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Evoé, Zé Celso!

Zé Celso. Foto: Lilo Clareto / Divulgação

José Celso Martinez Corrêa é um grande farol da arte e da cultura. Arte como tradução de resistência e política. Essa figura febril e genial celebra 85 anos neste 30 de março e a fatia do Brasil que pulsa de afetos e revolução comemora sua existência.

Tudo o que se disser sobre Zé Celso é pouco. O ator, diretor, dramaturgo e fazedor da porra toda é grande demais. Ele já disse algumas vezes: “Sou uma entidade”. Respeitamos, admiramos, reverenciamos.

Sua presença ativa conexões cósmicas de amor e de ideias poderosas que vão na contramão de qualquer tipo de caretice. Esse artista de grandeza desestabiliza o establishment.

Surpreendente, dono de um sorriso debochado, figura incontornável do teatro brasileiro, criador febril, revolucionário libertário sexual. Idealizador e diretor da Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, em São Paulo.

Sua vida pulsa multiplicada em muitas artérias, em muitos corações que foram tocados por alguma faísca de suas labaredas. Evoé Ze Celso!

Logo mais às 19h tem comemoração no Sesc Pompeia com a estreia de Esperando Godot, direção do aniversariante do dia.

Vladimir (Alexandre Borges) e Estragão (Marcelo Drummond) Foto: Jennifer Glass

Até quando Esperar Godot?

Esperando Godot, peça escrita por Samuel Beckett, é um clássico da Literatura e do Teatro. Como um bom clássico é flexível e poroso para leituras na história. As personagens Estragão (Gogo) e Vladimir (Didi) estão suspensas no tempo e espaço. Sem perspectivas, elas aguardam a chegada de Godot, mesmo sem saber quem é ou o que é.

Composta no pós-Segunda Guerra Mundial, a peça segue sacudindo nossas inércias e amplificando a visão dos abismos ao redor. O espetáculo fica em cartaz no Sesc Pompeia, a partir de hoje, por três semanas.

Esperando Godot celebra também neste lindo 30 de março de 2022, os 85 anos de José Celso Martinez Correa, uma força da natureza, que assina a direção do espetáculo.

Depois da temporada no Sesc SP, a montagem segue para estrear noutro espaço erguido por Lina Bo Bardi, no terreyro eletrônico do Teat(r)o Oficina, no Bixiga.

As personagens Estragão (Marcelo Drummond) e Vladimir (Alexandre Borges) podem ser dois palhaços vagabundos que se acham na encruzilhada entre a paralisia e a tomada da ação. Enquanto esperam Godot, a dupla se depara com as figuras que passam pela estrada: Pozzo – O Domador (Ricardo Bittencourt), Felizardo – A Fera (Roderick Himeros) e O Mensageiro (Tony Reis), que traz notícias preocupantes.

O espetáculo carrega muitas simbologias para o Oficina: foi o último espetáculo de Cacilda Becker (1969), eterna inspiração para as gerações de artistas do Teat(r)o Oficina. Marca também a volta na direção de teatro de Zé Celso, depois de dois anos desde o isolamento social imposto pela pandemia. E também assinala a volta de Alexandre Borges num espetáculo da companhia, depois de quase 30 anos. Borges interpretou o Rei Cláudio na montagem de Ham-let, de Shakespeare em 1993, montagem que reinaugurou o Teat(r)o Oficina, com o atual projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi e Edson Elito.

Zé Celso. Foto: Fernando Laszlo / Divulgação

Ações do Itaú Cultural

O fundador do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa, é festejado pelo Itaú Cultural com a disponibilização de conteúdo em diferentes formatos e em seus canais virtuais: fotos, vídeos, registros históricos e filmes. Além de material inédito com depoimentos de profissionais que que dialogam com ele no exercício cênico no Teatro Oficina Uzyna Uzona.  

