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Essa febre no Rio

Essa febre que não passa é a quarta montagem do Coletivo Angu de Teatro. Fotos: Ivana Moura

“Eu pensava que gato servia apenas para a gente se sentir dona de alguma coisa, para reclamar a cada espirro de pelos espalhados pela casa inteira ou para destoar das amigas que preferem cachorros. Até o dia em que Dolores apareceu em minha vida, como se tivesse nascido e crescido ali, diante dos meus olhos. Eu que nunca acreditei nessa história de cara-metade estava na frente de uma, e disposta a esquecer de vez o significado da palavra separação. Não sei bem como tudo aconteceu – porque paixão faz a gente perder as medidas – mas entramos naquele mundo de algodão-doce na boca e algodão branco sob os pés, que leva os casais a buscar formas e formas de por cimento na relação. Cimento que eu digo são coisas capazes de deixar as duas pessoas mais presas uma a outra. Então Dolores sugeriu um gato”. (Conto Clóvis, do livro Essa febre que não passa, de Luce Pereira)

A montagem de alma e elenco femininos do Coletivo Angu de Teatro estreia hoje no Rio de Janeiro no Teatro Glauce Rocha, no Centro. Já falamos muito por aqui da peça, mas para os amigos que estejam no Rio, trata-se de um espetáculo que reúne cinco contos da jornalista Luce Pereira. Falam de amor, dor, perda, velhice, amizade. Pelo menos em alguma dessas mulheres – ou em muitas delas – você vai ver um pedacinho de você, da sua mãe, da sua avó, amiga. É a quarta peça desse coletivo pernambucano e a estreia na direção de André Brasileiro, ator e produtor, amparado de perto por Marcondes Lima – criador inventivo que vai do mundo infantil dos bonecos à crítica social, faz cenário, figurino, se arrisca e ama o que faz. Tenho ressalvas sim à peça – ou melhor, comentários -, mas enxergo verdade, amor, paixão. Uma ótima oportunidade para que os cariocas conheçam um pouquinho do teatro pernambucano feito hoje. E é só um exemplo!

Bom, depois do Rio, Essa febre que não passa também se apresenta na mostra oficial do Festival de Curitiba. No elenco, Ceronha Pontes, Hermila Guedes (de O céu de Suely, lembram?!), Mayra Waquim, Nínive Caldas e Hilda Torres. Como Hermila está no elenco da novela das seis, em algumas apresentações Helijane Rocha está assumindo os papeis dela; mas ao menos no Rio, ao que tudo indica, Hermila estará em cena. Depois contem por aqui o que acharam! 😉 Ah…as apresentações no Rio fazem parte da Mostra Nacional Funarte de Dança e Teatro/Mambembão 2012.

Essa febre que não passa
Quando: de hoje a domingo, às 19h
Onde: Teatro Glauce Rocha (Avenida Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 5 e R$ 2,50 (meia-entrada)

Depois do Rio, Essa febre que não passa participa da mostra oficial do Festival de Curitiba

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Pré-estreia febril

As fotos são de Ivana Moura!

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Essa febre contagia

Ceronha Pontes e Hermila Guedes. Fotos: Ivana Moura

À primeira vista, o que liga os quadros de Essa febre que não passa são as tensões de mulheres em acertos de contas com o passado, com o presente e com o futuro. Criaturas em situações-limite, transbordando de afetos.

É a quarta montagem do Coletivo Angu de Teatro, depois de Angu de sangue, texto de Marcelino Freire; Ópera, texto de Newton Moreno e Rasif – Mar que arrebenta, também texto de Freire. Desta vez cena é ocupada só por mulheres.

As atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas se desdobram em criaturas inventadas pela jornalista e escritora Luce Pereira.

O resultado é tocante, ora suave, ora irônico, ora cortante. Sempre belo.

Dos 17 contos que compõem o livro homônimo, o Coletivo escolheu cinco para encenar: Clóvis, Nomes, Talvez já fosse tarde, Um tango com Frida Kahlo e Dora descompassada. Entre eles como uma liga orgânica, as passagens com breves depoimentos criados pelas próprias atrizes, sobre suas vidas pessoais: a relação com a irmã, com a velhice, com o mundo.

