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Corpos trans afirmam que estão na luta pela vida
Crítica de O Evangelho Segundo Vera Cruz

 Elke Falconiere, Dante Olivier, Jailton Jr., (em pé) Rodrigo Cavalcanti e Joe Andrade. Elenco da peça O Evangelho Segundo Vera Cruz, do Teatro de Fronteira, de Pernambuco, dirigida por Rodrigo Dourado, que recria episódios da censura contra a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, ocorridos em Garanhuns (PE),  em 2018.

“Negra, pobre, periférica, travesti”. É assim que Erika Hilton, a primeira vereadora transexual de São Paulo – a mulher mais bem votada no Brasil – se apresenta. Como a maioria das mulheres trans, ela foi inviabilizada durante a maior parte dos seus 27 anos de vida. Sua vitória é individual e coletiva. É uma resposta ao avanço da extrema-direita. Muitas outras vêm sendo dadas. Contra o fascismo e o conservadorismo. Na política, na arte, na arte que é política. 

É um marco. Mas nada é tão simples nesses tempos. Os paradoxos gritam. Mulheres eleitas vereadoras e prefeitas, negras, foram ameaçadas de morte. Eles continuam tentando intimidar, limar as afirmações, confiscar os lugares. 

É sobre intimidação, repressão, agressão, intolerância que trata o espetáculo pernambucano O Evangelho Segundo Vera Cruz, do Teatro de Fronteira, dirigido por Rodrigo Dourado. O trabalho tensiona documento e ficção e convoca os episódios condenáveis de censura contra a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, ocorridos em Garanhuns, Pernambuco, em 2018. A montagem foi proibida de se apresentar no Festival de Inverno de Garanhuns, depois de ter sido selecionada pela curadoria do evento.

De maneira criativa e contunde, Vera Cruz recria o périplo da Rainha do Céu, que envolve política, justiça, católicos e neopentecostais, seguidores versus arte e liberdade artística, desobediência civil e re(existência).

De forma breve, a atriz trans Renata Carvalho em corporeidade não-normativa interpreta Cristo, em O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu. As reflexões da peça são as pregadas pelo Cristianismo, como o perdão, compaixão, combate à intolerância preconceito, e toda forma de opressão. Não é isso que ensinam as religiões? Não é tão simples. Renata que o diga. Sua montagem sofreu muitas proibições e retaliações em vários lugares.

Em Garanhuns, a peça foi convidada, excluída da programação, reinserida pela justiça, articulada para fazer sessões paralelas, perseguida. Qual o poder dessa peça que desperta tantas reações?

O Evangelho Segundo Vera Cruz traça dobraduras para salientar que vivemos num pais racista, machista, misógino, transfóbico, LGBTfóbico e que tem horror a pobre.  Vera Cruz é o nome desse lugar fictício, que pode ser o agreste pernambucano onde se passaram os fatos, que remete ao passado colonial brasileiro; ou outro Brasil afora. Colonial, colonialismo, cristianismo, público sendo usado como privado são questões que atravessam a montagem.

Duas atrizes trans (Joe Andrade e Elke Falconiere), um ator trans (Dante Olivier) e mais dois atores cis (Jailton Júnior e Rodrigo Cavalcanti) estão no elenco. Das janelas do Zoom, elxs equalizam sentimento de indignação, revolta, insubordinação. Inflamam de verdades quem sofre na pele as perseguições e a falta de oportunidades. Articulam o clima de instabilidade e praticamente desenham para quem não quer ler o que é ser uma pessoa trans num país como o nosso.

Além das situações que a atriz Renata Carvalho viveu recriadas para a cena online, o dramaturgo e diretor Rodrigo Dourado criou um conflito paralelo à contenda pública, a trama de um casal LGBT formado por um homem cis e um homem trans, que lideram o  movimento para levar a peça à cidade. Os quadrados do Zoom funcionam bem para impor a dinâmica da reinserção e retirada consecutiva da encenação, espelhando o que ocorreu com Renata Carvalho em 2018.

Além do bom desempenho técnico com a plataforma, O Evangelho Segundo Vera Cruz garante o humor ácido e a alternância entre crítica social, posicionamento político e dose de revolta represada por séculos de opressão. O resultado é instigante.  

Em dado momento, a atriz Joe Andrade interage com a plateia, do chat da Plataforma Zoom, ao perguntar se pessoas trans subtraem as oportunidades de trabalho das pessoas cis gêneros. Isso ocorre após uma acalorada renovação da fala da atriz Renata Carvalho sobre o tema do transfake no teatro. É chamada de transfake a prática de atores cis assumirem personagens trans e travestis, Por isso, em abril de 2017 o Coletivo T criou o manifesto ‘Representatividade trans já. Diga não ao Trans Fake’ 

São muitas nuances, provocações de O Evangelho Segundo Vera Cruz, para marcar um posicionamento firme diante do cenário turbulento que inspirou a peça e da complexa realidade em que vivemos.

O mundo tão distópico quanto na ficção ganha relevo no vídeo, que conta com a participação da atriz Renata Carvalho, e é bem desconcertante. Utilizando imagens de arquivos da história do mundo, antigas e recentes, a narrativa se impõe como uma verdadeira guerra em que as vidas transgêneras se defendem para preservar a própria existência. Eu só pouparia a estátua de Ariano Suassuna. 

A esperança de futuro e a reação violenta também vão depender dos ataques. Os corpos dissidentes estão se articulando em força e inteligências para não serem mortos.  Não dá mais para recuar na busca por liberdade, com dissidência e desobediências para o pleno exercício das subjetividades.

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Episódio de censura com atriz trans Renata Carvalho inspira Evangelho Segundo Vera Cruz

Fotomontagem com Elke Falconiere em O Evangelho segundo Vera Cruz, peça pernambucana inspirada em  O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, com Renata Carvalho

Elke Falconiere e Joe Andrade, artistas trans na peça O Evangelho Segundo Vera Cruz. Foto: Ricardo Maciel

Elke Falconiere, Jailton Jr., Dante Olivier, Rodrigo Cavalcanti (abaixado), Joe Andrade. Foto: Ricardo Maciel

Como Jesus Cristo seria recebido neste século 21, se retornasse no corpo de uma travesti? Esse é um dos questionamentos do espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, escrito pela britânica Jo Clifford, e que ganhou uma adaptação no Brasil, traduzida e dirigida por Natalia Malo, com atuação de Renata Carvalho. Desde sua estreia, a peça sofreu uma série de retaliações, incompreensões (principalmente por quem nem assistiu à montagem), boicotes, censuras. Segundo a própria atriz, o episódio mais marcante em sentido negativo ocorreu em 2018, durante a 28ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns, no Agreste pernambucano, que, ironicamente, tinha adotado para aquele ano o tema da liberdade.

Esses acontecimentos de censura ao espetáculo da atriz Renata Carvalho são retrabalhados em O Evangelho segundo Vera Cruz, do Teatro de Fronteira, grupo pernambucano que está completando 10 anos. De acordo com Rodrigo Dourado, dramaturgo e diretor do trabalho, a peça é um retrato desse momento político único e uma homenagem. “Como gesto artístico, é também uma ação para reverter essa condição de vulnerabilidade em que são lançadas as vidas LGBTs, mas também de negros, mulheres, e todos os que são alijados de seus direitos básicos”.

A peça é, especialmente, um manifesto pela representatividade, contando com forte presença da comunidade transgênera em seu elenco, com a estreia das atrizes Elke Falconiere, Joe Andrade e do ator Dante Olivier, acompanhados dos atores Rodrigo Cavalcanti e Jailton Jr.

A montagem O Evangelho segundo Vera Cruz está em temporada online por meio da plataforma Zoom, às quintas-feiras, 26/11, 03/12 e 10/12, às 20h. Ao final de cada apresentação, o grupo passa um chapéu virtual, no esquema Pague Quanto Puder, de contribuição livre, por meio de depósito bancário.

Rainha do Céu

Ao contrário de seus detratores, O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu imprime um discurso de tolerância, exaltando a centelha divina de TODO ser humano. Defende que amar é uma ação revolucionária e que o perdão é basilar para uma convivência pacífica. Entre distribuição de pão e vinho, a protagonista faz uma reencenação, digamos, “pop” da Última Ceia. Predomina a serenidade no tom, com um linguajar jovial para levar à cena a proposição de que se Jesus regressasse como uma travesti seria novamente crucificado aos 33 anos. Ou menos.

