Arquivo da tag: Stella Maris Saldanha

Premiados Apacepe – Teatro Adulto

Montagem de Viúva porém honesta, do Magiluth

Montagem de Viúva porém honesta, do Magiluth

Melhor Espetáculo Pela Comissão Julgadora:
Indicados:
Auto do Salão do Automóvel (Página 21)
Duas Mulheres em Preto e Branco (Remo Produções Artísticas)
O Beijo no Asfalto (Produção: Renata Phaelante e Andrêzza Alves)
Um Inimigo do Povo (Grupo de Teatro Cena Aberta do SESC Caruaru)
Viúva, Porém Honesta (Grupo Magiluth)
Vencedor: Viúva, Porém Honesta (Grupo Magiluth)

O grupo  Magiluth na entrega do prêmio da Apacepe

O grupo Magiluth na entrega do prêmio da Apacepe

A Pena e A Lei, de Petrolina, foi escolhida a melhor montagem pelo júri popular

A Pena e A Lei, de Petrolina, foi escolhida a melhor montagem pelo júri popular

Melhor Espetáculo Pelo Júri Popular: A Pena e a Lei (Teatro Popular de Arte/TPA)

Melhor Diretor:
Indicados:
Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Kleber Lourenço (Auto do Salão do Automóvel)
Moacir Chaves (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Moisés Gonçalves (Um Inimigo do Povo)
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)

Diretor Pedro Vilela fez uma montagem frenética de Viúva, Porém Honesta

Diretor Pedro Vilela fez uma montagem frenética de Viúva, Porém Honesta

Melhor Ator:
Indicados:
Carlos Lira (Vestígios)
Erivaldo Oliveira (Viúva, Porém Honesta)
Giordano Castro (Viúva, porém honesta)
José Ramos (Auto do Salão do Automóvel)
Pedro Wagner (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Erivaldo Oliveira (Viúva, Porém Honesta)

Erivaldo Oliveira concorreu com Carlos Lira (Vestígios), José Ramos (Auto do salão do automóvel), além de seus colegas de elenco de Viúva, porém honesta Giordano Castro  e Pedro Wagner

Erivaldo Oliveira concorreu com Carlos Lira (Vestígios), José Ramos (Auto do salão do automóvel), além de seus colegas de elenco em Viúva, porém honesta, Giordano Castro e Pedro Wagner

Melhor Atriz:
Indicados:
Andrêzza Alves (O Beijo no Asfalto)
Bruna Castiel (A Filha do Teatro)
Paula de Renor (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Sandra Possani (Duas Mulheres em Preto e Branco),
Stella Maris Saldanha (Auto do Salão do Automóvel)
Vencedor: Bruna Castiel (A Filha do Teatro)

Atuação de Bruna Castiel foi destacada em peça com texto de Luís Augusto Ries

Atuação de Bruna Castiel foi destacada em peça com texto de Luís Augusto Ries

Ator Revelação:
Indicados:
Adailton Mathias (A Pena e a Lei)
Godoberto Reis (A Pena e a Lei)
Paulo Henrique Reis (A Pena e a Lei)
Roberto Brandão (Vestígios)
Vencedor: Godoberto Reis (A Pena e a Lei)

Atriz Revelação:
Indicados:
Francine Monteiro (A Pena e a Lei)
Inês Simões (Auto da Compadecida)
Rosa Félix (Cinema)
Vencedor: Rosa Félix (Cinema)

William Smith ganhou ator coadjuvante por Um inimigo do povo, montagem de Caruaru

William Smith ganhou ator coadjuvante por Um inimigo do povo, montagem de Caruaru

Melhor Ator Coadjuvante:
Indicados:
Ivo Barreto (O Beijo no Asfalto)
Lucas Torres (Viúva, Porém Honesta)
Mário Sérgio Cabral (Viúva, Porém Honesta)
Pascoal Filizola (O Beijo no Asfalto)
William Smith (Um Inimigo do Povo)
Vencedor: William Smith (Um Inimigo do Povo)

