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Teatro de Fronteira encena Ligações Perigosas para falar da sociedade de hoje

Rodrigo Dourado (à esq.) e Rafael Almeida voltam a trabalhar como atores após anos afastados a partir do texto clássico de Choderlos de Laclos, com direção de João Denys. Foto: Ricardo Maciel

Rodrigo Dourado (à esq.) e Rafael Almeida voltam a trabalhar como atores após anos afastados a partir do texto clássico de Choderlos de Laclos, com direção de João Denys. Foto: Ricardo Maciel

O livro As ligações perigosas, clássico de Choderlos de Laclos, já seduziu muitos artistas no cinema e no teatro. Basta lembrar da versão levada ao cinema por Stephen Frears em 1988, que tomou um lugar cativo na cultura pop. A marquesa de Mertreuil e o conde de Valmont são mais do que personagens, mas arquétipos de uma elite insensível e libertina, que destrói vidas por pura diversão. O Teatro de Fronteira, que sempre apostou em uma linguagem mais documental, baseada no biodrama, usa o mesmo material para dar um ponto de inflexão em sua trajetória.

Em Ligações perigosas, que estreia nesta sexta (18) e fica em temporada até o próximo dia 29, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife, o vazio barroco da aristocracia pré-Revolução Francesa é mostrado em uma encenação mais próxima das origens do livro, um romance epistolar, focado na troca de cartas entre os aristocratas. Para quem não leu o livro nem viu as várias adaptações para o cinema, os ex-amantes competem entre si para ver quem corrompe garotas ou jovens mulheres, fazendo-as trair suas convicções de castidade e fidelidade.

Mais do que falar sobre intrigas amorosas, o texto é uma crítica social afiada de uma sociedade à beira do colapso, nada muito diferente de hoje, segundo o Teatro de Fronteira. Além de apontar o dedo para uma elite cuja insensibilidade parece ser eterna, o grupo também coloca em xeque um certo tipo de fazer teatral por meio da paródia. A decadência da elite francesa da época, alheia ao sofrimento do povo e entretida em seus jogos de sedução é posta em cena a partir da contracena dos dois atores ao redor de uma mesa, como se estivessem em um banquete.

A dissonância desse grupo social com a realidade, segundo Rodrigo, é sublinhada pelos elementos visuais do espetáculo. “A mesa é acionada como um local do encontro e também do enfrentamento. Ao mesmo tempo, o figurino e a maquiagem nos deixam com aspecto de usados, gastos, em referência a uma elite que insiste em permanecer fazendo um teatro enquanto o resto do mundo está se explodindo. Alguém pode pensar que estamos fazendo um ‘teatrão’ de fato, mas esse é o risco de fazermos uma paródia”.

A peça também traz de volta ao palco dois artistas que não pisavam nele havia alguns anos: Rodrigo Dourado, há dez anos sem atuar, e Rafael Almeida, há seis anos fora de cena. A dupla convidou, então, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) João Denys Araújo Leite para dirigi-los em um processo que leva a teatralidade às últimas consequências. “Queríamos esse exagero. Acho que um bom texto é atemporal. Ele sempre vai falar a quem quiser ouvi-lo. Choderlos de Laclos põe as vísceras de uma sociedade sobre a mesa. Ligações perigosas fala muito das relações sociais e podemos usar a obra como metáfora para entender também o Brasil”, reflete Rafael.

O processo da montagem foi iniciado com a vontade de Rodrigo, também professor da Universidade Federal de Pernambuco, de voltar a trabalhar como ator, após consolidar uma carreira no Recife como diretor. Rafael, por sua vez, faz doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), já foi da Trupe do Barulho e trabalhou no teatro em várias frentes, seja como diretor ou como cenógrafo. O que liga ambos a João Denys é a ligação dos três com a palavra. “Sempre me interessei pelos clássicos e começamos uma pesquisa para um texto para dois atores e nos deparamos com esse texto. Minha formação é a da dramaturgia e minha escola de atuação é ‘old school’. Eu, Rafael e Denys temos em comum essa conexão com a literatura e enxergamos em As ligações perigosas uma potência teatral muito grande. Mertreuil e Valmont encenam os jogos de conquista deles. Eles brincam de interpretar”, detalha Rodrigo.