A média de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, quando a média do brasileiro chega a 75. De acordo com o Boletim nº 4 de Assassinatos contra travestis e transexuais da Associação Nacional de Transexuais e Travestis (Antra), em 2020, 129 pessoas trans foram assassinadas de janeiro a 31 de agosto no Brasil, o que registra um aumento de 70% em relação a 2019. Entre 2017 e 2020, 436 pessoas trans foram mortas. Em 2019 foram registrados no Brasil 124 assassinatos de pessoas transsexuais, o que dá uma média de um homicídio a cada três dias, segundo o levantamento. É um genocídio, com a mão ou conivência do Estado.

A peça já havia sido censurada em Jundiaí, no interior paulista, no Rio de Janeiro e em Salvador. E foi boicotada em muitos outros lugares. No interior de Pernambuco, o golpe foi duro. O espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu foi convidado pela curadoria do Festival de Inverno de Garanhuns, retirado do festival, reinserido, apresentado na garra e apartado da programação. Cenário de intransigência cultural, “trapalhadas” políticas, e demonstrações de reacionarismo.

A atriz Renata Carvalho enfrentou um calvário de intolerância, cujo ápice ocorreu em 27 de julho de 2018, o que ela considera o “episódio de censura mais violento” que já viveu, com ação de boicote do festival, oficiais de justiça e até a explosão de uma bomba caseira no local da apresentação, numa noite tensa e chuvosa.

Repúdio de líderes religiosos. Mandado de segurança. Ordem dos Pastores Evangélicos de Garanhuns e Região. Tribunal de Justiça de Pernambuco cede à pressão da igreja. Liminar proíbe apresentação da peça. Desembargadores dão decisão favorável à (re)inclusão do espetáculo no FIG. Secretaria de Cultura e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco sustentam exclusão.

Esse episódio todo foi de um desrespeito muito grande. Foi a transfobia institucionalizada. Claro, toda censura agride, como aconteceu em Salvador, em Jundiaí e até no Rio de Janeiro. Mas essa de Garanhuns foi sem dúvidas a mais violenta que nós já sofremos com a peça.
Renata Carvalho, ao The Intercept_Brasil

O dramaturgo e diretor Rodrigo Dourado acompanhou de perto toda essa movimentação. “A questão se converteu num problema político eleitoral, pois prefeito (Izaías Regis) e governador (Paulo Câmara) pertencem a polos opostos do espectro político”, pontua. Dourado integrou o grupo de agentes culturais que fez uma mobilização para que Rainha do Céu fosse apresentada, de forma independente da programação do FiG. “Após inúmeras ameaças e conflitos, Renata Carvalho decidiu realizar a performance mesmo desprovida de todos os aparatos técnicos, contando para isso com o apoio da plateia que desejava vê-la em cena”.

Rodrigo avalia que aquele episódio emoldurou duas energias morais e políticas muito fortes que têm se antagonizado no Brasil. “De um lado, um conservadorismo neofascista e censório, que deseja apagar formas de vida e de expressão não normativas. De outro, movimentos civis que resistem à onda reacionária e exigem seu direito à existência e à cidadania”.

A própria Renata Carvalho alertou à época que aquele não era um caso isolado direcionado contra uma artista trans, mas a demonstração de que a censura estava colocando suas garras para fora.

Dito e feito. Os discursos de ódio e intolerância foram contemplados nas urnas de 2018 e posições conservadoras, reacionárias mostram um orgulho de discriminar o outro – seu dessemelhante.

Entrevista // Rodrigo Dourado, dramaturgo e encenador

Rodrigo Dourado. Foto: Ricardo Maciel / Divulgação

Quais as motivações para erguer O Evangelho segundo Vera Cruz? E durante a pandemia não ficou mais difícil?
Nesse período de 2020, a gente tinha programada uma série de ações para comemorar os 10 anos do Teatro de Fronteira. Precisamos rever tudo. A partir de março, fizemos a primeira temporada de Luzir é Negro!, que era a primeira ação e a temporada já foi bastante prejudicada pela quarentena. O público já foi bem baixo. Então, a gente aprovou várias ações em editais emergenciais como o Arte como Respiro, do Itaú Cultural, Cultura em Rede, do SESC Pernambuco, e o ConVida, do SESC Nacional. O Evangelho Segundo Vera Cruz foi a ação apoiada pelo Cultura em Rede, do SESC de Pernambuco. Esse texto, que tinha sido escrito por mim em 2019, estava engavetado, não tinha sido montado nem publicado e decidimos submeter ao edital.  Quando foi aprovado, começamos o trabalho de montagem no formato online. No início, sim, foi muito difícil a adaptação às plataformas online. A gente não sabia muito bem lidar com tudo aquilo. Foi um aprendizado enorme, porque além da tecnologia em si, quer dizer, os recursos que a plataforma tem, a gente tinha situações de acesso à internet muito diversas, realidades sociais muito diversas dentro do elenco. Precisamos criar uma harmonia, uma unidade entre essas situações, para chegar a um ponto mínimo, ter um denominador comum que nos permitisse uma qualidade mínima de transmissão e a utilização dos recursos da plataforma.
Mas, eu não posso dizer que foi mais difícil do que montar um espetáculo presencialmente. Teve as suas especificidades, mas o processo em si, o tempo, a quantidade de ensaios, a pesquisa, o trabalho de ator, as descobertas da encenação, tudo isso é muito parecido com formato presencial. O que muda somente é o meio.

A peça recria os episódios de censura sofridos pela atriz Renata Carvalho com seu espetáculo, no ano de 2018, na cidade de Garanhuns/PE. Como é feita essa recriação? Quais aspectos são destacados na peça?
Eu participei daquele movimento que levou a peça a Garanhuns, junto com várias outras pessoas. Eu fui observador e, desde aquele momento, quando estávamos ainda inseridos nele, vivendo, eu já sentia essa teatralidade pulsante de tudo que estava acontecendo. O debate público que o teatro estava gerando, os conflitos sociais, no sentido dos estudos da performance um certo ‘Drama Social’ que o espetáculo estava ocasionando. Então, já me parecia tudo muito teatral: a sociedade garanhuense, pernambucana, discutindo nas ruas esse tema; o coro público, a voz das ruas, o teatro midiático que foi feito em cima disso nas redes sociais, na imprensa; os shows na Praça Guadalajara e as provocações nos shows; todos esses elementos foram trazidos de alguma forma para dentro da dramaturgia. É uma dramaturgia que transita bastante entre o épico, o narrativo, as formas mais populares de narrar, personagens-tipo, a gente tem também uma citação ao mamulengo numa determinada cena. E tem seus traços dramáticos, porque na peça existe um conflito paralelo ao conflito público que estava acontecendo, que é a história de um casal LGBT formado por um homem cis e um homem trans, da cidade de Garanhuns, e que estão na linha de frente do movimento que levou a peça à cidade. E também tentamos, de alguma forma, nos aproximar da história de vida da Renata, das questões da atriz. Então, tem uma questão da intimidade da Renata que é recriada. Agora tudo isso com alguma liberdade artística. Não temos um compromisso factual 100%. A gente recria algumas coisas, poetiza algumas coisas; dramaturgicamente eu posso dizer que o arranjo é esse.

Renata Carvalho participou de alguma das apresentações? Como ela recebeu a iniciativa da peça?
Nesta versão da peça, atual, que é a terceira, Renata participa fazendo uma voz em off, uma locução de um trecho da peça. Mas também há vários depoimentos dela que foram resgatados da Imprensa e utilizados na peça. Ela não assistiu à peça ainda, mas tem acompanhado o processo. Leu o texto, fez sugestões, críticas e junto com o elenco trans a gente foi debatendo, discutindo, confrontando aspectos da dramaturgia para que, de alguma forma, ficasse mais justa e mais fidedigna à experiência de vida trans, já que eu sou um homem cis escrevendo sobre essas experiências. Então Renata esteve sempre no suporte, no apoio a todo esse processo, mas ela não assistiu à peça ainda.

