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Prefeitura discute festivais de teatro e dança

*Atualizada às 17h29

Errata:
A assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura do Recife entrou em contato para esclarecer que a Prefeitura do Recife ainda não voltou atrás na decisão de tornar os festivais bienais. Segundo a assessoria, a reunião foi de escuta; e isso será decidido entre as representações de classe, a Secretaria de Cultura do Recife e a Fundação de Cultura Cidade do Recife. Uma nova reunião está marcada para o dia 9 de dezembro, às 10h. De acordo com algumas pessoas entrevistas pelo blog, o recuo da Prefeitura ficou subentendido pelo decorrer da reunião.

Confira a nota publicada pelo blog:

A Prefeitura do Recife resolveu recuar. Depois de anunciar que o Festival Recife do Teatro Nacional e o Festival Internacional de Dança do Recife seriam bienais, realizados de forma intercalada, sem que a sociedade civil e a classe artística fossem ouvidas, a decisão foi revista.

Leda Alves, secretária de Cultura do Recife, e o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, tiveram uma reunião na manhã de ontem (10), no gabinete da secretária, no prédio da Prefeitura, com representantes da Associação de Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), da Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape), do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado de Pernambuco (Sated), da Associação de Realizadores de Teatro de Pernambuco (Artepe) e do Movimento Dança Recife.

De acordo com informações, Leda Alves teria pedido desculpas à classe artística por anunciar que os festivais seriam bineais sem nenhuma discussão pública prévia. Mesmo com o recuo, não haveria recursos e tempo hábil para realizar a edição 2014 do Festival Nacional. A promessa é de que novas reuniões devem ser realizadas mensalmente entre os sindicatos e a Prefeitura do Recife.

Leda Alves pediu desculpas à classe artística. Foto: Ivana Moura

Leda Alves pediu desculpas à classe artística. Foto: Ivana Moura

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Militância na gestão pública

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

O nome dele está vinculado a ações significativas no teatro pernambucano. Idealizou o Janeiro de Grandes Espetáculos, o Festival Recife do Teatro Nacional, o Circuito Pernambucano de Artes Cênicas, realizado entre 2001 e 2006, participou da criação do Centro Apolo-Hermilo, lutou pela climatização do Teatro do Parque e pela reforma do Teatro de Santa Isabel. Como gestor, o dramaturgo, diretor e ator Romildo Moreira já passou pela Prefeitura do Recife, pelo Governo do Estado de Pernambuco, pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria da Cultura do Governo do Distrito Federal.

Atualmente, Romildo Moreira é o chefe da divisão de Artes Cênicas, na Fundação de Cultura Cidade do Recife. Por ironia, recentemente viu seus superiores tomarem a decisão de cancelar a edição 2014 do Festival Recife do Teatro Nacional e ainda de torná-lo bienal, sendo realizado alternadamente com o Festival Internacional de Dança do Recife, evento que hoje está sob a responsabilidade de Moreira e que foi realizado no mês passado com apenas R$ 200 mil de desembolso da Prefeitura do Recife. O restante, R$ 450 mil, veio de parcerias construídas pelo gestor e por sua equipe.

Em entrevista ao Satisfeita, Yolanda?, Romildo Moreira diz que não foi consultado sobre as mudanças nos festivais, admite que a Prefeitura do Recife possui um déficit de atuação na área da cultura, mas se diz motivado a continuar militando na atual gestão. A entrevista foi concedida ao blog na semana passada.

ENTREVISTA // ROMILDO MOREIRA

O que você achou do cancelamento do festival deste ano e da transformação do festival em bienal? Como você, enquanto gestor que criou o festival, enxerga isso?
Não dá para separar o artista Romildo Moreira, que esteve na gestão que criou o festival e que coordenou três edições, do atual gestor, que voltou para a Fundação de Cultura, 13 anos depois. Acho que é lamentável. Depois de tanto tempo que o festival se mantém como projeto anual, que ele tenha essa interrupção. Já tive uma experiência parecida: no terceiro ano consecutivo do festival, a gente optou por não torná-lo bienal, quando surgiu essa proposta, porque nós estávamos com pouca verba e tínhamos o compromisso com o Ministério da Cultura para a reforma do Teatro de Santa Isabel. O festival era o único recurso disponível na prefeitura até então para a área das artes cênicas. Então nós nos reunimos com as entidades, chamamos algumas pessoas notórias das artes cênicas, eu lembro bem, Germano Haiut, Reinaldo de Oliveira, discutimos essa proposta e vimos que não seria a melhor opção. Uma das discussões que a gente levantava era: havendo uma crise por algum motivo, no ano em que ele seria executado, o festival deixaria de acontecer não só um ano, mas por três anos. Nesta situação atual, não sei quais os discursos de defesa dessa proposta e quais os discursos que foram postos contrários a essa bienalidade. Talvez tenham até me poupado, em função de que eu estava muito atarefado com a realização do Festival Internacional de Dança.

Você foi consultado com relação a essa decisão?
Eu não fui consultado. Precisamos esclarecer: mesmo que a gestão cultural da Prefeitura seja uma só para a sociedade de modo geral, existem duas instituições públicas que trabalham com ela. O Festival é ligado ao Centro Apolo-Hermilo e o Centro Apolo-Hermilo é ligado diretamente ao gabinete da secretária. Na minha instância de hierarquia, eu passo por outro segmento, que é o da Fundação de Cultura. Isso também não impede que a gente sente, em comum acordo, para discutir. Mas eu não fui consultado; e aí, repito, talvez até em função das minhas atividades, que estavam muito fortes nesse período, em função do festival. Agora, se eu tivesse sido consultado, certamente teria defendido o contrário. Acho que não teria sido difícil mostrar até o ponto de vista do prejuízo político para a instituição. Dezoito anos depois, tornar o festival bienal, quando nenhuma gestão anterior se colocou neste lugar.

