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É urgente olhar para o Céu e para o mundo também

Olha pro Céu Meu Amor abriu a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Ivana Moura

Olha pro Céu Meu Amor abriu a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Ivana Moura

Olha pro Céu Meu Amor abriu a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Ivana Moura

Grupo Feira mantém encenação original de Vital Santos. Foto: Ivana Moura

Um clima amoroso marcou a abertura do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco, na última quinta-feira (12/01), no Teatro de Santa Isabel. Casa lotada, os produtores deixaram os tradicionais discursos para depois de Olha pro Céu Meu Amor, peça de inauguração dessa edição, que segue até o dia 29 de janeiro, no Recife e em Caruaru.

Ao final da exibição, o homenageado de 2017, o artista sertaniense Sebastião Alves, radicado em Caruaru, foi celebrado com palavras e aplausos. Ganhou de presente um quadro com sua figura, pintado por Cleusson Vieira, e falou um pouco sobre sua trajetória. Contou que foi submetido a 15 cirurgias e venceu um câncer, contra o qual lutou por mais de dez anos. Lembrou de outros participantes do grupo que morreram e foram representados por fotos.

Salientando as parcerias e cumplicidades principalmente com os artistas pernambucanos, os produtores Paulo de Castro, Carla Valença e Paula de Renor, enfatizaram a dificuldade de fazer cultura neste momento difícil. É um discurso recorrente das últimas edições, mas que não transparece na extensão do programa. São 58 produções diferentes, entre teatro adulto, teatro para a infância, dança, circo, shows musicais e duas leituras dramatizadas.

Carla Valença, Paulo de Castro e Paula de Renor, produtores do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Pollyanna Diniz

Carla Valença, Paulo de Castro e Paula de Renor, produtores do festival. Foto: Pollyanna Diniz

Todos os festivais brasileiros sofreram nos últimos anos com as crises políticas e econômicas que o país atravessa. Alguns reduziram programação para não abrir mão da qualidade (levando em conta o olhar curatorial de cada iniciativa). Sabemos que grande parte da produção cultural do país existe graças aos editais, que vêm recebendo cortes em todas as esferas. Mas também é momento de uma reflexão crítica. Alguns questionamentos do que é o Janeiro, de qual a sua relevância e seus propósitos precisam ser feitos, porque a vida é dinâmica, a cultura é dinâmica e a cidade do Recife é uma potência cultural. E as ideias de sustentação estética, política, filosófica de uma iniciativa desse porte, me parece, precisam ser repensadas.

Vivemos em tempos temerosos, é verdade. E nesse Brasil em que o ódio vai às ruas, em que a violência mostra suas garras, as pessoas temem por expor opiniões. E em Pernambuco tomar posicionamentos públicos quanto às políticas culturais, aos festivais, à cena na cidade está se tornando uma atitude rara. Por medo de boicote, pela dominância do individualismo (mesmo que sejam projetos de coletivo) sobre a coletividade, sobre o bem-comum. Há falta de humildades e arrogâncias de sobra que rechaçam a possibilidade de diálogos e a conjugação de mediocridades que matematicamente não podem resultar em excelências. Mas cada produtor, artista, espectador, cidadão tem capacidade de ponderar. Olhemos, pensemos, façamos a crítica e a auto-crítica para garantir o melhor possível da produção da cidade e do estado.

Recentemente, por exemplo, a produtora Paula de Renor idealizou e fez a curadoria da Mostra Acessível Rio das Olimpíadas juntando os universos das artes cênicas e da acessibilidade. Realizada em agosto na Paralimpíada Rio 2016, com programação gratuita, a Mostra reuniu trabalhos interpretados por artistas com deficiências físicas e cerebrais, além de workshop, visita tátil, tradução em libras, audiodescrição, mesa redonda e conversa com o público. Um programa bem definido nos seus propósitos.

