A ideia era fazer um evento para celebrar o Dia Internacional da Dança, comemorado no dia 29 de abril. Mas a necessidade se mostrou maior: os espetáculos da cidade precisavam de visibilidade, havia o desejo por complementação na formação, por debates, por oficinas. Essa é a historinha da criação do Vale Dançar, festival realizado em Petrolina, Sertão pernambucano, que já vai para a sua quarta edição.
Além de movimentar a cena, o Vale Dançar tenta mostrar às autoridades que existe gente produzindo dança por lá, enquanto o poder público simplesmente não se manifesta. Uma cidade tão forte economicamente, um polo médico, educacional…e todas essas coisas que a prefeitura adora alardear… e não tem um teatro sequer! Ou melhor, tem. Porque existe o Sesc, instituição que trabalha há anos na região e realiza o Vale Dançar. Mas o Teatro do Sesc está fechado por conta de uma reforma que acabou de começar e deve durar pelo menos um ano e meio. Resultado? Os espetáculos que pedem um maior aparato de luz, som, terão que cruzar a ponte. Serão apresentados na Bahia, em Juazeiro, no Centro Cultural João Gilberto. E deve ser assim também no festival Aldeia do Velho Chico, que acontece em agosto, por mais de 15 dias.
“80% da programação do Vale Dançar é de espetáculos locais. Temos pelo menos quatro grupos de dança produzindo na cidade”, explica o supervisor de Cultura do Sesc em Petrolina, Jailson Lima, que é também diretor da Qualquer Um dos 2 Cia de Dança, que já tem três espetáculos no repertório: Vire ao contrário (2007), De dentro (2009) e Deixar ir (2010). Um dos diferenciais da companhia é que ela é formada só por homens.
Além de Aluga-se um coração, novo espetáculo da Qualquer Um dos 2, inspirada no livro Amor Líquido, de Bauman e Deixar ir; da produção petrolinense, o festival apresenta ainda Esbórnia, da Cia de Dança do Sesc (grupo com 16 anos); Atração, da Cia de Dança Canuto; e as mostras de solos, duos e de dança contemporânea.
De Surubim, vai o espetáculo Valsa para cadáveres e desejos, da Solus Cia de Dança. É o primeiro trabalho coreografado e dirigido por André Chaves. São três bailarinos em cena. “É um estudo sobre as contrações involuntárias. Parkinson, cãibra, soluços. A gente parte daí como ponto de pesquisa do movimento”, conta Chaves. O espetáculo, complementa, é resultado de uma provocação feita por Raimundo Branco, da Compassos, que fez uma residência artística em Surubim ano passado.
A convidada do Recife é a Cia Etc., com o espetáculo Silêncio, uma intervenção intitulada Involuntário, e ainda a participação de Marcelo Sena em alguns debates e na palestra Processos criativos em dança.
O Vale Dançar começa hoje, às 20h, e segue até o dia 1º de maio. Os espetáculos são gratuitos; já as oficinas custam R$ 15 para o público em geral e R$ 10 para comerciários e dependentes. Confira aqui a programação completa.