavam no meio do caminho, do lado direito do palco, o que o fez bater com o rosto no chão. A peça foi interrompida.

Alguns minutos depois, o próprio Nanini retornou para avisar que estava com o nariz sangrando e seria atendido no camarim.

Um susto e minutos de muita apreensão. O diretor e dramaturgo da montagem, Gerald Thomas, entrou no palco para pedir que o público aguardasse, pois Nanini fazia questão de terminar a peça.

Disse que todo mundo ficou muito nervoso com a estreia e que a queda não fazia parte do espetáculo – o que pareceu óbvio, mas também tinha tudo a ver com as explorações dramatúrgicas da teatralidade em Nietzsche, citada em fluxos de pensamento, do questionamento da falta de sentido da vida à mira dos procedimentos cênicos. 

Thomas voltou ainda outra vez, para situar o estado do ator e confirmar que Nanini terminaria a peça.

No cenário de Traidor, entre outras coisas, tem um boneco gigante de Nanini amarrado, deitado no palco, e pedras. Essas pedras, que já haviam sido citadas na fala desconexa da personagem, de Drummond e seus versos, foram retiradas na segunda parte da apresentação, após a queda. 

Traidor  “é um abundante e divertido delírio psicológico de um ator acreditando e vivendo a soma de todos os personagens da história do teatro”, diz o material de divulgação. Nesse estado de desvario, a figura mistura diversos assuntos aleatórios: guerra Israel-Hamas-Palestina, publicidade, salsicha no bumbum, colapso climático, Kafka, William Shakespeare, Beckett.

Marco Nanini em cena no início de Traidor. Matheus José Maria

Outros atores também participam da peça, mas sem falas, numa movimentação que cria imagens sugestivas de sonhos ou pesadelos: Apollo Faria, Eder dos Anjos, Hugo Lobo e Wallace Lau e, pela voz em off, a atriz Fabiana Gugli, a sua diretora imaginária.

Nanini repete algumas vezes, em diferentes momentos, a frase “a gente se emociona, sim”, que remete à montagem Um Circo de Rins e Fígados, encenada em 2005, também com direção de Gerald Thomas.

Na segunda parte da peça, depois da queda, o ator veterano, que utiliza ponto há 10 anos (no teatro, cinema e TV), improvisou e brincou com o tombo e já emendou no texto que coincidentemente falava de médico e arte.

Foi muito aplaudido pela bravura, pelo amor ao seu ofício e pela garra renovada.

A peça segue em cartaz no Teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, até 17 de dezembro.

Boneco gigante do ator, amarrado, deitado no palco, compõe cenografia. Foto: Matheus José Maria

Traidor
Quando: 18 de novembro a 17 de dezembro. Quintas, sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 18h
Onde: Teatro Antunes Filho, Sesc Vila Mariana, São Paulo
Quanto: R$ 60, R$ 30 (meia-entrada) e R$ 18 (credencial plena)
Ingressos: https://www.sescsp.org.br/programacao/traidor/

Ficha técnica:
Texto, direção e concepção visual: Gerald Thomas
Iluminação: Wagner Pinto
Cenografia: Fernando Passetti
Figurinos: Antonio Guedes
Direção musical e trilha sonora: Alê Martins
Direção de movimento: Dani Lima
Assistente de direção: Samuel Kavalerski
Direção de produção: Fernando Libonati
Coordenação de produção: Carolina Tavares

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