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Haja Paixão
Pernambuco encena a trajetória de Cristo

Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, com José Loreto no papel principal. Foto: Divulgação

Paixão de Cristo do Recife, em imagem da encenação de 2024. Foto: Hans von-Manteuffel / Divulgação

Se existe uma devoção que pulsa intensamente no coração e na cultura de Pernambuco, é a arte de encenar a Paixão de Cristo. Mais que tradição, o fenômeno se tornou um verdadeiro encantamento coletivo, uma energia que a cada ano renova cidades inteiras, transforma ruas, praças e palcos em territórios sagrados onde o drama de Jesus é vivido entre lágrimas, aplausos, emoção, filmagens com smartphone e muita self. O fervor pernambucano ultrapassa o rito: é devoção que se faz teatro, identidade que se constrói na partilha e na coletividade. Da monumental Nova Jerusalém, reconhecida como o maior teatro ao ar livre do mundo, às montagens de bairros, igrejas e povoados, milhões de espectadores participam dessa experiência única, que mistura fé, espetáculo, arte popular e memória afetiva. Não importa o tamanho ou formato: cada montagem é um mergulho intenso da comunidade em sua história, suas esperanças e seus sonhos. Em Pernambuco, a encenação da Paixão é tanto um ato de religiosidade quanto um gesto de afirmação cultural, revelando a impressionante capacidade criativa de produtores, artistas, comunidades, e do povo de reinventar, ano após ano, a maior história de amor e redenção do mundo cristão.

Leopoldo Pacheco vive Pilatos em Nova Jerusalém. Foto: Divulgação

O mais tradicional espetáculo da Semana Santa em Pernambuco ocorre nos cenários monumentais de Nova Jerusalém, no distrito de Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus. A temporada 2025 da Paixão de Cristo vai até 20 de abril, trazendo como grande novidade o encerramento no domingo de Páscoa — algo inédito desde 1998, planejado especialmente para aproveitar o feriado do dia 21 de abril e atrair ainda mais visitantes. Com mais de 100 mil metros quadrados de extensão e imponentes muralhas de quatro metros de altura, o teatro a céu aberto replica ambientes emblemáticos da Jerusalém dos tempos de Jesus, transportando o público por lagos, jardins, palácios, o Templo e os arruados da antiga cidade sagrada. O projeto da cidade-teatro foi inaugurado em 1968 e é considerado um dos maiores do mundo em seu gênero, atraindo anualmente dezenas de milhares de espectadores de todo o Brasil.

Neste ano, o elenco principal ostenta nomes de grande expressão nacional e novos rostos no papel de figuras bíblicas marcantes. José Loreto assume o papel de Jesus, Letícia Sabatella interpreta Maria, Leopoldo Pacheco vive Pilatos, enquanto Werner Schünemann dá vida a Herodes. Além deles, Luana Cavalcante interpreta Herodíades, prometendo mais dramaticidade às cenas do palácio. Uma novidade para 2025 é o retorno da personagem Verônica, ausente desde 1993 — quando Letícia Sabatella a encarnou pela última vez e que agora é vivida pela atriz pernambucana Angélica Zenith.

O espetáculo também investe em inovações técnicas e visuais para impactar ainda mais quem assiste. A edição deste ano conta com novos efeitos especiais em cenas icônicas como o Sermão da Montanha e a Tentação de Jesus no Horto, buscando desperta mais emoção das passagens bíblicas. 

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém segue em grandiosidade, elenco estrelado e enorme participação do público, que marca presença em todas as edições. Só na noite de estreia deste ano (12/04), mais de 10 mil pessoas compareceram, superando as expectativas da organização e os números do ano anterior — reafirmando o status do evento como uma das maiores manifestações culturais e religiosas do país.

O espetáculo dialoga de forma surpreendente com temas da atualidade, como se viu quando, durante uma sessão, na clássica cena em que Pilatos indaga a multidão sobre libertar Barrabás ou Jesus, alguém na plateia gritou: “Solta os dois e prende Bolsonaro”, mostrando como, mesmo recriando uma história milenar, a Paixão de Nova Jerusalém permanece próxima dos debates e sentimentos do presente.

