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Ópera contra o preconceito

Ópera, segunda montagem do Coletivo Angu de Teatro, faz duas apresentações no Santa Isabel

Montagem do Coletivo Angu de Teatro faz apresentações no Teatro de Santa Isabel

Ópera é um dos mais queridos espetáculos da recente cena teatral pernambucana. E querido quer dizer aplaudido, com casa lotada e espectador que já viu até mais de seis sessões. Foi sucesso em janeiro no Teatro Glauce Rocha, dentro do projeto Visões Coletivas – Nordeste Contemporâneo. Depois dessa temporada no Rio de Janeiro, Ópera tem duas apresentações marcadas, nos dias 20 e 21 de abril, às 20h, no Teatro de Santa Isabel.

Mas o que é mesmo que essa montagem tem de especial? Bem, são algumas conjugações, como a criatividade do diretor Marcondes Lima, o talento do Coletivo Angu de Teatro, a verve cômica puxado para ácida do autor Newton Moreno e a temática gay, nem vilanizada nem vitimizada. É assim. E os recortes que o dramaturgo utiliza em seus contos para narrar as quatro histórias são divertidos, com criticidade aguda e até com doses de crueldade para todos os lados.

As quatro histórias são trabalhadas de forma diferente, como radionovela dos anos 1950, fotonovela, telenovela e, por último, uma ópera.  A primeira é O cão, que mostra as consequências no seio da família após a descoberta da condição gay de Surpresa, o cachorrinho da casa.

Em O troféu, episódio em forma de uma fotonovela dos anos 1960, expõe o drama de Pedro (ou Petra), que não se sente adequado em seu corpo masculino. Já em Culpa, inspirado nas telenovelas da década de 1980, o personagem soropositivo tenta encontrar um novo parceiro para o namorado. O último quadro trata da submissão de um barítono apaixonado por michê. Nesta temporada, desde janeiro, Carlos Ferrera substitui André Brasileiro como o cantor. A peça também tem a participação da transex carioca Jakellyne Ushôa.

SERVIÇO

Ópera

Quando: sábado e domingo, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel, Praça da República, s/n
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Informações: 3355-3322

Ópera – Ficha Técnica
Realização: Atos Produções Artísticas / Coletivo Angu de Teatro
Texto: Newton Moreno
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação Corporal e assistência de Direção: Vavá Schön Paulino
Plano de Luz: Jathyles Miranda
Elenco: Arilson Lopes, Andre Brasileiro (Carlos Ferrera), Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni e Jakellyne Ushôa
Direção de Produção: Tadeu Gondim
Produção Executiva: André Brasileiro / Luciana Bispo / Nínive Caldas
Identidade Visual / Operador de Luz: Sávio Uchôa
Operador de Som: Tadeu Gondim
Camareiras: Irani Galdino e Nine Brasil
Confecção de Figurinos: Maria Lima e Helena Beltrão
Gravação, mixagem e masterização: Henrique Macedo
Fotografias: Tuca Siqueira
Contra-regras: Vavá Schön Paulino e Gustavo Teixeira

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

A seguir, duas matérias que escrevi para o Diario de Pernambuco na época da estreia de Ópera, em 2007

Espetáculo sobre homoerotismo desafia limites da sociedade

ESTRÉIA // Peça Ópera, com textos inéditos de Newton Moreno, discute contradições da realidade brasileira, a partir de hoje, no Teatro Apolo

Apesar da intolerância e de fundamentalismos multiplicados, o mundo contemporâneo é povoado pela diversidade. Nas pulsações das identidades todos querem, cada um a seu modo, ser feliz. Mas não é bem de felicidade que trata a dramaturgia do pernambucano Newton Moreno, mas da perseguição por coisas como sobrevivência digna e um pouco de prazer, o que gera inquietações em várias modalidades, inclusive estéticas. O espetáculo Ópera, que estréia hoje no Teatro Apolo e fica em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até o final do mês, é uma adaptação de contos inéditos do autor, feita pelo Coletivo Angu de Teatro (o mesmo da peça Angu de Sangue, transposição de textos de Marcelino Freire), com direção geral de Marcondes Lima.

