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Por que não vivemos?
Eis a questão!!!

 

 

Cena de Por que não vivemos?, com Camila Pitanga e rodrigo de odé. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Rodrigo Bolzan ao centro. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Montagem da companhia brasileira de teatro tem no elenco Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josy.Anne, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo de Odé. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Josy.Anne e rodrigo de odé em Por que não vivemos? Foto: Nana Moraes / Divulgação

Em qualquer tempo, cada um de nós pode cair na armadilha da inação, da paralisação do desejo de ousar um caminho novo, uma aventura ou uma possibilidade radical. O espetáculo Por que não vivemos?, dirigido de Marcio Abreu, com a companhia brasileira de teatro, investiga cenicamente esse condição. “Por que não vivemos como poderíamos ter vivido?” é uma pergunta-chave pulsando no texto do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904), nessa peça escrita quando ele tinha por volta de 20 anos.

“Essa questão, que se abre para tantas outras, é um pouco a alma dessa peça”, situa Marcio Abreu. “São pessoas que gostariam de estar em outro lugar, mas não fizeram nada para isso. Mostra como a trama da vida vai se desenrolando e as pessoas vão caindo na armadilha de ficar onde estão”, aponta Giovana Soar, que assina com Abreu e Nadja Naira a adaptação da obra, a partir de uma tradução original do russo por Pedro Alves Pinto e de uma publicação francesa.

Por que não vivemos? estreou em julho de 2019 no CCBB do Rio de Janeiro, e passou no mesmo ano pelos CCBBs Belo Horizonte e Brasília. Em 2020, o espetáculo estreou em São Paulo no Teatro Municipal Cacilda Becker, mas com o início da pandemia suspendeu sua temporada. Depois disso, a montagem circulou por Recife e outras capitais. Agora, faz uma curta temporada no Sesc Santo Amaro (R. Amador Bueno, 505 – Santo Amaro, SP) de dia 20 de maio a 12 de junho de 2022, de sexta a domingo.

A peça, que foca na história do professor Platonov, foi descoberta nos arquivos do irmão de Anton Tchekhov após a sua morte, e publicada em 1923. Sem um título oficial, a peça foi editada em diversos países como Platonov. Somente no final da década de 1990 a obra ganhou traduções e montagens em teatros da Europa. Em 2017, os atores Cate Blanchett e Richard Roxburgh estrearam uma versão do texto na Broadway, em Nova York, chamada de The Present.

A escolha do título Por que não vivemos?, pela companhia brasileira de teatro estabelece, segundo o diretor, um exercício político pois aponta simultaneamente para o passado que não foi vivido e para uma convocação a um futuro que pode ser construído. Para Marcio Abreu, a encenação busca propor reflexões sobre as singularidades dos sujeitos, a conexão coletiva e uma consciência sobre as diferenças. “Os corpos dos atores se reconhecem na estrutura de um texto escrito no final do século XIX e as dinâmicas estabelecidas nos ensaios fizeram com que ele se atualizasse, conferindo ainda mais força à dimensão política da peça”, constata.

O espetáculo lida com temas recorrentes na obra de Tchekhov, a exemplo do conflito entre gerações, as transformações sociais através das mudanças internas do indivíduo, as questões do ser humano comum e do pequeno que existem em cada um de nós, o legado para as gerações futuras – tudo isso na fronteira entre o drama e a comédia, com múltiplas linhas narrativas.

“A montagem tem um foco muito específico nas personagens femininas. São elas que causam transformação, que caminham, que querem mudanças, contravenções e que enfrentam conceitos”, salienta Giovana. Soar atenta que esses traços estavam no texto de Tchekhov, mas foram acentuados na adaptação.

A encenação propõe uma perspectiva de convivência e proximidade com o público através de deslocamentos dos atores pelo espaço e pela quebra da frontalidade. Com isso, o público se tornar coparticipante das ações que ocorrem em cena. 