Como outros festivais, o Janeiro padece da falta de políticas que assegurem sua continuidade, mesmo que os três produtores sejam contundentes ao dizer que é o melhor festival das artes cênicas de Pernambuco. Há controvérsia… E isso é bom. Mas estratégicas de sobrevivência dependem dos incentivos e financiamentos, principalmente públicos.

Como afirma o educador Paulo Freire, não existem territórios neutros.

Como afirma Paulo Freire, personagem de pa(IDEIA), não existem territórios neutros. Foto: Amanda Pietra.

De todo modo o Janeiro de Grades Espetáculos quis este ano fazer conexões com o Brasil da democracia atingida e do avanço do conservadorismo. E na sua programação constam peças que carregam um viés político: Olha para o Céu Meu Amor, A Mulher Monstro, pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação, h(EU)stória – o tempo em transe, Terror e Miséria no Terceiro Reich – O Delator e musical O Avesso do Claustro, por exemplo.

Mas, nesse panorama de luta, reafirmo a ausência do espetáculo Retomada, do Grupo Totem, uma das melhores encenações pernambucanas levantadas no ano passado. Porque este grupo é também símbolo de resistência e resiliência, por sua trajetória e principalmente pela maturidade da montagem, erguida a partir de pesquisa de rituais sagrados com os povos indígenas do Pernambuco (Pankararu, Xucuru e Kapinawá).

Homenagem a Sebá Alves, que ganha um quadro com sua figura. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Homenagem a Sebá Alves, que ganha um quadro com sua figura. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Voltando para o dia da abertura, os produtores apontaram Sebá Alves como símbolo da resistência cultural. Paula de Renor, a mais emocionada, reafirmou o compromisso do trio em prosseguir com o Janeiro e reforçou a gratidão com os parceiros de caminhada. Deixou transparecer nas palavras choradas a pressão de tocar o evento. Reconhecemos o esforço, a persistência, o trabalho, a dedicação, mas precisamos exercitar a análise e a reflexão que instiga.

A peça de Vital Santos

Olha pro Céu Meu Amor abriu a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Ivana Moura

Olha pro Céu Meu Amor abriu a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Ivana Moura

Há muitas maneiras de abraçar a peça Olha pro Céu, meu Amor, do saudoso Vital Santos com música de Josias Albuquerque, produção do Grupo Feira de Teatro Popular. Como um libelo que expõe os efeitos do capitalismo na vida de um cidadão brasileiro e o esmaga; um recorte do microcosmo de uma família pobre do interior do Nordeste com seus problemas cotidianos; um registro histórico da encenação de Vital, já que o arcabouço da encenação original pouco foi modificado.

O olhar de Vital Santos está carregado do protesto (direto ou indireto) das classes subalternas na sua lida diária. As cenas são impregnadas de um humor popular e de soluções engraçadas com frases provocativas das ruas ou da briga de vizinhos com pitadas de palavrões.

A peça traça um retrato típico do nordestino migrante, entre o esperto e o bocó. Não daquele que fez sucesso meteórico. Mas do outro que se deixou enredar pelos acontecimentos, que não pegou a força centrífuga para escapulir do destino trágico, que fracassou no seu intento de migrar. Ou o que se perdeu nos apelos da indústria cultural.

No final dos 1990 a música Chover (ou Invocação Para Um Dia Líquido), do Cordel do Fogo Encantado pedia: “Meu povo não vá simbora / Pela Itapemirim / Pois mesmo perto do fim / Nosso sertão tem melhora”. Sabemos que esse quadro mudou no período Lula/ Dilma com o avanço dos direitos sociais. Mas Olha pro Céu Meu Amor também é reavivado, ganha outros sentidos com os recentes acontecimentos do cenário político brasileiro, com o recuo das garantias dos trabalhadores e direitos do cidadão.

