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Fim de semana das crianças no Palco Giratório

Palco Giratório

O primeiro fim de semana de festival Palco Giratório no Recife foi das crianças. A programação começou com O mistério da bomba H_, no Teatro de Santa Isabel, no último sábado (10). No domingo, nova sessão no Santa Isabel e ainda a montagem Salada mista, no Marco Camarotti; Menu de heróis, trabalho de dança contemporânea com forte apelo para crianças, no Barreto Júnior; e a palhaça Barrica, com o espetáculo Barrica Poráguabaixo, no Capiba, o único que não conseguimos conferir.

O mistério da Bomba H_, do grupo Oriundo de Teatro, nos levou para Galinópolis, cidade que vive a expectativa da chegada de um ator famoso e a ameaça de uma bomba. No meio disso tudo, um prefeito atrapalhado com o discurso para a população, uma galinha apaixonada pelo astro, uma investigação feita por dois bonecos – um deles com cabeça de girafa, que esticava e encolhia.

O texto de Antônio Hildebrando tem um humor interessante e leve; e o atores conseguem imprimir o timing necessário para a comédia, com tiradas bem engraçadas, algumas delas pensadas especificamente para o Recife, como a menção ao espetáculo Viúva, porém honesta, do Magiluth, quando, em determinado momento, são atiradas batatas no palco ao invés de milho.

Mesmo assim, o elenco se mostra irregular; quando alguns personagens estão no palco, a cena cresce. Pode ter contribuído para essa sensação as vozes dos atores em falsete que talvez tenham sido ainda mais prejudicadas por problemas com os microfones. A trilha sonora, de Tatá Santana, é executada ao vivo e faz com que o espetáculo ganhe potência. A direção de arte também figura como um dos destaques. O cenário de galinheiro que se mostra com várias possibilidades, por exemplo, ou os bonecos que tomam a atenção das crianças.

O mistério da bomba H_. Foto: Pollyanna Diniz

O mistério da bomba H_. Foto: Pollyanna Diniz

Encenação de Minas Gerais abriu festival Palco Giratório

Encenação de Minas Gerais abriu festival Palco Giratório

Em Salada mista, trabalho da pernambucana Cia 2 em Cena de Teatro, um grupo de crianças brinca na garagem de casa. Elas encenam uma telenovela, com direito a programa de rádio no meio, recriando a história de Chapeuzinho Vermelho. Aqui, Chapeuzinho e o Lobo vivem uma história de amor pontuada por clássicos da Jovem Guarda. A trilha sonora é executada ao vivo por Douglas Duan e Davison Wescley e a direção musical ficou por conta de Henrique Macedo, que resgatou pérolas como Coração de papel e Filme triste.

A dramaturgia, responsabilidade de Alexsandro Silva, que também assina a encenação, foi construída levando mesmo em consideração o ritmo de uma telenovela, sempre criando suspense, numa crescente de expectativa e envolvimento do público com a história. No clímax, corta-se esse fluxo: são cenas dos próximos capítulos. Já quase no final, a história tem uma reviravolta e o lobo volta a ser o malvado. A abordagem à violência doméstica é o momento mais tenso do trabalho; sem muitos subterfúgios, as crianças acompanham a dor da Chapeuzinho, que é trancada dentro de casa e salva pela vovozinha e pela mãe, “dona Chapéu”. Mesmo que esse seja o momento mais difícil da dramaturgia, pela virada brusca na condução da montagem e pela rapidez como a problemática é inserida e resolvida na cena, claro que é importante sim que o tema esteja no palco e possa ser discutido pelos pais com as crianças após o espetáculo.

O elenco traz Jerlane Silva, Flávio Santana, André Ramos, Arnaldo Rodrigues, Paula de Tássia e Douglas Duan. Os homens se sobressaem nessa encenação, com papeis divertidos, irônicos, galantes, como o próprio Lobo, a vovozinha viciada em exercícios físicos ou o locutor “gostosão”. A capacidade de quebra e de retomada do ritmo proposta pela dramaturgia e encenação e alcançada pelos atores se mostra um dos grandes trunfos da montagem. Está no espetáculo a pesquisa com circo teatro, elementos kistch e do melodrama.

Um dos questionamentos, no entanto, com relação à encenação é sobre o uso da máscara e, principalmente, do nariz de palhaço. O que justifica, por exemplo, que o nariz de palhaço seja utilizado se não há realmente o palhaço em cena? Se não existe uma mudança de estado efetiva do ator? Por outro lado, o recurso do teatro de objetos no casamento de Chapeuzinho e Lobo foi uma ótima sacada para alavancar a cena.

