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Do maracatu às Torres Gêmeas*

Ramadança. Foto: Reprodução Facebook Tusp

Ramadança. Foto: Reprodução Facebook Tusp

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O vestido ricamente bordado brilha enquanto o corpo gira muito lentamente. Na cabeça uma coroa completa a indumentária de uma rainha do maracatu nação ou maracatu de baque solto. A principal referência trazida pelo ator, diretor e dramaturgo Ricardo Guilherme no figurino do espetáculo Ramadança, exibido durante a II Bienal Internacional de Teatro da USP, está carregada de significados. Vamos apontar alguns deles mas, para isso, é necessário fazer um recuo na história da humanidade. Lá atrás, quando a expansão do islamismo na África converteu líderes africanos à religião de Alá e escravizou os “infiéis”. Os escravos negros se transformaram em mercadoria de valor do mundo árabe.

Nessas “guerras santas” com objetivo de islamizar populações, muita gente foi capturada em vários locais, mas principalmente na África negra, para se tornaram escravos do mundo muçulmano. O tráfico se transformou um negócio lucrativo e os portugueses entraram nessa disputa.

Sabemos em linhas gerais o que aconteceu no Brasil após a diáspora forçada dos africanos. Rebeliões, violências e muitas estratégias para manter a tradição religiosa e cultural. Chegamos então ao maracatu, que teve terreno fértil em Pernambuco, e se expandiu pelo Nordeste, e depois pelo Brasil. A coroação e os cortejos dos maracatus ganharam permissão do governo e da igreja, como forma de controle social, num determinado momento, mas depois foram proibidos e perseguidos por seu poder de articulação. E, por fim, o maracatu foi inserido no mercado cultural.

Quando o ator escolhe a figura da rainha do maracatu, não é apenas um vestido. Essa indumentária da rainha do maracatu nação carrega consigo um histórico de tensões e reivindicação de espaço e visibilidade. O maracatu traz consigo a substância árabe. Esse é um dado importante para vincular o islamismo à cultura negra, o que o ator faz.

É muito importante e significativa a calunga ou boneca – de madeira, de cera de cor negra, que representam ancestrais -, mas que já apareceu de plástico e branca. Fiquemos, porém, na tradição. Se a boneca é negra e o ator apresenta a boneca branca para despedaçá-la, há um sentido de revolta, de resistência aos valores imposto pela cultura branca, pelo imperialismo. Que se cruza com os governantes do século 20 e 21 citados na fala em off.

A referência ao maracatu é apenas o ponto de partida para uma performance que se mostra múltipla, no sentido de que carrega em si uma quantidade sem fim de chaves interpretativas. Cabe então ao espectador enveredar por algumas delas, ou por várias, e montar a sua própria colcha de retalhos. O performer abarca a intenção de disparador de provocações. A partir, claro, do próprio nome do espetáculo: Ramadança, um neologismo que engloba a palavra Ramadã, nono mês do calendário islâmico, quando os muçulmanos celebram a revelação do livro sagrado, o Alcorão, ao profeta Maomé, com preces e jejum.

O texto dito em off, em alguns momentos notadamente rimado, soa como uma liturgia, uma prece, que coloca em questão, por exemplo, as guerras surgidas por conta da religião. Ricardo Guilherme fala nos negros e na sua cultura, mas também cita o papa, além dos metodistas e luteranos. Os conflitos no Oriente Médio, George Bush, Saddam Hussein e Osama Bin Laden, misturando tempos e espaços narrativos, para compor um caleidoscópio auditivo que desafia a compreensão em sua amplitude.

O artista cearense Ricardo Guilherme apresentou três trabalhos durante a Bienal

O artista cearense Ricardo Guilherme apresentou três trabalhos durante a Bienal

Enquanto o texto é dito, Ricardo Guilherme, como dito, move-se muito lentamente. Parece mesmo a tentativa de instaurar na sala de espetáculo um tempo paralelo: do exercício do ouvir, sem que seja necessário que o ator esteja dizendo o texto, interpretando-o da maneira convencional, de perceber as variações dos movimentos e se permitir caminhar pelo que ouvimos e fazer os cruzamentos possíveis a partir do texto.

