Arquivo da tag: Teatro Hermilo Borba Filho

Resumo da ópera deste fim de semana

Caetana abre Palco Giratório às 19h30. Foto: Roberta Guimarães

O Palco Giratório começa hoje. Decidi então postar um resumo das opções “giratórias” para este fim de semana. A abertura da maratona é com a rezadeira Benta, que encomendou muitas almas aos santos, mas não estava preparada para encarar a própria morte. Essa é a sinopse da peça Caetana, que será encenada pelas atrizes Lívia Falcão e Fabiana Pirro. A apresentação única e gratuita será hoje, às 19h30, no recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça, que fica no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. A sessão contará com o recurso da audiodescrição, para pessoas com deficiência visual.

Depois de Caetana e da pré-estreia de Essa febre que não passa, no Hermilo (off Palco),vamos conferir a Cena bacante, no Espaço Muda. Lá, as meninas da Cia Animé apresentam As levianas. Tem ainda as comidinhas da Cena Gastrô e vinho Rio Sol.

Ceronha Pontes e Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

Já no sábado, o Palco começa a sua programação com a Cia Polichinello, de São Paulo, que apresenta Frankenstein no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, reduto do teatro infantil neste festival, às 16h30. A peça será reapresentada no domingo, no mesmo horário. O grupo, que pesquisa o teatro de bonecos, traz a história do cientista Victor Frankenstein, que abandona a sua criação.

Frankenstein faz duas apresentações no Marco Camarotti

À noite, às 20h, no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Angu de Teatro estreia o seu quarto espetáculo: Essa febre que não passa (a gente vê hoje e conta tudo por aqui amanhã. Ivana Moura esteve no ensaio ontem para tirar fotos!), baseado em contos do livro homônimo da jornalista e escritora Luce Pereira. Também no sábado, no Teatro Capiba, às 20h, no Sesc Casa Amarela, o grupo Teatro Independente apresenta Rebú. O texto de Jô Bilac mostra o sufoco de Bianca, obrigada a receber em casa a problemática cunhada Vladine e ainda um “protegido” dela. No domingo, a montagem será reapresentada às 20h, com os recursos da audiodescrição. Também no domingo, mas em São Lourenço da Mata, na Praça Senador Carlos Wilson, o grupo Grial de Dança apresenta gratuitamente o espetáculo A barca, às 17h.

No domingo, outra opção de teatro adulto é a peça A galinha degolada, da Persona Cia de Teatro & Teatro em Trâmite, de Santa Catarina. A montagem conta a história de um casal que tem quatro filhos portadores de uma doença mental incurável; a rotina é alterada quando eles têm uma menina que não sofre do mesmo mal. A encenação será no Teatro Apolo, às 19h. Os ingressos para as peças custam R$ 10 e R$ 5.

A galinha degolada faz apresentação única no Apolo

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Esse sujeito em crise pensa demais

O canto de Gregório. Montagem do Magiluth, do Recife

Gregório percorre um labirinto de indagações sem fim. E nessas ruminações, sobrepõe mitos da religião e da filosofia. Esse sujeito em crise pensa demais.

O canto de Gregório é o texto de estreia de Paulo Santoro. Foi montado por Antunes Filho em 2004 e ficou em cartaz até mais ou menos 2006, na sala de ensaios do CPT, em São Paulo.

Foi lá que o diretor Paulo (Pedro!!! Vivemos querendo rebatizar esses Magiluthianos!) Vilela conheceu o texto. E sua montagem da companhia Magiluth busca um caminho bastante diferente do que foi traçado por Antunes.

O Magiluth criou uma caixa branca montada no Teatro Hermilo Borba Filho, onde atores e plateia ficam a centímetros de distância, e dentro da cena, como no caso do julgamento em que alguns espectadores fazem parte do júri.

Em cena estão os quatro atores: Pedro Wagner, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira, Lucas Torres. Pedro Wagner interpreta Gregório. Os outros três se desdobram em vários papéis. Jesus, Buda, Sócrates, o Juiz, mordomo, júri. Gregório veste uma roupa escura e os outros usam macacões e sapatos brancos.

Também são brancos os banquinhos em que o público se senta, cerca de 50. E as cadeiras e mais banquinhos que servem de equipamento de cena.

O texto tenta ser complexo. Em sua solidão, o protagonista se agita por não ser um homem bom. Mas se depara, depois de inúmeras equações de que “a bondade é logicamente impossível”. Esse resultado vem de uma série de pensamentos que coloca a questão da bondade numa posição inatingível. Ele joga em nossa cara que se realmente fôssemos verdadeiramente generosos e corretos, nem precisaríamos pensar nisso.

