Renata Phaelante é bicho de teatro. Desde pequena acompanha os pais, Renato e Vanda Phaelante, nas montagens do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Em 1982, aos nove anos, debutou no palco com a peça A Capital Federal. Ontem (quinta-feira, dia 3 de fevereiro), ela fez uma estreia, agora na dramaturgia. Ela assina e protagoniza o espetáculo Separação amigável, que prossegue em cartaz às quintas e sextas-feiras, às 20h, até o fim de março, no Teatro Valdemar de Oliveira, na Boa Vista, no Recife.
É uma comédia de costumes, com fôlego para conquistar plateias pouco afeitas a elucubrações e dispostas a rir com um chiste, uma gagueira, um trejeito que remeta para alguma celebridade do presente ou do passado, ou mesmo um diálogo inteligente. Separação amigável tem um pouco de tudo isso.
Milena (interpretada pela própria Renata) e o psicanalista Mário (Pascoal Filizola) são recém-separados, depois de uma união de 20 anos. Mas ele não se conforma com a ruptura no casamento e tenta a todo custo reatar. Nesse primeiro momento da peça, os diálogos são inteligentes, ágeis, engraçados, que expõem a árdua tarefa de conviver com alguém intimamente por tanto tempo.
O motivo do conflito para a separação – o marido foi flagrado no elevador com a jovem vizinha Malu (Sandra Rino) – é frágil e a própria dramaturgia encontra dificuldade de engatar os motivos e manter o embate com vibração.
A vizinha aparece no apartamento do casal para contar uma ideia estapafúrdia que teve para se livrar do próprio marido Esmeraldo (Valdir Oliveira): de que estava tendo um caso com Mário. E a vida do psicanalista só faz piorar.
Dramaturgicamente percebemos essas oscilações na peça que na sua estrutura interna se perde em intenções, nas mudanças dos quadros. No fluxo da comédia de costumes para a farsa. Há também barrigas, que precisam ser resolvidas.
A direção de Kleber Lourenço apela para alguns truques que funcionam como válvulas de humor em Separação amigável. Como um efeito de luz ou som para realçar uma característica de alguma personagem.
Os atores da peça brincam com tipos bem fáceis de serem reconhecidos. Milena criada por Renata Phaelante é uma mulher dominadora, falante, cheia de conceitos, expansiva, de gestos largos e roupas extravagantes. Mário concebido por Pascoal Filizola é um psicanalista bem sucedido, mas na vida privada é um homem dominado pela mulher, gago, medroso, de gestos contidos. A junção desses dois dá uma receita bem engraçada.
O casal vizinho, Malu (Sandra Rino) é uma ninfomaníaca, que quando bebe baixa a Pomba-gira. Essa composição dramatúrgica é cheia de fissuras e a atriz buscou o tom mais histérico para provocar o riso. Consegue. Esmeraldo (Valdir Oliveira), o marido de Malu, parece um matador profissional, e aparece com todo aquele estereótipo de marido ciumento que veio tomar satisfação. O texto ainda diz que ele tem distúrbios mentais. Valdir Oliveira tem maneirismo entre o valentão e o gozador (no caso do coitado do marido da Milena, que está com suposto problema sexual), que dá graça ao personagem.
São situações patéticas, de personagens caricaturados que garantem o riso. O registro em alta, quase beirando o histerismo provocaram muitas gargalhadas na estreia.
Alguns detalhes são interessantes. Como por exemplo o número do apartamento do casal é 171. Há outros que o público pode descobrir.
A junção de profissionais de tribos tão diferentes cria um caldo criativo interessante. A direção do ator, bailarino e diretor Kleber Lourenço (com assistência de direção de Tato Medini) busca aproximar de uma plateia que frequenta o Teatro Valdemar de Oliveira, interessada no jogo da diversão. Os cenários são propositadamente cafonas e foram idealizados por Marcondes Lima. A trilha sonora é de Henrique Macêdo; a iluminação de Jathyles Miranda, que se harmonizam com a proposta.
Serviço:
Separação amigável
Quando: quinta e sextas-feiras, às 20h, até o fim de março
Onde: Teatro Valdemar de Oliveira (Praça Oswaldo Cruz, 412, Boa Vista)
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Informações: (81) 9208-1000 / (81) 9619-5396