Nessa ação, será possível revisitar o material referencial de sua obra no hotsite da Ocupação Zé Celso, https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/ze-celso/,realizada em 2009; vídeos de Zé Celso em família https://www.itaucultural.org.br/vento-forte-ocupacao-ze-celso-2009 e trechos de espetáculos como Ham-let, de 1993, inspirada na obra de William Shakespeare https://www.itaucultural.org.br/ham-let-ocupacao-ze-celso-2009. Ou o longo depoimento que o artista  gravou sobre o homenageado pela Ocupação Nelson Rodrigues, em 2012, https://www.itaucultural.org.br/ze-celso-boca-de-ouro-ocupacao-nelson-rodrigues-2012, e a fala de como é representar uma peça deste dramaturgo https://www.itaucultural.org.br/ze-celso-como-representar-nelson-ocupacao-nelson-rodrigues-2012.

Estão acessíveis as fotos e o making off do ensaio fotográfico feito por Bob Wolfenson para a revista Continuum, antiga publicação da instituição, https://issuu.com/itaucultural/docs/revista_continuum_33 e o making off do ensaio, realizado no Teatro Oficina https://www.itaucultural.org.br/continuum-33-ensaio-fotografico-de-bob-wolfenson-com-ze-celso.

A plataforma Itaú Cultural Play, por sua vez, exibe o documentário Evoé! Retrato de um Antropófago, produzido em 2011 para a série Iconoclássicos, do Itaú Cultural, sob direção de Tadeu Jungle e Elaine Cesar e acessível gratuitamente em www.itauculturalplay.com.br. Tem ainda o verbete na Enciclopédia Itaú Cultural, traz amplo conteúdo sobre Zé Celso, em https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa104235/jose-celso-martinez-correa.

Zé Celso conversa com o crítico teatral Nelson de Sá sobre as produções da companhia, sobre sua luta pela manutenção da sede, no Bixiga, em São Paulo, e a importância do teatro brasileiro para os tempos contemporâneos na série Camarim em Cena. O episódio está em https://www.youtube.com/watch?v=cd7VQKvGxd4&t=11s, a página do YouTube, e no site https://www.itaucultural.org.br/secoes/videos/assista-camarim-em-cena-ze-celso.

A matéria produzida especialmente para comemorar os 85 anos de José Celso Martinez Corrêa, publicada no site do Itaú Cultural, reúne conversas com profissionais do palco e dos bastidores da companhia, no Teatro Oficina. Tem falas, entre outros, do ator e autor Renato Borghi, um dos fundadores do Oficina; do ator Alexandre Borges, que volta a trabalhar com Zé Celso depois de 30 anos, do ator Elcio Nogueira Seixas, do ator, diretor e produtor Marcelo Drummond, integrante do Oficina desde 1986; da artista Marilia Geillmeister, que entrou para a companhia em 2011 e é a articuladora do Parque do Bixiga, e de Igor Marotti, videoartista do grupo desde 2013.

SERVIÇO

Esperando Godot, de Samuel Beckett
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo, SP
Quando: 30, 31/03; 1º, 2, 3, 6, 7, 8, 9, 10, 14, 16, 17/04
horário: quarta a sábado, 19h. domingo, 17h. (15/04, feriado da Sexta-feira Santa, não haverá apresentação)
ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (credencial plena do Sesc: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes e meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência).
Duração: 3H30 (com intervalo de 15 minutos)
Indicação etária: 18 anos
Protocolos de segurança
Pessoas com mais de 12 anos deverão apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19, evidenciando DUAS doses ou dose única para ingressar em todas as unidades do Sesc no estado de São Paulo. O comprovante pode ser físico (carteirinha de vacinação) ou digital e um documento com foto.
O uso da máscara é obrigatório em todos os espaços fechados da Unidade.

Esperando Godot – TEMPORADA NO TEATRO OFICINA
Quando: de 05/05 a 03/07, de quinta a domingo, às 20h
Onde: Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona – rua Jaceguai, 520 – Bixiga, São Paulo, SP
ingressos:
quintas e sextas: R$ 60 inteira, R$ 30 meia (estudantes, aposentados, professores e artistas), R$ 25 moradores do Bixiga (necessário comprovante de residência)
sábados e domingos: R$ 80 inteira, R$ 40 meia (estudantes, aposentados, professores e artistas), R$ 35 moradores do Bixiga (necessário comprovante de residência)
venda online a partir de 12 de abril, terça-feira, às 14h.
https://site.bileto.sympla.com.br/teatrooficina/
duração: 3H30 (com intervalo de 15 minutos)
indicação etária: 14 anos