O homoerotismo é o grande tema da encenação, que se abre para discutir as contradições da realidade brasileira. Também a partir da poética marginal que caracteriza a queer culture e estética kitsch, a encenação busca uma crítica social à hipócrita visão de valores hegemônicos.A temática é assumidamente gay e o tratamento da encenação reforça essa escolha. Desde que dirigiu Angu de Sangue, há dois anos, o encenador Marcondes Lima desejava fazer uma homenagem a Pernalonga (artista transformista de Olinda, morto barbaramente em 2000) e investigar mais sobre a estética gay. “Não dava para não passar pelo Vivencial”, adverte Marcondes Lima. O Vivencial Diversiones foi um espaço experimental que funcionou em Olinda, sob forte influência do Tropicalismo.

Mais do que temática, a montagem Ópera busca ousar na definição de uma linguagem teatral, na problematização dos limites estéticos e éticos e o entrecruzamento de posturas. A condução dos temas ou ações é provocativa e alguns diálogos avançam por posições inusitadas. O primeiro dos quatro quadros, Cão, utiliza a metalinguagem de uma novela radiofônica, em que atores interpretam os conflitos de família de um cachorro gay, quando a história do animal vem a público. O pastor alemão e seu companheiro vira-lata terminam o quadro assassinados por envenenamento.

O Troféu, segundo dos quadros, trabalha com o formato de fotonovela em preto-e-branco da década de 1960, com poucos diálogos apresentados em molduras. Leva ao palco as angústias de Pedro, que sentindo-se inadequado com seu corpo masculino, comporta-se como Petra. O cúmulo dessa confusão psíquica ocorre quando o rapaz, diagnosticado com câncer de mama, comemora por acreditar que essa é a prova irrefutável do que sempre pensou, que é uma verdadeira mulher.

Dividido em três unidades, o quadro Culpa expõe três momentos de um encontro amoroso. O primeiro, em off; o segundo quando eles se encontram e o terceiro, da despedida. Soropositivo, Augusto sabe que vai morrer e anda consumido pelo remorso em saber que vai abandonar o companheiro mais jovem e tenta encontrar um novo companheiro para seu namorado, antes de morrer. O tom melodramático está afinado com o estilo predominante das novelas brasileiras da década de 1980.

O último quadro, que dá nome ao espetáculo, Ópera explora o comportamento submisso de um cantor de ópera apaixonado por um garoto de programa. O melodrama ganha o tratamento de uma micro-ópera pós-moderna. Como ligação entre os quadros, dublagens de figuras femininas que têm uma interferência no universo gay. Dalida, cantora meio francesa meio egípcia que suicidou-se, Rita Pavone e Rosana. O cenário, também assinado por Marcondes, condensa em portas e gavetas os símbolos de transposições, de saídas de armários.

Para o diretor o grande desafio da montagem para o elenco foi o de brincar com as referências. Os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni encararam a dificuldade de andar de salto alto e assumir gestos mais lânguidos. Ópera conta com a participação especial de Andréa Close. Na assistência de direção do espetáculo está Vavá Paulino e a produção executiva é de Gheuza Sena.

*Esta matéria foi publicada na capa do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco, no dia 13 de janeiro de 2007

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Estréia de Ópera revela sua vocação para se tornar um cult
Coletivo Angu de Teatro imprime ousadia e humor na adaptação dos contos de Newton Moreno, em sintonia com questões contemporâneas e exercitando várias linguagens cênicas

Por volta das 22h30 do sábado, no pátio dos teatros Apolo e Hermilo Borba Filho, num coquetel abarrotado de gente, para comemorar a estréia do espetáculo Ópera, a cantora Elza Show anunciava com seu vozeirão: “O mundo é gay!”. Nem tanto, darling! Mas a euforia faz sentido. Vamos recuar três horas nesse tempo. 19h30. Rua do Apolo, nas imediações do teatro homônimo, o público já fazia fila e começava a disputa por ingressos para a primeira sessão da temporada da peça Ópera, adaptação de contos inéditos do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, com direção de Marcondes Lima e produção do Coletivo Angu de Teatro. Os 290 lugares da casa não foram suficientes para atender a demanda da primeira noite. Muitos terão que voltar outro dia.