Os ingressos para a temporada 2025 variam de R$ 80 (meia) a R$ 220 (inteira), conforme o dia do espetáculo. 

Asaías Rodrigues – Zaza (Jesus) e Carlos Lira (Pilatos) na Paixão de Cristo do Recife. Foto: Hans von-Manteuffel

Em sua 27ª edição, a Paixão de Cristo do Recife vem em 2025 com uma proposta ainda mais  próxima do público. Realizado pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), o espetáculo se destaca este ano por estender sua temporada: são quatro sessões gratuitas e a céu aberto, na Praça do Marco Zero, entre os dias 18 e 21 de abril, sempre às 18h, aproveitando tanto o feriado de Tiradentes quanto o contexto da Semana Santa. A encenação, que reafirma no próprio nome o compromisso popular ao se apresentar como Paixão do Povo, aproveita uma nova configuração de palco com passarela e praticáveis móveis, permitindo que cenas como a entrada de Jesus no templo e a Via Crúcis se aproximem ainda mais da plateia, na perspectiva de tornar a experiência mais dinâmica e envolvente.

O elenco conta com Asaías Rodrigues (Zaza) interpretando Jesus e Brenda Ligia no papel de Maria, além de Jr. Aguiar (Judas), Carlos Lira (Pilatos), Albemar Araújo (Herodes), Clau Barros (Madalena), Gil Paz (João Batista) e Paula de Tássia (Diabo), totalizando 50 atores e 60 figurantes. A direção e o texto são assinados por Carlos Carvalho, que traz para a cena uma leitura atenta dos discursos político e religioso de Jesus e Maria. Os temas da montagem — amor, solidariedade e liberdade — são tratados como valores sagrados, essenciais à humanidade e ao futuro, e discutem questões contemporâneas, como racismo e violência urbana, sob a luz dos ensinamentos amorosos de Cristo. Os figurinos criados por Álcio Lins dialogam com diferentes épocas e contextos, misturando tecidos e referências históricas a modelagens atuais.

A trilha sonora harmoniza o tradicional com o contemporâneo, incluindo composições de Milton Nascimento e de Erasmo e Roberto Carlos. Destaque para a participação do grupo musical e de dança Bacnaré (Balé da Cultura Negra do Recife), recentemente reconhecido como Patrimônio Vivo do Recife. 

Paixão de Cristo em Triunfo. Foto: Divulgação

No Sertão do Pajeú, a Paixão de Cristo de Triunfo chega à sua 50ª edição como uma das mais antigas encenações do gênero em Pernambuco e celebra este marco com novidades no roteiro e na produção. A apresentação deste ano, encenada pelo Grupo de Teatro Nós em Cena no Parque Iaiá Medeiros Gastão — conhecido como Via Verde, o primeiro teatro ao ar livre do Sertão — ganha novos contornos com a inclusão de personagens e cenas inéditas, como Adão e Eva no paraíso, a profecia de Abraão, a trajetória de Maria Madalena antes do encontro com Jesus e a ressurreição de Lázaro, além de outros milagres marcantes da vida de Cristo. O elenco ampliado, com 90 integrantes entre atores e figurantes, promete uma experiência ainda mais envolvente nas apresentações gratuitas marcadas para os dias 17 e 18 de abril, às 19h, confirmando o evento como referência de fé, arte e memória cultural do povo sertanejo.

Lucas e Maria Oliveira no elenco da Paixão de Cristo dos Bonecos. Foto: Divulgação

Entre as alternativas diferentes está a Paixão de Cristo dos Bonecos, apresentada pela Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos (APTB). Este espetáculo acontece em 17 e 18 de abril, às 16h30, no Teatro Apolo, bairro do Recife, com entrada gratuita (retirada antecipada de ingressos na bilheteria).

A peça, adaptada por Jorge Costa e dirigida por Izabel Concessa, utiliza bonecos de vara e títeres, com irreverência e humor. Segue a cronologia tradicional (da entrada em Jerusalém à ressurreição), mas inserindo personagens como anjos, a Morte e os Reis Magos, reinterpretando episódios marcantes e derramando leveza mesmo no drama. O elenco é formado por Fábio Caio, Antero Assis, Álcio Lins, Lu Jordani, Jurubeba, Sílvia Mariz, Lucas e Maria Oliveira, Ana Rocha, Leila Gibson, Lello Vasques e Pompeia Cavalcante, além de alunos de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Conta com Libras e audiodescrição).