SERVIÇO
85 anos de Zé Celso Martinez Corrêa
No dia 30 de março (sexta-feira)
Conteúdo especial no site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br 

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Borghi encara clima pós-apocalíptico de Beckett

Foto: Patricia Cividanes

Elcio Nogueira Seixas e Renato Borghi em Fim de Jogo, peça de Samuel Beckett. Foto: Patricia Cividanes /Divulgação

 O ator Renato Borghi, 80 anos, merece ser reverenciado, paparicado, celebrado, acarinhado por tudo que ele já fez. Seis décadas de teatro não é para qualquer um, não. Só para os fortes. Um dos fundadores do Teatro Oficina, Borghi estreou profissionalmente em 1958, com o espetáculo Chá e Simpatia, com direção de Sérgio Cardoso, no Rio de Janeiro. O intérprete do dissoluto Abelardo I em O Rei da Vela, montagem emblemática do Teatro Oficina, em 1967, mergulhou em grandes personagens. Contracenou com Etty Fraser em A Incubadeira, fez Galileu e Na Selva das Cidades, do alemão Bertolt Brecht (1898-1956) e As Três Irmãs, de Anton Tchekhov (1889-1860), pelo Teatro Oficina. No ano passado transformou a sala de visitas de seu apartamento, em São Paulo, em um teatro de bolso para as apresentações da peça Fim de Jogo. A ideia de fazer a peça ocorreu quando Renato Borghi se recuperava de duas cirurgias na coluna e utilizava cadeira de rodas devido a limitações motoras.

Essa versão da tragicomédia do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989), chega ao Recife para seis apresentações, de hoje a sábado e nos dias 11, 12 e 13, na Caixa Cultural. A encenação é do Teatro Promíscuo, companhia criada há 25 anos por Borghi e Elcio Nogueira Seixas, seu parceiro de cena. Ontem foi apresentada a palestra ilustrada Borghi em Revista, quando o artista passeou pela história do Teatro Brasileiro. No dia 10, quarta-feira, a palestra gratuita será reapresentada na Sala Multimídia da Caixa Cultural, às 19h, com o conteúdo que vai das revistas dos anos 1930 até os movimentos da cena contemporânea no Brasil. E na próxima quinta-feira, dia 11, os atores vão conversar com o público após a apresentação da peça.

Os retratos dos pais de Borghi, , representam os personagens

Os retratos dos pais de Borghi representam os personagens Nell e Nagg

O veterano ator já assistiu muitas montagens de Fim de Jogo mas sempre lhe intrigava o modo semelhante na interpretação, que ele pensava que abriam um abismo entre o texto e o público. Sua encenação traz uma pegada mais intimista. Criada na sala de seu apartamento, a sua encenação traz essa atmosfera, de um contato mais próximo.

Os personagens beckettianos povoam um mundo pós-colapso, devastado e sem perspectiva de futuro. Escrita em 1957, Fim de jogo expõe o convívio de quatro figuras, sobreviventes, que dividem um exíguo abrigo. Borghi considera que a peça pode se conectar a um tempo pós-atômico como aos dias de hoje.

Borghi faz o velho Hamm, cego e paralítico, que vive na dependência de Clov (Elcio Nogueira Seixas), que sofre de uma enfermidade que o impede de sentar. Então Clov narra a Hamm o que enxerga da terra devastada.

A direção é assinada por Isabel Teixeira que optou por utilizar fotografia dos pais de Renato, Maria de Castro e Adriano Borghi, como os outros dois personagens do texto de Beckett, Nell e Nagg.

