O 27º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga – FNT começa com a programação da Mostra Nordeste, de 26 a 30 de setembro, em formato adaptado a esses tempos de pandemia da Covid-19, com transmissões online. Essa ação do FNT deste ano inclui apresentações de 10 companhias, sendo duas de Pernambuco (Grupo Magiluth e Teatro de Fronteira), duas da Bahia (Pico Preto e Teatro dos Novos), duas do Rio Grande do Norte (Clowns de Shakespeare e Cia Pão Doce) , três do Ceará (Inquieta Cia., Flecha Lançada Arte e Paula Yemanja / Zéis) e uma de Sergipe (Grupo Caixa Cênica). Além de cinco espetáculos suplentes: Memórias de Cão, do Alfenim (PB); Velòsidades, do Território Sirius Teatro (BA); Bixa Viado Frango, d’As Travestidas (CE); Marlene dos Espíritos online com o No Barraco da Constância Tem (CE) e Pas de Temps, da Companhia de Teatro Epidemia de Bonecos (CE).
A produção teatral do Nordeste recebe destaque e valorização desde a primeira edição do FNG, que impulsionou a trajetória de grupos e faz da cidade cearense um ancoradouro potente da arte e da renovação dos sonhos. Nilde Ferreira, coordenadora geral do FNT, anunciou em uma live os selecionados da Mostra Nordeste e as outras estações do festival. Em outubro está previsto um webnário com o tema Desafios Sustentáveis para o Século 21 no Âmbito de Festivais e Mostras, além do Encontro com Artistas pesquisadores e Música no FNT, uma panorâmica.
A Mostra de Dramaturgias está agendada para novembro bem como o programa de formação. Em dezembro, a organização planeja, e torce que possa ser presencial, a Mostra FNT para Crianças e o Palco Ceará.
Realizado pela Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga (AGUA), com apoio cultural do Governo do Estado do Ceará e apoio institucional da Prefeitura de Guaramiranga, o FNT priorizou, segundo Nilde, o compromisso de manter o festival no calendário, entendendo o papel da grande rede de festivais.
A seleção da Mostra Nordeste foi feita sob a coordenação de Paulo Feitosa, do Ceará, e contou com as curadoras e os curadores Celso Curi, de São Paulo, Thereza Rocha, do Ceará e Paula de Renor, de Pernambuco.
O Grupo Magiluth, do Recife (PE) integra a mostra com o experimento sonoro Tudo o que coube numa VHS. Os atores utilizam várias plataformas virtuais de comunicação e entretenimento, numa relação individual com o espectador. O público se torna cúmplice das memórias de um personagem, que fala sobre amor e relacionamento, no percurso dessas recordações.
A violência psicológica, emocional e sexual sofrida pela mulher, especialmente a negra, numa sociedade patriarcal, racista, machista e misógina há mais de 500 anos faz mover o espetáculo Entrelinhas, com Jaqueline Elesbão, do grupo Pico Preto, de Salvador (BA). A coreógrafa, diretora e performer usa máscara de flandres, que calava a escravizada Anastácia nas sessões de tortura. Outra elemento emblemático do trabalho é o sutiã, como símbolo da luta pela liberdade feminina na década de 1960.
A proposta do Grupo Clowns de Shakespeare é fazer um passeio lúdico conduzido por seis agentes, por trilhas tão desconhecidas quanto divertidas rumo ao redescobrimento da alegria. O passageiro Clã_Destino dessa viagem cênico-cibernética responde a perguntas, participa de algumas situações e faz escolhas que determinam o caminho de cada um.
Silvero Pereira e Gyl Giffony são dois irmãos na peça Metrópole. O mais velho dos dois, Caetano, está às voltas com as encomendas de bolo e com prazos estourados. Ele busca garantir o sustento e esquecer os sonhos. O jovem ator Charles aparece de surpresa e nesse encontro afloram antigos conflitos em torno do mercado artístico, terreno onde “não há garantias”. Também do Ceará, a Flecha Lançada Arte apresenta Influxo.
Respire – Manifesta, do Grupo Caixa Cênica (SE), é uma instalação-vivência cênica com uma dramaturgia expandida composta por palavras, sons, cheiros, movimentos e corpos políticos dançantes que escavam a violência predominante na sociedade. A montagem tem direção de Sidney Cruz e texto de Marcelino Freire.
Religião, política, arte, moral e hipocrisia compõe um cenário explosivo. Foi em 2018 que o espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – com a atriz trans Renata Carvalho – foi alvo de boicotes e de censura no Festival de Inverno de Garanhuns, no interior de Pernambuco. A peça tem uma lista de perseguições em outros locais, mas a atriz chegou a dizer que esses ataques foram os mais traumáticos. O Evangelho Segundo Vera Cruz é uma ficcionalização do episódio pelo grupo Teatro de Fronteira, com dramaturgia e direção de Rodrigo Dourado. Entre outras coisas, a peça reflete sobre as potências das artes para enfrentar o reacionarismo.
Durval é um sujeito que se divide em dois para agradar a esposa e a amante. Um São Sebastião Flechado é inspirado no conto Mártir em Casa e na Rua de Nelson Rodrigues. Os atores Paula Yemanjá & Zéis misturam música, teatro e literatura, num jogo provocador para apresentar a história.
O medroso Afrânio vai se casar com a romântica Maria Flor, mas acidentalmente se junta com a temível Moça de Branco, que o conduz para o submundo. Mas ele não desiste do amor e os atores da Cia Pão Doce contam essas peripécias no espetáculo A Casatória C’a Defunta.
Fragmentos de um teatro decomposto é uma série de monólogos do dramaturgo romeno Matéi Visniec traduzidos por Alexandre David e encenada por Marcio Meirelles, com a Companhia Teatro dos Novos (CTN) , do Teatro Vila Velha, de Salvador. A peça exibe um mundo distópico, mas que soa familiar depois da pandemia. De gente que se enclausura para se proteger e isolar do mundo, de alguém que conserta uma máquina de enterrar cadáveres, ou de outro que acorda numa cidade onde todos os habitantes sumiram.