Para quem não acompanhou esse episódio, você poderia falar sucintamente do caso de censura à peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, com Renata Carvalho, em Garanhuns, em 2018?
A peça foi escalada para a programação do Festival de Inverno de Garanhuns, em 2018, pela curadoria da Fundarpe/Secult/PE. Assim que a programação foi anunciada pela imprensa, o prefeito da cidade, Izaías Regis, foi aos meios de comunicação anunciar que não aceitaria receber a montagem, alegando que a cidade era cristã e que, supostamente, o trabalho feriria a comunidade local por trazer uma travesti na personagem de Jesus Cristo. Vários veículos de imprensa da cidade apoiaram o prefeito, que, na sequência, recebeu ainda apoio do bispo local e de representantes da comunidade evangélica. O Governador Paulo Câmara e a Fundarpe, a princípio, sustentaram que a peça se manteria na programação e que, uma vez proibido pelo prefeito o uso do teatro municipal (Luiz Souto Dourado), buscariam apoio de outras entidades para acolher a encenação. A questão se converteu num problema político eleitoral, pois prefeito e governador pertencem a polos opostos do espectro político e o governador buscava a reeleição. Logo, o prefeito passou a fazer uso eleitoral do episódio a fim de desgastar a imagem do governador. Com o apoio da bancada evangélica no Assembleia Legislativa, ameaçando mobilizar seu rebanho contra o governador, não demorou muito para que Paulo Câmara recuasse de sua decisão, anunciando que a peça tinha sido excluída da programação. Rapidamente, um grupo de agentes da sociedade civil mobilizou-se e empreendeu um movimento para arrecadar fundos e levar a peça à cidade de maneira independente. Houve inúmeras ameaças a esse movimento e à própria vida da atriz e a apresentação aconteceu sob forte sigilo. A justiça também foi invocada para impedir a realização da apresentação. Num último instante, a Fundarpe decidiu apoiar o espetáculo, oferecendo infraestrutura técnica de som, luz, etc. Mas uma decisão judicial de última hora foi emitida, após o transcorrer da primeira apresentação, proibindo que a peça se realizasse. Ao receber a notificação, a Fundarpe começou a desmontar toda a infraestrutura que havia disponibilizado, atrapalhando a realização da segunda récita. Após inúmeras ameaças e conflitos, Renata Carvalho decidiu realizar a performance mesmo desprovida de todos os aparatos técnicos, contando para isso com o apoio da plateia que desejava vê-la em cena.

Como observador privilegiado e um dos articuladores da desobediência à ordem esdrúxula dos governantes, quais os sentidos que foram despertados em você naquele momento, e quais sentimentos guarda até hoje?
Para mim, aquele episódio emoldurou duas energias morais e políticas muito fortes que têm se antagonizado no Brasil. De um lado, um conservadorismo neofascista e censório, que deseja apagar formas de vida e de expressão não normativas. De outro, movimentos civis que resistem à onda reacionária e exigem seu direito à existência e à cidadania. Trata-se de um momento histórico do teatro brasileiro do século XXI, porque a peça já havia sido censurada em diversas cidades, mas em nenhum lugar, como em Pernambuco, houve um movimento tão potente de resistência e desobediência ao poder institucionalizado. Em O Evangelho segundo Vera Cruz, eu tomo claramente lado, o lado desses sujeites que escapam aos padrões, dessas vidas dissidentes, já que sou um homem gay que sofreu e sofre na pele os horrores do preconceito e da perseguição aos desviantes. A peça é, portanto, um retrato desse momento político único e uma homenagem a essas vidas precárias. Como gesto artístico, é também uma ação para reverter essa condição de vulnerabilidade em que são lançadas as vidas LGBTs, mas também de negros, mulheres, e todos os que são alijados de seus direitos básicos.

O teatro que é transmitido pelas redes realmente derrubou barreiras geográficas, pois numa mesma apresentação podemos ver gente de várias partes do Brasil e do mundo. Como você (s) percebe (m) a recepção da peça? Dá para fazer um pequeno percurso desde a estreia?
Sobre a recepção à peça: a gente teve duas situações muito diferentes até agora. A gente fez um processo aberto pelo Sesc. Primeiro, realizamos um debate sobre a peça, depois fizemos um ensaio aberto com a exibição de pequenas cenas. Esses dois tiveram uma presença muito boa de público interessado em conhecer um processo teatral, de saber como se desenvolve um processo teatral. Esse aspecto de uma pedagogia mesmo do espectador. E no terceiro momento, no Sesc, a gente teve a apresentação em si da leitura, havia 150 pessoas na sala do Zoom nos assistindo, uma plateia gigante, muito participativa. Ao final, fizemos mais uma linda conversa. Foi muito bonito ver as contribuições, as colaborações, as intervenções, as indagações trazidas por esse público ao longo desse processo todo que a gente viveu no Sesc.
Num segundo momento, a gente apresentou a peça em Guaramiranga, no Festival Nordestino de Teatro. E aí sim, a gente não fez a peça para a plateia no Zoom, retransmitimos o que estávamos fazendo no Zoom pelo YouTube. Então a plateia pôde assistir à peça pelo YouTube e interagiu bastante com a peça via YouTube. Já era uma segunda versão com substituição de atores, com mudança na dramaturgia, com a chegada da Elke Falconieri, a saída de Marconi Bispo. Então, a gente tinha ampliado a representatividade trans do elenco. Foi muito bom fazer essa versão em Guaramiranga, porque no dia seguinte tivemos um debate em que pudemos ouvir os curadores e conhecer as impressões, os apontamentos deles, que também ajudaram a peça a chegar até essa terceira versão, que nós estamos apresentando agora. Agora, a gente tá enfrentando uma dificuldade maior de público, porque estamos fazendo uma temporada com ingressos pagos, com bilheteria. As outras ocasiões foram todas gratuitas, porque a peça já estava comprada, subsidiada – digamos assim – pelas instituições que nos convidaram. Agora é um momento nosso, de uma temporada independente. E aí sim, está sendo mais difícil a chegada desse público. Talvez por conta das dificuldades financeiras, pelo cansaço do formato online, já que a gente está se aproximando do final do ano, várias questões que a gente tem levantado para entender, para compreender essa dificuldade com o público. Mas é quase como se a gente estivesse na forma presencial, enfrentando aquela dificuldade de fazer teatro presencial na base da bilheteria, caçando público, fazendo um esforço gigante para chegar ao público. E só para fazer um complemento, nessas ocasiões todas a gente teve público do Brasil inteiro, Minas, Pará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, outros estados do Nordeste, Centro-Oeste. É muito bonito ver o movimento do Brasil podendo conferir essas obras nesse formato online.

Gostaria que você falasse do elenco. Houve alterações, ampliação participativa de artistas trans, como se deu isso? E mesmo que pareça óbvio tem coisas que precisam ser reditas, qual a razão das escolhas?
Desde o início, eu como homem cis escrevendo essa peça, tinha convicção de que, primeiro, o texto precisava ser submetido a uma crítica sistemática da comunidade trans. E que a gente precisava ter representatividade no elenco, porque toda a questão que atravessa o debate levantado por Renata diz respeito à representatividade, à presença de corpos e cidadãos/sujeites trans nas peças que trazem narrativas de vida trans. Essa era uma questão central para mim desde o início. A princípio foram convidados Joe Andrade e Dante Olivier, que foram alunos meus na UFPE; a Joe do curso de teatro e o Dante do curso de artes visuais, mas fez comigo uma disciplina que ofereço de “Teatro, Gênero e Sexualidades Dissidentes”. E a gente tinha o elenco do Fronteira, Marconi (Bispo), Rodrigo Cavalcanti e o Jailton Júnior, que também foi meu aluno da Federal e agora integra o Fronteira. Marconi precisou se afastar do grupo e eu imediatamente pensei em convidar a Elke Falconiere, que também foi minha aluna na UFPE, que é uma mulher trans, foi minha orientanda de TCC. E, para ampliar essa representatividade, inclusive, trazendo a Elke para interpretar personagens cis, não só personagens trans. O caminho foi por aí. Para a gente, é fundamental; não faz sentido essa peça existir sem essa presença. Hoje a gente tem maioria trans no elenco, temos três pessoas trans e duas  cis. A presença delas é fundamental. Não só do ponto de vista dessa crítica que elas podem fazer aos conteúdos e às formas da peça, mas sobretudo como uma forma de inserção no mercado artístico, de visibilização do trabalho delas. Está sendo muito importante para nós.