Qual o prejuízo político dessa decisão?
A Prefeitura do Recife está com um déficit muito grande dentro da história de sua participação no universo cultural da cidade, em especial nas artes cênicas, que é onde milito. Esse prejuízo é político, quando isso acontece exatamente numa gestão em que a secretária de Cultura é uma pessoa de teatro, sensível às questões teatrais, uma gestão cheia de pessoas de artes cênicas. É difícil para a sociedade entender como o cancelamento do festival é uma necessidade inadiável; não fica muito claro. Esse prejuízo se estende também ao lado artístico, porque passar dois anos alheios ao que está acontecendo em cena no país inteiro é ruim para a história local, como uma cidade receptora de grandes espetáculos, através exatamente do Festival Recife do Teatro Nacional e do Janeiro de Grandes Espetáculos. O Janeiro de Grandes Espetáculos não supre sozinho essa necessidade.

Um dos argumentos utilizados por Carlos Carvalho, coordenador do festival, é de que não teríamos um prejuízo muito grande, já que a cidade possui muitos festivais. Mas sabemos que o Festival Recife do Teatro Nacional tem um perfil e um objetivo muito específicos.
Acho que passa exatamente pelo que você pontua: perfil. Quando o poder público percebe que ele cumpre um papel e define esse papel como uma função sua, ele não pode ser comparado a outros, tem que ter um diferencial. Temos que voltar mesmo à história do festival: quando, nas três primeiras edições, ele tinha uma curadoria enorme, um grupo grande de pessoas para pensar e realizá-lo, do ponto de vista da programação, era exatamente essa discussão que a gente levantava: qual o diferencial que o Festival Recife do Teatro Nacional tem para o Festival de Curitiba, para Porto Alegre, para os grandes festivais de teatro do país que existiam na época? E a gente via que a importância que o festival iria adquirir para o cenário brasileiro, era exatamente esse seu perfil singular. A gente queria reunir, como reunimos, grandes espetáculos, tendo como mote para cada ano um ponto de vista, a partir desse olhar viriam os convites. O primeiro ano foi a reunião de grupos consolidados. Trouxemos pela primeira vez ao Recife, o Galpão, o Latão, que estourou nacionalmente aqui no Recife, porque era muito conhecido por um gueto de intelectuais em São Paulo, mas à medida que veio para cá, com dois espetáculos, despontou para o resto do Brasil – isso está no livro que o Sérgio de Carvalho escreveu quando o grupo completou 15 anos. É este perfil de trazer o que de melhor se produz, na forma como originalmente foi produzido. Uma coisa não substitui outra. Mas sei que deve ter sido bem doloroso também para os diretores da secretaria e da fundação tomarem essa medida, mas é lamentável, porque quebra uma história.

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

O Festival Internacional de Dança foi realizado sob sua coordenação. Como você conseguiu viabilizar o festival financeiramente, já que a falta de verba seria um dos motivos pelos quais o Festival Nacional foi cancelado?
A viabilidade do Festival de Dança este ano realmente foi muito difícil. Este ano para a cultura no Brasil não foi fácil e para Recife em especial. Politicamente houve uma ruptura entre o governo federal e o governo estadual e, consequentemente, com o municipal. Isso implicou na questão de verbas da Prefeitura. Para se ter uma ideia: parte dos recursos do Ministério do Turismo para o carnaval ainda não foi liberado, da mesma forma com o ciclo junino. Ou seja: a Prefeitura teve que arcar com despesas que não estavam pré-orçadas para tal, teve que tirar de eventos próprios, como foi tirado do Festival de Dança. O Festival de Dança estava orçado em R$ 700 mil, depois baixou para R$ 500 mil. Ele foi realizado com quase R$ 650 mil em desembolso direto, dos quais R$ 200 mil apenas foram da Prefeitura. O restante foi parceria. A programação realizada no Paço Alfândega, por exemplo, se nós fôssemos pagar todas as despesas lá: aluguel de linólio, aluguel de som, aluguel do espaço, por duas semanas, isso ultrapassaria R$ 50 mil e nós conseguimos como parceria. O grupo da Bélgica, que veio com onze pessoas, o Ministério da Cultura da Bélgica pagou as passagens de ida e volta; o grupo do Sesc de Petrolina, com 22 pessoas, foram passagens de avião pagas pelo Sesc. Foram aportes que se somaram, para que o festival acontecesse, inclusive de forma grandiosa. Não foi menor do que o do ano passado, muito pelo contrário, pela opção que fizemos de espalhar a programação pela cidade inteira, essa programação que foi realizada no Paço Alfândega, diariamente, pegando outro tipo de público, no horário do almoço, resultou muitíssimo bem, tudo isso foi ampliando mesmo o volume do festival. O Paço do Frevo também, que foi outro parceiro, apoiador maravilhoso. O espetáculo da filha de Antônio Carlos Nóbrega, Maria Eugênia, apresentado lá, até o cachê do espetáculo foi o próprio Paço quem pagou. Enfim, a gente saiu buscando parceiros para que, de fato, a gente politicamente cumprisse o prometido com a categoria.

Quem buscou essas parcerias? Quem fez essa produção?
A Gerência de Artes Cênicas, nós, sob minha responsabilidade.

Vocês tiveram algum recurso vindo do setor de captação da própria Prefeitura?
A captação de recursos institucional a gente tentou através das leis de incentivos, que foram poucas, mas não tivemos resposta positiva. Isso foi negociação direta mesmo da Gerência com os apoiadores. O chefe dessa divisão de captação de recursos é Wellington Lima. Eu estive com ele, fizemos projeto para o BNDES e algum outro, que não foram aprovados. Mas essa captação que resultou em verbas alocadas para o 19° Festival Internacional de Dança do Recife veio através de negociação direta com a Gerência.

Como foi a negociação com o Presidente da Fundação de Cultura para que o festival fosse realizado?
Quando eu soube que só tinha R$ 200 mil em desembolso para realizar o festival – porque precisa ainda computar outros gastos, por exemplo, manter um Teatro como o Santa Isabel funcionando a semana inteira em função do festival, isso tem uma despesa muito grande, energia, funcionário, hora extra de funcionário. Mas, de desembolso mesmo, de orçamento para liberação de recursos, só tinha R$ 200 mil. Então tinha duas opções: realizá-lo fazendo a multiplicação dos pães, ou não realizá-lo, porque o dinheiro, de fato, não atenderia às necessidades. E eu, com a minha equipe, resolvemos arregaçar as mangas e investir na realização dele.