Essa febre que não passa tem uma comunicação fácil e contagiante. Tira o prosaico do cotidiano e nos fala de coisas muito caras que podem atingir a qualquer um, como dores de amores e separações. Os recalques voltam furiosos ou apaziguados com o tempo, mas não com o esquecimento. As feridas reabertas fazem tremer o corpo visível e o invisível também.

A montagem do Angu insiste em algumas características investigativas do coletivo, com o ator-narrador. Mas traz algumas variações, tem uma tonalidade mais feminina, às vezes mais frágil noutras de uma fortaleza insondável.

Os contos de Luce Pereira já expõem os nervos das personagens. E cativam na sua aparente simplicidade para falar do fim de relacionamento entre duas mulheres (e que poderiam ser quaisquer dois), com sua curva que vai da empolgação pelo desejo do duradouro no início à desatenção com as pequenas coisas, tempos depois. Clóvis como promessa de felicidade salienta na chegada sinais de desgaste da relação.

Noutro, a personagem se debate contra seu próprio nome, como se fosse um ferro de marcar gado, condenatório. Nomes para ela definem tudo. E essa figura com manias de grandeza adora os bonitos. Com criativas frases de efeito, um humor irônico e uma pontinha de crítica social, a autora vai alinhavando a vida dos vizinhos, do prédio, do bairro.

Mayra Waquim na cena Nomes

Dívidas de afeto com uma tia pouco afeita a carinhos são contabilizadas no conto Talvez já fosse tarde. É o mais duro, mais triste, mais cortante dos textos escolhidos para a montagem. E vai crescendo numa onda em que autocondenação é confessada pelo bem que deixamos de fazer aos nossos queridos. Como a negação de um beijo, abraço ou coisa parecida.

Marcia Cruz e Hilda Torres no quadro Talvez já fosse tarde

Um café com a irmã e a explosão de memórias, do desejo de crescer que não passou quando acabou a adolescência. As reminiscências compartilhadas com a mana que nunca a entendeu perfeitamente. E entre incompreensões de uma e as revelações da outra a vontade de partir. “Queria ter a alma de Frida Khalo, expulsar cores, escancarar porões, viver todas as minhas heresias sem culpa, não fazer maldades com rapazes e misses”. Elas riem por um momento cúmplices com histórias de crueldade. A ironia fina se instala.

Ceronha Pontes e Mayra Waquim em Um tango com Frida Kahlo

No conto que fecha o espetáculo, Dora descompassada, o desespero, a dor, o desânimo, são maiores que a vontade de prosseguir o caminho sozinha. Quando descobriu que eles -enquanto casal – já não se pertenciam, ela faz um balanço da relação e não suporta a perspectiva de futuro. Desistir de tudo no fim de ano traz uma carga dramática para abrir as feridas não cicatrizadas do público.

Enfim, um punhado de contos que percorrem estados de espírito. Pode predominar uma melancolia, mas todos inquietam e fazem pulsar vida em suas múltiplas possibilidades. De que é possível seguir em frente, de superação, de renúncia.

Esse material textual foi respeitado e valorizado na cena dirigida por André Brasileiro e Marcondes Lima. Os outros três espetáculos do grupo, dirigidos por Marcondes, são mais masculinos. Essa febre tem um tônus mais feminino.

Além das atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas, está em cena a violoncelista Josi Guimarães, que integra a cena e faz de seu instrumento, seu amado.

Cortinas compõem o cenário, representando camadas, ora revelando, ora escondendo, ora abrindo em fendas para essas mulheres contarem suas histórias.

Feito ninfas elas aparecem despindo-se ou recompondo-se para anunciar as personagens que estão por vir.

Ceronha Pontes, Hermila Guedes protagonizam o casal de Clóvis, o gato. Duas fortes atrizes explorando a cumplicidade de amor, seus recônditos insondáveis, num arco que vai da alegria, da euforia do encontro ao à tristeza da separação. Feito um bailado esse percurso é desenhado com beleza, num jogo lúdico de amorosidades que vão se diluindo. O treinamento no chamado método Viewpoints, ministrado pela paulista Amanda Lira como certeza deu sustentação para o trabalho físico.

