Arquivo da tag: Ópera

Dois anos de Satisfeita, Yolanda?

Muito felizes com os dois anos do Yolanda! Foto do querido Nando Chiappetta

Muito felizes com os dois anos do Yolanda! Foto do querido Nando Chiappetta

Estamos em festa! O Satisfeita, Yolanda? está completando dois anos e, para comemorar, nada melhor do que um baile! Será neste sábado (26), a partir das 21h, no Espaço Coletivo, no Bairro do Recife. A festa integra a programação paralela do 19º Janeiro de Grandes Espetáculos e conta com o apoio do próprio festival e ainda do Coletivo Angu de Teatro.

Entre as atrações da noite de celebração estão a Trupe Ensaia Aqui e Acolá, com um trechinho da montagem O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, melodrama com direção de Jorge de Paula, baseado no folhetim A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela. Ano passado a montagem circulou o Brasil inteiro através do projeto Palco Giratório, do Sesc.

Já o Coletivo Angu de Teatro encena uma dublagem que está em Ópera, espetáculo com texto de Newton Moreno e direção de Marcondes Lima, que estreou em 2007 e não é apresentado no Recife desde março de 2009. A montagem acabou de fazer uma curta temporada de sucesso no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, dentro do projeto Visões coletivas.

Duas divas da música se apresentam hoje na festa!  Ópera, do parceiro de sempre, o Coletivo Angu de Teatro. Foto: Sávio Uchôa

Ópera, do parceiro de sempre, o Coletivo Angu de Teatro. Foto: Sávio Uchôa

O dramaturgo, diretor e bonequeiro Fernando Limoeiro, pernambucano nascido em Limoeiro e radicado em Minas Gerais, também participa, com a leitura dramática de Satisfeita. Limoeiro escreveu o texto especialmente pra festa!

E, para completar, o ator Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo, peça da companhia paulista Os Fofos Encenam, que estreou em 2001 em São Paulo. A montagem tem texto e direção de Newton Moreno e trata de temas como homofobia e homoerotismo. A cena ainda contará com a participação de Tay Lopez, do grupo XPTO.

Depois das cenas e performances, a festa continua ao som dos DJ’s Palla e Pepe Jordão. A entrada na festa é gratuita, mas é limitada à capacidade do espaço.

Satisfeita, Yolanda? – O baile
Quando: Sábado (26), a partir das 21h
Onde: Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife)
Quanto: Gratuito (limitado à capacidade do espaço)

Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo com a participação de Tay Lopez

Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo com a participação de Tay Lopez

"Cala-te, Clotilde...!" Virou piada interna! Uma alegria tê-los na nossa festa! Foto: Priscila Buhr

“Cala-te, Clotilde…!” Virou piada interna! Uma alegria tê-los na nossa festa! Foto: Priscila Buhr

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Ópera homoerótica!

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio. Fotos: Sávio Uchôa

Parte do elenco do Coletivo Angu de Teatro, que este ano comemora dez anos, está no Rio de Janeiro para a apresentação de Ópera, texto de Newton Moreno. Quem ainda não viu: corra, Lola, corra! Esta é a última semana em cartaz. O espetáculo estreou em janeiro de 2007 e não é apresentado no Recife desde março de 2009.

São cinco contos que discutem homoerotismo e sexualidade e, claro, teatro. O cão, por exemplo, narra as desventuras de um cachorro gay e os reflexos sobre a família do seu dono quando isso chega a ‘domínio’ público. É uma novela radiofônica. E tem ainda fotonovela (no conto O troféu), telenovela (Culpa) e ópera (pós-moderna, diga-se de passagem, em Ópera). A direção é de Marcondes Lima. No elenco estão Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto e Tatto Medinni.

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Ainda não há previsão de temporada no Recife, mas já podemos adiantar que um trechinho do espetáculo será apresentado na festa de comemoração de dois anos do blog! Dia 26 de janeiro, às 21h, no Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife).

Ópera
Quando: Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quando: quinta a domingo, às 19h (até o dia 20)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?, no dia 26 de janeiro

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?