Com relação à qualidade artística, não conseguimos acompanhar o festival, mas soubemos de espetáculos imperdíveis; e, ao mesmo tempo, de espetáculos questionáveis…
Realmente, nós tivemos umas oscilações, tivemos alguns espetáculos fracos mesmo. As pessoas até disseram: ‘como uma comissão de avaliação deixa passar isso?’. Mas, em compensação, tivemos outros maravilhosos. Ficamos muito felizes. A exemplo do Dois Mundos, com a atriz e bailarina Mariana Muniz. Ela faz um espetáculo onde o corpo todo se expressa em libras; inclusive ela é daqui, maravilhosa. O grupo da Bélgica, um espetáculo daquele nenhum produtor independente traz, um espetáculo que, para entrar em cena, você tem que adquirir três metros e meio de areia, um botijão de gás hélio que custou R$ 930 só para encher o balão, comprar um monte de tralhas que não dá para trazer da Bélgica, tem que comprar aqui, como pá de construção.

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Voltando às decisões da Prefeitura, o que foi divulgado é que os Festivais de Dança e de Teatro serão bienais, realizados de forma alternada. Isso envolve o Festival de Dança, sob a sua batuta. Ele virou bienal à sua revelia?
Eu não diria à minha revelia porque não tenho poder de decisão. Tenho superiores. Tenho um cargo muito pequeno diante de quem tem as decisões. Lamento não ter podido estar presente, para defender a manutenção dos festivais. Talvez eu tivesse argumentos suficientes para a gente rever. Para mim, seria muito mais coerente politicamente falando dentro de uma gestão que tem esse elenco de pessoas envolvidas até a medula com a questão da cultura na cidade, como a secretária Leda Alves. Seria muito mais fácil a gente sentar com a comunidade e dizer: “olha, este ano não dá para fazer porque não tem dinheiro. A gente não quer colocar as pessoas para trabalhar e não saber se vai poder pagar. Isso não é uma coisa responsável, não seria uma atitude responsável. Mas, a gente vai se comprometer com vocês que, no ano seguinte, a gente faz o festival, tentar até alocar mais recursos, trazer mais parceiros, para fazer o festival à altura, como a cidade merece”. Acho que as pessoas entenderiam que este ano era impossível fazer, porque foi um ano de Copa, um ano que teve muitos problemas de infraestrutura na cidade, por causa das chuvas, foi um ano atípico, com coisas que justificam a queda de arrecadação da Prefeitura. Agora, o que acho que a gente fica devendo, de fato, é tomar uma medida dessas que não é fácil de ser aceita pela comunidade, sem ter tido esse diálogo, essa oportunidade.

Você já conversou com o presidente depois disso? Você acha que essa é uma decisão reversível? Você vai tentar fazer o Festival Internacional de Dança ano que vem?
Ainda não. Se for uma decisão superior, não posso me opor, muito pelo contrário, tenho que acatar, porque não sou secretário de Cultura, presidente da Fundação ou prefeito do Recife. A possibilidade de voltar a ser anual, acho que tem muito mais a ver com a mobilização da comunidade artística do que da nossa própria interferência lá dentro. Não sei quais os argumentos que levaram a se ter essa decisão, eu não ouvi, pode ser até que essa minha ausência nessa reunião também tenha me deixado sem argumentos suficientes para defender essa posição, porque não ouvi os discursos que levaram a essa decisão, não sei quais foram. Sei que falta de dinheiro existe, mas gostaria mesmo que fosse revista essa posição e que a gente tivesse no próximo ano tanto o festival de dança quanto o de teatro. Até mesmo porque ambos os festivais já têm inscrições em leis de incentivo para o ano de 2015. Então vai ficar muito difícil se um dos projetos que enviamos para uma dessas leis de incentivo for aprovado e a gente não realizá-lo. Ainda tem uma situação delicada, na medida em que se tornou público isso, porque se uma comissão que vai analisar os projetos de 2015 sabe que o nosso festival passou a ser bienal, é óbvio que ela não vai votar no nosso. Já existe um prejuízo. Politicamente é difícil tramitar agora com projetos prévios para um festival que deixou de ser anual, quando a gente já tinha perspectiva de realizá-lo ano que vem.

Na nota que anunciou o cancelamento do Festival Nacional, a Prefeitura aproveitou para anunciar o fomento às artes cênicas. Os artistas sabem do seu empenho, desde o encontro que você teve com a classe no Forte das Cinco Pontas, no início do ano, para que o fomento fosse retomado. Mas como, neste momento, você vai defender esse fomento, com um valor que não é o ideal e que pode ser visto como um ‘cala a boca’ para os artistas?
Ele já estava previsto. A gente precisa fazer um histórico disso também. No último ano que o fomento saiu foi de R$ 20 mil. Quando se descontava os percentuais de praxe, de um desembolso público, isso ficava um valor tão irrisório… Mas o poder público trabalha com orçamentos e a gente não pode pensar num orçamento ilusório, a gente tem que pensar um orçamento real, viável, possível. Então, obviamente, paulatinamente, esses valores vão melhor atendendo às necessidades. Sei que R$ 33 mil, dependendo do tipo de produção é um aporte pequeno, mas é alguma coisa. Até mesmo porque o fomento não impede que um projeto contemplado capte recursos noutras fontes, como o Funcultura. Estamos dando uma pequena parte para incentivar. Fomento não é um patrocínio, é um aporte de apoio mesmo.