Quadro Clovis questiona como manter acesa a chama da paixão

Nesse quadro, a promessa de felicidade já desmoronou quando o bichano é convidado a entrar. A representação do gato é bem resolvida. Hilda Torres faz o primeiro gato, o do pesadelo. E Nínive Caldas faz Clóvis lindamente, dengoso, esperto, cúmplice, mas acima de tudo felino.

Mayra Waquim faz a artista plástica que errou no nome desde o nascimento e prossegue nas suas escolhas erradas e na inveja por nomes bonitos. Na frente da televisão fazendo ginástica, ou pintando seus quadros que não vendem mais nem na feirinha, ela desfia suas mágoas, pela imensa falta de sorte desde o batismo. E sua ojeriza por coisa de gente pobre, ela mesma instalada no prédio decadente. Ela mostra domínio dessa personagem com sutilezas de detalhes. Como fazem todas as atrizes em algum momento do espetáculo.

Mayra Waquim no papel da artista plástica

Marcia Cruz incorpora não apenas uma velha, mas toda a velhice do mundo, de quem foi perdendo tudo e agora vive agregada na família da irmã. Hilda Torres faz a sobrinha que narra a história de Bernarda e de sua inabilidade com os afagos. Ela só consegue traduzir os gestos amorosos nas lembranças de datas e em qualquer mimo para os sobrinhos e sobrinhos-netos e quem mais vier. Talvez já fosse tarde dá um nó na garganta em sua poesia delicada para expor caminhos de negações, de economias de afeto, de interdições de amor.

Márcia Cruz, como Bernarda, ao fundo, e Hilda Torres

Em Um tango com Frida Kahlo Ceronha Pontes volta à cena para se digladiar com Mayra Waquim, esta no papel de Sofia. “Mas como é que pode, dois pares de olhos nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, olhar na mesma direção e ver coisas tão diferentes?”, pergunta a atriz-narradora. Nas reminiscências, quase uma vida inteira, entre crueldades com rapazes e misses e a incompreensão da irmã.

O encontro pulsa de vida, transbordante desde o primeiro cigarro aos 14 anos, do conselho do professor Otaviano Cruz para que partisse quando a asa botasse a última pena. A narradora fala. Sofia ouve sem dizer palavras. O tom muda de acordo com as lembranças. E elas dançam belamente um tango.

Acerto de contas entre irmãs

Uma dor de amor pode ser fatal. Dora descompassada anuncia isso tristemente. Hermila Guedes faz essa mulher desesperada que ainda brinca de aparências de fortaleza e dignidade. O homem que se foi é representado por um par de sapatos. As outras atrizes compõem a cena. Uma banheira branca é instalada no meio do palco e define um quadro belíssimo de Dora na banheira tentando afogar as dores.

Hermila Guedes, em primeiro plano, interpreta Dora descompassada

A direção foi muito feliz ao criar pequenos monólogos de passagem com depoimentos das atrizes sobre algo que tenha a ver com um dos contos. A montagem também forjou uma ligação entre personagens, mudando nomes, e fazendo referências a outras histórias.

A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo que ajudar a expandir ou comprimir os tempos e dar as atmosferas dos contos.

Como nos espetáculos anteriores, as projeções são grandes aliadas da montagem, estabelecendo fortes ligações com o cinema e a memória. Essa memória é salientada por fotos “reais” das atrizes e de outras pessoas da equipe de momentos importantes de suas vidas. Esse trabalho está associado a luz que salienta as camadas dessas histórias e dessas mulheres.
Os figurinos trazem uma tonalidade pastel que às vezes incomoda nesse apagamento que dá as personagens.

No fundo Essa febre que não passa é um espetáculo sobre o amor, o amor idealizado que não tem correspondência na vida e precisa da morte, desse perigoso, frágil e obscuro sentimento que nos move ou imobiliza.

A encenação é toda feita de cuidados e detalhes que o espectador vai descobrindo aos poucos. E encantando-se cada vez mais.