Paixão de Cristo de Camaragibe, em foto da montagem de 2022. Reprodução do Facebook

A Paixão de Cristo de Camaragibe, a Paixão dos Camarás, transforma a Praça de Eventos da Vila da Fábrica, em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, em grande palco nos dias 18, 19 e 20 de abril. Dirigido por Anderson Henry e apresentado por elencos da Companhia de Teatro Popular de Camaragibe, Grupo Teatral Risadinha e outros, a montagem tem Gustavo Veiga (Jesus), Patrícia Assunção (Maria) e Mano Casado (Herodes) nos papéis principais. Com coreografia de Micael Júlio, a peça contra com tradução em Libras. O evento é gratuito, inclusivo e referência cultural do município.

PAIXÃO DE GAIBU

A Praia de Gaibu é cenário, no dia 18 de abril , às 19h, da 12ª edição da tradicional Paixão de Gaibu. O espetáculo conta com mais de 100 atores e figurantes, encenando 13 cenas inspiradas em pontos turísticos do Cabo de Santo Agostinho sob as estrelas e ao som das ondas. Com entrada gratuita, a peça valoriza a cultura local, transforma Gaibu em um grande palco, misturando fé, arte e emoção, e representa um dos momentos mais aguardados da Páscoa para moradores e visitantes.

PAIXÃO DE LAGOA GRANDE (NA REGIÃO DE PETROLINA)

Em Lagoa Grande, Sertão de Pernambuco, o grupo JUNAC apresenta o drama sacro Paixão de Cristo, o Nazareno” nos dias 18 e 20 de abril, sempre às 18h30, no estacionamento da Enoteca Francesco Luigi Pérsico, distrito de Vermelhos. O espetáculo, gratuito, reúne jovens católicos e amigos de toda a região, mobilizando mais de 60 pessoas numa narrativa emocionante que retrata personagens centrais da literatura cristã. Um ônibus especial transporta a comunidade e moradores de Izacolândia, saindo da Igreja Matriz, às 17h30, facilitando o acesso do público local.

Paixão de Cristo de Serra Talhada. Foto: Divulgação

O espetáculo Jesus Sertanejo – A Paixão de Cristo ocorre nos dias 17 e 18 de abril, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco. A montagem conta com texto e direção de Anildomá Wilians e produção da Fundação Cabras de Lampião. Mais de 30 atores e atrizes participam da apresentação, com a caatinga como cenário. A peça reforça elementos da cultura sertaneja e busca transmitir a mensagem central da história de Jesus Cristo, destacando a fé, a esperança e o amor, a partir de referências do sertão. O papel de Maria é interpretado por Laisa Magalhães e Jesus será vivido por Karl Marx. Esse projeto foi selecionado pelo 16º Pernambuco de Todas as Paixões e conta com o patrocínio da Secretaria de Cultura de Pernambuco.

 

SERVIÇO

🎭 Paixão de Cristo do Recife: A Paixão do Povo
📍 Local: Marco Zero – Recife Antigo
📅 Datas: 18, 19, 20 e 21 de abril de 2025
⏰ Horário: 18h
🎟️ Entrada: Gratuita

🎭Paixão de Cristo de Nova Jerusalém
📍 Local: Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus
📅 Datas: 12 a 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 18h
🎟️ Ingressos: De R$ 80 (meia) a R$ 220 (inteira) – conforme o dia
🔗 Oficial: www.novajerusalem.com.br

🎭 Paixão de Cristo dos Bonecos
📍 Local: Teatro Apolo, Recife
📅 Datas: 17 e 18 de abril de 2025
⏰ Horário: 16h30
🎟️ Entrada: Gratuita (retirada de ingressos na bilheteria)