Cena de Olha pro Céu meu Amor. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Cena de Olha pro Céu meu Amor. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Na encenação, um compositor caruaruense segue para o Rio de Janeiro em busca do sonho de vencer na carreira na Cidade Maravilhosa, e que Roberto Carlos grave suas músicas; enfim em busca de liberdade econômica prestígio social e realização profissional e pessoal . Olha pro Céu Meu Amor foi lançada em 1983 e é baseada na vida de Sebá Alves, que nunca desistiu de ser artista, mas encarou muitas funções de operário durante a vida. Ele fundou e mantém em Caruaru o Teatro de Mamulengos Mamusebá e a Cia. Pernas pra Circular, além de muitos projetos de formação.

O personagem de Sebá, Bom Cabelo -inspirado em sua própria história -é submetido ao subemprego. A montagem tem uma estrutura de quadros que se alternam nas cenas do protagonista no Rio e outras com seus familiares que ficaram no Nordeste. A mãe, dona Guió, que tenta manter a ordem da família; o pai Jesus (famoso vendedor de passarinhos da região). Além dos outros filhos do casal, a menina Dó (Charlene Santos) com os hormônios gritando, resolve fugir com o namorado. Neneca, na dúvida entre ser padre ou assumir sua vocação de artista performático, e Lelé, que alimenta uma obsessão apaixonada pela galinha Du.

A encenação brinca com os estereótipos do pernambucano do interior, com suas roupas coloridas, vestidinhos de chita e lenços na cabeça; com uma prosódia carregada, símbolos da cultura da região e nos objetos de cena, ditos populares. A trilha sonora é potente poesia e de uma atualidade impressionante. A música é executada ao vivo por Jadilson Lourenço (também na direção musical), Felipe Gonçalves, João Vítor Lourenço (violões) e Carlinhos Aril (percussão).

Há desnível nas atuações, mas não compromete o conjunto. Sebastião Alves (o Sebá), defende o papel de Zequinha de Jesus há mais de 20 anos, criou uma cativante figura, entre a euforia e a melancolia desse migrante sonhador. Jô Albuquerque Cavalcanti faz o feirante e vendedor de gaiolas e pássaros chamado Jesus meio distante em seu mundo dos pequenos animais voadores. Adeilza Monteiro traça Mãe Guió cuidadosa com suas crias, preconceituosa com as dos outros e que tenta negociar o lugar de comando dentro da casa. Luzia Feitosa (Ceminha) faz a namorada conterrânea que Cabelo conheceu no Rio e tem um passado condenável pela mãe do protagonista. Walter Reis (Lelé) é o menino da galinha, que fez muita gente da plateia lembrar de sua infância. Gabriel Sá (Neneca) mostra as mudanças do pleiteante ao sacerdócio ao artista transformista.

Rafael Amâncio (Pernambuco), Ary Valença (Lula), Matheus Silva (Biu de Dora) e Gilmar Teixeira (Dr. Hércules) completam o elenco. Entre situações risíveis, pequenas alegrias, mostras de explorações e sofrimento, cada personagem recebe um marca mais evidente, como a perna manca do Dr. Hércules.

A peça se movimenta em blocos, em quadros dos cantos musicais, tenda do mamulengo, reunião em família, bastidores da fábrica, quarto da pensão, etc. E esses flashes compõem um painel poderoso. Mas como disse anteriormente os procedimentos cênicos foram articulados por Vital na década de 1980.

Iluminação guarda as marcas dos anos 1980. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Iluminação guarda as marcas dos anos 1980. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Essa poética guarda a força desse dramaturgo e diretor tão criativo e comprometido com o povo do Nordeste. Mas deixa brechas de que algumas coisas ficaram datadas e isso fica bem evidente na iluminação que cria focos blocados, mudanças repentinas para azuis e vermelhões e principalmente nas situações em que o ator Sebá (e outros) dá sua fala e o rosto do personagem fica no escuro. Problema que uma consultoria com a coordenadora técnica do Janeiro de Grandes Espetáculos, Luciana Raposo poderia (poderá) resolver e ampliar horizontes.