Ele não viabiliza. Ele fomenta…
Não produz, ele fomenta. Ele dá o incentivo, não a produção. O Funcultura sim, se você consegue aprovar 100% do seu projeto, é um patrocínio. Agora como foi dito e discutido nesse encontro em fevereiro do ano passado, a gente tinha uma verba de R$ 300 mil. Como dividir? Até porque, ele tinha sido pensado em valores diferentes, para teatro e dança era um e para circo era outro. E lá, nesse encontro, as pessoas de circo não foram favoráveis a esse desnível de valores e conseguiram sensibilizar todos, de que não deveria ser assim. Agora a ideia é que, paulatinamente, a gente vá adequando esses valores, até mesmo porque a inflação existe, é real, está voltando, então a gente precisa fazer com que essas verbas não estacionem. Agora, nunca vai ser suficiente para a montagem. Vai ser sempre uma verba de apoio e nem é um apoio tão pequeno, para iniciar uma produção, já cumpre um bom papel.

R$ 33 mil sem descontos?
A gente está querendo que saia via Fundo, o que tem um implicador burocrático, porque o Fundo é controlado pelo Conselho Municipal de Cultura. Ele tem uma ligação direta com o Conselho. De forma que, se pudermos liberar esses recursos através do Fundo Municipal de Cultura, ele sai como prêmio; caso contrário, o fomento é dado com os descontos normais, de praxe. Mas estamos tentando que ele saia como prêmio do Fundo.

Nós sabemos que, desde sempre, a falta de espaços ou a precariedade dos espaços
Existe já há algum tempo, isso não é recente, não vem dessa gestão atual, um departamento chamado Goe, Gerência de Operação de Espaços, que não está ligada diretamente às artes cênicas. Então todos os teatros, museus, galerias, bibliotecas, os espaços físicos da área de cultura são gerenciados por esse departamento. Existe sempre algum diálogo entre a Divisão de Artes Cênicas e esse departamento. No caso do Barreto Júnior, em especial, ele não está fechado. Está em condições precárias para uso. De forma que os produtores que o buscam sabem que o ar-condicionado de lá não tem mais retorno. Já foi feito agora o processo de levantamento de custos para a compra de um novo equipamento, porque ali é em cima do mar e a maresia acabou com toda a estrutura da máquina. Agora, no Festival, nós usamos o teatro. Teve um custo enorme para colocar aqueles ar-condicionados portáteis, que são alugados para eventos. Colocamos seis aparelhos, quatro no auditório, um nos camarins e um no palco. Ficou um clima agradável. Mas, por exemplo, uma produção independente que vá cumprir temporada não vai conseguir arcar com essa despesa para tirar de bilheteria.

Qual a previsão?
A partir do primeiro semestre de 2015. Essa foi uma notícia recente, que o próprio diretor do teatro, Marcelino Dias, me passou. Que o GOE já está fazendo esse processo de custos, para abrir processo de compra, os trâmites burocráticos. Segundo Marcelino, vai ser adquirido no primeiro semestre de 2015.

Porque além dos festivais, a casa abre edital para ser ocupado, faz parte da política de ocupação do espaço. Então até o fim do primeiro semestre isso não vai acontecer?
Parece que é para bem antes, pelo que Marcelino me passou. Esse processo de compra se encerraria ainda este ano; no Janeiro de Grandes Espetáculos provavelmente ele não vai estar instalado, mas a ideia é que logo após carnaval, o teatro já esteja com o equipamento.

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Sem orçamento, Secretaria de Cultura cancela edição 2014 do Festival Nacional

Carlos Carvalho diz que assina embaixo a não realização do FRTN, porque não havia recursos suficientes para fazer um bom festival. Foto: Pollyanna Diniz

Carlos Carvalho diz que assina embaixo a não realização do FRTN, porque não havia recursos suficientes para fazer um bom festival. Foto: Pollyanna Diniz

Agora é oficial. O burburinho que tomava conta das rodas de conversa dos artistas se concretizou: a 17ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN) não irá acontecer em 2014. Sem que a sociedade civil e a classe artística fossem ouvidas, a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, decidiu que o FRTN e o Festival Internacional de Dança do Recife serão intercalados. O Festival de Dança terminou este mês e agora só deve acontecer em 2016.

O Festival Nacional, como é chamado pela classe artística, sempre foi em seus bastidores um palco de lutas e afirmações, de buscas de políticas culturais mais amplas e quase nunca de consensos. A exceção talvez esteja no fato de que todos sempre concordaram com a importância da sua realização. Em 16 anos, a mostra ganhou alguns formatos, na busca pela excelência artística e também pelo cumprimento do seu papel social não só para os artistas e amantes do teatro, mas para o público em geral.

No ano passado, o Festival sofreu algumas alterações, na esteira da mudança política decorrente da gestão do PSB, que assumiu a Prefeitura do Recife. Foi uma edição bastante complicada – seja pela falta de planejamento, de orçamento, de qualidade artística. A discussão sobre o festival foi acalorada e pensou-se que iria render frutos, para uma próxima edição. Não foi o que aconteceu na prática. Sem verba, a edição 2014 do festival foi limada do calendário.

Em quase duas horas de conversa, o gerente geral do Centro de Formação e Pesquisa Apolo-Hermilo, Carlos Carvalho, responsável pela realização do festival, tentou explicar a decisão ao blog e reconheceu que a classe artística não foi ouvida, embora afirme que o momento é crucial para discussões.

Conversamos também sobre as ações que estão sendo executadas e planejadas para o Centro Apolo-Hermilo. Como a notícia sobre o cancelamento do festival já foi divulgada, resolvemos publicar logo a última parte da entrevista com Carlos, justamente sobre o FRTN. Logo mais, divulgaremos o restante da conversa.

