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Geninha da Rosa Borges faz 100 anos
Viva a atriz!

Atriz Geninha da Rosa Borges. Foto Alexandre Severo

Sempre que perguntam sobre o titulo de “Grande Dama do Teatro Pernambucano” a atriz, diretora, professora Geninha da Rosa Borges costuma responder que essa honraria / qualificação pertence a outra intérprete Diná de Oliveira (1907-1998) esposa do fundador do Teatro de Amadores de Pernambuco, o médico, professor e crítico de arte Valdemar de Oliveira (1900–1977). É um gesto bonito, essa demonstração de humildade. Mas essas coisas correm a revelia do homenageado.

Geninha da Rosa Borges, uma excepcional intérprete brasileira, nasceu no Recife, Pernambuco, onde mora, e nesta terça-feira 21 de julho de 2022 completa 100 anos de vida. É uma façanha. Uma vida cheia de emoções. Os amigos e a família atestam que ela viveu tudo que quis viver, com coragem e alegria.

Filha de um amazonense e de uma carioca, Maria Eugênia Franco de Sá sinalizou desde muito jovem seu talento artístico. Junto com um grupo de moças do Colégio São José, do Recife, apresenta a peça teatral beneficente Noite de Estrelas. O dramaturgo e diretor Valdemar de Oliveira fica fascinado com sua performance e a convida para integrar o grupo, que seria a semente do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP).

O TAP passou a ser a extensão de sua casa, sua escola e seu refugio para treinar altos voos interpretativos.

Em 1941, Geninha protagoniza a montagem Primerose, de Robert de Flers e Gaston de Caillavet, sob a direção de Valdemar de Oliveira, quando é incensada pela critica pernambucana. Em 1946, Geninha se casa com Otávio da Rosa Borges, irmão de Diná de Oliveira e genro de Valdemar de Oliveira.

A artista também cravou sua marca na história do cinema pernambucano. Assinando Geninha Sá, ela protagonizou o elenco de O Coelho Sai, longa-metragem filmado em 1939 e lançado em 1942, dirigido por Newton Paiva e Firmo Neto. Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges, tinha à época das gravações 17anos e foi convidada por Firmo Neto.

O Coelho Sai foi o primeiro filme pernambucano sonoro, infelizmente destruído num incêndio. O registro está no livro Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antônio Leão da Silva Neto. E eu peguei essa dica de uma matéria do crítico Luiz Joaquim.

Geninha fez pouco cinema, cerca de uma dúzia de produções audiovisuais. Depois de O Coelho Sai, ela voltaria ao set mais de quatro décadas depois, quando integrou o elenco Parahyba Mulher Macho (1983), de Tizuka Yamasaki, rodado no Recife. Conta a lenda que Tizuka teria perguntado: “Você é a Greta Garbo do Nordeste?”.

Atuou também em O Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, filme da retomada do cinema pernambucano. E está no elenco dos curtas-metragens O Pedido (1995), de Adelina Pontual, Conceição (2002), de Heitor Dhalia, Nóis Sofre Mais Nóis Goza e A Partida (2002), ambos de Sandra Ribeiro.

Prima do ator Paulo Autran (1922-2007), ela pensou que tinha chegado a hora de trabalharem juntos em A Partida. Mas apesar de interpretar a avó do personagem de Autran quando jovem, eles não contracenaram. Geninha gravou no Recife e Autran em São Paulo. “E ele ainda telefonava para mangar de mim, me chamando de vovó”, lembrou a atriz em uma entrevista.

Faz sua primeira aparição na televisão em 2004, na novela Da Cor do Pecado, de João Emmanuel Carneiro, produzida pela TV Globo. De Carneiro fez ainda o papel de Angelina, na novela A Favorita.

Nasceu para brilhar

Com Sol no signo de Câncer, a zero grau, o que proporciona força e intensidade, Geninha da Rosa Borges ostenta o signo de Leão no meio do céu, no ponto mais alto do horóscopo. Esses dados foram traçados pelo astrólogo Haroldo Barros no dia 11/11/2011. E ele atesta que isso pode explicar a presença de palco, a sensibilidade, assim como a simpatia da atriz e a facilidade de se relacionar com as pessoas.

A Lua domina o mapa da artista, e segundo o astrólogo, é comum para a pessoa com esse tipo de configuração ter uma grande capacidade de viver a magia, o encantamento que a Arte propõe. E, acima de tudo, emocionar.

Mas vamos voltar ao teatro que é seu território por excelência. “Nada pode substituir a emoção de estar no palco, de ser muitas pessoas”, afirmou Geninha tantas vezes.