Atriz Coadjuvante:
Indicados:
Daniela Travassos (O Beijo no Asfalto)
Manuela Costa (A Filha do Teatro)
Rosa Amorim (Auto da Compadecida)
Sandra Rino (O Beijo no Asfalto)
Vencedor: Daniela Travassos (O Beijo no Asfalto)

Daniela Travassos ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante por O beijo no asfalto

Daniela Travassos ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante por O beijo no asfalto

Melhor Maquiagem:
Indicados:
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Tiche Vianna (Daquilo Que Move o Mundo)
Vinícius Vieira (A Filha do Teatro)
Wemerson Diaz e Sheila Costa (A Pena e a Lei),
Vencedor: Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)

Melhor Figurino:
Indicados:
Andrêzza Alves e Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Júlia Fontes (Olivier e Lili: Uma História de Amor em 900 Frases)
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Walter Holmes (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Vencedor: Andrêzza Alves e Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)

Alegria de  Claudio Lira e Andrêzza Alves, de O Beijo no Asfalto, ao ganhar prêmio de melhor figurino

Alegria de Claudio Lira e Andrêzza Alves, de O Beijo no Asfalto, com o prêmio de melhor figurino

Melhor Cenografia:
Indicados:
Claudio Lira (O Beijo no Asfalto)
Doris Rollemberg (Vestígios)
Fernando Mello da Costa (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Marcondes Lima (Auto do Salão do Automóvel)
Moisés Gonçalves e Alex Deplex (Um Inimigo do Povo)
Vencedor: Fernando Mello da Costa (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Melhor Iluminação:
Indicados:
Aurélio di Simoni (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Cleison Ramos (MARéMUNDO)
Játhyles Miranda (Auto do Salão do Automóvel)
Luciana Raposo (O beijo no Asfalto)
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta)
Vencedor: Aurélio di Simoni (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Melhor Sonoplastia:
Indicados:

Adriana Milet (O Beijo no Asfalto)
Missionário José (Auto do Salão do Automóvel)
Moisés Gonçalves e Wayllson Ricardo (Um Inimigo do Povo),
Pedro Vilela (Viúva, Porém Honesta),
Tomás Brandão e Miguel Mendes (Duas Mulheres em Preto e Branco)
Vencedor: Tomás Brandão e Miguel Mendes (Duas Mulheres em Preto e Branco)

Tomás Brandão e Miguel Mendes criaram a trilha sonora de Duas Mulheres em Preto e Branco

Tomás Brandão e Miguel Mendes criaram a trilha sonora de Duas Mulheres em Preto e Branco

Comissão Julgadora Teatro Adulto: Anamaria Sobral, Elias Mouret, Maria Rita Costa, Magdale Alves e Quiercles Santana

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Auto do salão do automóvel

Cena da montagem pernambucana Auto do salão do automóvel. Fotos: Divulgação

A montagem de Auto do salão do automóvel integra o projeto Transgressão em 3 atos, produzido pela atriz e jornalista Stella Maris Saldanha em parceria com Alexandre Figueirôa e Cláudio Bezerra. A ideia do projeto é ótima e foca em três grupos teatrais de Pernambuco e suas encenações. São eles o Teatro Popular do Nordeste (TPN), o Teatro Hermilo Borba Filho (THBF) e o Grupo Vivencial (Vivencial Diversiones era o nome da casa de espetáculos, em Olinda, e não o nome da trupe). A primeira peça montada foi Os fuzis da senhora Carrar, de Bertolt Brecht, que foi levada em 2010, como homenagem ao THBF.

A primeira encenação do Auto foi feita pelo TPN, em 1970. A direção seria de Hermilo Borba Filho, mas ele ficou doente e o médico o proibiu de fazer grandes esforços; então a tarefa foi repassada para o jovem diretor José Pimentel. Osman assistiu ao ensaio geral da peça e não gostou do resultado. Isso está registrado em cartas trocadas entre Osman e Hermilo, documentos que a produção teve acesso.

É uma ousadia montar Osman Lins, pela dificuldade que o texto impõe. E a produção merece admiração por isso.