De todo modo, o que fica desse musical é o sentimento aguerrido do povo nordestino, seu linguajar rico e peculiar, suas soluções para a vida que ganham escalas de tragédia e comédia no palco.

FICHA TÉCNICA
Olha pro Céu meu Amor
Texto, direção, projeto de iluminação e cenografia: Vital Santos
Trilha sonora: Jadilson Lourenço
Coordenador de cena: Gabriel Sá
Figurinos: Iva Araújo
Confecção de figurinos: Sônnia Cursino
Confecção de cenário: Gilmar Teixeira
Montagem de palco e luz: Edu Oliveira, Marcelo Mota e Gilmar Teixeira
Execução de luz, assistente de produção e direção: Edu Oliveira
Sonoplastia: Marcelo Mota
Contrarregragem: Zi Rodrigues
Produção: Sebá Alves
Músicos: Jadilson Lourenço, Felipe Gonçalves, João Vítor Lourenço (violões) e Carlinhos Aril (percussão)
Elenco: Sebastião Alves (Sebá), Jô Albuquerque, Adeilza Monteiro, Luzia Feitosa, Charlene Santos, Gabriel Sá, Walter Reis, Rafael Amâncio, Ary Valença, Matheus Silva e Gilmar Teixeira

SERVIÇO
Onde: Teatro Rui Limeira Rosal (SESC Caruaru)
Quando: Dia 28 de janeiro de 2017 (Sábado), às 20h
Ingresso: R$: 10,00 (Inteira) e 5,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 14 anos
Duração: 1h20

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Festival em Caruaru, no peito e na raça

encerra a programação, no domingo. Foto: Diego Di Niglio/Divulgação

pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação encerra o festival, no domingo. Foto: Diego Di Niglio/Divulgação

O produtor Rafael Amancio não se deixou paralisar pela crise, pela não contemplação em editais, pela ausência de apoios institucionais. Para realizar o Festival Abril para o Teatro pediu apoio a comerciantes e empresas de Caruaru, arregimentou amigos e parentes na produção e com garra e coragem promove a  primeira edição. Não foi fácil e o desafio é administrar os próximos sete dias para que tudo corra da melhor forma. São 10 espetáculos na programação, que começa hoje e segue até o dia 10, com sessões no Teatro João Lyra Filho, em Caruaru.  Com apresentações competitivas nas categorias Teatro Adulto, Mostra de Artes das Comunidades e Teatro Infantil, o evento reúne grupos da terra de Vitalino, Altinho, Cabo de Santo Agostinho, Igarassu, Recife, Garanhuns e Vitória de Santo Antão. A principal característica é juntar as produções de vários pontos de Pernambuco.

De Caruaru participam Chico Cobra e Lazarino, da Associação dos Artistas de Caruaru – ASSARTIC;  A Visita, do grupo Arte em Cena; Guiomar, sem rir sem chorar, do Teatro Experimental de Artes – TEA e Sonhos do Palhaço Nuneco, do Grupo Ciarte. De outros municípios de Pernambuco estão A Menina que buscava o Sol do Núcleo de Pesquisa Cênica de Pernambuco, de Vitória de Santo Antão; Eudiamon do Grupo Osicran Teatro, de Igarassu; A Dama da Noite, do Pane Produções Artísticas, de Garanhuns; O Apanhador no Campo de Centeio, do Coletivo de Teatro Risoflora, do Cabo de Santo Agostinho; O Samba nosso de cada dia, do Grupo TROPA, de Altinho e pa(IDEIA)-Pedagogia da Libertação, do Coletivo Grão Comum, do Recife.