“A montagem é também um gesto criativo diante das dificuldades pandêmicas, uma forma de manter a chama do teatro acesa, explorando para isso os meios virtuais”. Já que o assunto é tocado… quando a pandemia se instalou houve uma discussão sobre se o que é apresentado via internet é teatro ou não. Sem julgamentos de posições, já que estamos num processo de desbravar territórios e rever paradigmas, qual sua avaliação desse momento teatral?
Sobre a questão do teatro online: lá atrás, quando começou a pandemia, mais ou menos em abril, eu escrevi um artigo chamado “Teatros da pandemia: o giro viral”, em que faço uma provocação e um prognóstico de que esse momento iria gerar uma virada de chave no teatro, no sentido de, ao invés do teatro parar e se deparar com uma encruzilhada sem solução – já que não há presença, não há teatro – que caminhos o teatro iria tomar. E de lá para cá, a gente viu que o formato online foi bastante ocupado, foi bastante explorado, está sendo explorado, dilatado. Para mim, já nem é mais uma discussão essa de se o teatro online é teatro ou não. É teatro online. É uma forma que fricciona as formas digitais, as formas audiovisuais, as formas teatrais, mas que claramente se distingue de outras formas audiovisuais e online; se distingue da novela, se distingue do cinema, se distingue da videoarte, se distingue dos canais do YouTube, se distingue das formas digitais como o videogame ou outras mídias digitais, do streaming. Então, acho que tem uma especificidade aí do teatro ocupando esse espaço, que para mim já está muito clara. Além disso, tem uma lida também com os arquivos de teatro. A gente tem muito arquivo de espetáculos gravados, filmados, sendo revisitados e pesquisados e vistos, servindo como material didático, também ocupando um certo espaço dessa experiência presencial do teatro. E um retorno que o público tem nos dado, frequentemente, é que estar no teatro online é como estar no teatro. As pessoas se encontram na plateia, na antessala, no hall. Saber que as pessoas estão ali cria uma noção de convívio, de convivialidade, aquilo que Jorge Dubatti tem chamado de tecnovívio. A gente saiu de um convívio para um tecnovívio. Tem essa precariedade também, do artesanato teatral feito online, então tem improviso, tem jogo, tem as possibilidades infinitas que a internet oferece, que estão sendo explorados, mas também tem a instabilidade da internet que nos obriga a jogar, a improvisar como no teatro.
Tem a sensação do ao vivo, tem o bastidor, que é a casa dos atores. É quase como se as formas tradicionais do teatro, elas tivessem encontrado outras maneiras de ser. Tá tudo lá. A sensação que eu tenho é que está tudo lá. Para mim é um ganho, uma dilatação, é uma expansão das possibilidades do teatro, que não apaga nem dissolve ou desfaz o teatro presencial – que já está retornando em alguns lugares e vai retornar – mas que cria outras outras veredas.

Bem, como anda o teatro pernambucano?
Eta nós! Acho que o teatro pernambucano está vivíssimo como sempre esteve. Acho que a gente tem um movimento na cidade, de teatro grupo, de grupos de jovens. Grupo Bote de Teatro, Grupo Resta 1, Grupo AmarÉ, o Teatro Bordô, Coletivo Despudorado, Grupo Afrocentradas. Acho que o teatro local irremediavelmente está dialogando com as questões raciais, étnicas, com as questões da mulher, com as questões LGBTs, com as questões trans, com as questões periféricas. Nosso teatro está nesse movimento. Acho que a gente tem aí grupos que já tão na maturidade, como Totem, Fiandeiros, Cênicas; o Teatro de Fronteira está chegando aos 10 anos, eu diria que é um adolescente ainda, mas que já tem uma estrada. Então é um teatro que sim, tá vivo, é um teatro que de alguma forma encontrou seus caminhos também pela internet. A gente tem visto experimentos, sejam da Casa Maravilhas, com as suas lives; seja o Grupo O Poste fazendo suas lives e seus experimentos também; a Criative-se Cultural realizou um pioneiro trabalho online por aqui; temos os grupos de teatro como a Fiandeiros e a Cênicas de Repertório mantendo as atividades de ensino. A gente tem o Fronteira aí também experimentando o formato online, não somente como o Evangelho, mas também com o Puro Teatro (Arte Como Respiro), disponibilizando ainda arquivos de suas peças. Hermínia Mendes performando para o Arte como o Respiro; o Coletivo Angu lançando um texto inédito de Marcelino Freire também no Arte como Respiro; a gente teve vários experimentos que foram feitos para o Sesc-PE, como os experimentos de Paulo de Pontes (dirigido por Quiercles Santana), o de Clara Camarotti; a força sertaneja de Odília Nunes vertendo para o online; as Violetas da Aurora clownando para as redes; outras produções de conteúdo pelo Coletivo Grão Comum, Grupo Cênico Calabouço, por meio de diálogos online; um coletivo de artistas pernambucanos, radicados no RJ, encenando Muribeca, de Marcelino Freire (criação de Wellington Jr. Breno Fittipaldi, Reinaldo Patrício); o Magiluth reproduzindo as experiências pioneiras de teatro não-presencial um-a-um que iniciaram sendo feitas na Europa, nos EUA. Cito uma delas em meu artigo, da Cia. La Colline, de Paris. Pode ter inspirado o grupo. Enfim…
Então acho que é um teatro que encontrou seus caminhos também nesse formato online. Eu penso que o nosso teatro é muito contemporâneo, ele está em diálogo com tudo que está acontecendo aí pelo mundo, apesar das dificuldades financeiras e econômicas, que são na verdade uma realidade do Brasil inteiro. Eu acho que a gente continua resistindo e persistindo em fazer teatro.

Qual o seu posicionamento sobres políticas públicas culturais, tanto do Governo do Estado de Pernambuco, quanto da prefeitura do Recife?
Acredito que as políticas públicas para a cultura em Pernambuco e no Recife são já precárias e vêm se precarizando cada vez mais. Ao longo dos oito anos da gestão do prefeito Geraldo Júlio (PSB), houve um desmonte absurdo de diversas políticas culturais, de equipes. Equipamentos culturais foram sucateados, como o Teatro Apolo-Hermilo. Não existe uma política de programação, de fomento à pesquisa de grupos, de formação de plateia. O Parque está sendo entregue agora, às vésperas da eleição. O importantíssimo Festival Recife do Teatro Nacional foi esvaziado. Não houve canal de diálogo com a classe teatral. O SIC foi retomado num formato estranho, priorizando eventos que contam com a participação de membros da prefeitura em suas equipes de criação. Por sua vez, a Fundarpe tem se mostrado incompetente na gestão do Funcultura, com atrasos sistemáticos de prazos, além dos atrasos nos pagamentos de cachês de artistas e a criação de instrumentos sem a escuta da sociedade civil, como no caso do Prêmio Pernalonga. É preciso que haja mais recursos, mais escuta, mais celeridade e que se desenhe, de fato, um Programa Cultural a ser cumprido durante as gestões e não apenas como promessas de campanha. Mais importante: é preciso separar o doméstico do público, entendendo o espectro cultural em sua amplitude, em sua diversidade, e não apenas atendendo às crenças e valores privados dos gestores.

FICHA TÉCNICA || O Evangelho Segundo Vera Cruz
Atuação: Dante Olivier, Elke Falconiere, Jailton Júnior, Joe Andrade y Rodrigo Cavalcanti
Direção e dramaturgia: Rodrigo Dourado
Produção: Rodrigo Cavalcanti
Designer de luz: Natalie Revorêdo (Farol Ateliê da Luz)
Efeitos sonoros: Jailton Júnior
Teasers: Dante Olivier
Registro Fotográfico e Identidade Visual: Ricardo Maciel
Realização: Teatro de Fronteira

Serviço:
O Evangelho Segundo Vera Cruz, do Teatro de Fronteira 
Exibição: Plataforma do Zoom
Quando: Quintas-feiras, às 20h, até 10 de dezembro
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 70 minutos
Informações: teatrodefronteirape@gmail.com | @teatrodefronteira

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Guaramiranga valoriza a cena nordestina há 27 edições

A Casatória C’a Defunta, da Cia Pão Doce (RN), integra a programação da Mostra Nordeste. Foto: George Vale

O 27º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga – FNT começa com a programação da Mostra Nordeste, de 26 a 30 de setembro, em formato adaptado a esses tempos de pandemia da Covid-19, com transmissões online. Essa ação do FNT deste ano inclui apresentações de 10 companhias, sendo duas de Pernambuco (Grupo Magiluth e Teatro de Fronteira), duas da Bahia (Pico Preto e Teatro dos Novos), duas do Rio Grande do Norte (Clowns de Shakespeare e Cia Pão Doce) , três do Ceará (Inquieta Cia., Flecha Lançada Arte e Paula Yemanja / Zéis) e uma de Sergipe (Grupo Caixa Cênica). Além de cinco espetáculos suplentes: Memórias de Cão, do Alfenim (PB); Velòsidades, do Território Sirius Teatro (BA); Bixa Viado Frango, d’As Travestidas (CE); Marlene dos Espíritos online com o No Barraco da Constância Tem (CE) e Pas de Temps, da Companhia de Teatro Epidemia de Bonecos (CE).