Peça de Osman Lins foi encenada em 1970 pelo TPN

O cenário é o que mais se destaca. Formado por peças de veículos, carcaças de carros, o cenário está distribuído nos vários cantos do palco e isso já determina a encenação. Os atores também ocupam seus lugares em cinco pontos distintos e a partir disso fazem suas movimentações ora no centro ou em outro lugar do palco.

O elenco é formado pelos atores Alexandre Guimarães, Evandro Lira, Roger Bravo, Stella Maris e Zé Ramos, que fazem vários personagens, entre guardas de trånsito, motoristas e outros. A direção é assinada por Kleber Lourenço.  A montagem fez cortes no texto e deu agilidade a alguns fragmentos, com a utilização do diálogo. Mas esse ajuste não se opera a contento no todo da peça. Então é irregular a interferência na dramaturgia osmaniana.

O sempre bom José Ramos dá seu recado, mas permanence numa zona de conforto de tudo que já conquistou como ator. Lógico que é bom vê-lo no palco, pela força e vitalidade de intérprete. Mas poderia ir além. Roger Bravo cresce nos vários papeis que interpreta, levando em consideração o seu trabalho em Os fuzis da Senhora Carrar. A sempre linda em cena Stella Maris continua bela com sua postura cênica. Mas não há muitas variações entre os personagens que interpreta. Um pouco menos daquela postura professoral, assumida principalmente na voz, daria flexibilidade nas várias figuras que ela defende no palco. O quadro Cruzamentos me pareceu com indicações errôneas para que a atriz empreendesse o grande voo da encenação.

Roger Bravo e José Ramos estão no elenco

O texto de Lins é difícil de se instalar no palco. E mais de 40 anos após sua escritura pegar o caminho do trânsito caótico e da mobilidade urbana parece um reducionismo. Também não consigo perceber a força da mão da direção. O elenco como um todo não arrisca, pega o beco mais fácil, inclusive com alguns vícios. Não vejo transgressão na encenação. E chego à conclusão que esse Auto do Salão do automóvel não alcançou a grandeza de Osman Lins.

Stella Maris Saldanha

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Mais teatro e cinema

Neste sábado estreia o espetáculo Auto do salão do automóvel, com direção de Kleber Lourenço e Stella Maris Saldanha, José Ramos, Evandro Lira, Alexandre Guimarães e Roger Bravo no elenco. Esse projeto faz parte de uma trilogia: um resgate de montagens realizadas por companhias importantes na história do teatro pernambucano. Auto, por exemplo, texto de Osman Lins, foi encenada em 1970, sob direção de José Pimentel, pelo Teatro Popular do Nordeste (TPN). As sessões do espetáculo serão no Teatro Hermilo, sábados e domingos, às 18h, até o dia 21 de outubro.

Mas antes disso, Stella Maris e Cláudio Bezerra lançam hoje o documentário Os fuzis de dentro para fora. É um curta que mostra o processo de montagem de Os fuzis da senhora Carrar, primeira montagem da trilogia, de Brecht, que foi encenada em 2010, com Stella no papel principal. Será às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife.

Os fuzis da senhora Carrar foi a primeira montagem da pesquisa Transgressão em três atos. Foto: Val Lima/Divulgação

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Escracho e purpurina contra a caretice

Grupo Vivencial surgiu nas barbas da Igreja Católica. Foto: Ana Farache/Divulgação

Quatro décadas depois do surgimento dos grupos teatrais Dzi Croquettes e Vivencial, suas histórias peculiares ganham homenagens, livros e filmes

Eles queriam fazer diferente. E conseguiram. As afinidades entre dois grupos que apontaram novos caminhos para o fazer teatral começam com o direito que deram a si mesmos de questionar o estabelecido, no momento em que a repressão vinda com o AI-5 (1968) ainda reverberava.

Purpurina, cílios postiços, salto alto e escracho. O Dzi Croquettes surgiu no Rio de Janeiro, em 1972, por iniciativa de pessoas que já estavam próximas da arte, como Wagner Ribeiro, que queria reunir os amigos da escola de teatro para fazer um espetáculo.