Postado com as tags: , , , , , , , , ,

Coletivo Angu de Teatro reestreia Essa febre no Rio

Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

“(…) Hoje fico pensando se não foi um atraso de vida, essa minha vocação para gostar do longe. Tudo, quanto mais distante daquela nossa realidade pobrezinha, mais eu gostava. Imagina, numa ponta de rua do mundo, uma criatura crescendo completamente em desacordo! Tânia, Fátima, Goreti, todas elas sonhavam com altares, maridos, filhos, um emprego no Banco do Brasil, talvez. Você lembra? E eu não tinha com quem falar sobre como foi bonito o começo, o meio e o fim de Dolores Duran.”

Cinco contos embebidos em sensibilidade, amor, perda, força, ternura. Essa febre que não passa, montagem do Coletivo Angu de Teatro a partir do livro homônimo da jornalista Luce Pereira, transpira tudo isso. Com algumas especificidades e primeiras vezes: o elenco é todo feminino e André Brasileiro estreia na direção, sob o olhar sempre atento de Marcondes Lima, diretor das três montagens anteriores do grupo: Angu de sangue, Ópera e Rasif – Mar que arrebenta.

No palco, Ceronha Pontes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim, Nínive Caldas e também Hermila Guedes ou Lili Rocha. Desde o ano passado, quando Hermila precisou gravar novela que Lili divide o papel com ela; e agora como o filme Era ma vez eu, Verônica terá pré-estreia em alguns lugares, Lili entra em cena novamente.

Ceronha Pontes e Nínive Caldas

A peça é formada por vários quadros; esses personagens são ligados de forma muito sutil; existem de forma independente. Uma mulher que perdeu o grande amor e ouve My way no último dia do ano; outra que fez concessões e achou que um gato poderia restaurar laços rompidos; uma tia que nunca viu o mar. É uma peça entrecortada por sensibilidade, em que o voal do cenário mostra e esconde; vai sendo aberto aos pouquinhos; as memórias vão aparecendo, seja em fotos, palavras, gestos. A música é feita ao vivo, com direito até a tango.

Essa febre que não passa reestreia hoje no Rio de Janeiro dentro do projeto Visões Coletivas, no Teatro Glauce Rocha.

Serviço:
Essa febre que não passa
Quando: De quinta a domingo, até 16 de dezembro, às 19h
Onde: Teatro Glauce Rocha (Avenida Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (21) 2220-0259

______________

Vou aproveitar para postar um texto que escrevi para a revista Continente de novembro sobre o projeto Visões Coletivas, que está levando Essa febre ao Rio:

Seis meses em cena carioca
Grupos nordestinos mostrarão produção recente dentro do projeto Visões coletivas

Texto // Pollyanna Diniz

Há três anos, o Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro, reabria as portas. A programação que dava as boas vindas ao público tinha sotaque pernambucano: eram montagens do Recife, do Cabo de Santo Agostinho, de Caruaru e de Arcoverde. O Coletivo Angu de Teatro estava nessa seara apresentando Angu de sangue, texto de Marcelino Freire.

A companhia pernambucana que completa dez anos em 2013 voltou ao Glauce Rocha no último mês de março para uma curta temporada que provocou muita fila na porta do teatro – a apresentação de Essa febre que não passa, texto da jornalista Luce Pereira. Depois dessas duas experiências, o Angu agora ocupa a casa de espetáculos carioca por um tempo mais prolongado. Serão seis meses de peças de grupos nordestinos dentro de um projeto proposto pela companhia, intitulado Visões coletivas – Nordeste contemporâneo.

“Já pensávamos em fazer um projeto semelhante desde 2008. Mas não tinha ainda um formato ideal. Isso só veio com o edital de ocupação do teatro, lançado pela Funarte”, explica Tadeu Gondim, idealizador do projeto e produtor do Coletivo Angu de Teatro. Na grade de espetáculos, montagens do Recife, de Fortaleza, de Natal, de João Pessoa e ainda de Salvador. “Assim como no resto do país, o teatro de grupo também está fervilhando no Nordeste. E claro que existe a curiosidade do público do Sudeste sobre o que é feito no Nordeste. Ainda há uma visão, para quem não conhece, de que teatro nordestino é cordel e fala de seca”, avalia Gondim.