A produção teatral do Nordeste recebe destaque e valorização desde a primeira edição do FNG, que impulsionou a trajetória de grupos e faz da cidade cearense um ancoradouro potente da arte e da renovação dos sonhos. Nilde Ferreira, coordenadora geral do FNT, anunciou em uma live os selecionados da Mostra Nordeste e as outras estações do festival. Em outubro está previsto um webnário com o tema Desafios Sustentáveis para o Século 21 no Âmbito de Festivais e Mostras, além do Encontro com Artistas pesquisadores e Música no FNT, uma panorâmica.

A Mostra de Dramaturgias está agendada para novembro bem como o programa de formação. Em dezembro, a organização planeja, e torce que possa ser presencial, a Mostra FNT para Crianças e o Palco Ceará.

Realizado pela Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga (AGUA), com apoio cultural do Governo do Estado do Ceará e apoio institucional da Prefeitura de Guaramiranga, o FNT priorizou, segundo Nilde, o compromisso de manter o festival no calendário, entendendo o papel da grande rede de festivais.

A seleção da Mostra Nordeste foi feita sob a coordenação de Paulo Feitosa, do Ceará, e contou com as curadoras e os curadores Celso Curi, de São Paulo, Thereza Rocha, do Ceará e Paula de Renor, de Pernambuco.

 

Bruno Parmera em ação no experimento sonoro Tudo que coube numa VHS, do Grupo Magiluth

Mário Sergio Cabral, integrante do Grupo Magiluth

Entrelinhas, com Jaqueline Elesbão. Foto: Ives Padilha

O Grupo Magiluth, do Recife (PE) integra a mostra com o experimento sonoro Tudo o que coube numa VHS. Os atores utilizam várias plataformas virtuais de comunicação e entretenimento, numa relação individual com o espectador. O público se torna cúmplice das memórias de um personagem, que fala sobre amor e relacionamento, no percurso dessas recordações.

A violência psicológica, emocional e sexual sofrida pela mulher, especialmente a negra, numa sociedade patriarcal, racista, machista e misógina há mais de 500 anos faz mover o espetáculo Entrelinhas, com Jaqueline Elesbão, do grupo Pico Preto, de Salvador (BA). A coreógrafa, diretora e performer usa máscara de flandres, que calava a escravizada Anastácia nas sessões de tortura. Outra elemento emblemático do trabalho é o sutiã, como símbolo da luta pela liberdade feminina na década de 1960.

 

Paula Queiroz, atriz da viagem cênico-cibernética Clã_Destino, do Clowns de Shakespeare. Reprodução do Face

Metrópole, com Silvero Pereira e Gyl Giffony

O grupo teatral sergipano Caixa Cênica discute a violência urbana no espetáculo Respire 

A proposta do Grupo Clowns de Shakespeare é fazer um passeio lúdico conduzido por seis agentes, por trilhas tão desconhecidas quanto divertidas rumo ao redescobrimento da alegria. O passageiro Clã_Destino dessa viagem cênico-cibernética responde a perguntas, participa de algumas situações e faz escolhas que determinam o caminho de cada um.

Silvero Pereira e Gyl Giffony são dois irmãos na peça Metrópole. O mais velho dos dois, Caetano, está às voltas com as encomendas de bolo e com prazos estourados. Ele busca garantir o sustento e esquecer os sonhos. O jovem ator Charles aparece de surpresa e nesse encontro afloram antigos conflitos em torno do mercado artístico, terreno onde “não há garantias”. Também do Ceará, a Flecha Lançada Arte apresenta Influxo.

Respire – Manifesta, do Grupo Caixa Cênica (SE), é uma instalação-vivência cênica com uma dramaturgia expandida composta por palavras, sons, cheiros, movimentos e corpos políticos dançantes que escavam a violência predominante na sociedade. A montagem tem direção de Sidney Cruz e texto de Marcelino Freire.

Dante Olivier, Joe Andrade, Jailton Júnior e Rodrigo Cavalcanti participam d’O Evangelho Segundo Vera Cruz

Peça Um São Sebastião Flechado é inspirada em conto de Nelson Rodrigues

Religião, política, arte, moral e hipocrisia compõe um cenário explosivo. Foi em 2018 que o espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – com a atriz trans Renata Carvalho – foi alvo de boicotes e de censura no Festival de Inverno de Garanhuns, no interior de Pernambuco. A peça tem uma lista de perseguições em outros locais, mas a atriz chegou a dizer que esses ataques foram os mais traumáticos. O Evangelho Segundo Vera Cruz é uma ficcionalização do episódio pelo grupo Teatro de Fronteira, com dramaturgia e direção de Rodrigo Dourado. Entre outras coisas, a peça reflete sobre as potências das artes para enfrentar o reacionarismo.

Durval é um sujeito que se divide em dois para agradar a esposa e a amante. Um São Sebastião Flechado é inspirado no conto Mártir em Casa e na Rua de Nelson Rodrigues. Os atores Paula Yemanjá & Zéis misturam música, teatro e literatura, num jogo provocador para apresentar a história.

 

A Casatória c’a Defunta. Foto: George Vale

Fragmento de um teatro decomposto, com texto do romeno Matéi Visniec, encenada por Marcio Meirelles

O medroso Afrânio vai se casar com a romântica Maria Flor, mas acidentalmente se junta com a temível Moça de Branco, que o conduz para o submundo. Mas ele não desiste do amor e os atores da Cia Pão Doce contam essas peripécias no espetáculo A Casatória C’a Defunta.

Fragmentos de um teatro decomposto é uma série de monólogos do dramaturgo romeno Matéi Visniec traduzidos por Alexandre David e encenada por Marcio Meirelles, com a Companhia Teatro dos Novos (CTN) , do Teatro Vila Velha, de Salvador. A peça exibe um mundo distópico, mas que soa familiar depois da pandemia. De gente que se enclausura para se proteger e isolar do mundo, de alguém que conserta uma máquina de enterrar cadáveres, ou de outro que acorda numa cidade onde todos os habitantes sumiram.

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Festival Arte como Respiro começa nesta sexta (17)

Palhaça Zanoia abre programação de festival. Foto: Olga Ferrario

Diante do número assustador de mais de 70 mil mortos no Brasil, em quatro meses de pandemia da Covid-19, deve demorar muito até que uma sala de teatro possa estar lotada novamente. Desse cenário desolador, questões se desprendem e multiplicam – desde as práticas, que dizem respeito à sustentação da cadeia produtiva até aquelas mais conceituais, que questionam, por exemplo, se o teatro que estamos vendo, de nossas casas, nas plataformas digitais, pode ser considerado de fato teatro. Para além desse debate teórico-prático, as ações de instituições culturais e dos próprios artistas nas redes se multiplicam. O Itaú Cultural, com o edital Arte como respiro, foi um dos primeiros a incentivar a produção cênica neste momento. Entre os dias 6 e 10 de abril, o instituto recebeu mais de 7.200 propostas artísticas.

A partir desta sexta-feira (17), os trabalhos selecionados no edital participam do Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas. Nesta primeira formatação, 26 obras serão exibidas no site do Itaú Cultural, permanecendo disponíveis ao público por 24 horas cada uma delas. O festival será realizado em dois blocos – de hoje a domingo (19) e entre os dias 22 e 26 de julho (de quarta a domingo).    

Quem abre a programação l é Lívia Falcão, com sua palhaça xamânica Zanoia. Os vídeos Rezos da Xamãe Zanoia também estão no instagram da atriz. São respiros de sensibilidade e possibilidade de mergulho, mesmo que você esteja por trás de um celular. Com uma produção simples, a índia-palhaça Zanoia faz vídeos-chamada nos deixando saberes ancestrais do seu povo, lições importantes de como sobreviver neste tempo-espaço.

Na quinta-feira (23) da semana que vem, às 20h, Hermínia Mendes apresenta o vídeo Pedaços – poesia performática, uma proposta de refletir a partir de um corpo inquieto nesta situação de caos e pandemia. Há quanto tempo mesmo estamos doentes? No dia 24, outra atração pernambucana é o Teatro de Fronteira, com uma intervenção literária, performática e audiovisual – Cenas teatrais: #Queerantena – Puro Teatro. São duas leituras-performadas, baseadas “nas vidas daqueles que escapam ao padrão, dos considerados estranhos, esquisitos”, diz a sinopse.