Parabéns a todos os envolvidos com essa febre. Muito boa a estreia na direção de André Brasileiro, com seu olhar que capta as belezas e num transbordamento ou numa repetição desesperadora como faz Dora ao ouvir ad infinitum My way como Frank Sinatra.

O elenco afinado, talentoso e competente fertiliza a cena com emoção.

Espetáculo fica em cartaz aos sábados e domingos


Serviço:
Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro
Quando: temporada aos sábados, às 21h e domingos, às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)

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Hoje a tristeza não é passageira

Essa febre que não passa estreia hoje, no Hermilo. Foto: Ivana Moura

As dores do corpo geralmente podem ser curadas ou, senão, ao menos minimizadas, com medicamentos. Mas e aquelas que te surpreendem ao tomarem proporções maiores? Que afetam corpo, coração, alma? Que podem ser silenciosas ou fazerem estardalhaço? Pode parecer brega. Dramático. Incompreensível. Será mesmo? Perdas, saudades, paixões, família, descobertas, relacionamentos. Nada disso soa estranho a ninguém. Por isso mesmo, talvez seja fácil se identificar com o espetáculo Essa febre que não passa, quarta montagem do coletivo Angu de Teatro, que estreia hoje, no Hermilo Borba Filho, dentro do festival Palco Giratório. A pré-estreia foi ontem, só para convidados. (Aguardem crítica e muitas fotos!)

Pela primeira vez na trajetória do grupo, a cena é ocupada só por mulheres. Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas dão vida a personagens criadas pela jornalista e escritora Luce Pereira. O espetáculo carrega ainda a importância de outra primeira vez: André Brasileiro, ator e produtor, assumiu a direção da montagem sob a “supervisão” de Marcondes Lima (que também assina a direção), diretor das três peças anteriores – Angu de sangue, Ópera e Rasif – Mar que arrebenta. “Sempre houve abertura para os atores criarem, pensarem, discutirem luz, figurino, texto. Sempre foi muito democrático e isso me encorajou a dirigir Essa febre… com o Marcondes, porque eu precisava dele nisso também, filha!”, contou André Brasileiro numa conversa com jornalistas que reuniu atores, diretores e a escritora do livro que tem o mesmo nome da peça, usado como matéria-prima para a encenação.

O processo de Essa febre…, explica Marcondes Lima, foi colaborativo e autoral. As atrizes participaram da adaptação do texto, da construção das cenas, das escolhas levadas ao palco. “A gente já tem sete anos de convivência. Então nos conhecemos, a cara feia, o limite do abuso, a forma de trabalhar. Isso facilita”, diz. Apesar de que, três atrizes se agregaram ao coletivo para a montagem: Hilda, Mayra e Nínive. Essa última substitui Maeve Jinkings, que participou de grande parte do processo de produção, mas não pôde integrar o elenco. “Antes de o coletivo nascer, já havia a proposição de trabalharmos com o ator-narrador, de termos outra relação com o encenador. Isso se consolidou e elas entraram no meio disso”, atesta Lima.

“E funciona desse jeito? O que vai surgir, meu Deus?”. A primeira pergunta Luce Pereira conta ter feito a André Brasileiro quando soube como se dava a elaboração de um espetáculo no grupo. A segunda foi respondida quando ela participou de um encontro com o grupo no Hermilo Borba Filho, em fevereiro. “Você nunca imagina, como autora, o que vai encontrar. E principalmente porque eu sabia que tinha a interferência das experiências das atrizes. O que eu vi, gostei muito. A coisa que me deixa mais feliz é o envolvimento das atrizes com o texto. É muito comovente. Elas falam com uma euforia, um carinho. Só essa identificação, já valeria”, diz Luce Pereira.

O grupo escolheu cinco contos dos 17 que compõem o livro da jornalista para encenar: Clóvis, Nomes, Talvez já fosse tarde, Um tango com Frida Kahlo e Dora descompassada. “Marcelino (Freire, autor de Angu de sangue e Rasif…) escreveu monólogos. Luce também tem monólogos, mas são solilóquios, muito poéticos e, sobretudo, cinematográficos. Com Newton (Moreno, autor do texto de Ópera), nós também adaptamos, era um texto com narrador, uma narrativa épica”, explica Marcondes Lima. “As pessoas me dizem que é poesia em prosa. Não sei. Acho que é um universo tecido com uma delicadeza diferente”, explica Luce Pereira.