🎉 Paixão de Cristo de Camaragibe
📍 Local: Praça de Eventos Vila da Fábrica, Camaragibe
📅 Datas: 18 a 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h30
🎟️ Entrada: Gratuita

🌊 Paixão de Cristo de Gaibu
📍 Local: Praia de Gaibu, Cabo de Santo Agostinho
📅 Data: 18 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h
🎟️ Entrada: Gratuita
ℹ️ Detalhe: 12ª edição, mais de 100 atores em 13 cenas à beira-mar

🍇 Paixão de Cristo de Lagoa Grande (região de Petrolina)
📍 Local: Enoteca Francesco Luigi Pérsico, distrito de Vermelhos, Lagoa Grande
📅 Datas: 18 e 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 18h30
🎟️ Entrada: Gratuita
🚌 Transporte: Ônibus gratuito saindo da Igreja Matriz às 17h30
ℹ️ Grupo: JUNAC

🏠 Paixão de Cristo de Casa Amarela
📍 Local: Concha Acústica do Sítio Trindade, Recife
📅 Datas: 17 a 19 de abril de 2025
⏰ Horário: 20h
🎟️ Entrada: Gratuita

⛰️ Paixão dos Guararapes
📍 Local: Monte dos Guararapes, Jaboatão dos Guararapes
📅 Datas: 17 a 19 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h30
🎟️ Entrada: Gratuita

🎭 Paixão de Cristo de Triunfo – 50 anos!
📍 Local: Parque Iaiá Medeiros Gastão (Via Verde), Triunfo
📅 Datas: 17 e 18 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h
🎟️ Entrada: Gratuita
🎭 Grupo: Grupo de Teatro Nós em Cena

Paixão de Cristo do Paulista
📍 Local: Jardim Paulista Baixo, Paulista
📅 Datas: 18 a 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 20h
🎟️ Entrada: Gratuita

🍋 Paixão de Cristo de Limoeiro
📍 Local: Centro Cultural de Limoeiro
📅 Datas: 16 a 19 de abril de 2025
⏰ Horário: 20h
🎟️ Entrada: Gratuita

⛰️ Paixão de Cristo do Monte da Fé (Paudalho)
📍 Local: Vila Asa Branca, Paudalho
📅 Datas: 16 a 18 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h30
🎟️ Entrada: Gratuita

🌄 Paixão pela Serra (Bezerros)
📍 Local: Circuito das Estações, Bezerros
📅 Datas: 18 a 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h
🎟️ Entrada: Gratuita

🏛️ Paixão de Cristo de Igarassu
📍 Local: Sítio Histórico de Igarassu
📅 Datas: 19 e 20 de abril de 2025
⏰ Horário: 19h
🎟️ Entrada: Gratuita

✝️ Jesus Sertanejo – A Paixão de Cristo
📍 Local: Sítio Passagem das Pedras – Serra Talhada/PE
📅 Datas: 17 e 18 de abril de 2025 (Quinta e Sexta-feira da Semana Santa)
⏰ Horário: 20h
🎟️ Entrada: Gratuita

 

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Paixão de Cristo do Recife comemora 20 edições

José Pimentel começou a interpretar Jesus em Nova Jerusalém. Foto: Wellington Dantas

José Pimentel começou a interpretar Jesus em Nova Jerusalém. Foto: Wellington Dantas

Há quase 40 anos, José Pimentel interpreta Jesus Cristo. Homem de teatro, aguerrido, teimoso, aos 81 anos, diz que só deixa o papel quando não aguentar mais; ou, diz ele, quando o bisneto, também José Pimentel, tiver idade para assumir o posto. Na sua 20ª temporada, a Paixão de Cristo do Recife, comandada por Pimentel, mais uma vez é realizada em meio a muitas dificuldades. Até agora, o Governo do Estado ainda deve parte do patrocínio do ano passado e não há garantias de que vai arcar com parte do espetáculo deste ano, um dos principais do calendário religioso do estado.

Mesmo assim, José Pimentel, autor do texto, diretor e, como já dito, protagonista, comanda um elenco de cerca de 100 atores e 300 figurantes. Serão apenas três sessões, começando nesta sexta-feira (25) e seguindo até o domingo de Páscoa (27), sempre às 19h. A expectativa da produção é que até 30 mil pessoas acompanhem o espetáculo a cada noite.