Batata Quente, cena da Caravana Tapioca

Para matar a saudade da Caravana Tapioca (de Anderson Machado e Giullia Cooper, que moraram no Recife por sete anos, mas voltaram para São Paulo há um tempo), tem também a cena Batata Quente, que faz parte do espetáculo Chá Comigo, mas foi adaptada para esta versão em vídeo. O público vai acompanhar a palhaça Nina fazendo uma receita deliciosa – certamente vem risada e trapalhada por aí.

Outros destaques – Um dos trabalhos pensados neste momento é Mil e uma noites século trans 21, de Ave Terrena, Aretha Sadick, Leo Moreira Sá e Verónica Valenttino, artistas transvestigêneres. Outra sugestão dentro da programação diversa do festival é o espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, uma ótima oportunidade para ampliar o alcance do espetáculo, que estreou com temporada no Sesc Bom Retiro no ano passado.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL NO SITE DO ITAÚ CULTURAL

Mil e Uma Noites Século Trans 21

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Recife do Teatro Nacional chega aos 20 festivais

Renata Sorrah, Grace Passô e Nadja Naira em cena de "Preto" – Foto: Tiago Lima/Sesc SP/Divulgação

Renata Sorrah, Grace Passô e Nadja Naira em PRETO. Foto: Tiago Lima/ Sesc SP/Divulgação

De 18 e 25 de novembro ocorre o 20º Festival Recife do Teatro Nacional, promovido pela Prefeitura do Recife. Nesta edição, os coordenadores Romildo Moreira e Ivo Barreto selecionaram 12 espetáculos, sendo cinco pernambucanos: Em Nome do Desejo, da Galharufas Produções; Espera o Outono, Alice, do Amaré Grupo de Teatro; Ligações Perigosas, do Teatro de Fronteira; Próxima, solo da atriz Cira Ramos e Pro(Fé)Ta – O Bispo do Povo, do Coletivo Grão Comum. Além do mezzo Potiguar mezzo pernambucano A Mulher Monstro. O ator Reinaldo de Oliveira, do histórico Teatro de Amadores de Pernambuco – TAP, é o homenageado desta edição.

A companhia brasileira de teatro abre o circuito com Preto, peça que ausculta o racismo e a negação das diferenças a partir da vivência brasileira e em perspectiva com o mundo. Sobre Preto o diretor Márcio Abreu diz na página do grupo que o projeto promove uma investigação sobre o que gera a recusa das diferenças em nossas sociedades, e principalmente sobre as possibilidades de coexistência e campos de interação entre as diferenças. E, a partir daí, reage artisticamente através de múltiplas visões e sentidos.

Em tempos de pós-verdade e pós-ética, o espetáculo LTDA., do Coletivo Ponto Zero, do Rio de Janeiro aposta na pauta das fake News. A outra produção carioca no festival é o infanto-juvenil A Gaiola, da Camaleão Produções Culturais, que conta a história de amor, amizade e liberdade entre uma menina e um passarinho.

O ator pernambucano Samuel Paes de Luna narra as pelejas de uma personagem que vive no Vale do Jequitinhonha, no interior do estado de Minas Gerais, misturando às próprias histórias em O Que Só Passarinho Entende, da Cia Cobaia Cênica, de Santa Catarina.

Woyzek

WOYZECK aproxima o primeiro protagonista proletário da literatura alemã à realidade brasileira do Zé Ninguém.

Woyzeck– Zé Ninguém, do Teatro Terceira Margem e Artistas Independentes da Bahia, é inspirado na obra do dramaturgo alemão Georg Buchner e transporta para a realidade brasileira o primeiro protagonista proletário do teatro moderno. Esse homem, que é usado como cobaia por um médico numa experiência, exibe o show de horrores que é a sua própria vida.

Também da Bahia, o Teatro La Independencia, do Oco Teatro Laboratório traça os conflitos de um grupo de artistas que é confrontado com a ação de venda do espaço teatral em quer reside e trabalha. A trupe ensaia a nova encenação que fala sobre a América Latina.

PRODUÇÃO PERNAMBUCANA

Em Nome do Desejo homenageia Antonio Cadengue. Foto: Yêda B.ezerra de Melo / Divulgação

EM NOME DO DESEJO homenageia Antonio Cadengue. Foto: Yêda B.ezerra de Melo / Divulgação

Baseado no romance homônimo de João Silvério Trevisan, Em nome do Desejo é o último espetáculo dirigido por Antonio Cadengue (1954 – 2018). A montagem sobre amor clandestino de dois seminaristas teve sua primeira versão em 1990. A atual encenação está carregada de homenagens ao legado do diretor, que morreu em 1º de agosto.

Espera o Outono, Alice, do Amaré Grupo de Teatro, promete uma reflexão sobre as perdas contabilizadas ao longo da existência, as mortes, as saudades, mas também envereda pela pulsão de vida.

Celebrando 40 anos de teatro, Cira Ramos investiu também na dramaturgia para erguer Próxima, solo que fala de arte, tempo, ciclos e da transitoriedade da vida com muito humor.

Inspirado no conto Creme de alface de Caio Fernando Abreu, A Mulher Monstro trata da intolerância e do preconceito, a partir das atitudes e pensamentos da figura que dá nome à peça e parece um espelho do Brasil de hoje.

Conhecemos a crueldade e perversão moral da aristocracia do período anterior à Revolução Francesa, do famoso romance de Choderlos de Laclos, Ligações Perigosas, que virou filme para cinema e TV. A montagem pernambucana do Teatro de Fronteira escancara a manipulação e intrigas do Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil.

A atuação de Dom Hélder Camara na renovação da Igreja Católica no século XX e na sua defesa contra as violações dos Direitos Humanos são enforcados em Pro(Fé)Ta – O Bispo do Povo, do Coletivo Grão Comum. A peça fecha a Trilogia Vermelha, composta também pelos espetáculos h(EU)stória – o tempo em transe, sobre a vida e obra do cineasta baiano Glauber Rocha, e pa(IDEIA) – a pedagogia da libertação, em que entram em cena as ideias progressistas do educador pernambucano Paulo Freire.

Nascido em 1997, o Festival Recife do Teatro Nacional ajudou ao longo desse período na formação do artista e do espectador que teve contato com grandes peças da cena contemporânea brasileira. Com a criação de outros festivais e mostras -, como Trema Festival, CAMBIO festival, Feteag (que é de Caruaru mas tem uma perna no Recife), Cumplicidades, Mostra Luz Negra – O Negro em Estado de Representação, Outubro ou Nada – Mostra de Teatro Alternativo do Recife, além do Janeiro de Grandes Espetáculos, que é anterior ao FRTN -, o protagonismo foi dividido. O que, para Romildo Moreira, é um dado bem positivo.

PROGRAMAÇÃO 

20º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL

 

PRETO

Preto

Cássia Damasceno, Felipe Soares e Grace Passô em PRETO. Foto: Nana Moraes/ Divulgação

Companhia Brasileira de Teatro (PR)
Quando: Dias 18 e 19, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 80 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
O espetáculo se articula a partir da fala pública de uma mulher negra, numa espécie de conferência sobre questões que incluem racismo, a realidade do povo de pele negra no Brasil hoje, o afeto e o diálogo, a maneira como lidamos com as diferenças e como cada um se vê numa sociedade marcada pela desigualdade.
Direção: Marcio Abreu
Elenco: Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rodrigo Bolzan
Músico: Felipe Storino
Dramaturgia: Marcio Abreu, Grace Passô e Nadja Naira
Iluminação: Nadja Naira
Cenografia: Marcelo Alvarenga
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Direção de Produção: José Maria | NIA Teatro
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Vídeos: Batman Zavarese e Bruna Lessa
Figurino: Ticiana Passos
Assistência de Direção: Nadja Naira
Orientação de texto e consultoria vocal: Babaya
Consultoria Musical: Ernani Maletta
Adereços | Esculturas: Bruno Dante
Colaboração artística: Aline Villa Real e Leda Maria Martins
Assistência de Iluminação e Operador de Luz: Henrique Linhares
Assistência de Produção e Contrarregragem: Eloy Machado
Operador de Vídeo: Bruna Lessa e Bruno Carneiro
Produção Executiva: Caroll Teixeira
Participação Artística na Residência realizada em Dresden: Danilo Grangheia, Daniel Schauf e Simon Möllendorf
Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque | Cubículo
Fotos: Nana Moraes
Produção: companhia brasileira de teatro

