Vinte e seis de março de 2021. Marque na agenda. Abra o jornal para ler a reportagem. Se os nossos governantes foram eficientes e cumpridores dos seus papeis, essa será a data em que o Teatro Luiz Mendonça e a galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, estarão completando 10 anos de atividades. O repórter certamente irá ouvir as pessoas que estiveram na inauguração (realizada sábado), e puderam acompanhar um show memorável de Lenine e da Orquestra Sinfônica do Recife e passear pela exposição Amor e solidariedade, de Abelardo da Hora.
A galeria Janete Costa, por exemplo, tem um espaço físico que possibilita a realização de grandes exposições. “Como noutros locais projetados por Niemeyer, aqui também há uma dificuldade na hora da montagem das exposições, da iluminação, por conta do projeto arquitetônico. Mas o espaço está bem resolvido. O Recife merece uma galeria assim e mamãe certamente estaria muito feliz”, disse no último sábado a galerista e filha de Janete Costa, Lúcia Santos.
A mostra Amor e solidariedade, que comemora os 60 anos da primeira exposição do artista Abelardo da Hora, realizada em 1948, oferece a possibilidade de se conhecer mais de perto a obra desse pernambucano de 86 anos, que vai muito além das famosas esculturas de mulheres espalhadas por edifícios da cidade. O que talvez mais chame atenção seja a preocupação e o retrato social que podem ser resgatados daquelas obras – tanto das esculturas como dos desenhos. Como na série Família, desenhos de 1970, ou da escultura Hiroshima. “Ele é o meu mestre. Precisa mais do que isso?”, questionou a artista Guita Charifker, que conta ter participado do Ateliê Coletivo, ao lado de artistas como Samico e José Cláudio, fundado por Abelardo da Hora.
Na rápida solenidade de abertura dos equipamentos culturais, o prefeito João da Costa subiu ao palco do Luiz Mendonça e disse que sempre defendeu o projeto do parque, desde quando ainda era secretário do ex-prefeito João Paulo. “É um equipamento público que a cidade do Recife reclamava, precisava”.
Depois, foi a vez de Elba Ramalho fazer um participação muito especial. Contou um pouco da sua própria história ao relembrar o amigo Luiz Mendonça, diretor teatral que ela conheceu na época em que foi para o Rio de Janeiro com o Quinteto Violado e decidiu ficar. “Ele perguntou se eu era atriz, se eu cantava, dançava. Disse que sim. Ele disse então que tinha uma apresentação em Vitória. Perguntei quando era o ensaio e ele disse que não tinha ensaio, tinha estreia”. Depois de interpretar Veja Margarida, Elba deixou o palco para as atrações principais: Lenine e a Orquestra Sinfônica.
Como bem disse Lenine, as suas músicas foram “vestidas de roupa de domingo”. Aquele melhor traje, que a gente só usa em ocasiões especiais, e quer até registrar em foto. Composições de tom tão contemporâneo, que fazem sucesso nas rádios e trilhas de novelas, ganharam o acompanhamento de quase 80 músicos. Os arranjos e o comando do piano foram de Ruriá Duprat, ´meu alter ego sinfônico`, disse Lenine; e a regência da Sinfônica do maestro Osman Gioia. Em Paciência, o público cantou junto; ficou encantado com os arranjos de Silêncio das estrelas; com Leão do Norte, se encheu de orgulho; se balançou ao som de Lavadeira do rio. Ao final, a sensação foi de que essa era apenas uma – de muitas – noites culturais que o Recife ainda pode prestigiar naquele espaço. O recifense pode cobrar.