Do Recife, a programação inclui três montagens do Angu – Angu de sangue (novembro), Essa febre que não passa (dezembro) e Ópera (janeiro) – e o espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas (novembro), da Trupe Ensaia Aqui e Acolá. Já se apresentaram, na abertura do projeto mês passado, os grupos Mão Molenga Teatro de Bonecos, com O fio mágico, e a Cia. Enlassos, com Assim me contaram, assim vou contando…

Grupo Bagaceira de Teatro apresenta repertório em fevereiro. Na foto, A mão na face, que estreou no Recife. Foto: Pollyanna Diniz

No caso de algumas companhias, o público poderá ter uma visão mais ampla da produção, com a apresentação de mais de um espetáculo do repertório. O grupo Bagaceira de Teatro, por exemplo, do Ceará, participa do projeto com quatro montagens: Tá namorando! Tá namorando!, Meire Love, A mão na face e Lesados. Da Paraíba, está na programação Deus da fortuna, do Coletivo Alfenin de teatro; do Rio Grande do Norte, A mar aberto, do Coletivo Atores a Deriva. E ainda Ricardo Guilherme (CE), com Bravíssimo e A comédia de Dante e Moacir; Fábio Vidal (BA) com o espetáculo Sebastião; Felícia de Castro (BA) com Rosário; e Ceronha Pontes (CE) com Camille Claudel. A única exceção na programação é o francês Maurice Durozier, ator do Théâtre du Soleil que mantém uma relação próxima com o Nordeste brasileiro.

“O nosso mote é discutir o teatro contemporâneo feito no Nordeste. E talvez a gente perceba que as questões contemporâneas são muito parecidas, sejam elas tratadas por espetáculos do Nordeste ou do Sudeste. Nos nossos espetáculos, por exemplo, as referências nordestinas estão sempre muito presentes. Mas se dão de outra forma – não necessariamente no tema, na estética. O discurso é contemporâneo”, finaliza Tadeu Gondim.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Ópera de Albéniz é apresentada pela 1ª vez na América Latina

José Renato Accioly é o diretor musical e regente de Pepita Jiménez. Fotos: Festival Debussy/Albéniz

O Teatro de Santa Isabel recebe hoje e amanhã, às 20h, a ópera Pepita Jiménez. É uma comédia lírica em dois atos, composta pelo espanhol Isaac Albéniz, a partir da novela homônima do político, diplomata e escritor argentino Juan Valera. “É uma comédia lírica, mais popular. Conta a história de uma viúva que se apaixona por um seminarista, mas está prometida ao pai dele”, explica a pianista Elyanna Caldas, diretora artística do festival Debussy-Albéniz, que foi realizado durante todo o mês de setembro e será encerrado com a ópera.

Esta é a primeira vez que essa ópera é apresentada na América Latina. “O argumento de Pepita Jiménez gira em torno do despertar do amor do jovem seminarista Luis de Vargas, que antes de pronunciar seus votos regressa a seu povoado para passar o verão. Ali conhecerá a jovem viúva, Pepita, pela qual se enamora e com a qual o seu pai pretende se casar. A luta entre o amor e a vocação – tema que vai aparecer também em La Dolores, de Tomás Breton –, e a figura paterna, em quem Don Luis vê um rival, atormentam o jovem futuro sacerdote, que trata de se distanciar de sua amada e do povoado. Mas quando Pepita ameaça suicídio, caso ele vá para longe dela, se impõe um final feliz e os enamorados terminam juntos”, antecipa Maria Luz González Peña, diretora do Centro de Documentação e Arquivo da Sociedade Geral de Autores e Editores de Madri, no programa do festival Debussy-Albéniz.