 

WOYZESCK – ZÉ NINGUÉM

História de um homem oprimido por todos ao seu redor e que vira um assassino. Foto: Divulgação

História de um homem oprimido por todos ao seu redor e que vira um assassino. Foto: Divulgação

Teatro Terceira Margem e Artistas Independentes (BA)
Quando: Dia 20, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 90 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Investindo na estética do circo e show de horrores, o espetáculo Woyzeck-Zé Ninguém, cujo texto original é do dramaturgo alemão Buchner, propõe transportar o primeiro protagonista proletário da literatura alemã à realidade brasileira. Baseada em fatos reais, a dramaturgia traz a história de um homem que, tomado como experimento por um médico, oprimido circunstancialmente pela sociedade, assassina a mulher amada sob imposição do automatismo. Com cortes abruptos e cenas ritmadas cinematogracamente, a adaptação é composta de elementos que reforçam a aproximação desta história com a realidade social e cultural brasileira. Canções de Gonzaguinha ajudam a compor a trajetória do protagonista, nesta que é considerada uma possível e universal situação dramática do homem comum.
Direção – Caio Rodrigo
Codireção – Guilherme Hunder
Texto original – Georg Buchner
Adaptação – Caio Rodrigo
Elenco – Felipe Viguini, Simone Brault, Wanderlei Meira, Caio Rodrigo, Rui Mantur, Marcos Lopes e Elinas Nascimento.
Produção – Raquel Bosi e Queila Queiroz
Direção musical – Elinas Nascimento
Trilha Sonora – Caio Rodrigo e Elinas Nascimento
Direção de movimento e coreografias – Mônica Nascimento
Cenário – Caio Rodrigo
Figurinos – Guilherme Hunder
Iluminação – Pedro Dultra
Maquiagem – Guilherme Hunder
Desenho de arte – Luís Parras
Operação de Luz – Tarsila Batista Passos
Cenotécnico – Ademir (Escola de teatro da UFBA), Marcos Nunez (Miniusina)
Costureiras – Regina Bosi e Sarai Reis
Fotografia – Diney Araujo
Arte gráfica – Ian Fraser
Realização – Teatro Terceira Margem e Artistas independentes.

 

A MULHER MONSTRO 

Foto: Divulgação

José Neto Barbosa. Foto: Divulgação

S.E.M. Cia de Teatro (RN/PE)
Quando: Dia 20, às 20h
Onde: Teatro Barreto Júnior
Duração: 70 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
A história se baseia no conto Creme de alface de Caio Fernando Abreu, escrito em plena ditadura militar, mas ainda tão atual. A tragicomédia fala da intolerância e do preconceito, parecendo tratar da atualidade política e social do Brasil, por meio da figura de uma burguesa perseguida pela própria visão intolerante da sociedade, que não sabe lidar com a solidão, nem com o próximo, num tempo de ódio e corrupções. Expõe as monstruosidades ditas e praticadas, trazendo à cena falas reais, denunciando expressões e atitudes radicalistas, fundamentalistas ou até mesmo segregacionistas do cotidiano.
Direção, elenco e figurino: José Neto Barbosa
Dramaturgia: José Neto Barbosa, a partir de conto de Caio Fernando Abreu
Direção Musical: Mylena Sousa, Diógenes e José Neto Barbosa
Cenografia: José Neto Barbosa, Diego Alves e Anderson Oliveira
Luz: Sérgio Gurgel Filho e José Neto Barbosa
Produção: José Neto Barbosa, Diego Alves e Anderson Oliveira
Maquiagem: José Neto Barbosa e Diógenes

 

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Os atores Rodrigo Dourado e Rafael Almeida em cena de ‘Ligações Perigosas’. Foto: Ricardo Maciel/Divulgação

Os atores Rodrigo Dourado e Rafael Almeida em Ligações Perigosas. Foto: Ricardo Maciel/Divulgação

Teatro de Fronteira (PE)
Quando: Dia 21, às 20h
Onde: Teatro Apolo
Duração: 70 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
Um dos grupos de teatro mais atuantes do Recife estreia, a partir da obra de Chordelos de Laclos, seu mais novo espetáculo, dirigido por um dos encenadores mais importantes do país: João Denys Araújo Leite. A peça tem quatro vértices de um intrincado polígono amoroso-sexual-teatral. Em cena, os atores/personagens ensaiam e vivem suas peripécias e jogos emocionais.
Direção: João Denys Araújo Leite
Elenco: Rafael Almeida e Rodrigo Dourado
Adaptação Dramatúrgica: Teatro de Fronteira
Figurinos, Adereços e Maquiagem: Marcondes Lima
Cenografia: João Denys Araújo Leite
Cenotécnica: Israel Marinho, Manuel Carlos e Rafael Almeida
Design e Execução de Luz: João Guilherme de Paula (Farol Ateliê da Luz)
Sonoplastia: João Denys Araújo Leite
Realização: Teatro de Fronteira

 

TEATRO LA INDEPENDENCIA

Foto: Diney Araújo

O que é ser latino americano? pergunta o espetáculo. Foto: Diney Araújo

OCO Teatro Laboratório (BA)
Quando: Dias 21 e 22, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça
Duração: 100 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
O Teatro La Independencia está sendo vendido para um empreendimento e o grupo que reside nele terá que concordar em abandonar o espaço ou permitir que sejam relocados num outro. No meio disso, os atores estão ensaiando o novo espetáculo que fala sobre América Latina. O espetáculo transita entre a realidade que se impõe e as nossas utopias, sonhos, desejos, tendo a também utópica América Latina como cenário. O que é ser latino-americano? Vendemos ou não vendemos La Independência? Eis a questão! É um espetáculo para atravessar diversas sensações, uma sutura em uma ferida que se abre constantemente, transita pela dor de existir em um tempo de ruínas e pela felicidade de – ainda neste tempo – persistir sonhando.
Texto: Paulo Atto.
Com: Evelin Buchegger, Rafael Magalhães, Uerla Cardoso, Caio Rodrigo, Evana Jeyssan e Daniel Farias.
Direção Musical. Luciano Bahia.
Figurinos e Adereços. Agamenon de Abreu.
Cenário. Luis Alonso
Elaboração de cenários. Adriano Passos, André Passos,
Bruno Matos, Cassio Vieira (Tomate), George Santana (Sabará)
Cenotecnica: Agnaldo Queiroz
Desenhos no Cenário. Agamenon de Abreu
Iluminação. Rita Lago.
Assessoria de Imprensa. Dóris Veiga Pinheiro.
Assistente de Produção. Nei Lima
Produção. Rafael Magalhães.
Concepção e Direção. Luis Alonso.

 

O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE

Foto: Tiago Amado

Pernambucano Samuel Paes de Luna, radicado em Santa Catarina. Foto: Tiago Amado / Divulgação

Cia Cobaia Cênica (SC)
Quando: Dia 22, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 70 minutos
Livre para todos os públicos
No espetáculo solo, o ator pernambucano Samuel Paes de Luna conta a história de uma personagem que vive no Vale do Jequitinhonha, no interior do estado de Minas Gerais, mesclando a vida real com memórias de sua própria história em sua terra natal. De maneira lúdica e poética, defende que o real valor e beleza de sua existência estão no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Texto: Agatha Duarte
Conto Totonha: Marcelino Freire
Direção: Thiago Becker
Atuação: Samuel Paes de Luna
Trilha: Rodrigo Fronza
Produção: Cia Cobaia Cênica

 

PRÓXIMA

foto Séphora Silva

Cira Ramos comemora 40 anos de teatro. Foto: Séphora Silva / Divulgação

Cira Ramos (PE)
Quando: Dia 23, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
O espetáculo solo sugere um umbral, onde o tempo é inexorável, para próximas etapas e próximos desafios na vida extenuante da mulher contemporânea. Pressionada por todos os lados, numa espiral de sentimentos, travando batalhas com as memórias, dúvidas e incertezas, ora nos faz rir, ora nos incomoda, quando espelho, mas, sobretudo, nos faz refletir sobre o lugar que queremos ocupar como artista, como mulher, como ser humano.
Texto e atuação: Cira Ramos
Direção: Sandra Possani

Assistência: Marcelino Dias
Direção de arte: Séphora Silva
Iluminação: Dado Sodi
Trilha Sonora: Nando Lobo

 