A VISITA-GRUPO ARTE EM CENA

Ator Severino Florêncio, na montagem A Visita

O ator Severino Florêncio apresenta seu espetáculo de repertório A Visita. Nele, o protagonista Antônio retorna ao solo da sua infância e encontro o lugar muito diferente. A secura atingiu gente e bicho. Ele busca na memória elementos para recriar o futuro. A montagem faz uma adaptação do texto do encenador e dramaturgo Moncho Rodriguez pelo Grupo de Teatro Arte-Em-Cena.

A segunda encenação da Trilogia Vermelha, Pa(Ideia)- Pedagogia da Libertação, do coletivo Grão Comum, investe sobre os 70 dias em que o educador pernambucano Paulo Freire ficou preso no Recife, seus 16 anos exilado pelo mundo (América Latina, Europa e África), e a sua volta ao Brasil nos tempos da redemocratização. A primeira peça da trilogia foi h(EU)stória – o tempo em transe,  sobre a vida de Glauber Rocha. A próxima é pro(FÉ)ta – O bispo do povo, sobre Dom Helder Câmara.

Os homenageados do festival são o ator e poeta, Cícero Gomes (in memoriam) e o ator, diretor, professor, coreografo e iluminador Francisco Pereira da Silva Neto (Chico Neto). Na abertura estão previstas apresentações de Israel Filho, Banda de Pífano Zé do Estado e o espetáculo O Samba Nosso de Cada Dia. Além das peças, o festival vai exibir o curta Miolo de Barro, dirigido por Leandro Braith, com duração de 17 minutos.

Programação
Teatro João Lyra Filho.

Dia 4 de Abril
– Espetáculo Adulto: O Samba Nosso de Cada Dia, de Altinho ás 20h

Dia 5 de Abril
– Espetáculo Infantil: Sonhos Do Palhaço Nuneco, de Caruaru, às15h
SONHOS DO PALHAÇO NUNECO

– Espetáculo Adulto: Guiomar, Sem Rir Sem Chorar, Caruaru às 20h
GUIOMAR- GRUPO BASTIDORES

Dia 06 De Abril
– Espetáculo Infantil: Sonho De Criança, de Caruaru às 15h

-Espetáculo Adulto: Chico Cobra e Lazarino, de Caruaru, às 20h
Chico Cobra e Lazarino

Dia 07 De Abril

– Espetáculo: O Mágico De Oz, de Caruaru, às 15h

– Espetáculo: A Visita, de Caruaru às 20h

Dia 08 De Abril
-Espetáculo Infantil: A Menina Que Buscava O Sol, de Vitória De Santo Antão Às 15h
A MENINA QUE BUSCAVA O SOL (1)

-Espetáculo Adulto: O Apanhador no Campo de Centeio, do Cabo de Santo Agostinho, às 20h.

Dia 09 De Abril
Espetáculo Adulto: A Dama da Noite, de Garanhuns, às 18h30
DAMA DA NOITE 1

Espetáculo Adulto: Eudiamon, de Igarassu às 20h

Dia 10 De Abril
Espetáculo Adulto: Pa (Ideia)- Pedagogia Da Libertação, às 19h

Curta- Miolo De Barro, às 20h

Cerimônia de Entrega de Troféus, às 20h30

Ingressos: Inteira: R$: 10,00 e Meia: R$: 5,00.

Informações: (81) 3136 3377 / (81) 99404 8608 / (81) 99741 8774

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Sotaque português não empolgou

O desejado – Rei D. Sebastião abriu o Janeiro de Grandes Espetáculos 2013. Foto: Pollyanna Diniz

Numa conversa com o ator Júnior Sampaio há alguns anos, lembro que ele me falava como são raros os momentos mágicos no teatro, aqueles realmente sublimes. E vivemos em busca deles. É o que faz a trupe teatral da montagem O desejado – Rei D. Sebastião: espera que algo incrível aconteça e o touro adormecido no palco, representando o rei, desperte. A peça, que tem texto, encenação, figurinos, cenografia e iluminação de Moncho Rodriguez, abriu ontem o 19º Janeiro de Grandes Espetáculos.