O elenco da Paixão de Cristo do Recife conta com atores experientes, como Reinaldo de Oliveira, que interpreta Herodes, e Renato Phaelante (Caifás), ambos do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), e Ivo Barreto, intérprete de Judas. Os principais personagens femininos ficam com Angélica Zenith, que vive Maria; e Gabriela Quental, Madalena.

Shows – Antes de cada espetáculo da Paixão de Cristo do Recife, no Marco Zero, artistas pernambucanos fazem apresentações especiais, às 18h. Nesta sexta-feira (25), a atração será a banda Som da Terra. No sábado, Geraldo Maia e Beto Hortis sobem ao palco, separadamente. Encerrando a programação musical, no domingo é a vez de Walkyria Mendes se apresentar.

Serviço:
20ª Paixão de Cristo do Recife
Quando: 25, 26 e 27 de março, às 19h (às 18h iniciam as apresentações musicais)
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Quanto: Gratuito

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Paixão de Cristo do Recife

Pelo 35º ano, o ator José Pimentel carrega a cruz de Jesus numa encenação da Paixão de Cristo. E desde que saiu de Nova Jerusalém, ele comanda a Paixão do Recife pelo 16º ano seguido. É uma façanha, a despeito de qualquer crítica de que o ator está velho para o papel. Aprende-se que no teatro o tempo é mais generoso com os intérpretes do que no cinema ou na televisão.  Essa magia é um acordo estabelecido entre palco e plateia. E, se depender do público da Paixão do Recife, Pimentel pode continuar a ser o Cristo por muitos anos: enquanto ele conseguir convencer os seus fãs, ter força e disposição para encarar uma maratona de duas horas de duração, que exige muito do seu elenco.

Jesus encontra Maria

A temporada deste ano da Paixão de Cristo do Recife foi iniciada nessa quarta-feira, no Marco Zero, com cerca de meia hora de atraso. A chuva que caiu durante os primeiros minutos da apresentação fez o batismo deste ano.

Com a saída de alguns atores, pequenas cenas foram cortadas, o que deu um pouco mais de agilidade à encenação. Foram oito substituições no time principal, mas os que assumiram já participavam da peça em papéis menores. Angélica Zenith ficou com o personagem de Maria, Gabriela Quental, o de Madalena, Mário Miranda, Judas Iscariotes e Demônio do Sermão, Michelline Torres (Mulher do Sermão) e Rogério Rangel (Sacerdote Anás). Principalmente as atrizes dão um sopro de renovação ao espetáculo.

Dos veteranos da montagem estão Renato Phaelante (Caifás), Reinaldo de Oliveira (Herodes) e Roberto Emmanuel (João). De última hora, o ator Pedro Francisco de Souza entrou no lugar de Octávio Catanho, como Pilatos.

A participação de Geninha da Rosa Borges é uma alegria. Com quase 90 anos, que completará em 21 de junho, a presença da atriz é quase um metateatro a repassar décadas de atuação e da história do teatro pernambucano em breve cena.

As cenas coletivas, com a participação de figurantes ganham uma força tremenda. Com suas coreografias. Seus desenhos. E como é destacada a crítica que o espetáculo faz da manipulação das massas pelos detentores do poder.

Cena de Pilatos

As três estruturas armadas no Marco Zero se transformam em nove palcos com diferentes cenários, idealizados por Octávio Catanho.

José Pimentel é o líder que reclama, que briga para manter seu espetáculo, que agrega em torno de si um elenco de 100 atores e 300 figurantes. É dele também a direção e a adaptação do texto.  E ele interpreta um Cristo que se zanga, que desafia os poderosos, que perdoa sem deixar de enxergar os erros humanos.

O texto adaptado guarda elegância sonora e poeticidade. E o grande trunfo da montagem é que ano após ano desperta a emoção do seu público.

Acessibilidade

A produção informa que a apresentação da Paixão de Cristo do Recife desta quinta-feira (05/04) contará pela primeira vez com intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A ação é uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife com a Faculdade Franssinetti do Recife (FAFIRE).