Cláudio Gaya e Cláudio Tovar, atores do Dzi Croquettes

O Vivencial foi criado dois anos depois, em Olinda, nas barbas da Igreja Católica. O líder e mentor Guilherme Coelho era um paraibano que queria ser monge no Tibet, mas foi parar no Mosteiro de São Bento. Encontrou outros “desindexados”, como costuma dizer, e, para celebrar os 10 anos da Associação de Moças e Rapazes do Amparo (Arma), montou um espetáculo. A tensão libertária que havia em cada um dos grupos manifestou-se no palco. “Em Vivencial I, nossa primeira montagem, a proposta era ‘seja você mesmo, busque seu eixo, saia de casa, construa, mude o mundo’”, conta.

Mesmo tendo surgido depois, com proposta estética e conceitual semelhante, o Vivencial não tomou o grupo carioca como modelo. “Era a voz da contracultura. O teatro de revista, por exemplo, era muito forte aqui, com Barreto Júnior. Era pornochanchada, eles faziam coisas muito engraçadas e esse escracho a gente achava interessante. Mas não copiava. Tinha o teatro de revista, Nelson Rodrigues, Maria Bethânia, Secos & Molhados, o próprio Dzi Croquettes, a androginia. O mundo estava respirando isso”, avalia Guilherme Coelho. “Acho que fomos muito mais influenciados pelo Dzi Croquettes na época do Diversiones, que era um café-concerto que abrimos. Os números de plateia, por exemplo, eram uma influência descarada do Dzi, embora não copiássemos, era inspiração”, reconhece o ator Henrique Celibi.

Quase 40 anos depois da explosão em cena do grupo carioca e do pernambucano, suas experiências são lembradas em livros, filmes, menções. Em novembro de 2011, o Vivencial foi o homenageado do Festival Recife do Teatro Nacional, promovido pela Prefeitura do Recife, quando houve também o lançamento da obra Transgressão em 3 atos – nos abismos do Vivencial, assinada pelos jornalistas Alexandre Figueirôa, Cláudio Bezerra e Stella Maris Saldanha. Nos próximos meses, deverá ser relembrado no cinema, já que é “referência afetiva” para o filme Tatuagem, primeiro longa dirigido por Hilton Lacerda, que tem como protagonista Irandhir Santos.

O Dzi, por sua vez, teve sua história recontada em detalhes e muitos depoimentos no documentário que leva o nome do grupo, assinado por Tatiana Issa e Raphael Alvarez. Dzi Croquettes estreou no Brasil no Festival do Rio, em outubro de 2009, e saiu de lá como o melhor documentário, segundo o júri popular e também o oficial. Levou, ainda, o prêmio do público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Cine Fest Goiânia, no Torino GLBT Film Festival, e no Los Angeles Brazilian Film Festival.

Para sempre

“A gente não deixa de ser Dzi Croquettes. A gente não é ex-Dzi Croquettes, a gente é pra sempre. A maneira de pensar, agir, fazer, continua comigo”, diz o ator Cláudio Tovar. “Não existe ex-Viveca”, confirma Suzana Costa, uma das musas do Vivencial, ao lado da bailarina clássica que, quando percebeu, estava nos palcos “com os peitos de fora”, Ivonete Melo.

Vivencial não queria saber de rótulos - nem na vida, nem no palco. Foto: Gilberto Marcelino/Divulgação

Enquanto o Dzi Croquettes era formado só por homens – 13, no total (embora as mulheres, fossem namoradas, tietes, estivessem sempre rondando) –, o Vivencial tinha garotas na sua formação. Agregou, aliás, não só as mulheres. Quando, em 1978, no meio do mangue, no bairro de Salgadinho, construíram o Vivencial Diversiones, havia show de variedades e muitos travestis também se apresentavam. “Além de dar visibilidade positiva ao universo homossexual e se impor contra o autoritarismo político e moral da época, o Vivencial realizou um trabalho de inclusão social, oferecendo aos travestis uma oportunidade de seguir carreira artística. Ao instalar um café-concerto numa comunidade pobre de Olinda, o grupo não só incorporou aquela realidade à dramaturgia vivencial como também incluiu jovens do local nos seus espetáculos”, aponta Cláudio Bezerra.