Gestor garante que quer conversar com as entidades ainda este ano

Gestor garante que quer conversar com as entidades ainda este ano

ENTREVISTA // CARLOS CARVALHO

Isso não foi anunciado oficialmente (não havia sido até que a assessoria de imprensa da Prefeitura do Recife divulgasse uma nota no mesmo momento em que realizávamos a entrevista), mas o que se consta é que este ano não teremos Festival Recife do Teatro Nacional. Qual o motivo? Quem tomou essa decisão? Por quê?
De fato, não vai acontecer. Não há tempo para fazer o festival em 2014. O que levou a essa decisão? Primeiro: a diminuição dos recursos para o evento. Dois: um festival com a história que tem, seriam 17 edições este ano, não tem regularidade de orçamento. Penso também que, sendo coerente com o meu discurso de que gestão é feita não só pelos gestores, mas em parceria com a sociedade, que esse é o momento para sentarmos todos à mesa para discutir o que é esse festival, para quem, para que serve, a que ele atende? Porque, afinal de contas, estamos tratando de recurso público. Não estou pensando em números, números de quantas pessoas assistiram ou não, porque esse é um componente da discussão, mas não é fundamental. Para que serve, pra quem serve, para a cidade, para alguns? Esse debate precisa ser alargado. Essa foi a minha defesa. A decisão não foi minha, porque o festival não pertence ao Centro de Formação e Pesquisa, ele está aqui, por questões que o trouxeram para cá, mas ele pertence à gestão. Claro que todas as avaliações do festival (feitas ao final do festival), são escutas, onde se projetam coisas para o próximo ano; mas há muitas recorrências. Ao olhar as avaliações, de todos os anos, percebemos que, ora se fala mal do curador, ora se fala bem do curador, ora se fala mal do grau de excelência dos espetáculos. Creio que esse momento de não ter o festival, não ter para que no próximo ano ele seja bienal, acho que isso é uma coisa salutar. O fazer tem que ser precedido do planejar. Tem que ser discutido, planejado, consenso, vários olhares. Como agregar valor a esse festival? Tem tantas coisas a serem pensadas, sabe? Penso que a gente, ainda este ano, convide os entes todos, as entidades, e os interessados, os grupos, os artistas, enfim, pra discutir. Fazer talvez um grupo de trabalho para pensar o festival.

Porque isso não aconteceu antes? Tivemos um ano, desde o festival passado, já realizado com muitos problemas e críticas. A classe tem interesse nessa discussão. A avaliação, realizada aqui no Teatro Hermilo, estava lotada. É importante para a classe. De que forma ele vai ser reestruturado, debatemos, mas acho que a importância, não se discute. Tivemos pelo menos um ano para fazer isso. Queria saber o porquê disso não ter sido feito e, claramente, de quem foi a decisão de não ter festival e de ele ser bienal? Foi de Leda Alves?
É da Secretaria, em conjunto com a Fundação. Não teve um herói.

Mas, por exemplo, Romildo Moreira (gerente de artes cênicas da Prefeitura do Recife) foi consultado neste cancelamento?
Não sei lhe dizer. Sinceramente, não sei dizer se ele foi consultado.

Porque como ele é o gerente de artes cênicas, enfim…
Eu sei dizer que isso foi tema e eu participei de discussões, porque a gente estava esperando orçamentos, esperando orçamentos.

Essa decisão foi tomada quando?
Pouco tempo atrás.

Já se sabe que o orçamento para esse festival é bastante abstrato, assim como para qualquer outro evento de cultura da Prefeitura do Recife. Mas o Festival de Dança foi realizado agora há pouco. Também sabemos, historicamente, que é necessário que tenha alguém que vá atrás da captação de recursos, para que esse festival tenha, digamos, certa autonomia de verba.
A Secretaria tem um captador, que é Wellington (Lima). Onde a gente pode, nos editais, colocar o festival, colocamos, tanto Romildo por sua parte, como eu. Tive pouquíssimo contato com Romildo. Confesso que não era para ser assim. Mas as coisas aqui e lá e ele está distante, ele está no Pátio de São Pedro…

Por que as discussões não aconteceram?
As discussões aconteceram, aconteceram algumas discussões a respeito. Porque a luta continua. Ou seja: você espera que o orçamento seja consolidado em tal época, em tal tempo, aí não é consolidado, mas se abre uma perspectiva, então pra frente, pra frente. Na parte de captação, a gente colocou em vários editais o festival. Alguns não passaram, outros estamos esperando uma resposta.

Mas não dá mais tempo..
Sim, pra 2015. Estamos aguardando ainda alguns e estamos colocando noutros, além da Rouanet. Outro problema que já foi grave ano passado é que o festival estava com algumas pendências no Ministério da Cultura. A Secretaria, enquanto Festival de Dança, e de Teatro, eu soube. Isso teve que ser resolvido, de documentação, coisas desse tipo.

Mas isso foi importante na decisão de cancelar o festival? A Prefeitura não tem verba para fazer o festival? É isso?
A maior coisa foi falta de recursos.

Próximo ano teremos verba para fazer o festival?
Acho que sim. Estamos lutando para isso. Não posso dizer se teremos, porque nenhuma das pessoas pode dizer se próximo ano teremos, nem o prefeito; a não ser que ele diga assim: “eu vou tirar de tal lugar e colocar aqui”. A gente tem um orçamento que vai ser votado. Esse orçamento vai para a Câmara, tem um processo.

Porque Carnaval nós teremos…
Carnaval terá com a Prefeitura ou sem a Prefeitura.

Eu venho acompanhando esse festival desde o início. Em alguns momentos, o secretário de Cultura, ele chegou ao prefeito para garantir a realização do festival. E disse: “você tem que bancar esse festival, porque esse festival é muito importante para a cidade”. Eu acho que, talvez, mas isso é uma suposição, de que Leda não tenha peitado, cobrado isso do prefeito, como prioridade da gestão.
Eu não diria assim. Eu aceito a sua suposição, mas acho que isso é de fato uma suposição. A secretária despacha com o prefeito regularmente. Penso que Leda está puxando todas as questões que são pertinentes à secretaria e à sua gestão junto ao prefeito. Não tenho a menor dúvida disso. Acho que a questão foi exatamente orçamentária. Eu não sei dizer quanto foi que o Festival Internacional de Dança captou ou quanto foi o orçamento definitivo dele, uma vez que é da Fundação, e eu não tenho acesso aos recursos da Fundação. E louvo o festival ter acontecido, como eu louvo ter feito o FRTN ano passado. Foi uma dificuldade enorme para fazer o festival, com aquele dinheiro.