Apesar de mergulhar na performance, executada como uma espécie de ritual, o trabalho tem no texto um dos seus pilares mais fortes. A musicalidade e a poesia são qualidades evidentes do texto, que nos leva aos mais diversos caminhos, embora tenha algumas chaves mais definidas, os conflitos religiosos, as ditaduras, os imperialismos. Para se ter uma ideia, Ricardo Guilherme mistura Hamlet, Torres Gêmeas, Hitler, cultura africana.

Ao rodar com aquela roupa pesada, em movimentos que vão se multiplicando com a repetição acrescida, e apontar para o risoma, a obra também se abre para uma discussão de territorialidades. Desde as erguidas nas sedes dos maracatus de ontem e hoje para delimitar a essência do sagrado e seus vínculos ancestrais até a expansão para as ruas, guerreando para a conquistas de outros espaços, como ocorre também nas guerras ditas santas do Oriente.

Ainda assim, a potência do trabalho, que se estabelece principalmente a partir da visualidade, da sonoridade e da atuação do performer, vai diminuindo com o decorrer do espetáculo. O despedaçamento da boneca branca por um ator com o rosto pintado de preto remete para dicotomias, de imperialismos, que neste século 21 ganha múltiplas facetas, e essa bifurcação enfraquece a pretendida dialética de Ramadança.

Ricardo Guilherme apresentou outros dois trabalhos na II Bienal da USP: Bravíssimo e Flor de Obsessão, ambos baseados na dramaturgia de Nelson Rodrigues. A técnica do ator, que defende o que ele chama de teatro radical, baseado principalmente na atuação, já se mostrava vigorosa nesses espetáculos, embora outras questões possam ser levantadas e questionadas a partir das peças. Mas em Ramadança, o cearense que possui 45 anos de carreira se mostra muito mais inventivo e aberto às possibilidades de um teatro performativo.

Vestido como rainha do maracatu, performer questiona imperialismo norte-americano

Vestido como rainha do maracatu, performer questiona imperialismo norte-americano

Ficha técnica:
Texto, atuação e direção: Ricardo Guilherme
Produtora Executiva: Elisa Gonçalves de Alencar
Assistente de Produção: Suewellyn Cassimiro Sales

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* Texto escrito por Pollyanna Diniz e Ivana Moura no contexto da II Bienal Internacional de Teatro da USP (27/11 a 18/12).

A DocumentaCena – Plataforma de Crítica articula ideias e ações do site Horizonte da Cena, do blog Satisfeita, Yolanda?, da Questão de Crítica – Revista Eletrônica de Críticas e Estudos Teatrais e do site Teatrojornal – Leituras de Cena. Esses espaços digitais reflexivos e singulares foram consolidados por jornalistas, críticos ou pesquisadores atuantes em Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A DocumentaCena realizou cobertura da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp (2014 e 2015); do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015); da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, em São Paulo (2014 e 2015); e do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (2013).

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Obsessões rodrigueanas

Ricardo Guilherme em Flor de obsessão. Foto: Bruno Soares

Ricardo Guilherme em Flor de obsessão. Foto: Bruno Soares

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Em Flor de obsessão, o ator e diretor de teatro cearense Ricardo Guilherme trilha um caminho de desejo dual oposto ao mundo de incerteza e extrema insegurança em que vivemos. As fragilidades nas relações sociais de que fala Zygmunt Bauman são substituídas por uma ideia obsessiva de amor, a partir de três contos de Nelson Rodrigues (Morte pela boca, Missa de sangue e Unidos na vida e na morte). O material fez parte da coluna A vida como ela é, publicada pelo escritor em jornais cariocas nos anos 1950.

Na montagem, erguida em 1993, a dramaturgia de Flor de obsessão traz figuras transpassadas pelo trágico, que enxergam como única saída a morte. Além de dois depoimentos, em primeira pessoa, que formam o prólogo e o epílogo.