Embora o Teatro de Fronteira tenha trabalhado, em seus espetáculos, um material dramatúrgico vindo diretamente da experiência de vida dos atores ou recorrido a uma dramaturgia costurada a partir de acontecimentos reais, Rodrigo não considera uma contradição montar Ligações perigosas. “Esta adaptação é bastante literária, metafórica e até um pouco barroca. Talvez o público estranhe essa opção por uma linguagem cheia de licenças poéticas em relação ao que ele tem visto como obra do nosso coletivo, mas, no fim das contas, acho isso bom. Teatro é conflito, e o grupo está vivendo esse paradoxo”, reflete Rodrigo.

Serviço:

Ligações Perigosas, do Teatro de Fronteira
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 18 a 27 de maio de 2018 (sextas e sábados às 20h; domingos, às 19h)
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 70 minutos
Informações: 3355-3320 / 3355-3321

Ficha Técnica:

Elenco: Rafael Almeida e Rodrigo Dourado
Direção: João Denys Araújo Leite
Adaptação dramatúrgica: Teatro de Fronteira
Direção de produção: Rodrigo Cavalcanti
Figurinos, adereços e maquiagem: Marcondes Lima
Confecção de adereços: Álcio Lins e Rafael Almeida
Cenografia: João Denys Araújo Leite
Assistentes de cenografia: Manuel Carlos e Rafael Almeida
Cenotecnia: Israel Marinho, Manuel Carlos e Rafael Almeida
Design e execução de luz: João Guilherme de Paula
Sonoplastia: João Denys Araújo Leite
Assistente de sonoplastia: Rafael Almeida
Execução de sonoplastia: Marconi Bispo
Identidade visual: Michel Souza
Fotos e vídeo: Ricardo Maciel
Assessoria de Imprensa: Cleyton Cabral
Realização: Teatro de Fronteira

 

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Amor de blog

“Oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei, disse a secretária eletrônica com voz de me coma de quatro. Eu não deixei nenhum recado, continuei mudo segurando o telefone na orelha. É tão engraçado, a gente para no tempo e fica viajando sem mala e sem avião, o passaporte era o telefone, pus no gancho e entrei no carro. Apenas uma luz acesa naquele edificiozão. O apartamento dela iluminado, as janelas abertas e apenas uma secretária lá dentro, eletrônica. Só pode ser uma patologia, só pode. Vou contar um segredo porque sou seu amigo e confio em você: tenho fixação pela secretária eletrônica. Eu sei que é a Vanessa, mas aquela voz, aquela voz parecia ser de outra pessoa. Eu ligava mais de trinta vezes por dia só para poder ouvir ela dizendo oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei”. (Cleyton Cabral)

Gostou? Terça-feira, no Espaço Muda (Rua do Lima, 280, Santo Amaro) tem muito mais! Esse foi só um trechinho de um texto que ‘pesquei’ do blog Cleytudo; vários deles serviram de base para esta edição do Leia-se: Terça!, que está sob a direção de Rafael Almeida, e traz no elenco Evandro Lira, Fernanda Mélo, Luana Lira, Luciana Pontual e Thiago França.

“São textos sumários falando dos encontros e desencontros do coração, a descoberta do amor, as ilusões e desilusões amorosas. Os textos falam do cotidiano, mas de uma forma peculiar”, conta Rafael. A leitura dramática de Hoje quero falar de amor está marcada para 20h. E já estamos sabendo que na próxima edição, o texto também é de Cleyton, mas desta vez um infantil, que participou de uma série de leituras dramáticas no Sesc Santo Amaro no fim do ano passado (foi em janeiro deste ano!): O menino da gaiola. Ah, não tem cobrança de ingresso, tá? É “contribuição espontânea”!

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