SERVIÇO

Paixão de Cristo do Recife

Quando: De 4 a   8 de abril, às 20h

Onde: Praça do Marco Zero, Recife Antigo

Quanto: Entrada Franca

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O tempo não para! E quem se importa?

José Pimentel como Jesus na Paixão de Cristo do Recife. Foto: Wellington Dantas

Um ator que interpreta Jesus Cristo há três décadas e meia. Não tem como começar de outra forma a apresentação desse homem, “bicho de teatro”, cuja figura é confundida nas ruas com aquela que nos acostumamos a imaginar ser a de Jesus. Ou… poderíamos? Talvez dizendo que – e aí não vou seguir necessariamente a cronologia biográfica (já que ele fez muita coisa!) – em 1962, José Pimentel assinou a encenação de Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares, para o Teatro Popular do Nordeste (TPN).

Que quatro anos depois, a então Associação dos Cronistas Teatrais de Pernambuco deu a Pimentel o prêmio de melhor intérprete masculino por John Proctor, da peça As Feiticeiras de Salém, de Arthur Miller, sob direção de Milton Baccarelli.

Que ele fez Calígula mais de uma vez.

Que a história de Nova Jerusalém não pode ser contada sem a participação dele.

Que as oficinas que ele ministra são quase sempre as mais concorridas nos festivais.

E que, mesmo não tendo ensaio da Paixão de Cristo do Recife por conta da falta de energia, um grupo de alunos-figurantes fez questão de pedir para que ele não fosse embora. Mas falasse a eles do que mais ama: teatro.

Uma figura meio mítica, que todos aprenderam a ver reclamando das dificuldades para montar a sua querida Paixão de Cristo do Recife, que cuida até dos slides que o espetáculo terá.

Hoje à noite, Pimentel sobe mais uma vez ao palco do Marco Zero. Serão cinco apresentações, de quarta a domingo, às 20h, na Praça do Marco Zero, comandando um elenco que ele diz ter uns 100 atores e 300 figurantes.

Na madrugada de terça para quarta-feira, depois de ele ter enfrentado uma tentativa de ensaio frustrada (não tinha ponto de energia disponível), mandei um e-mail para Pimentel com algumas perguntas meio “cara de pau”.

Passava da meia noite quando ele respondeu. Porque o mundo de Pimentel não para. Nem por um minuto ele deixa de pensar no teatro. Ah..sim…só quando vai jogar futebol. Mas até lá, acho que ele veste o personagem! Não necessariamente Jesus.

Pimentel fazia o bêbado Pitelo e assinava a encenação de Município de São Silvestre para o TPN. Foto: acervo José Pimentel

Entrevista // JOSÉ PIMENTEL

Você está fazendo Jesus Cristo pela 35ª vez. O que esse papel te ensinou?
Ah, ensinou-me a amar as pessoas, entre outras coisas. Ensinou-me a não sentir ódio. Ensinou-me a tratar bem os humildes. Ensinou-me a não dar tanto valor ao dinheiro. São muitos ensinamentos. Acredito que sou um homem que foi se tornando melhor a cada Semana Santa, de tanto repetir as palavras que Jesus deixou para a humanidade.

Porque ainda é importante para você interpretar Jesus Cristo?
Não sei se isso é tão importante. Importante é ser ator. Importante é fazer João Grilo, Calígula, John Proctor, Pilatos, demônio e tantos outros papéis. Não dou à interpretação de Jesus o valor que as pessoas imaginam. É mais um papel na minha vida de tantos papéis. Claro que é importante e uma experiência fascinante interpretar Jesus. Talvez as pessoas deem mais importância e se incomodem mais com o fato de eu interpretar Jesus, do que eu mesmo dou.

Quando as pessoas te olham na rua, elas veem Pimentel ou Jesus? Você não acha que o papel tomou conta da sua vida mais do que deveria?
Ah, eles veem ora Jesus, ora Pimentel. Claro que a minha presença na mídia em todos esses anos me tornou conhecido. Talvez mais pelo papel de Jesus do que pelos outros papeis que fiz. Afinal são muitos anos interpretando um único personagem e que é o símbolo da cristandade e base de muitas religiões. Para os que acham que é grande o meu apego ao papel de Cristo eu digo que estão redondamente enganados. Um dos meus sonhos é fazer o papel de Judas. Quem sabe se quando eu deixar o Cristo não vestirei a pele de Judas? Ora, eu sou apenas um ator. De muitos personagens.