Cantores, músicos e atores se dedicam desde março para que a obra possa sair do plano das ideias. A direção de cena é assinada por Marcelo Gama, paulista que mora há 20 anos na Europa e assina o segundo trabalho deste porte no Brasil (o primeiro foi Dido e Eneas em São Paulo, em 2009). A direção musical e regência são de José Renato Accioly: ele vai reger a Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório. Quem fará Pepita é Anita Ramalho, que já participou de quatro óperas; o elenco tem entusiastas da ópera no Recife, como a mezzosoprano e professora Virgínia Cavalcanti.

As duas apresentações são gratuitas. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro. A produção solicita que o público leve um quilo de alimento não-perecível, que será doado a instituições carentes.

Ficha técnica:

Pepita Jiménez (Comédia Lírica em dois atos)
Libreto de Francis B. Money-Coutts com tradução para o castelhano de José Soler

Virgínia Cavalcanti está no elenco da ópera

Anita Ramalho – soprano (Pepita)
Virginia Cavalcanti – mezzo soprano (Antoñona)
Jadiel Gomes – tenor (Don Luis)
Charles Santos – baixo (O Vigário)
Eudes Naziazeno – tenor (Don Pedro)
Hedielson Rodrigues – tenor (O Conde)
Daniel Francisco – tenor (1º Oficial)
Amaury Veras – tenor (2º Oficial)
Marcelo di Paula – bailarino

Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música
José Renato Acioly – regente

Coro lírico
Sopranos I: Clara Natureza | Florisbela Campos | Josiane Emmanuele | Natália Duarte | Kellyta Martins | Tarcyla Perboire
Sopranos II: Ângela Barbosa | Amanda Coelho | Amanda Mangueira | Mariane Mariz | Norma Lopes
Contraltos e Mezzo-Sopranos: Débora Barros | Rafaela Almeida | Vanessa Santana | Waldcelma Silveira | Surama Ramos
Tenores: Amaury Veras (2º Oficial) | Daniel Francisco (1º Oficial) | Lucas Melo | Manoel Theophilo | Sealtiel Sergio
Baixos e Barítonos: Adriano Sampaio | Adriano Soares | Alysson Dinoá | André Arruda | Ricardo Alves | Riva Gervásio

Equipe artística
Diretor musical e regente: José Renato Accioly
Diretor de cena: Marcelo Gama
Direção do balé: Lucia Helena Gondra e Ruth Rosenbaum
Preparadora do balé: Jane Dickie
Preparadores do coro: Armindo Ferreira e Virginia Cavalcanti
Pianistas correpetidores: Rachel Casado e Glauco César
Bailarinas: Alunas do Stúdio de Danças
Cenografia e figurino: Marcondes Lima
Iluminação: Luciana Raposo Recebemos a informação de que a iluminação foi, na realidade, de Cleison Ramos e Dado Sodi

SERVIÇO:
Pepita Jimenez
Quando: Sábado (1) e domingo (2), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Recife)
Quanto: Gratuito. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro
Informações: (81) 3355-3323

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Uma ópera essencial

Peter Brook tirou a grandiloquência das óperas tradicionais em Uma flauta mágica. Fotos: Ivana Moura

A essência minimalista no teatro do encenador inglês Peter Brook predomina em Uma flauta mágica, espetáculo que fez três apresentações no festival 18º Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas, de quarta-feira a ontem. Na temporada brasileira, a montagem já havia passado pelo Rio e São Paulo, sempre com casas cheias e acirradas disputas por ingressos. É Peter Brook, um dos grandes mestres do teatro mundial da atualidade.

A adaptação de Brook (em parceria com sua assistente Marie-Hélène Estienne e do pianista Franck Krawczyk) da ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (com libreto alemão de Emanuel Schikaneder) rejeita a grandiloquência das encenações operísticas tradicionais e aposta em teor camerístico.

O amor do príncipe Tamino por Pamina, filha da Rainha da Noite, prossegue como fio condutor da peça. Mas uma pequena mudança no título já indica uma nova visão desse diretor inglês de 86 anos. Com sensibilidade, Peter Brook faz da ópera A flauta mágica (1791), Uma flauta mágica, deixando bem claro que a troca do artigo significa a amplitude de possibilidades.