Havia no Vivencial certo empirismo que se refletia na cena. “O teatro não era aquela coisa acadêmica. Quando você perguntava pelo método e ninguém respondia, é porque não tinha método nenhum. Mas, como salvação pela palavra, foi a melhor coisa que aconteceu”, avalia Suzana Costa. Já os Dzi tiveram a sorte de contar com o americano Lennie Dale, “pai do grupo”, embora eles também estivessem longe de qualquer fórmula acadêmica. “Quando fui assistir ao ensaio, notei que os meninos tinham, assim, uma garra, uma força de vontade tão grande. O que faltava neles era uma técnica de dança”, contou Dale, numa antiga entrevista. “Então, Lennie pegou os brasileiros ‘mocoronga’ e mandou pau em cima, oito horas de trabalho”, confirmou Wagner Ribeiro, também em antigo depoimento – tanto Lennie quanto Wagner já são falecidos.

O Dzi e o Vivencial tinham em comum, no entanto, o improviso, o humor, o sentido crítico no que levavam ao palco. Além, claro, da revolução comportamental vivida nos palcos e fora deles. Eram contra o maniqueísmo. “A cultura dizia que homem era assim, mulher era assim e quem fosse diferente não tinha vez. E a gente disse não: ‘Ser humano é para brilhar e não para morrer de fome’. As pessoas que eram diferentes eram obrigadas a entrar em papéis sociais restritos”, pontua Guilherme Coelho. “O espetáculo deles não era um espetáculo gay. Havia uma sexualidade boa, masculina, feminina, homossexual. Havia uma possibilidade absoluta do exercício da sexualidade”, depõe Pedro Cardoso, no documentário Dzi Croquettes.

Afetividades

Dzi Croquettes, as internacionais

Essa liberdade, os dois grupos levaram para a vida que, nem de longe, foi pacífica, sem conflitos. Até porque tanto os integrantes do Dzi Croquettes como do Vivencial moraram juntos. As relações eram intensas, as emoções viviam à flor da pele. Algumas Vivecas moraram juntas, antes mesmo da criação do café-concerto.
Até por conta do Dzi Croquettes ter surgido no Rio de Janeiro, o alcance que os dois grupos tiveram foi diferente. Os Dzi foram à Europa, tinham em Liza Minelli uma madrinha, fizeram temporada com teatro lotado em Paris. Com Repúblicas independentes, darling, que estreou em 1978, o Vivencial fez apresentações em São Paulo, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, e no Rio de Janeiro, no Teatro Cacilda Becker. Era uma colagem de textos de jornais, crônicas, contos e poesias de Carlos Drummond de Andrade, Carlos Eduardo Novaes, Luís Fernando Veríssimo e ainda depoimentos dos próprios atores.

“O nome do espetáculo era uma coisa extremamente engajada e depois vinha uma ‘pinta’. A gente relativizava tudo. Em São Paulo, lembro o Plínio Marcos, o Antunes Filho na plateia. E, depois, eles queriam saber como aquilo acontecia, porque para a gente era muito natural fazer teatro daquele jeito, usando todos os subsídios para fazer cenário, figurino. Transformando lixo em arte”, conta Fábio Coelho, bailarino do Vivencial.

Tanto o Dzi Croquettes quanto o Vivencial foram sucesso de público, nem sempre de crítica, embora os talentos fossem inegáveis. Talvez por isso mesmo, por reunir tantas possibilidades artísticas, os dois grupos acabaram se desagregando. O Dzi começou a ruir por conta de uma briga que tomou proporções muito maiores do que a sua causa: um cenário que Cláudio Tovar fez para uma apresentação e Lennie Dale não gostou. O Vivencial também se desfez por conta de conflitos. “Não podia faltar céu para tanta estrela brilhar. Todos eram muito brilhantes, com muito ego. Cada um era uma entidade, todos tinham projetos, e nós demos corda para esses projetos. Sempre poli o ego de todo mundo: ‘Você é linda, vai arrasar’, enchia de purpurina. O Vivencial nasceu para brilhar’, afirma Guilherme Coelho. Há um ditado, entre o cômico e o malicioso, que afirma, bem ao estilo de deboche dos dois grupos: “Bicha não morre, vira purpurina”. O Dzi Croquettes e o Vivencial, nesse caso, só nesse, não fugiram à regra.