EM NOME DO DESEJO

Foto: Yêda Bezerra de Mello / Divulgação

Foto: Yêda Bezerra de Mello / Divulgação

Galharufas Produções (PE)
Quando: Dia 23, às 19h
Onde: Teatro Barreto Júnior
Duração: 100 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
No meio de uma séria crise pessoal, um homem de meia idade volta para o antigo seminário onde estudara. Recorda-se do momento mais crucial de sua adolescência, trinta anos atrás, quando viveu o grande amor de sua vida. Mescla os planos do passado e do presente, que se interpenetram, com o personagem já maduro invadindo a cena e até dialogando com o adolescente, em suas lembranças. Num terceiro plano, a figura da mística Santa Teresa de Ávila comenta e impulsiona a cena, com seus poemas de amor.
EM NOME DO DESEJO, de João Silvério Trevisan
ELENCO
Ticão: Taveira Júnior
Santa Teresa De Ávila: Edinaldo Ribeiro
Tiquinho: Miguel Taveira
Abel: Vinicius Barros
Pe. Reitor: Paulo De Pontes
Pe. Marinho: Angelis Nardelli
Canário: Tarcísio Vieira
Tuim: Raul Lima
Siriema: Adilson Di Carvalho
Anjo De Tiquinho: Ryan Leivas
Chiclete-De-Onça: Rafael De Melo
Tora-Tora/Cristo/Anjo: Gil Paz
Rafael: Dado Santana
Moura/Anjo: José Lucas
Cristão/Seminarista: Alexandre Augusto
Técnica
Adaptação Do Romance: Antonio Cadengue E João Silvério Trevisan
Encenação e Direção Geral: Antonio Cadengue
1º Assistente De Direção: Igor De Almeida Silva
2º Assistente De Direção: Claudio Lira
Trilha Sonora: Antonio Cadengue E Igor De Almeida Silva
Direção De Arte: Manuel Carlos De Araújo
Iluminação: Augusto Tiburtius
Assistente De Iluminação: Luiz Mário Veríssimo
Programação Visual: Claudio Lira
Direção Musical: Samuel Lira
Coreografias, Direção De Movimentos E Preparação Corporal: Paulo Henrique Ferreira
Preparação Vocal: Leila Freitas
Preparação De Elenco (1º Fase De Montagem): Durval Cristovão
Fotos: Yêda Bezerra De Melo
Cenotécnica: Luiz Mário Veríssimo E Gaguinho
Confecção De Cenários: Helena Beltrão
Confecção De Figurinos: Maria Lima
Confecção De Candelabros: Israel Marinho
Operação De Som: Fernando Calábria
Operação De Luz: Icílio Wagner
Contrarregra: Gaguinho
Assessoria De Comunicação: Antonio Nelson
Assistentes De Produção: Alexandre Sampaio, Felipe Endrio E Thalita Gadêlha
Produção Executiva: Taveira Júnior
Gerência De Produção: Galharufas Produções E Companhia Teatro De Seraphim

 

A GAIOLA

Peça infantil trata do amor, amizade, desapegos e prisões. Foto: Guga Melgar

Peça infantil trata do amor, amizade, desapegos e prisões. Foto: Guga Melgar / Divulgação

Camaleão Produções Culturais (RJ)
Quando: Dias 24 e 25, às 16h30
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 50 minutos
Indicado para maiores de 12 anos
Baseado no livro infantil de mesmo nome adaptado pela própria Adriana Falcão em parceria com Eduardo Rios, dirigido por Duda Maia, e estrelado pelos atores/cantores Carol Futuro e Pablo Áscoli. Conta a história de um passarinho que cai na varanda de uma menina, e enquanto ela cuida dele, os dois se apaixonam. Quando o passarinho fica curado e eles têm que se despedir, ela resolve aprisioná-lo em uma gaiola.
Adaptação: Adriana Falcão e Eduardo Rios
Direção e Roteiro: Duda Maia
Elenco: Carol Futuro e Pablo Áscoli
Diretor Assistente: Fábio Enriquez
Direção musical e trilha original: Ricco Viana
Cenário: João Modé
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Flávio Souza
Coreografia Aérea: Leonardo Senna
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Idealização: Camaleão Produções Culturais

 

ESPERA O OUTONO, ALICE

Foto: Arnaldo Sete.

Foto: Arnaldo Sete.

Amaré Grupo de Teatro (PE)
Quando: Dia 24, às 19h
Onde: Teatro Apolo
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Ao misturar textos mais conhecidos de nomes como Pedro Bomba, Felipe André, Marla de Queiroz e Carl Sagan ao dos diretores e atores, o enredo busca provocar uma reflexão sobre as perdas que temos ao longo da vida, as mortes, as saudades, mas também sobre a pulsão de viver que nos habita. Os atores se revezam em vários personagens e trazem fragmentos não-lineares da vida de Alice, uma garota com vida comum, que decide tomar uma decisão extrema.
Encenação: Analice Croccia e Quiercles Santana
Elenco: Gustavo Soares, Isabelle Barros, Micheli Arantes e Natali Assunção
Texto: Analice Croccia, Quiercles Santana e AMARÉ Grupo de Teatro, com trechos de Marla de Queiroz, Pedro Bomba, Carl Sagan, Felipe André
Iluminação: Natalie Revorêdo
Figurino e cenografia: Micheli Arantes e Analice Croccia
Operação de áudio: Paulo César Freire
Narração: Paulo César Freire, Íris Campos e Paulo de Pontes
Pesquisa musical e produção: AMARÉ Grupo de Teatro

 

LTDA. 

Monica Bittencourt e Lucas Lacerda em espetáculo sobre fake news. Foto: Mauricio Fidalgo

Monica Bittencourt e Lucas Lacerda em espetáculo sobre fake news. Foto: Mauricio Fidalgo

Coletivo Ponto Zero (RJ)
Quando: Dias 24 e 25, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Com uma trama que se desenrola em um edifício empresarial no centro do Rio de Janeiro, a peça lança um olhar sobre a condição humana em tempos de pós-verdade e pós-ética, desmascarando a ganância do ser humano por poder e dinheiro.
Dramaturgia:Diogo Liberano
Direção:Debora Lamm
Direção de Produção:Lucas Lacerda
Elenco:Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Leandro Soares, Lucas Lacerda e Orlando Caldeira
Direção de Movimento:Denise Stutz
Criação Sonora:Marcelo H
Figurino:Ticiana Passos
Visagismo:Josef Chasilew
Iluminação:Ana Luzia de Simoni
Cenário:Debora Lamm
Assistente de Direção:Junior Dantas
Assessoria de Imprensa:Ney Motta
Programação Visual:Daniel de Jesus
Fotos de Divulgação:Ricardo Borges
Making Off:Mika Makino e Tatiana Delgado
Produção Executiva:Geovana Araujo Marques
Assistente de Produção:Julia Kruger
Realização:Coletivo Ponto Zero

 

PRO(FÉ)TA – O BISPO DO POVO

Os atores Márcio Fecher, Júnior Aguiar e Daniel Barros em peça sobre Dom Helder. Foto: Divulgação

Os atores Márcio Fecher, Júnior Aguiar e Daniel Barros em peça sobre Dom Helder. Foto: Divulgação

Coletivo Grão Comum (PE)
Quando: Dia 25, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 50 minutos
Livre para todos os públicos
Finalizando o ciclo da pesquisa do Coletivo Grão Comum intitulada Trilogia Vermelha, a encenação começa com a notícia do sequestro e assassinato do padre Henrique, em 1969, recordando o martírio dos corpos trucidados pela Ditadura e, até mesmo, da realidade do povo indigente sobrevivendo na lama do Recife, e, como testemunhou o evangelho, a miséria e suplício do próprio Cristo. A peça mobiliza um cortejo pelas ruas da cidade, conduzindo os espectadores rumo ao teatro, para o sepultamento do corpo trucidado, denunciando a violência que nos atinge ainda hoje, que ainda é ferida aberta, sempre injusta e desumana. A obra celebra o aclamado bispo Dom Hélder Câmara pedindo silêncio e paz, evocando reza forte, questionando a crença e a dimensão da fé guardada nos nossos corações dilacerados de desilusão.
Pesquisa dramatúrgica, encenação e iluminação: Júnior Aguiar
Elenco: Daniel Barros, Júnior Aguiar e Márcio Fecher
Música Original: Geraldo Maia (com Paulo Marcondes, Rodrigo Samico, Públius, Hugo
Linnis e Amarelo)
Operação de Áudio e Luz: Felipe Hellslaught
Idealização: Coletivo Grão Comum
Produção Geral : Coletivo Grão Comum, Cen@ff e Gota Serena

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