Doras descompassadas

O marido de uma delas perguntou por que aquele novo espetáculo estava “mexendo” tanto com ela. Não entendia o choro, a sensibilidade aguçada, a cumplicidade estabelecida entre o elenco. “Nós estamos lidando com coisas muito profundas”, tentava justificar. Para se ter uma ideia de como essas protagonistas estão, durante a entrevista, foi só uma delas se emocionar para que o grupo todo começasse a chorar também (incluindo os diretores).

“O coletivo Angu tem me dado uma insegurança muito positiva. Eu sempre gostei de me distanciar dos personagens. De dizer eu manipulo, sou eu quem conduz, vou para lá, vou para cá, pode ser que com essa frase, a pessoa da terceira fila chore. Ensaiava até a exaustão e tinha essa ilusão do controle”, depõe Ceronha Pontes. “Mas agora, a cada dia eu fico mais insegura. Teu texto me traz muito de nós mesmas. Claro que tem que haver um distanciamento, é teatro, é uma “verdade artificial”. Mas aquelas criaturas que são suas, a gente conhece também. Isso me fragiliza, apesar de estar tudo bem ensaiado”, disse Ceronha à escritora Luce Pereira.

Sobre a escolha de quem iria interpretar qual personagem, Márcia Cruz jura que não houve briga. “Nós escolhemos os contos e improvisamos todas. Mas existia aquela mais envolvida, o que não quer dizer que foi ela quem ficou com o papel. A Bernarda (do conto Talvez já fosse tarde) foi Ceronha quem me trouxe. Não tinha dado atenção ao texto. Quando ela leu, eu enlouqueci, foi uma paixão”, relembra.

No processo de montagem, as atrizes tiveram um treinamento no chamado método Viewpoints, ministrado pela paulista Amanda Lira. “É um método que te dá mais consciência do seu corpo e do espaço que ele ocupa, a consciência de saber o que você faz, de se relacionar com os outros em cena, o rito, o jogo de fala. Isso nos ajudou a trazer o que cada uma tinha para dar a essa montagem”, explicou Hermila Guedes.

As improvisações surgidas a partir das experiências com o Viewpoints não necessariamente estão em cena. “Mas nos deram a consciência de que podemos recriar o movimento de alguém para aquele personagem, não é plágio”, complementou Mayra Waquim. “Não era nada que nós não fizéssemos antes, mas não tínhamos consciência. Por isso foi tão importante”, atesta Nínive Caldas. O Viewpoints “casa” então com o texto de Luce Pereira. “Foi com você (Luce) que aprendi que não tem mais nada genial do que a simplicidade”, finalizou Ceronha.

Curiosidades dessa febre!:
– O projeto da montagem inicialmente contava apenas com três atrizes

– André Brasileiro conheceu o texto de Luce Pereira quando fez uma leitura dramática com Gheuza Sena, a pedido da autora, dos contos Clóvis e Nomes, durante um festival de literatura

– Parte da música do espetáculo é feita ao vivo pela violoncelista Josi Guimarães. A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo

– No processo de composição das personagens, além do método americano Viewpoints, as atrizes entraram em contato com o universo do tango, presente não só em forma de dança no espetáculo

– Para a encenação de um dos contos, André Brasileiro sonhava com uma banheira transparente. Marcondes Lima, que também assina cenários e figurino, bem que tentou…mas a banheira custava muitos dólares. Depois de tanto procurar, encontraram a banheira (que não é transparente, mas serviu bem!) que ganhou o apelido carinhoso de Paola

– A montagem recebeu incentivos do edital da Eletrobrás (R$ 398 mil) e do Prêmio Myrian Muniz (R$ 120 mil)

Serviço:
Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro
Quando: hoje, às 20h, dentro do festival Palco Giratório. A partir de amanhã, começa a temporada aos domingos, às 20h; e aos sábados, às 21h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada) para a apresentação de hoje; durante a temporada, os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia)

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