Na plateia desse teatro superlotado como há muito tempo não se via em estreia de produção pernambucana, muitas figuras do meio artístico, o secretário de Cultura do Recife, João Roberto Peixe, o cantor Silvério Pessoa. Artistas experientes, como a atriz Diva Pacheco ou a mais nova estrela do cinema nacional, Hermila Guedes (que por sinal faz parte do coletivo e integrou o elenco da montagem Angu de Sangue). Pessoas que alimentaram o Vivencial Diversions (que deu o norte estético à peça Ópera), como o escritor, cineasta e agitador cultural Jommard Muniz de Brito ou a atriz Ivonete Melo, estrela do Vivencial na década de 1970. A expectativa era grande. E o público acolheu calorosamente a estreia de Ópera. Palmas em cena aberta para vários atores. Indícios de que vai virar um espetáculo cult.

Ópera está dividida em quatro quadros, O Cão, O Troféu, Culpa e Ópera que dá título à peça além de intermezzo de dublagem. O diretor Marcondes Lima, uma dos mais festejados da cidade e também dos mais solicitados tanto para encenação quanto para direção de arte (cenários e figurinos), ousou ao dividir o espetáculo em formato de radionovela, fotonovela e uma novela televisiva, nos três primeiros quadros. O Cão é uma historieta de um cachorro de raça que a família descobre gay. Ele acaba assassinado pela tia intolerante, que está preocupada com a opinião pública (o ti-ti-ti maldoso dos vizinhos, principalmente) passa-se num estúdio de rádio. São expostos os bastidores da gravação de uma radionovela, num tom supra melodramático, onde o grande trunfo é o texto inteligente, irônico, ácido até. No intervalo dessa triste história de amor canino entre Surpresa e Benvindo, o comercial do produto Penetrol “lubrificante da família brasileira”.

Se o primeiro quadro é para os ouvidos, o segundo é para os olhos. O Troféu é focado na estética das fotonovelas em preto-e-branco de 1900 e lá vai trem, a cena apresenta Pedro, que sempre quis ser Petra. Sem falas e utilizando o recurso das legendas apresentadas em tabuletas (que por sinal muitas não dá leitura para quem estiver mais distante do palco) a ação mostra a versatilidade do ator Fábio Caio, poses exageradas e engraçadíssimas. Pedro, que desde criança sonha em ser mulher, sente-se feliz quando o médico diagnostica um câncer de mama. O quadro ainda precisa de alguns ajustes, principalmente nos enquadramentos das molduras.

O quadro Culpa trabalha com uma questão delicada, a história de um homem soropositivo, em momento terminal, que tenta arranjar um namorado para o amante. O tom, exageradamente melodramático dá sinais de cansaço. Os atores Arilson Lopes, Ivo Barreto, executam bem essa linha, mas o tratamento do tema ganha um tom quase cruel. O grande lance é participação de Fábio Caio nesta cena, como a maquiadora.

Entre esses três primeiros quadros, as dublagens alinhavam as cenas. E são verdadeiramente hilariantes. O gestual de Arilson Lopes, como Rita Pavone é impagável, vestidinho de bolinhas e uma capa de bolinhas. O ator Ivo Barreto dubla Tina Turner que sai em embate com a Caio Fábio, que dupla Rosana (Let’s stay together versus Vício fatal, numa luta que quem sai ganhando é o público, de tanto rir. Coube a André Brasileiro a dublagem mais difícil: fazer simultaneamente a cantora Dalida e o cantor Serge Lama. Resultado interessante.

O último quadro, Ópera, revela sem piedade o amor doentio de um cantor de ópera pelo michê Paulo (que faz do tenor gato e sapato), numa crítica virulenta à dependência amorosa. Com um coral de anjos, vestindo sungas brancas e bundinhas de fora, os atores contam a história de subserviência do cantor lírico, com música original composta por Henrique Macedo, numa mistura de rap ópera e levada nordestina. Ópera é o quadro mais explícito, beijo na boca ente o michê e o cantor. O quadro mete o dedo na ferida dos valores desse homem pós-moderno, perdido em sua identidade fragmentada, que chega ao ponto de comprar o amor. Numa sociedade em que tudo está à venda, o amor passa a ser mais uma mercadoria. Caso para se refletir.

O espetáculo Ópera tem muitos pequenos problemas (e isso não escaparia a uma estreia), mas tem muito mais qualidades. A sonoplastia de André Brasileiro e Marcondes Lima funciona bem dando os climas da peça, a iluminação Játhyles Miranda também é boa. Os figurinos no geral estão de acordo com a proposta, mas a do cantor lírico está em descompasso com o resto. O elenco (os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Dirceu Siqueira, Fabio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, e a participação especial de Andrea Closet, com muita garra e elegância) têm garra e talento. Vale ressaltar a ousadia do coletivo em tratar desse universo homoerótico com um humor sagaz, de estar em sintonia com pulsações contemporâneas e acima de tudo exercitar várias formas de fazer teatral.