O espetáculo foi um projeto do produtor Paulo de Castro: cinco atores pernambucanos foram para Portugal ensaiar por três meses e lá estrearam a peça, antes de vir fazer a circulação por aqui. “É uma forma de ampliar mercado para os nossos atores”, sempre defendeu Paulo. É no mínimo um projeto ousado, por todos os custos envolvidos nisso.

As cenas são construídas de forma muito plástica em O desejado. Parecem quadros, fotografias, compostos perfeitamente por cenário, figurino, iluminação. Em alguns momentos lembrei de trabalhos de Gabriel Villela como Macbeth, que me parecem trilhar esse mesmo caminho.

Em cena estão Júnior Sampaio (que é pernambucano, mas vive em Portugal há muitos anos), Gilberto Brito, Rafael Amâncio, Júnior Aguiar, Mário Miranda e Márcio Fecher. De Portugal sobem ao palco, Pedro Giestas, Marta Carvalho, Eunice Correia e Catarina Rodriguez. É muito de Júnior Sampaio, que faz Nóe, a responsabilidade de ‘carregar’ a montagem; ele e Gilberto Brito, aliás, capturam realmente a atenção do público quando estão com o destaque.

Montagem tem a assinatura do encenador Moncho Rodriguez

Mas são o texto, o didatismo, a forte carga histórica e a falta de síntese que atrapalham a montagem. Até determinado momento aquela trama ainda consegue prender a nossa atenção – e o jogo de cena é interessante, a presença da música, artifícios como a utilização de bonecos, a descoberta de referências da nossa cultura no texto – mas isso definitivamente não se sustenta até o fim da montagem. Tanto é que muita gente saiu antes do fim na sessão no Santa Isabel. Porque a peça se torna chata mesmo…

É verdade que foi uma aposta ousada de Paulo de Castro, anunciada com um ano de antecedência, mas não foi acertada a escolha da montagem para abrir o festival. As pessoas não saíram do teatro surpresas, empolgadas, felizes…para uma maratona que, afinal, está só começando.

Cerimônia – Se a peça não ajudou, a cerimônia de abertura do Janeiro também não. As pessoas até entendem que é importante o blábláblá, mas ninguém merece ouvir tanta gente! Depois que os três produtores do Janeiro já tinham falado – Paulo de Castro, Paula de Renor e Carla Valença – Paulo ainda inventou de chamar ao palco Leda Alves (secretária de Cultura do Recife), Roberto Lessa (presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Severino Pessoa (presidente da Fundarpe). E depois ainda teve Josias Albuquerque, do Sesc. Politicamente é importante, mas que é um saco…ah, isso é. Pelo contrário, emocionante e rápida foi a homenagem a Vital Santos, de Caruaru, que recebeu flores (da frisa em que estava mesmo) e foi aplaudido de pé pelo público que lotou o Santa Isabel.

Antes de ser apresentada aqui, peça estreou em Portugal

Programação desta quarta-feira (9):

O desejado – Rei D. Sebastião
Onde: Teatro de Santa Isabel, às 20h30
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

O filho eterno (Cia Atores de Laura/RJ)
Quando: hoje e amanhã (10), às 19h, no Teatro Apolo
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

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Magia luso-brasileira em castelo europeu

O elenco de O desejado - Rei D. Sebastião. Fotos: Rui Pitães/Divulgação

Estreou ontem, com direito a cenário de filme: um castelo e forte nevoeiro em Lanhoso, Portugal, a peça O desejado – Rei D. Sebastião. Com direção de Moncho Rodriguez, a montagem feita a partir de um intercâmbio entre Pernambuco e Portugal deve abrir o próximo Janeiro de Grandes Espetáculos. Agora, os atores cumprem uma temporada de mais 12 apresentações em terras lusas; aqui, a ideia é que o espetáculo seja encenado na capital pernambucana e também em Olinda, Caruaru, Arcoverde, Salgueiro e Petrolina.