Que foi quanto?
Foi R$ 700 mil. Mas R$ 700 mil para fazer um festival daquele? É uma loucura.

Quanto disso foi recurso próprio?
Teve um patrocínio da Caixa Cultural, acho que era R$ 50 mil. Pouquíssimo foi captado. Acho que esse festival precisa, com todo respeito a tudo que já foi feito, passar por um alargamento do olhar, não só dos que fazem teatro, mas aumentar o olhar sobre o festival, para que ele aumente em importância. Defendo, colaboro, assino em baixo, a não realização, pela razão dos recursos não serem os necessários para se fazer um bom festival. E acho que fazer capenga demais, não é bom, nem para quem está fazendo, nem para o público. Penso que é o momento não só para discutir o festival, mas para discutir política cultural.

Qual é o reflexo para a cidade e para a classe a não realização do festival?
Acho que serão muitas críticas. Tenho certeza que serão muitas críticas. Mas a gente está aqui também para receber críticas.

Mas, além das críticas, quais os reflexos para a nossa formação? Estamos dentro de um Centro de Formação, para a ampliação do olhar…
Eu acho que o Festival ele cumpre um papel. Mas, como ele, tem outros. A gente tem agora a Cena Cumplicidades, o Festival de Circo do Brasil, o Palhaçaria, o Janeiro de Grandes Espetáculos, que é internacional. Essa formação do olhar, a cidade não tem essas carências todas, da formação do olhar, da acuidade dos sentidos. Não vejo como a falta do festival vai influir de forma tamanha que vai ser um desastre para os apreciadores desta arte. Não vejo assim. Acho que não fazer vai gerar alguns desconfortos, mas esse desconforto, até aproveito aqui para convocar: vamos conversar?

O que eu soube era que o festival teoricamente já estava pensado.
Tinha muita coisa que a gente avaliou, a questão da curadoria, a questão do edital, a questão da ocupação dos espaços. Fizemos algumas leituras de como alargar o festival para a cidade, em espaços que habitualmente o festival não foi. Tem uma série de coisas que a gente discutiu e formulou para, exatamente, na deflagração, “vai ter, o orçamento é esse”, a gente trabalhar.

Por que o Festival de Dança aconteceu? De que forma ele conseguiu recursos? Você falou que o Festival de Teatro precisa reencontrar um conceito. E o Festival de Dança?
Não posso te responder isso, infelizmente. Acho que essa é uma pergunta que Romildo (Moreira) deve te responder. Não quero nem tocar nesse assunto. Quando eu digo que o Festival de Teatro precisa ser repensado, é porque acabou o tempo dos sólidos. A gente pode ser mais fluido. Não é porque esse modelo está consolidado ou foi consolidado, que ele não precisa ser revisitado. Não estou dizendo que ele é ruim. Estou dizendo que ele precisa ser revisitado, outros olhares, outras maneiras de ver.

Foi batido o martelo que o festival vai ser bienal? Ou isso ainda vai ser definido?
Acho que está consolidado que será bienal, alternadamente, um ano um, um ano outro.

A Secretaria já tomou essa decisão, isso já está consolidado?
É.

Próximo ano a gente não vai ter Festival de Dança?
Não.

A sociedade civil foi consultada para essa decisão, a classe artística?
Acho que não.

Quando a gente diz que a gestão é compartilhada, que tinha que ter o diálogo…
Eu estou dizendo que é preciso ter. Estou dizendo que é preciso a gente avançar nisso. Acho que é bom, é salutar.

A não realização do festival de teatro, em parte, seria uma responsabilidade da sociedade civil, das entidades, que não estão acompanhando…?
Não estou dizendo que a culpa é de ninguém. Estou dizendo que aconteceu.

Se as pessoas estivessem mais atentas…
Pode ser. Ou pelo menos a explicação de que não tem. Você só faz feira se tiver dinheiro. Então, se você não tem o dinheiro… Agora, no ano passado, já foi muito difícil fazer. A gente emprestou a nossa competência pessoal nos diálogos para diminuir cachê, diminuir custo de transporte. Foi muito difícil fazer.

Você como gestor, e como artista, se sente frustrado, pela não realização do festival?
Não. Sinto que foi necessário. É uma decisão madura, pelo menos minha. Penso que essa é uma atitude honrada. Acho que é uma atitude de quem tem responsabilidade, entendeu? E acho que, aproveitando esse momento, que provavelmente será de insatisfação de muitos, vamos pensar juntos e aí avançar para o próximo ano. Penso que esse festival pode ser muito melhor do que foi. Penso que o festival pode ser mais propositivo em várias questões.

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E começou o Festival Recife do Teatro Nacional

Os gigantes da montanha, do grupo Galpão. Foto: Pollyanna Diniz

Os gigantes da montanha, do grupo Galpão. Foto: Pollyanna Diniz

O Festival Recife do Teatro Nacional começou neste último fim de semana com duas das suas principais atrações de fora: o Galpão, de Minas Gerais, e a Armazém Cia de Teatro, do Rio de Janeiro. A abertura foi com Os gigantes da montanha, do Galpão, na sexta-feira, para um bom público no Sítio da Trindade, depois de um discurso breve da secretária de Cultura Leda Alves. “Esta gestão tem uma política cultural traçada e que, aos pouquinhos, a gente está cumprindo, implantando, na medida do possível, uma cultura comprometida com a democracia, com possibilidades e oportunidades”, afirmou.

Foi um início de altos e baixos, tanto na qualidade da programação quanto com relação à lotação das casas. Se a Armazém teve um bom público no sábado no Teatro Barreto Júnior, sem nenhuma dificuldade para que as pessoas conseguissem ingresso, a montagem infantil pernambucana De Íris ao arco-íris, por exemplo, levou só 22 pessoas ao teatro no sábado. As Bufa, no Santa Isabel, teve pouca gente na plateia tanto no sábado quanto no domingo.