FICHA TÉCNICA

Autor: Samuel Beckett
Tradução: Fábio Rigatto de Souza Andrade
Elenco:
Renato Borghi (Hamm)
Elcio Nogueira Seixas (Clov)
Maria de Castro Borghi (Nell)
Adriano Borghi (Nagg)
Direção: Isabel Teixeira
Direção de Arte: Karlla Girotto
Iluminação: Alessandra Domingues
Trilha Sonora: Aline Meyer
Diretor Assistente e “O Ponto”: Lucas Brandão
Assistência de Direção de Arte: Gabriela Cherubini
Assistência de Iluminação: Laiza Menegassi
Adaptação de iluminação para Recife: Roberto Setton
Direção de palco: Tiago Moro
Filmagem e Edição: Eliana César e Lucas Brandão
Fotos: Roberto Setton e Patrícia Cividanes
Programação gráfica: Patrícia Cividanes
Direção de Produção: Anayan Moretto
Produção executiva: Rick Nagash
Produção Recife: Tadeu Gondim
Realização: Teatro Promíscuo

Serviço

Fim de Jogo
Quando: De 4 a 6/05 e de 11 a 13/05/2017 (Bate-papo com os atores no dia 11/05, após a peça) às 20h
Onde: Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 10,00 (inteira) | R$ 5,00 (meia-entrada)
Venda de ingressos: a partir do dia 03/05 (para as apresentações de 04 a 06/05) e do dia 10/05 (para as apresentações de 11 a 13/05/2017), das 10h às 20h, na bilheteria da CAIXA Cultural Recife.
Fone: (81) 3425-1915

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Robert Wilson em Porto Alegre

Robert Wilson assina a direção e atua na peça de Beckett

O Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas chega à maioridade. E em setembro a capital gaúcha se transforma num verdadeiro paraíso para os amantes das artes.

A programação é extensa e ocupa muitos espaços entre os dias 6 e 27 de setembro. É quase um mês inteiro de apresentações de peças teatrais, show musicais, espetáculos de dança. A diversidade é um reflexo da coerência estética do curador Luciano Alabarse.

Ano passado assisti no Poa em Cena o espetáculo Dias felizes, com direção de Bob Wilson e atuação de Adriana Asti. Dias felizes é uma das principais peças do irlandês Samuel Beckett. Fernanda Montenegro, que já havia feito a peça na década de 1970, traduzida Oh! Que belos dias, ao lado de Sadi Cabral, voltou a interpretar Winnie na década de 1990, ao lado do marido, Fernando Torres. E tenho impressão que a peça foi apresentada no Teatro de Santa Isabel, no Recife.

Bem, além da peça com Asti, Bob Wilson também mandou para Porto Alegre sua exposição Video Portraits, videorretratos curiosos de Brad Pitt, Johnny Depp, Isabelle Huppert, Norman Fleming, Black Panther, Isabella Rosellini, Mikhail Baryshnikov, Robin Wright Penn, Jeanne Moureau, Steve Buscemi, Gao Xingjian, Lucinda Childs, Dita Von Teese, Zhang Huan, William Pope L e Mariane Faithfull. Numa junção de fotografia, filme, literatura e som, com uma linguagem de movimentos mínimos e gestos coreografados.

Wilson é uma das principais atrações do festival gaúcho

Mas neste ano é o próprio Wilson quem comparece com um dos mais conhecidos textos de Samuel Beckett, Krapp’s last tape, numa coprodução Itália/Eua. As sessões estão marcadas para os dias 23 e 24 às 21h; e 25 às 18h, no Theatro São Pedro. Robert Wilson é ator e diretor do solo. O protagonista mantém uma conversação com o seu passado através de uma gravação que fez 30 anos antes. Já velho, no dia do seu aniversário, ele prepara uma nova gravação e se depara com o passado, talvez feliz. E já com outras qualidades – azedo e irônico e às vezes engraçado, ele não se reconhece naquela voz de juventude.

“Eu sempre senti uma afinidade com o mundo de Beckett. De certa forma, é muito próximo ao meu trabalho. Mas agora, depois de 35 anos, decidi enfrentar o desafio e fazê-lo”, escreveu o multiartista no programa do 50st International Theatre Festival MESS, Sarajevo, Bosna i Hercegovina.

“Quando eu dirijo um trabalho, eu crio uma estrutura no tempo. Finalmente, quando todos os elementos visuais estão no lugar, eu crio uma estrutura para os artistas preencherem. Se a estrutura é sólida, então se pode estar livre nele. Aqui, na sua maior parte, a estrutura é dada, e eu devo encontrar a minha liberdade dentro da estrutura de Beckett. Tudo está escrito.”

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