Os bailarinos da Companhia de Dança Deborah Colker estão de malas prontas. Eles vão passar pelo menos parte do mês de agosto apresentado Tatyana, novo espetáculo do grupo, pelo Nordeste.
Neste sábado e domingo, estarão no Teatro Castro Alves, em Salvador. No dia 10, em Aracaju, no Teatro Tobias Barreto. Nos dias 13 e 14, aqui pertinho, em João Pessoa, no Teatro Paulo Pontes. E, finalmente, nos dias 17 e 18, a companhia estará no Teatro Via Sul, em Fortaleza.
Pelo menos segundo o site do grupo, Recife ainda não entrou na temporada, que começou com uma pré-estreia no Festival de Teatro de Curitiba. A última vez que a companhia esteve aqui acho que foi em março do ano passado, para uma reapresentação de 4 por 4, trabalho de 2002.
Vi o novo espetáculo do grupo em Curitiba e a minha impressão é de que Deborah está tentando trilhar novos caminhos e definitivamente ainda não chegou ao local desejado. Em Tatyana, a companhia se aproxima muito mais do balé clássico, mas fica no meio do caminho, porque nem surpreende com o “clássico” e nem com o “contemporâneo”.
Na época, escrevi para o Diario de Pernambuco. Vou postar o texto. Não estranhem se virem Tatyana grafado Thatyana. Eles tinham divulgado assim anteriormente.
“A coreógrafa Deborah Colker está mais clássica. Optou pelas composições dos russos Tchaikovski, Stravinski, Prokofiev, Rachmaninov e pela sapatilha de ponta para montar Tathyana, que fez uma pré-estreia no último fim de semana, no Festival de Curitiba. Pela primeira vez desde que criou a companhia, em 1993, Deborah usa algum livro como inspiração. No caso, o romance Evguêni Oniéguin, do russo Aleksandr Puchkin (1799-1837), e seus quase 400 sonetos.
O livro traz a história de amor e rejeição travada entre Tathyana e Evguêni. E os papeis principais – Tathyana, Oniéguin, Olga e Lenski – são divididos entre os bailarinos. No palco, a trama foi intercalada em dois atos e surpreendeu a plateia, acostumada – quando pensamos nos trabalhos anteriores da senhora Colker – aos movimentos bruscos, pulos, acrobacias, a um tipo de dança que mostra ao espectador, na sua execução, ser um desafio para o bailarino. Não que o balé clássico também não o seja, mas a delicadeza dos passos provoca reações distintas no público. Tathyana não se pretende um espetáculo clássico, o contemporâneo está ali, dissolvido.
A coreógrafa se transforma em bailarina (costume nos seus espetáculos) em poucos momentos. Mas nem por isso sua “presença” se fez menos constante no palco. Isso porque, um dos bailarinos, Dielson Pessoa (que depois descobri que é pernambucano!), loiro e com um corte de cabelo muito parecido com o da coreógrafa, suscitava dúvidas no público. “Será que é ela? Mas o cabelo está muito claro. Não, não é ela. É sim”, ouvia-se na plateia desde o primeiro ato. A dúvida se dissipa quando, finalmente, num determinado momento, Deborah e seu “duplo” ficam trocando de lugar, escondendo-se por trás da bela cenografia. Os dois interpretam o autor do livro.
No primeiro ato, a cenografia é uma armação de madeira (ao menos é o que parece). No segundo, Deborah brinca ao usar duas telas, fazendo projeções e jogando com o claro e o escuro.
Nos dois atos, a altura (um dos desafios constantes nas coreografias de Deborah Colker) é um elemento presente. Ora quando os bailarinos pulam e se penduram nos “galhos” da armação de madeira; ora de forma mais estável, quando uma série de bailarinas aparece, no fundo do palco, mas numa estrutura que as deixava mais elevadas, como que flutuando”.