Por que não vivemos? Foto: Nana Moraes / Divulgação

FICHA TÉCNICA
Por que não vivemos?
Da obra Platonov, de Anton Tchekhov
Direção: Marcio Abreu
Assistência de Direção: Giovana Soar e Nadja Naira
Elenco: Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josy.Anne, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e rodrigo de Odé
Adaptação: Marcio Abreu, Nadja Naira e Giovana Soar
Tradução: Pedro Augusto Pinto e Giovana Soar
Direção de Produção: José Maria
Produção Executiva: Cássia Damasceno
Iluminação: Nadja Naira
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Direção de movimento: Marcia Rubin
Cenografia: Marcelo Alvarenga | Play Arquitetura
Figurinos: Paulo André e Gilma Oliveira
Direção de arte das projeções: Batman Zavareze
Edição das imagens das projeções: João Oliveira
Câmera: Marcio Zavareze
Técnico de som | projeções: Pedro Farias
Assistente de câmera: Ana Maria
Assistente de produção: Luiz Renato Ferreira
Operador de Luz: Henrique Linhares e Ricardo Barbosa
Operador de vídeo: Michelle Bezerra e Sibila
Operador de som: Bruno Carneiro e Felipe Storino
Cenotécnico e contrarregra: Alexander Peixoto
Máscaras: José Rosa e Júnia Mello
Fotos: Nana Moraes
Programação Visual: Pablito Kucarz
Assessoria de Imprensa São Paulo: Canal Aberto
Difusão Internacional: Carmen Mehnert | Plan B
Administração: Cássia Damasceno
Criação e Produção: companhia brasileira de teatro
 
SERVIÇO
Por que não vivemos?
De 20 de maio a 12 de junho de 2022
Sextas, às 20h, sábados, às 19h e domingos, às 18h
Local: Sesc Santo Amaro (R. Amador Bueno, 505 – Santo Amaro, SP)
Ingressos: R$ 40/ R$ 20/ R$ 12
Capacidade: 279 lugares
Duração: 150 min.
Gênero: Comédia Dramática.
Classificação indicativa: 16 anos.
 
 

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Um Tchekhov que denuncia nossa imobilidade
Crítica do espetáculo Por que não vivemos?

Por que não vivemos?, da companhia brasileira de teatro. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Josi Lopes e Camila Pitanga. Foto: Nana Moraes / Divulgação

“Por Que Não Vivemos?” é uma baita provocação. Em muitos sentidos. Plena de acendimento. A frase-trecho, e título dado pela companhia brasileira de teatro (grupo sediado em Curitiba e com conexões com o mundo) ao texto de Anton Tchekhov (1860-1904), articula com os desejos de ser/estar/ir além e as armadilhas que nos enredamos na vida. O dramaturgo russo escreveu a história do professor Platonov quando tinha menos de 20 anos. O manuscrito foi descoberto nos arquivos do seu irmão após a morte do escritor e publicado em 1923. Em sua forma original, o manuscrito é um pandemônio sem título, fragmentado, de 300 páginas de um melodrama, geralmente chamado de Platonov.

Com encenação de Marcio Abreu e elenco formado por Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josi Lopes, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo de Odé, Por Que Não Vivemos? faz uma curta temporada no Teatro de Santa Isabel, no Recife, até domingo.

Mergulhar no teatro de Abreu é experiência vigorosa ligada ao imponderável, ao risco, ao abismo. Todas as peças. Com aquecimentos diferentes. Em fluxo contínuo ou com a densidade de um momento que repercute e produz outras dobras no corpo do espectador. Marcio Abreu é uma das vozes mais criativas e lúcidas da arte na atualidade. Um artista incontornável das artes vivas, que leva para a cena a pulsação radical do humano permeado pelo diálogo com o real.

Os discursos subterrâneos, as constelações das dramaturgias, a fluência entre palavras, corpos, imagens, memórias, sons, ações, silêncios. Sua arte me interessa, para fazer alusão à montagem Isso te interessa? (2011), da francesa Noëlle Renaude. Sua arte ressoa em mim e me desperta de outros sentidos, aguça minha sensibilidade. 

Ansiosa por assistir Sem Palavras, que já traça no título um olhar diante das preleções de poderes caducos e nosso torpor horrorizado. Mas também embutido de energia para vibrar em outros acordes.

O elenco é composto por Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josi Lopes (na imagem), Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo de Odé (na imagem). Foto: Nana Moraes / Divulgação

A adaptação de Giovana Soar, Nadja Naira e Marcio Abreu (feita a partir de uma tradução original do russo por Pedro Augusto Pinto e de versões francesas) e a encenação acentuam o protagonismo feminino, a inquietação da mulher em buscar mudanças e enfrentar os pré-conceitos.