Entrevistamos dois atores da montagem: Júnior Aguiar, que estava um pouco afastado dos palcos – a última montagem da qual ele participou foi Quase sólidos; e Júnior Sampaio, pernambucano que mora em Portugal há muitos anos e parceiro do blog.

ENTREVISTA // Júnior Aguiar

Qual o enredo do espetáculo?
O espetáculo conta a história de um grupo de comediantes-atores que procuram pelo Rei D. Sebastião – O Desejado, que desapareceu numa batalha na África. Eles procuram pelo invisível, pelo sonho de viver a liberdade e a poesia, querem o encantamento das coisas, querem a verdade que se manifesta pelo teatro! O espetáculo é uma celebração. É a história da História. Portugal precisava de um herdeiro porque estava prestes a perder o seu poder para a Espanha, por causa da proximidade da morte de D. João III, casado com Dona Catarina (da Espanha). Era necessária e urgente a vinda de um herdeiro! Do amor de seu filho João e Joana nasce D. Sebastião.

Como esse mito é transposto para o espetáculo?
O espetáculo faz um paralelo entre os tempos. A crise que agora desespera os portugueses e as velhas crises que sempre ameaçam a soberania, a disputa pelo poder, o sofrimento do povo, as ironias, os tempos que não mudam! Para nós, pernambucanos, existem alguns elementos importantes, como, por exemplo, saber das influências portuguesas na nossa origem. A questão do Mito sebastianista que se configura até hoje no Nordeste Brasileiro (Belmonte, Lençóis Maranhenses..). A história da Pedra do Reino. De uma certa forma, todo o pensamento de Ariano Suassuna. O contexto da criação em que o espetáculo se configura é muito interessante. É o ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal. Então se estabeleceu um intercâmbio cultural entre atores dos dois paises, uma parceria entre o Centro de Criatividade de Polvoa de Lanhoso (coordenado por Moncho Rodriguez) e a Apacepe. Estamos aqui por dois meses com passagens, hospedagem e alimentação pagos e recebemos uma ajuda de custo.

Como está sendo o trabalho com Moncho Rodriguez?
Moncho Rodrigues é o autor e o diretor da encenação. É o coordenador do centro de criatividade de Polvoa de Lanhoso. É fantástico viver essa experiência e desfrutar com dignidade de todo a estrutura oferecida. Temos salas de dramatuturgia, de figurinos, de adereços, de ensaios, teatros…. Trabalhamos das 14h até meia-noite, com intervalos para as refeições. Durante a manhã, descansamos ou estudamos os textos. Moncho é um homem de teatro que não se esquece. Sua voz atinge nosso coração e pode nos encantar ou pode provocar sentimentos os mais contraditórios. De repente um grito de alerta, uma indicação preciosa, uma pergunta esclarecedora, um abraço. Moncho é claro no que deseja: quer a verdade dos atores. Somente a verdade. Mas a verdade não é fácil, faz doer o corpo inteiro, faz a gente se arriscar até perdermos o controle. É preciso ir além do que se sabe, do que se pode, do que se imagina pretender. Moncho tem o olhar que parece fora do mundo, não quer perder tempo, nem energia em vão. Exige profunda dedicação e disponibilidade. Nenhum ator permanece o mesmo se aceitar as regras do jogo.

Júnior Aguiar e Rafael Amancio

Qual a importância desse intercâmbio?
É preciso viajar pelo mundo. Se o olhar não alcançar longe, se não for surpreendido pelas diferenças culturais, pelas maneiras distintas de ser, pelas possibilidades das histórias, ficamos limitados e corremos o risco de não transcender como seres humanos sensíveis, como atores profissionais com visão ampla e cosmopolita. Trocar é crescer. O grupo de atores portugueses é fantástico. Observamos sua disponibilidade, sua maneira de nos receber, de nos apresentar suas formas de trabalho e de procurar pelas personagens. Eles tambem irão ao Brasil sentir como somos no nosso ambiente, de como incorporamos nossas manifestações culturais. No fim, toda essa experiência se configura em amplo e sólido aprendizado.