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Os gigantes da montanha – Grupo Galpão (MG)

Definitivamente, o texto de Luigi Pirandello não é fácil. Principalmente para uma montagem de rua, em que a dispersão se dá facilmente. Tanto em Garanhuns quanto aqui no Recife, no Sítio da Trindade, a proximidade com a plateia diminuiu a dificuldade de imersão na obra, mesmo que ela seja intrincada, tenha várias camadas: a realidade, o sonho, a loucura, a ficção, o mito, a peça dentro da peça. O Galpão não abriu concessões, não seguiu o caminho mais fácil, ao montar Os gigantes da montanha. Ao mesmo tempo, criou uma peça que encanta os sentidos – é plasticamente bela, com seus cenários e figurinos; e a trilha sonora tocada e cantada ao vivo é de músicas italianas.

Montagem tem texto de Pirandello

Montagem tem texto de Pirandello

A marca da água – Armazém Cia de Teatro (RJ)

A peça que comemora os 25 anos da Armazém Cia de Teatro nos surpreende pela plasticidade. O cenário tem um espelho de água, uma piscina em que os atores se molham, jogam água para cima e acabam construindo imagens que se somam às projeções e à iluminação de Maneco Quinderé. Apuro técnico e delicadeza visual que não necessariamente encontram paridade no texto. É a história de uma mulher, dos seus traumas e tragédias familiares, das suas relações, da memória, da loucura. Mas o texto não consegue de fato se aproximar do público, há um desnível nessa recepção. Patrícia Selonk assume o papel chave da montagem e a responsabilidade de segurar um elenco disperso, sem brilho, sem composições de destaque.

Armazém Cia de Teatro voltou ao Recife com A marca da água. Foto: Pollyanna Diniz

Armazém Cia de Teatro voltou ao Recife com A marca da água. Foto: Pollyanna Diniz

Luiz Lua Gonzaga – Magiluth (PE)

O Magiluth sempre foi um grupo de temáticas e escolhas muito “urbanas”. Então era mesmo um grande desafio falar sobre Luiz Gonzaga, mesmo que grande parte dos seus integrantes tenha vindo de lugares do interior, onde São João, forró e sanfona são elementos tão fortes. O Magiluth se aproxima de Gonzaga de maneira muito despretensiosa e conquista o público aos pouquinhos, com a inteligência na costura do enredo, que parte do mote de uma espera. Todos aguardam a chegada de um homem; enquanto isso, preparam a festa, desfiam memórias de lugares, de tradições, de cotidianos simples. O São João da infância de Giordano Castro serve para falar dos nossos próprios ou, porque não, a aversão à festa que tinha Pedro Wagner. Todos sentimos saudades e bebemos o morto. Celebramos a fartura e ficamos tristes na sequidão. Rimos e cantamos juntos as músicas tão clássicas que compõem o espetáculo. Mais uma vez, o que se sobressai no palco é o jogo entre os atores e a sensação de que eles nasceram para fazer aquilo. Que não estariam mais felizes em nenhum outro lugar, senão ali, fazendo o que acreditam. Ainda quero voltar a esse trabalho!

Peça Luiz Lua Gonzaga foi apresentada no Sítio da Trindade. Foto: Pollyanna Diniz

Peça Luiz Lua Gonzaga foi apresentada no Sítio da Trindade. Foto: Pollyanna Diniz

As Bufa – Casa de Madeira (RS)

Aline Marques e Simone De Dordi são as intérpretes de duas mendigas que ocupam um teatro abandonado. Um local de ratos, sujeira e decadência. Apesar do vigor das duas atrizes e da intensidade com quem se jogam nos papeis, é no texto que está o principal problema de As bufa. Nas escolhas dramatúrgicas que não vão além do óbvio, na costura de críticas tão claras e rasas que perdem o vigor. São caricaturas pelas caricaturas. A massificação, o consumismo, a falsa religiosidade, a globalização. Tudo isso de uma forma rasteira, sem raízes, sem aprofundamentos, sem sutilezas, nuances ou surpresas para o público.

As bufa fez humor raso e sem consistência. Foto: Pollyanna Diniz

As bufa fez humor raso e sem consistência. Foto: Pollyanna Diniz

Agenda desta noite:

Vestígios (Relicário / PE)
Onde: Teatro Apolo, às 19h

Hospital da gente (Grupo Clariô de Teatro / SP)
Onde: Espaço Fiandeiros, às 20h

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro / Companhia Zero/ SC)
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h

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Festival Recife de teatro – tempo de editais

Galpão apresenta Os Gigantes da Montanha no Sítio Trindade, dia 22, na abertura do festival

A programação do Festival Recife do Teatro Nacional – FRTN foi anunciada nesta quinta-feira. A curadoria, que atuou nos últimos anos com recortes para a formação de sentidos, ficou para trás. A 16º edição é norteada por editais – instrumento defendido pela atual gestão como a forma mais democrática de formatar os eventos promovidos pela Prefeitura do Recife.

A grade da programação inclui 18 espetáculos em dez dias de apresentações – do dia 22 deste mês a 1º de dezembro. O mineiro Galpão abre o festival, às 20h, no Sítio da Trindade, com a peça Os gigantes da montanha, participação que o Satisfeita, Yolanda? anunciou ainda em julho. A secretária Leda Alves assistiu à peça no Festival de Inverno de Garanhuns e após a sessão fez o convite à trupe.

Os outros grupos foram garimpados de 150 projetos inscritos, segundo informou o gerente do Centro Apolo- Hermilo, Carlos Carvalho, que coordena o FRTN. Trinta e seis passaram na peneira e uma comissão formada pelo ator Paulo Mafe, representante do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife; o diretor do Teatro Williams Santanna; e a diretora e pesquisadora Clara Camarotti, fechou os grupos.

Gustavo Catalano, Carlos Carvalho e Leda Alves durante coletiva do festival

“Fizemos um edital para dar a possibilidade de as pessoas se oferecerem para vir ao Recife. Isso despertou o interesse dos grupos”, disse Carlos Carvalho.