Já deu pra perceber que o branco predomina

Dar uma esmola é uma ação de generosidade, fraternidade ou uma pressão social somada a nossa culpa pela desigualdade? Perguntas e mais perguntas. É como raciocina Gregório. E trava embate com muitos personagens. Eles necessariamente não são reais. Podem ser projeção na/ ou /da própria cabeça do protagonista.

Mas não são personagens quaisquer. São mitos que norteiam as questões éticas e morais do nosso mundo ocidental. A discussão é boa. Em alguns momentos parece um bom jogo de tênis. Lá e cá. Gregório tira a plateia da superfície cotidiana e conduz para a reflexão. Ele puxa o público para esse estado vertiginoso de dúvidas. Perguntas e mais perguntas.

A montagem do Magiluth multiplica o personagem Sócrates, em um dois três, quatro… como é possível?! É um bom jogo. Jesus aparece. Mas ele não vai oferecer a salvação. Nem mesmo desse palavrório interminável. Ele compartilha das angústias de Gregório e joga a bola para o público.

Mas Gregório cometeu um crime e vai ser julgado. Disparo. Black out. E chega a polícia. Uma solução inteligente e bem humorada do grupo. Ele é questionado. A solenidade do tribunal cede lugar à irreverência nesta montagem.

A cada pergunta, o protagonista responde com outra pergunta. Gregório tenta se defender. “Por favor, Senhor Juiz, eu não estou me furtando a nenhuma resposta. Gostaria mesmo de saber se sou ou não culpado pelo ato que cometi. O que sei é que havia um revólver carregado em minhas mãos, que esse revólver foi disparado por um movimento de meu dedo indicador, e que um projétil, motivado por esse movimento, saiu da arma com direção ao peito de um cidadão, que, em seguida, foi atingido e faleceu. Isso é de conhecimento de todos.”

Nesse percurso existencialista, o texto traça conexões com Franz Kafka (O Processo) e Albert Camus (O Estrangeiro).

Nesse território de ideias, a montagem dirigida por Pedro Vilela faz dessa vivência kafkiana uma ode ao pensamento, ao questionamento de todas as coisas, com pitadas de humor. E remete para os caminhos contemporâneos para se chegar à reflexão, servido em doses sequenciais pelo mordomo.

O elenco se entrega a essa alucinação existencial desse homem. E fica para o espectador a função de decidir se tudo aquilo não faz parte do imaginário de Gregório, inclusive seu próprio crime.

Para quem gosta de adjetivos. Um ótimo espetáculo, com uma pulsação contemporânea e uma sacanagem, como marca estilística do grupo.

Resquícios de um carnaval

O CANTO DE GREGÓRIO
De: Paulo Santoro
Direção: Pedro Vilela
Elenco: Pedro Wagner (no papel de Gregório), Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Lucas Torres.
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Bairro do Recife)
Quando: Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h, só até 1º de maio
Quanto: R$ 16 e R$ 8 (meia)

Postado com as tags: , , , , , , , ,

Imagens de O canto de Gregório

O espetáculo O Canto de Gregório, com o Grupo Magiluth, estreou ontem no Teatro Hermilo Borba Filho. O texto é de Paulo Santoro e a direção de Paulo (Pedro!!!!) Vilela. Participam do elenco Pedro Wagner (no papel de Gregório), Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Lucas Torres.

O personagem Gregório é um homem atormentado pela razão. E ele percorre um labirinto de indagações sem fim. São tentativas para entender. O mundo e a si mesmo. Fluxos e contrafluxos de questionamentos.

Mas a versão magiluthiana de Gregório é mais leve, mais clara e diria até mais debochada do a que eu consegui apreender da montagem de Antunes Filho, anos atrás. Essa sim, densa, escura, praticamente um beco sem saída.

Mas nosso Gregório também dialoga com Buda, Jesus e Sócrates…
O nosso Gregório também apertou o gatilho… Ele é culpado???

Gregório é questionado, acusado, acuado. Em Cena: Erivaldo Oliveira e Pedro Wagner. Fotos: Ivana Moura

Gregório segura a arma do crime

Lucas Torres e Pedro Wagner

Giordano Castro no papel de jurado

Atores Lucas Torres e Erivaldo Oliveira. Fábio Caio na plateia

Embate de ideias e de gestos

O Buda esá nu

Postado com as tags: , , , , , , , ,