Rainha da Noite e Pamina

Cenário quase vazio, algumas varas de bambu e uns pedaços de tecido. Os bambus são manipulados para sugerir os lugares e, junto com a iluminação, indicam a floresta, o palácio da Rainha da Noite ou a prisão dos dois amantes, Tamino e Pamina, no palácio de Sarastro. Ou mesmo armas e subterrâneos.

Tamino e Papageno

Diversidade étnica do elenco, outra marca de Brook também está lá. A ópera de Mozart é cantada em alemão, com diálogos em francês, e com legendas em português. E não tem orquestra. Apenas o piano magistral de Franck Krawczyk acompanha os cantores e atores.

É uma montagem limpa e límpida, como os olhos azuis do encenador, mas que não abre mão da magia e da ternura da obra. O tempo, é certo, foi reduzido de cerca de quatro horas para uma hora e meia de espetáculo. Mas os aspectos fundamentais estão lá. As mais célebres árias, interpretadas de forma a arrebatar a plateia, ficando a narrativa para os diálogos, o que evidencia o primado da palavra.

Companhia veio ao Brasil com dois elencos

A ação é concentrada e o elenco, que atua de pés nus, é dividido em dois grupos que se revezam. Na noite em que assisti, o tenor Roger Padullés (Tamino), a soprano norte-americana Julia Bullock (Pamina) e Virgile Frannais, como o divertido Papageno, dividiam os papeis centrais e deixaram o público encantado. Ao final, apesar das trevas de alguns personagens, parte do público manifestou que sentiu uma injeção de ânimo, vontade de viver e até de cantar. Mas para além desses desejos, ficam as imagens vigorosas de Peter Brook e sua doação exposta na simplicidade.

Espetáculo já tinha sido apresentado no Rio e em São Paulo

Curioso como criança – Desta vez, o encenador Peter Brook não veio ao Brasil. Enquanto a assistente do diretor, Marie-Hélène Estienne, cuidava dos detalhes da montagem, coube ao pianista Franck Krawcyk falar com a imprensa. Krawcyk trabalha com Peter Brook desde 2007. A pedido do inglês, em 2009, ele idealizou e interpretou um acompanhamento musical para Sonetos de Shakespeare (Love is my sin). A parceria continua agora em Uma flauta mágica.

O pianista Franck Krawcyk participou da adaptação da ópera

Em Porto Alegre, Krawcyk conversou com os jornalistas sobre processo de trabalho. Foi muito simpático e disse que Brook não gosta de discursos. “Ele vai lá e faz”. Sobre as notícias de que o Brook estaria gradualmente deixando a direção do seu Théâtre des Bouffes du Nord (comandado por ele desde a década de 1970), o pianista diz que não percebe isso. “Ele é onipresente. Mesmo que não esteja aqui, estamos o tempo todo ao telefone, ele sabe de tudo, como foram as apresentações, dá direcionamentos”, conta. “Não há sinais de que ele esteja se retirando, nem delegando funções”. O pianista revela ainda que o inglês radicado na França é “verdadeiramente um homem. Aberto a novas experiências, curioso como uma criança, com uma visão ampla da vida, tolerante, de fácil convívio”.

Sobre a adaptação de Uma flauta mágica, o pianista explica que transformou a ópera numa apresentação de música de câmara. Ainda ópera, mas toda ao piano. “Mozart escrevia ao piano e o que buscamos é o Mozart pianista. O cerne da orquestra, aliás, é o piano”, avalia. “Deixamos de lado também os cenários grandes, as convenções da época do Mozart e isso é difícil, porque Mozart era genial com as convenções, e ficamos só com a música”, complementa.

Franck Krawcyk diz que Uma flauta mágica é um espetáculo simples, mas não simplista. “Peter é musicista, Marie-Hélène Estienne é musicista. Mas, como eles vêm do teatro, têm uma noção mais livre do canto. E estávamos procurando a voz natural dos cantores. O que importa é a história, o sentimento e não a ópera”, encerra.

Postado com as tags: , , , , , ,