Por que não vivemos? estreou em julho de 2019 no Rio de Janeiro, passou por Brasília e Belo Horizonte. Em 2020, fez uma temporada curta em São Paulo, interrompida pela pandemia da Covid-9. Foi lá, no Teatro Cacilda Becker, que vi a peça.

A cena inicial da chegada de convidados para a festa na casa da jovem viúva Anna Petrovna (Camila Pitanga) pode ser percebida, agora, como uma celebração da retomada ao teatro presencial; ou a resistência do teatro desde sempre. É uma alegria. Mesmo que lá, como cá, essa gente se ame e se odeie, “os ‘heróis’ tenham morrido de overdose” e haja tanto de vilania e patifaria, de sentimentos mesquinhos e emoções pensadas nobres nas cadeiras do Santa Isabel quanto nesse mundo inundado de gente escorregadia como seres humanos, cheios de segredos e autoilusão. Tchekhov e seus personagens que subvertem o que são e o que poderiam ter sido.

Ambientada numa propriedade rural da jovem viúva Anna Petrovna (Camila Pitanga) a história se desenvolve durante uma grande festa de amigos, ou apenas conhecidos. Mikhail Platonov (Rodrigo de Odé), um ex-idealista que aparece após muitos anos afastado, é o retrato do aristocrata falido, que se tornou professor. Ele desestabiliza o jogo, principalmente pelo reencontro com Sofia, uma paixão de juventude.

“Aqui estamos”, Anna diz a Mikhail. “Como nos velhos tempos, brigando por coisas que não podemos mudar e provavelmente nem mesmo se pudéssemos.”

As situações que envolvem os personagens se repetem. As hipocrisias vêm à tona. Eles mentiram, eles sabem que mentiram, cada um que mente tem consciência de que os outros sabem da trapaça, mas todo mundo está fingindo que a verdade está sendo dita. Os burgueses festejantes e/ou falidos, singulares figuras de Tchekhov. Há uma crise na pré-revolução russa e as personas se posicionam inertes. Nós também estamos num beco sem saída?

Kauê Persona e Camila Pitanga Foto: Nana Moraes / Divulgação

A prática reverbera na cena, em um looping contínuo. Tudo se repete e a vida segue. Mas as aparências não enganam, não, nas ressonâncias contemporâneas do mundo político. É uma selvageria da peça.

A trilha de Felipe Storino, os figurinos de Paulo André e Gilma Oliveira e a cenografia de Marcelo Alvarenga, a luz de Nadja Naiara compõem uma paisagem sonora e imagética repleta de redes nas várias dramaturgias.

A arte produzida nesse contexto de opressões e retrocessos, como o que vivemos atualmente também tem seu poder anunciador das ruínas de algumas estruturas no país que vive uma necropolítica.

Mas reexiste uma ética na estética. A textura do real numa a dramaturgia como campo expandido, que faz ressoar a dimensão pública do teatro e nos traz outras perguntas.

Mas mesmo nesse jogo de aparências tudo foi revelado. As figuras funestas destruíram muito, mas não são invencíveis. Voltamos à pergunta por que não vivemos como deveríamos ter vivido, por que não vivemos aquilo que temos a potencialidade de viver?

Temos alguns faróis. E é hora de colocar a vida em outra perspectiva. De respeito a todos os seres viventes e ao planeta. “Reparar os vivos” Para um devir futuro iluminado.

Camila Pitanga e Rodrigo de Odé. Foto: Nana Moraes / Divulgação 

Por que não vivemos?
Da obra Platonov, de Anton Tchekhov
Direção: Marcio Abreu
Elenco: Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Josi Lopes, Kauê Persona, Rodrigo Bolzan, Rodrigo Ferrarini e Rodrigo de Odé
Adaptação: Marcio Abreu, Nadja Naira e Giovana Soar

Serviço

Por que não vivemos?
Quando: De 9 a 12 de dezembro; de quinta-feira a sábado, às 19h, e no domingo, às 18h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, bairro de Santo Antônio)
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada). Ingressos à venda pelo site Sympla
Informações (81) 3355-3323

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