Bem, dessas companhias, algumas ainda não passaram pelo Recife com os espetáculos que trazem. O próprio Galpão, a carioca Armazém Cia. de Teatro com A Marca da Água; a gaúcha Casa de Madeira com As Bufa; as catarinenses Traço Cia de Teatro/Companhia Zero com As Três Irmãs, o grupo paulista Clariô de Teatro, com Hospital da Gente; a mineira Cia. Pierrot Lunar com Acontecimento em Vila Feliz. Além da outra mineira, Cortejo Cia de Teatro, com Uma História Oficial.

O Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, de São Paulo, apresentou recentemente Homens e Caranguejos na cidade. E Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços da Paraíba vem com um espetáculo de repertório, Como Nasce um Cabra da Peste, que esteve no Recife há muitos anos.

Das montagens locais para o público adulto, todas já fizeram temporada ou foram vistas algumas vezes na cidade. São elas Vestígios (Relicário/PE), com texto de Aimar Labaki e direção de Antonio Cadengue; Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth; O Beijo no Asfalto, com texto de Nelson Rodrigues e direção de Claudio Lira; As Confrarias, da Companhia Teatro de Seraphins, com texto de Jorge Andrade e Antonio Cadengue. E Cafuringa, com o Grupo Cafuringa.

As peças infanto-juvenis também já estiveram em cartaz no Recife. São elas As Levianinhas em Pocket Show para Crianças, da Cia Animée; De Íris ao Arco-Íris, de Produtores Independentes e O Menino da Gaiola, Bureau de Cultura e Turismo.

O espetáculo Coisas do Mar, do Grupo Teatral Ariano Suassuna e Escola Estadual Santos Cosme e Damião, de Igarassu, ganhou visibilidade ao conquistar vários prêmios no 11º Festival Estudantil de Teatro e Dança, realizado em setembro, na categoria Teatro Para Crianças. A encenação levou para casa os troféus de melhor espetáculo, direção (Albanita Almeida e André Ramos), ator (Elton Daniel), cenário (André Ramos), figurino (Kattianny Torres) e texto inédito (o grupo).

O orçamento desta edição encolheu em R$ 400 mil em relação ao do ano passado. Ficou em R$ 700 mil – sendo R$ 50 mil da Caixa Econômica Federal e o restante dos cofres da Prefeitura. A Prefeitura não conseguiu renovar o Pronac – Lei Rouanet, nem a prestação de contas da Funarte e por isso não pode concorrer a esses incentivos.

O teatrólogo Samuel Campelo é o homenageado desta edição

O homenageado deste ano é o diretor Samuel Campelo, fundador do Grupo Gente Nossa no Recife dos anos 1930. A pesquisadora Ana Carolina Miranda da Silva vai lançar um livro sobre Campelo e também vai fazer palestra sobre O Grupo Gente Nossa e o Movimento Teatral no Recife.

“Vamos ter um grande festival, que oportuniza espetáculos que não teriam oportunidade de estar aqui. A gente tem grupos que nunca vieram ao Recife e tem grupos que já vieram como a Cia. Armazém ou o Galpão. E ter a possibilidade de ter os que já vieram com aqueles que nunca vieram isso nos enriquece. Isso abre pra gente uma felicidade de dizer nos estamos abrindo o FRTN para o Brasil, pelo meio mais democrático, que é o edital”, entusiasma-se Carvalho.

16º Festival Recife do Teatro Nacional

Programação

Sexta-feira (22)
Os Gigantes da Montanha (Grupo Galpão/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 20h
Duração: 80 minutos

Sábado (23)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As bufa. Foto: Mariana Rocha

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

Banda de palhaças mostram repertório para crianças. Foto: Lana Pinho

Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

Montagem comemora 25 anos da Armazém Companhia de Teatro

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

História da curiosa lagarta, que quer chegar ao reino encantado. Foto: Angélica Gouveia

Domingo (24)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

A Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Dois policiais e um professor de história numa peça sobre a tortura. Foto: Américo Nunes

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 50 minutos

Homenagem do Grupo Magiluth ao rei do baião

Segunda-feira (25)

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 50 minutos

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Obra do dramaturgo Anton Tchékhov a partir da técnica do clown. Foto: Nassau Souza

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

A partir dos contos de Marcelino Freire, Grupo Clariô de Teatro/SP mostra a vida dura de vários personagens

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 55 minutos

Versão teatral da Cia. Pierrot Lunar para o conto homônimo de Aníbal Machado

Terça-feira (26)

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 60 minutos

Conhecido como Homem da Cobra, o mestre Cafuringa é acompanhado por vários bonecos

Quarta-feira (27)

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 60 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Quinta-feira (28)

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 50 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O protagonista, o garoto Vito, de 9 anos, quer libertar o sonho das pessoas

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Sexta-feira (29)

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 60 minutos

Sábado (30)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Espetáculo de estreia da Cortejo Cia de Teatro reflete sobre os autoritarismos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

Família foge da seca e chega à cidade e aos mangues do Recife

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

A Conspiração Mineira por um ângulo incomum, com texto de Jorge Andrade e direção de Antonio Cadengue.

Domingo (1)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

Oficinas:

Por uma Metodologia da Encenação Teatral
Ministrante: Antonio Edson Cadengue
Local: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Oficina de Teatro de Rua
Ministrante: Lindolfo Amaral
Local: Escola Pernambucana de Circo (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Exercícios para uma Cena Dialética
Ministrante: Márcio Marciano
Local: Museu Murilo La Greca (a confirmar)
Data: De 25 a 27 de novembro, das 13h às 17h

Palestras:

A Experiência do Cooperativismo em São Paulo
Palestrante: Ney Piacentini
Data: 26 (terça-feira)
Local: Espaço Fiandeiros, às 18h0

O Grupo Gente Nossa e Movimento Teatral no Recife
Palestrante: Ana Carolina Miranda da Silva
Data: 26 (terça-feira)
Local: Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel, às 18h

Tecendo Redes – A Redemoinho no Recife
Palestrante: Fernando Yamamoto e Ney Piacentini
Data: 28 (quinta-feira)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h

Serviço
Ingressos espetáculos nos teatros: R$ 10 e R$ 5 (meia entrada).
Os espetáculos de rua são gratuitos

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