Geninha da Rosa Borges em Yerma. Foto: Divulgação

O teatro tomou conta da sua vida e ela se multiplicou em muitas mulheres marcantes, nos registros dramáticos e cômicos. O sucesso de Um Sábado em Trinta, de Luiz Marinho, ela atuou em alguns papeis . Fez Adela em A Casa de Bernarda Alba, e a personagem-título Yerma, ambas de Federico Garcia Lorca; Cassilde, em O Peru, de Georges Feydeau; tia Marta em Arsênico e Alfazema, Alaíde em Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues; senhorita Sirelli em A Verdade de Cada Um de Pirandello; Petra em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, de Fassbinder.

Mais de 80 personagens ela “encarnou” com garra durante a carreira. Geninha foi dirigida por encenadores brasileiros e estrangeiros, como Bibi Ferreira, Zbigniew Ziembinski, Graça Melo, Flamínio Bollini Cerri Luís de Lima, Valdemar de Oliveira, entre outros. 

Geninha da Rosa Borges defende que teatro é dom. O ator estuda técnicas para ganhar aperfeiçoamento. Se for mesmo assim, ela sempre teve de sobra.

Homenagem

Geninha celebrou o centenário em casa, ao lado da família. Cuidados redobrados devido à pandemia da Covid-19, da gripe e de outras viroses. Mais cedo, ao meio-dia, o escritor pernambucano Marcelino Freire promoveu uma live em sua conta do Instagram para regar a memória e os afetos da atriz. Muitas historias de quem trabalhou com ela, de amigos e admiradores. Sua filha AnaMaria corroborou com com os depoimentos sobre a generosidade, determinação e dedicação. “Minha mãe viveu tudo o que ela sonhou viver”.

Nesta terça-feira, os amigos de Geninha postaram nas redes sociais um selo comemorativo aos 100 anos da artista, que se confunde com a própria história do teatro Pernambuco. Como poucos, dominou tudo do seu ofício, desenvolvido prioritariamente no palco amoroso do TAP.

Parabéns Geninha

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O cirurgião do Teatro de Amadores de Pernambuco

Espetáculo Um Sábado em 30, com Reinaldo de Oliveira ao centro. Foto: Acervo TAP / Divulgação

Espetáculo Um Sábado em 30, com Reinaldo de Oliveira ao centro. Fotos: Acervo TAP / Divulgação

Cena de Um Sábado em 30

Cena de Um Sábado em 30, dramaturgia de Luiz Marinho, com direção original de Valdemar de Oliveira

Cena de Onde canta o Sabiá

Cena de Onde canta o Sabiá, montagem de 1958, com direção de Hermilo Borba Filho

Uma das mais notáveis figuras das artes cênicas pernambucanas ganha um perfil biográfico com o lançamento do livro Reinaldo De Oliveira: Do Bisturi ao Palco (260 páginas, R$ 80). Assinado pelo encenador Antonio Edson Cadengue, o volume integra a coleção Memórias, da Cepe Editora, com lançamento nesta sexta-feira (23), às 19h, na Academia Pernambucana de Letras.

Desde meados do século 20, a medicina e o teatro convivem em harmonia na vida do ator, diretor, escritor e médico de 87 anos, admirado e aplaudido nos dois campos. Filho e herdeiro artístico do fundador do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), o teatrólogo Valdemar de Oliveira e da atriz Diná de Oliveira, Reinaldo domina a “maquinaria” teatral com a destreza de cirurgião. Ator talentoso e versátil, ele atuou em montagens do TAP, a exemplo de Arsênico e alfazema, Vestido de Noiva e Um sábado em 30 e também dirigiu inúmeros espetáculos do grupo criado em 1941.

Cadengue o coloca no mesmo patamar de atores brasileiros consagrados, como Paulo Autran e Sebastião Vasconcelos. O biógrafo faz a comparação com a autoridade de quem estudou no mestrado e no doutorado da USP a trajetória do TAP, que resultou na publicação TAP sua cena & sua sombra: O teatro de amadores de Pernambuco, em dois tomos.

O perfil biográfico, como o autor prefere chamar, foi erguido a partir de entrevistas realizadas com Reinaldo de Oliveira, e outras fontes como artigos de jornal. “Tentei conhecê-lo o mais que pude em suas facetas, ao longo de sua trajetória de vida: afinal, Reinaldo completou 87 anos e eu não teria o menor direito de julgar suas qualidades e seus defeitos. Estive mais interessado no que ele me revelava”, explica Cadengue.

A narrativa que avança em várias direções busca ressaltar os marcos na vida de Reinado, dos antepassados, da infância à maturidade; formação; relacionamentos amorosos e casamentos; amizades e especialmente o talento artístico.

Cadengue destaca nesse itinerário o pensamento e sentimento desse homem de teatro, que deu prosseguimento ao trabalho do pai, Valdemar de Oliveira, e “que soube honrar os princípios que nortearam até hoje o Teatro de Amadores de Pernambuco, sem descuidar-se dos aspectos éticos e estéticos”.