Largada pelo amante, a personagem de Morte pela boca revela ao marido a prevaricação e ordena que o traído abata o rival com um tiro na boca. Em Missa de sangue, a infidelidade só é constatada pelo homem enganado nos delírios de febre da mulher, que clama pelo amante. O amor também é uma prisão em Unidos na vida e na morte, mas dessa vez nem a morte configura-se como liberdade.

Na encenação, o ator Ricardo Guilherme dramatiza e comenta as ações narradas. Quando o público entra no teatro, o artista já está no palco, deitado em uma bancada que lembra um caixão. Nos informes sobre o espetáculo, o ator (que também é o diretor da peça) diz que são dois movimentos para cada um dos tópicos narrados. Ao todo, oito movimentos matriciais. No prólogo, de pé, Ricardo Guilherme usa as mãos para realizar ações verticais para cima e para baixo no rosto, formando máscaras da comédia e da tragédia. Em Morte pela boca, com os dedos em forma de garras, simula ferir alguém ou a si mesmo. O gesto de Missa de Sangue, apresenta o ator de braços abertos e cruzados, imagens que aludem ao abraço esperado/ desejado e abraço rejeitado. Já em Unidos na vida e na morte, enlaça e desenlaça as mãos. E por fim, no prólogo, levanta-se, fala ao público e sai.

Os traços expressionistas são evidenciados com grande potência pelo intérprete de grandes recursos técnicos, vocais e corporais. Criador do que chama de teatro radical (método em que a figura do ator traça os significados, a partir de imagens do corpo, que permitam ao espectador participar com sua imaginação e projetar sua subjetividade), ele utiliza o conceito de repetição criativa: a ação se reproduz, mas a repetição lhe acrescenta novos significados. Uma luz quase na penumbra valoriza as expressões.

Autor com gosto pelos paradoxos, como afirma o estudioso Eudinyr Fraga, Nelson Rodrigues coloca a mulher – historicamente massacrada pelos crimes provocados por ciúme doentio e mórbido – como as detonadoras das pulsões de vida e morte nos contos escolhidos para a peça. Em Flor de obsessão as mulheres são possessivas, manipuladoras e se não são por suas mãos que os homens matam, ou se suicidam, são elas quem incitam o ato.

O crítico Sábado Magaldi, também estudioso de Nelson Rodrigues, assinala que a obra do autor de Senhora dos Afogados carrega consigo a fórmula cristã: desejo, pecado, punição/redenção. O personagem mata ou se suicida para se redimir do sentimento de culpa.

A frase de Nelson Rodrigues “Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor”, que sustenta a ideia do espetáculo, e é dita no início da peça remete, talvez, a um ideal romântico em que era bonito até morrer por amor. Na primeira vez em que assisti ao espetáculo, lá pelos anos 1990, fiquei absolutamente encantada com as frases do texto em harmonia com o gestual do artista, o que era música para meus olhos cansados de uma desilusão amorosa. Anos depois, tenho outra visão do espetáculo.

Ator inicia peça deitado sobre um plataforma. Foto: Suewellyn Cassimiro

Ator inicia peça deitado sobre um plataforma. Foto: Suewellyn Cassimiro

Bem, Flor de obsessão não está estruturada no social, mas é palco de revelações de desejos íntimos e inconfessáveis, tablado para lançar luz a deformidades psíquicas. Mas mesmo tendo a mulher como o ser mais algoz, que trai e dissimula (e como já disse o paradoxo rodrigueano não pode ser entendido somente como misoginia; penso no texto com uma tendência para o anedótico), a construção do espetáculo não me parece dialogar com as atuais questões que pulsam na sociedade. E disso sinto falta.

O controle social dos impulsos é estudado por Freud em Totem e Tabu e o pai da psicanálise aponta que o sujeito nunca internaliza completamente a interdição. Daí ocorre o conflito de duas grandes forças: o desejo da violação das normas e o recalque do desejo. Nelson Rodrigues faz emergir nas ações de seus personagens os impulsos mais secretos.