Depois da apresentação no Palco, Salada mista segue para Belo Horizonte, para participar do FIT-BH. A montagem para infância e juventude e a peça Duas mulheres em preto e branco são os representantes de Pernambuco na programação do festival.

Crianças recriaram história de Chapeuzinho vermelho. Foto: Pollyanna Diniz

Crianças recriaram história de Chapeuzinho vermelho. Foto: Pollyanna Diniz

Chapeuzinho vermelho é apaixonada pelo lobo

Chapeuzinho vermelho é apaixonada pelo lobo

Por fim, o trabalho Menu de heróis, o mais instigante do fim de semana. Uma pena, aliás, que tanto a plateia de Salada mista quanto a de Menu de heróis tenha sido tão pouco numerosa.

Com concepção e coreografia de Weyla Carvalho, o que vemos no palco são super heróis muito pouco convencionais, se quisermos fazer comparações fidedignas com os quadrinhos, os desenhos animados ou os filmes. Mas bastante reais quando lembramos das brincadeiras de criança. Com personagens que usam na sua construção elementos como isopor, garrafas pet, lençol e máscara, tudo parece nos lembrar algo bastante familiar, embora o estranhamento aconteça de maneira quase inevitável. Pela desorganização no palco, pela coreografia desconexa, pela falta de linearidade na construção do espetáculo e, principalmente, pela liberdade desses performes que experimentam as potencialidades de personagens sem amarras – o que pode ou não ser feito, mesmo na cartilha da dança contemporânea? O que antes, como crianças, poderíamos fazer e hoje não mais nos permitimos? Tanto a música quanto a iluminação são utilizadas com propriedade; a luz criando o universo do fantástico, do digital logo na primeira cena; e a música que traz a proximidade, o ritmo da dança popular.

Dá mesmo vontade de subir ao palco e brincar de girar ou correr até que o corpo fique exausto. O trabalho é do Núcleo do Dirceu, grupo piauiense que investiga artes performáticas contemporâneas. O nome é uma referência à maior periferia de Teresina, o bairro do Dirceu, onde o grupo se instalou e hoje mantém um galpão.

Menu de heróis. Foto: Pollyanna Diniz

Menu de heróis. Foto: Pollyanna Diniz

Trabalho de dança contemporânea é do Núcleo do Dirceu

Trabalho de dança contemporânea é do Núcleo do Dirceu

A brincadeira institucionalizada como arte

A brincadeira institucionalizada como arte

Espetáculo traz super heróis nada convencionais

Espetáculo traz super heróis nada convencionais

Programação da semana do Palco Giratório:

Dia 13, às 16h, na Praça do Campo Santo (em frente ao Sesc Santo Amaro):
Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth – Recife/PE)

Dias 13 e 14, às 19h, no Teatro Marco Camarotti:
Sargento Getúlio (Teatro Nu – Salvador/BA)

Dia 13, às 20h, no Teatro Barreto Júnior:
Para Sempre Teu (Qualquer um dos 2 cia de dança – Petrolina/PE)

Dia 14, às 16h, na Praça do Campo Santo:
Romeu e Julieta (Grupo Garajal – Maracanaú/CE)

Dia 14, às 20h, no Teatro Capiba:
Gaiola de Moscas (Grupo Peleja – Recife/PE)

Dia 15, às 20h, no Teatro Capiba:
Guerra, Formigas e Palhaços (Estação de Teatro – Natal/RN)

Dia 16, às 20h, no Teatro Capiba:
Homens de Solas de Vento (Cia Solas de Vento – São Paulo/SP)

Dia 17, às 16h e às 17h, no Teatro Capiba:
Louça Cinderella (Cia Gente Falante – Porto Alegre/RS)

Dia 17, às 16h, no Teatro Marco Camarotti:
O tempo perguntou ao tempo (Grupo Acaso – Recife/PE)

Dia 17, às 20h, no Teatro Barreto Júnior:
Plagium (Cia Dançurbana – Campo Grande/MS)

Dia 18, às 16h e às 17h, no Teatro Capiba:
Xirê das águas (Cia Gente Falante – Porto Alegre/RS)

Dia 18, às 20h, no Teatro Marco Camarotti:
Cordelina (Trupe Puxincói – Recife/PE)

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