(Matéria publicada na edição de Janeiro da Revista Continente)

Henrique Celibi, Fábio Costa e Guilherme Coelho. Foto: Henrique Celibi/acervo pessoal

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Imperdível Senhora Carrar

Um pequeno tablado com uma janelinha suspensa, luz branca, gestual que atiça antigos sonhos, dez bons atores e uma direção primorosa para dar conta de problemas éticos e das utopias renovadas em Os fuzis da Senhora Carrar, com texto do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. A montagem é uma revisitação estética e histórica de outra encenação de Os fuzis… realizada em 1978, pelo Grupo Teatro Hermilo Borba Filho, com direção de Marcus Siqueira. E faz parte do projeto de pesquisa cultural Transgressão em três atos, desenvolvido pelos jornalistas Cláudio Bezerra, Alexandre Figueirôa e Stella Maris Saldanha, que protagoniza a peça.

Os Fuzis da Senhora Carrar leva à cena a história de Tereza Carrar, moradora de uma pequena vila de pescadores e mãe de Pedro e Juan. O tempo é de conflito entre pacifistas e soldados, entre homens comuns e revolucionários anti-franquistas. Mas nossa protagonista já perdeu o marido e faz qualquer coisa para não ver os filhos metidos na guerra. A peça foi escrita por Brecht em 1937, no período da Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939. Dizem que não existe dor maior do que perder um filho (a). Tereza tenta evitar essa dor. Não é tarefa fácil, os generais avançam e a perda da liberdade se faz sentir cada vez mais perto. Como manter a neutralidade diante de uma situação dessas? Mas como entregar seus jovens filhos a uma guerra sangrenta, da qual dificilmente se sobrevive?

Sabemos que Brecht imaginava que o teatro deveria servir como instrumento de transformação social e de reflexão crítica da plateia. Mas Senhora Carrar é a mais dramática das peças do dramaturgo alemão. É estruturada de forma linear e nos faz acompanhar a decisão trágica dessa mulher que, diante dos acontecimentos não encontra outra alternativa para se manter viva.

“Por quem lutar ou enlutar, Carrar?”, pergunta o encenador João Denys no programa da peça, em meio a uma avalanche de questionamentos que a própria montagem já desperta. Lá atrás, na ditadura do general Franco, as atrocidades e os terrores da guerra, o sacrifício humano e a barbárie. A guerra hoje é mais difícil. Existe uma letargia diante do capitalismo que dita destinos e as facilidades de comunicação sufocam o verdadeiro diálogo. Mas diante da intolerância, da miséria e da grotesca realidade cotidiana, da subserviência ou do torpor, a Senhora Carrar de Stella Maris Saldanha e de João Denys se insurge para lembrar da humanidade, sem romantismo ou heroísmo. Mas carregada de emoção.

Com seus rostos pintados de branco, os atores agem com a grandeza que o texto merece. A atuação de Stella Maris Saldanha como a protagonista Tereza é de tirar o chapéu. Voz clara, gestos firmes e nuances comoventes de uma mãe que luta enquanto pode para proteger seus filhotes. Ela sangra no palco e essa dor atinge o público. O ator Roger Bravo faz José, o filho de Tereza que quer ir para o front. Uma performance convincente. José Ramos faz o operário com garra e competência. Os três ficam a maior parte do tempo em cena. Alfredo Borba faz o papel do padre reacionário com destreza.

Também participam do elenco, em papeis menores mas não menos importantes: Ailton Brito, Evandro Lira, Karina Falcão, Socorro Albino, e Antonio Marinho. Enquanto não estão no palco, o elenco fica sentado na primeira fila. A direção de arte (cenário, figurino e maquilagem) é assinada pelo próprio João Denys. A sonoplastia, também de Denys, amplifica a carga das cenas. Um espetáculo ainda mais necessário neste começo de século 21.

SERVIÇO
Os Fuzis da Senhora CarrarNeste sábado, às 21h
Teatro Hermilo Borba Filho.
Ingresso R$ 10.

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