Fazendo uma aproximação com a ideia de Bauman, que está lá no começo do texto, a qualidade das relações diminui vertiginosamente no mundo contemporâneo, ou como ele define, na modernidade líquida. E, para compensar esse dado, a tendência é o aumento no número de parceiros. Bauman chama isso de conexão e a característica é não haver responsabilidade mútua.

O sociólogo polonês trabalha com conceitos de Afinidade e Parentesco para expor sua defesa de que vivemos em uma sociedade de extrema descartabilidade. O parentesco seria o laço irredutível e inquebrável. E a afinidade, eletiva.

Mesmo que o cenário do amor em Nelson Rodrigues seja povoado por prisões emocionais, que escravizam e clamam pela morte, é preciso não esquecer que esse autor genial era um provocador. Para alguns, reacionário, por suas posições conservadoras sobre temas polêmicos à época em que viveu.

Seus personagens se revestem de ambiguidades. No livro A menina sem estrela: memórias, Nelson Rodrigues. Defende: “O amor normal não tem imaginação, nem audácia, nem as grandes abjeções inefáveis. É um sentimento que vive de pequenos escrúpulos, de vergonhas medíocres, de limites covardes”.

Na ótica desse autor, o sofrimento humano é um processo de redenção para redimir a culpa. Nesse contexto de Flor de obsessão, outras camadas de afetos poderiam fazer vibrar outras notas, inclusive as dissonantes, desse universo doentio que o autor pinta nos seus textos com tintas bem carregadas.

Ficha técnica:
Texto, direção e atuação: Ricardo Guilherme
Produtora executiva: Elisa Gonçalves de Alencar
Assistente de produção: Suewellyn Cassimiro Sales

Escrito no contexto da II Bienal Internacional de Teatro da USP (27/11 a 18/12).

DocumentaCena – Plataforma de Crítica articula ideias e ações do site Horizonte da Cena, do blog Satisfeita, Yolanda?, da Questão de Crítica – Revista Eletrônica de Críticas e Estudos Teatrais e do site Teatrojornal – Leituras de Cena. Esses espaços digitais reflexivos e singulares foram consolidados por jornalistas, críticos ou pesquisadores atuantes em Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A DocumentaCena realizou cobertura da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp (2014 e 2015); do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015); da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, em São Paulo (2014 e 2015); e do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (2013).

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Calvário de Frei Tito

Wiliam Mendonça e Maria Vitória  interpretam Tito e sua irmã Nildes de Alencar. Foto: Gustavo Portela

Wiliam Mendonça e Maria Vitória interpretam Tito e sua irmã Nildes de Alencar. Foto: Gustavo Portela

X Festival de Teatro de Fortaleza

Por uma hora e meia o público faz uma viagem no tempo. A um passado recente e cruel da história brasileira. Da época da ditadura militar, do massacre, das ameaças, do confisco dos direitos individuais, de mortes e torturas. E também das resistências, das utopias, da dignidade de algumas criaturas como o frade Tito de Alencar Lima (1945-1974), dominicano cearense, militante político, que foi preso, torturado, exilado e cometeu suicídio na França. Frei Tito: Vida, paixão e morte é uma oportunidade de conhecer e se emocionar com essa personalidade. O espetáculo fez uma sessão domingo, no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno. A segunda apresentação dentro do X Festival de Teatro de Fortaleza é nesta terça-feira (25/11), no Teatro Dragão do Mar, às 20h.

Frei Tito é uma figura histórica que lutou pela liberdade e pagou com a própria vida. A trajetória do religioso já inspirou o filme Batismo de sangue, de 2007, do cineasta Helvécio Ratton, baseado no livro homônimo de Frei Betto. A montagem Frei Tito: Vida, paixão e morte, em Fortaleza, traz uma proximidade com as primeiras batalhas do visionário, com o local onde nasceu e onde ainda moram seus familiares.