Como lidar com as críticas de que você está velho demais para fazer Jesus. Você está velho, Pimentel?
As críticas me incomodam, claro. Pela insistência e pela falta de base para formular a crítica. Por que esse preconceito com a velhice? Por que as pessoas se incomodam tanto com a idade dos outros? Dizem que ator não tem idade. E deve ser verdade. Bibi Ferreira, com 90 anos, está aí cantando, atuando e dirigindo. Geninha da Rosa Borges, aqui mais perto da gente, chega aos 90 anos fazendo teatro e declamando poemas. Cacilda Becker fazia papeis de jovens. Há muitos exemplos de longevidade de atores e atrizes. Não estou velho. É certo que o tempo não para. Mas minha cabeça é mais jovem do que as cabeças de muitos jovens que andam desgarrados por aí. Jogo pelada duas vezes por semana, no meio de jovens e idosos, feito menino, gritando palavrões. Eu uso dois espelhos. Um físico, palpável, dependurado na parede. Não gosto de me olhar nele. Prefiro um espelho invisível que carrego sempre comigo. Quando o astral vai descendo a ladeira eu olho o espelhinho invisível e vejo uma cara de menino safado e brincalhão. Aí o astral volta ao nível normal.

Mesmo com toda a pendenga anual para fazer o espetáculo, José Pimentel existe sem a Paixão de Cristo?
Eu existo com ou sem Paixão de Cristo. Este ano, há três semanas, eu disse numa reunião com os outros três produtores da Paixão que por mim eu não faria mais o espetáculo. Os outros três acharam que a Paixão deveria continuar. Eu fui voto vencido. Então, se a Paixão fosse tão vital para mim, eu jamais proporia o seu fim, porque estaria acabando com a minha existência. É mais uma lenda da Paixão que criaram ao meu respeito.

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Hoje tem Paixão de Cristo do Recife

José Pimentel, o Jesus da Paixão de Cristo do Recife

Ator no Marco Zero, na noite de quarta-feira

Bairro do Recife

O ator e diretor José Pimentel, da Paixão de Cristo do Recife, foi firme: “Se uma pessoa apenas estiver na plateia, mesmo com chuva, se não acontecer um tsunami como no Japão, o espetáculo será realizado nesta quinta-feira”. O comentário foi logo depois da suspensão da encenção ao ar livre no Marco Zero, ontem à noite.

Visivelmente abalado, ele disse que estava triste e que isso nunca tinha ocorrido em 15 anos da Paixão de Cristo do Recife. E em toda sua carreira, só aconteceu uma vez, em Nova Jerusalém. Pimentel interpreta Jesus Cristo há 34 anos e há 43 dirige o espetáculo, sendo 29 desses anos em Nova Jerusalém.

Mais do que a chuva, a encenação não aconteceu porque a fiação molhada oferecia riscos ao elenco de 100 atores e 300 figurantes. Por conta da ventania, alguns detalhes do cenário, como os arcos, também não chegaram a ser levantados. Os efeitos especiais da encenação também seriam prejudicados, caso o espetáculo não tivesse sido suspenso.

O cancelamento foi anunciado por volta das 19h10, apesar da relutância de Pimentel. “Todo ano temos chuva, ventania. Já sabemos disso. O que precisamos é nos preparar para fazer o espetáculo da melhor forma”, afirmou. “A pessoa que mais sofre riscos com a chuva sou eu e ainda assim eu queria fazer”, completou o ator em meio ao cenário vazio. Por volta das 20h, poucos eram os atores que ainda estavam no camarim montado no Armazém ao lado da praça do Marco Zero.

A temporada deste ano da Paixão de Cristo do Recife vai de hoje até o domingo, sempre às 20h. O espetáculo é gratuito.

Veja vídeo com José Pimentel

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