Pode nos adiantar algo da montagem?
Abel e Caim abrem o espetáculo. São como João Grilo e Chicó. Espertos, oportunistas, sobreviventes. Abel é feito pelo reconhecido ator português Pedro Portugal. Caim pelo inspirado Márcio Fecher tocando pandeiro, gaita, zabumba. Depois é a vez do casal Cordeiro e Frívola, interpretados perfeitamente por Mário Miranda e Marta. É um casal de espectadores que representam a realidade e que interferem na apresentação do espetáculo. E o grupo de comediantes-atores comandados por Noé (Júnior Sampaio) e Aldonça. Eu interpreto Josué – O ministro Castanheira e Dom Henrique, o cardeal. Rafael Amâncio interpreta Jesus e Gilberto Brito os persoangens Rutílio e Tibia.

ENTREVISTA // JÚNIOR SAMPAIO

Júnior Sampaio e a portuguesa Eunice Correia em cena

Do que trata o espetáculo e qual a importância desse texto para o contexto pernambucano
Trata-se de uma releitura poética do Mito de D. SebastiãO. Uma companhia de cômicos/atores acredita que um dia, para salvar o seu povo, representaria com verdade o sonho do desejado, e com tanta verdade brincaria, que El – Rei, na cena, em pessoa, apareceria para ser a própria personagem. Eles sonham… por ser grande o desejo de num novo tempo de viver. Sendo o que são (atores), porém mais respeitados. A importância do texto para o contexto pernambucano se encontra na constante pesquisa que Moncho Rodriguez atua com o seu teatro: a fusão da cultura do nordeste brasileiro e a cultura ibérica. Os pontos em comum entre as duas culturas estão presentes no texto de forma clara e inequívoca. Uma viagem poética pelas influências ibéricas na cultura nordestina. O texto está recheado de referências culturais nordestinas: o bumba-meu-boi, a pedra do reino, o repente, o martelo… Cidades e regiões são citadas ao longo da peça.

Como tem sido a experiência com Moncho?
A minha experiência com Moncho, mais uma vez, é enriquecedora. Há 20 anos que não trabalhava com ele e é como se tivesse sido ontem. Moncho sabe o que quer para o seu teatro e isto provoca uma segurança compensadora para o ator. O seu rigor e a sua poética comprovam-me que o teatro é uma celebração, que o teatro é magia sagrada.

Qual a marca da direção dele nesse trabalho?
A marca e assinatura de Moncho estão presentes em todo o espetáculo. É um espetáculo de Moncho Rodriguez. Moncho dirigiu-me duas vezes em 1990 em Romance do Conquistador, de Lurdes Ramalho, e em 1992 em A Grande Serpente, de Racine Santos. O Desejado tem toda a poética teatral do Moncho. Costumo dizer, se é que isto interessa, que esta é a sua tese de doutoramento!Dois povos, nordestinos do Brasil e portugueses, em um único universo, e sem distinções. Um trabalho onde a magia de unir é o que importa.

Como é a sua personagem?
A minha personagem é Noé, um ator/comediante, dono da companhia, que acredita no teatro como uma arte de transformação. Apaixonado pela sua função, alucinado pelo palco. Noé é um sonhador… e o seu maior sonho é ver o Desejado através da sua arte. Pode-se dizer que é um D. Quixote, um Merlim. Acredita na arte, na palavra, na fé cênica, no teatro. Sonha com o teatro. Noé pode ser qualquer pessoa que sonha que através da arte podemos chegar ao Desejado…desejo de um mundo melhor. Será que Noé sou eu ou eu é que sou Noé? Já não sei! É esperar e viver o sonho do Desejado.

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