A estrutura dramatúrgica está fincada no chamado teatro documental ou drama documentário, uma combinação de texto teatral com jornalismo, depoimentos, relatos, pesquisas, baseado em fatos reais. E foi assim que o dramaturgo e ator Ricardo Guilherme construiu seu texto, contextualizando o percurso do frei. A peça obteve menção honrosa no Concurso Internacional de Obras Teatrais do Terceiro Mundo, da Unesco, em 1987. Alguns ajustes foram feitos depois.

A encenação do grupo Formosura de Teatro tem direção de Graça Freitas e tem um cenário minimalista. O Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno, com suas paredes escuras, já contribuiu para criar um ambiente soturno proposto pela encenação. A diretora utiliza como principal objeto de cena um armário de aço, com quatro gavetas, utilizado em repartições públicas, inclusive em delegacias. O objeto tem várias utilidades no espetáculo, reforçando a ideia de prisão, mas também servindo como mala, por exemplo.

A história por si só já é de grande apelo dramático. O dramaturgo Ricardo Guilherme faz contrapontos com a situação do país naquela época, das propagandas utilizadas pelo governo, e que ele declama ou canta no pequeno tablado. Ele também faz comentários, como uma espécie de locutor, a pontuar o que aconteceu ano a ano, canções exploradas no período e até o clima do futebol e do país gigante.

Passado terrível da história brasileira é contado em montagem do grupo Formosura de Teatro. Foto: Jotacílio Martins

Passado terrível da história brasileira é mostrado pelo grupo Formosura de Teatro. Foto: Jotacílio Martins

A força do texto é defendida com vigor pelo elenco. A interpretação do ator Wiliam Mendonça, como Frei Tito, é primorosa. Ele trabalha as nuances do caçula de uma família de 14 irmãos, criado pela mana Nildes de Alencar Lima. Do despertar para a política e para o bem-comum, até a militância contra o regime militar, a prisão, torturas, exílio e as feridas emocionais que geraram alucinações da perseguição do carrasco, que o levou ao suicídio na cidade de Lyon, na França, aos 28 anos de idade.

O público acompanha o calvário do cearense, que sai de Fortaleza para estudar no Recife, e depois segue para Minas Gerais e São Paulo, para cursar Filosofia, na Universidade de São Paulo (USP). Ele foi preso junto com outros militantes no lendário XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (Une), em Ibiúna, interior de São Paulo, em 1968.

Maria Vitória interpreta a irmã amorosa e protetora Nildes de Alencar, preocupada com a ousadia política do irmão idealista. As várias facetas dessa mulher determinante na vida de Tito são defendidas com dignidade pela atriz, com densidade. O ator Leonardo Costa interpreta três personagens, sendo um deles, o torturador.

Graça Freitas conduz as cenas com segurança e equaliza bem a emoção. Explora imagens poéticas, cria metáforas no interior das cenas. Outro trunfo da montagem é a música de Rami Freitas, que acompanha a trama. Essa trilha ao vivo cria o clima, modela as cenas, intensifica movimentos e intensões. E joga a plateia a lidar com uma batida do que seria uma tortura.

Frei Tito: Vida, paixão e morte é uma experiência inesquecível. Emocionante e que permite ao espectador vivenciar o que foram aqueles episódios sombrios.

Memória das atrocidades cometidas durante a ditadura  militar brasileira. Foto:  Jotacílio Martins

Memória das atrocidades cometidas durante a ditadura militar brasileira. Foto: Jotacílio Martins

Serviço:
Frei Tito: Vida, paixão e morte
Grupo Formosura de Teatro
Direção: Graça Freitas
Texto: Ricardo Guilherme
Elenco: Wiliam Mendonça, Maria Vitória, Leonardo Costa, Ricardo Guilherme e Rami Freitas (músico)
Quando: dia 25/11/14, às 20h
Onde: Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema, Fortaleza – CE)
Informações: (85) 3488-8600

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