Reinaldo, que reconstruiu o Teatro Valdemar de Oliveira depois do incêndio de outubro de 1980, encara atualmente o desafio de recuperar e reabrir o teatro da família Oliveira, situado no bairro da Boa Vista, região central do Recife.

Capa do livro

Capa do livro

SERVIÇO

Lançamento do livro Reinaldo de Oliveira – Do bisturi ao palco, de Antonio Edson Cadengue
(Cepe Editora) 260 páginas, R$ 80 o exemplar
Quando: Nesta sexta-feira (23), às 19h
Onde: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças)
Informações: (81) 3268-2211

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TAP iluminado

Depois de 20 anos de espera, Cadengue consegue lançar sua obra sobre o TAP. Foto: Laís Telles

“O repertório do Teatro de Amadores não é acessível ao grosso do público. Nem se poderia argumentar que esse mesmo repertório deveria ser oferecido, como elemento educativo, a certa massa do público. Porque a seriedade da representação, a pureza do ambiente, a elevação da peça teriam de ser constantemente perturbadas pela incompreensão da plateia, nada adiantando, finalmente, à formação de uma mentalidade superior. O Teatro de Amadores não ‘faz’ educação; faz cultura”. O depoimento é polêmico; e revela um pouco de quem era Valdemar de Oliveira (1900-1977), criador de um dos grupos mais importantes da história das artes cênicas do estado: o Teatro de Amadores de Pernambuco, TAP.

Poderia ser elitista, assumidamente anticomunista, mas ao mesmo tempo, Valdemar foi um homem de teatro como poucos. Propôs rupturas com o estabelecido no palco, como o fim do ponto para os atores e a força da figura do encenador em detrimento do ensaiador, levou “a mulher da sociedade” ao palco, e essa mesma “sociedade” trouxe ao teatro para assistir à primeira peça com temática gay – Esquina perigosa, em 1949. “Paulo Francis escreveu, por exemplo, que Ariano Suassuna só foi capaz de escrever Auto da Compadecida por conta do TAP. Que a estrutura moderna se deveu ao olhar que o TAP levou para a cena”, atesta o encenador e professor Antonio Edson Cadengue que, por dez anos, se dedicou a estudar o grupo.

Odorico, o bem amado teve direção de Alfredo de Oliveira em 1969 com Reinaldo de Oliveira no papel principal

Hoje, às 19h20, Cadengue lança na Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças) os dois volumes do livro TAP – Sua cena & sua sombra: o Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991) (Cepe Editora, 936 páginas, R$ 90). O trabalho é resultado da dissertação de mestrado (1988) e da tese de doutorado (1991) que o encenador defendeu na Universidade de São Paulo, sob orientação de Sábato Magaldi. O livro – um resgate histórico fundamental para que possamos entender a trajetória do teatro moderno em Pernambuco – já esteve para ser editado algumas vezes e, agora, 20 anos depois, está saindo por conta do apoio do Sesc Piedade.

O peru estreu em 1984 com direção de Luiz de Lima

Programa da peça À margem da vida

“Quando cheguei ao Recife, as pessoas não davam muito crédito ao TAP. Não sei se eram desrespeitosas, mas era como se o grupo já tivesse cumprido o seu papel. Anos depois, no início dos anos 1980, tive acesso ao acervo do TAP na casa de Diná Rosa Borges de Oliveira (esposa de Valdemar). E foi aí que despertei. Queria saber o que as pessoas tinham dito daqueles espetáculos. Era um tipo de teatro que víamos nos livros de história do teatro, em referências longínquas”, conta. Para se ter uma ideia, de 1941 a 1991, o TAP encenou 92 espetáculos. Cadengue faz descrições e análises das peças, além de escrever também um capítulo sobre Valdemar.

Para esta geração – que não viu montagens de peso do TAP, que só vai ao Teatro Valdemar de Oliveira, que nem de longe é mais a casa da elite intelectual do teatro -, Cadengue espera, por exemplo, que Reinaldo de Oliveira, que ganhou a responsabilidade de levar o grupo adiante depois que o pai Valdemar morreu, volte aos palcos. “É uma pena que Reinaldo não esteja no palco, mas ele tem 81 anos e é impressionante, está no hospital todas as manhãs, operando”, conta. “O caminho eu não sei qual é, mas acho que poderia haver um redimensionamento do que é o TAP, uma escola, uma montagem com atores mais jovens e mais velhos”, complementa. Será que os anos que levaram a depuração estética do TAP podem devolvê-la? Isso é mesmo possível? Questionamentos para mais dez anos de pesquisa.

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