* Esta matéria foi publicada originalmente na edição de segunda-feira, 15 de janeiro de 2007, do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco

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Dois anos de Satisfeita, Yolanda?

Muito felizes com os dois anos do Yolanda! Foto do querido Nando Chiappetta

Muito felizes com os dois anos do Yolanda! Foto do querido Nando Chiappetta

Estamos em festa! O Satisfeita, Yolanda? está completando dois anos e, para comemorar, nada melhor do que um baile! Será neste sábado (26), a partir das 21h, no Espaço Coletivo, no Bairro do Recife. A festa integra a programação paralela do 19º Janeiro de Grandes Espetáculos e conta com o apoio do próprio festival e ainda do Coletivo Angu de Teatro.

Entre as atrações da noite de celebração estão a Trupe Ensaia Aqui e Acolá, com um trechinho da montagem O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, melodrama com direção de Jorge de Paula, baseado no folhetim A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela. Ano passado a montagem circulou o Brasil inteiro através do projeto Palco Giratório, do Sesc.

Já o Coletivo Angu de Teatro encena uma dublagem que está em Ópera, espetáculo com texto de Newton Moreno e direção de Marcondes Lima, que estreou em 2007 e não é apresentado no Recife desde março de 2009. A montagem acabou de fazer uma curta temporada de sucesso no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro, dentro do projeto Visões coletivas.

Duas divas da música se apresentam hoje na festa!  Ópera, do parceiro de sempre, o Coletivo Angu de Teatro. Foto: Sávio Uchôa

Ópera, do parceiro de sempre, o Coletivo Angu de Teatro. Foto: Sávio Uchôa

O dramaturgo, diretor e bonequeiro Fernando Limoeiro, pernambucano nascido em Limoeiro e radicado em Minas Gerais, também participa, com a leitura dramática de Satisfeita. Limoeiro escreveu o texto especialmente pra festa!

E, para completar, o ator Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo, peça da companhia paulista Os Fofos Encenam, que estreou em 2001 em São Paulo. A montagem tem texto e direção de Newton Moreno e trata de temas como homofobia e homoerotismo. A cena ainda contará com a participação de Tay Lopez, do grupo XPTO.

Depois das cenas e performances, a festa continua ao som dos DJ’s Palla e Pepe Jordão. A entrada na festa é gratuita, mas é limitada à capacidade do espaço.

Satisfeita, Yolanda? – O baile
Quando: Sábado (26), a partir das 21h
Onde: Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife)
Quanto: Gratuito (limitado à capacidade do espaço)

Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo com a participação de Tay Lopez

Paulo de Pontes faz uma cena de Deus sabia de tudo com a participação de Tay Lopez

"Cala-te, Clotilde...!" Virou piada interna! Uma alegria tê-los na nossa festa! Foto: Priscila Buhr

“Cala-te, Clotilde…!” Virou piada interna! Uma alegria tê-los na nossa festa! Foto: Priscila Buhr

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Ópera homoerótica!

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio

Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Rio. Fotos: Sávio Uchôa

Parte do elenco do Coletivo Angu de Teatro, que este ano comemora dez anos, está no Rio de Janeiro para a apresentação de Ópera, texto de Newton Moreno. Quem ainda não viu: corra, Lola, corra! Esta é a última semana em cartaz. O espetáculo estreou em janeiro de 2007 e não é apresentado no Recife desde março de 2009.

São cinco contos que discutem homoerotismo e sexualidade e, claro, teatro. O cão, por exemplo, narra as desventuras de um cachorro gay e os reflexos sobre a família do seu dono quando isso chega a ‘domínio’ público. É uma novela radiofônica. E tem ainda fotonovela (no conto O troféu), telenovela (Culpa) e ópera (pós-moderna, diga-se de passagem, em Ópera). A direção é de Marcondes Lima. No elenco estão Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto e Tatto Medinni.

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Temporada segue até o dia 20 de janeiro

Ainda não há previsão de temporada no Recife, mas já podemos adiantar que um trechinho do espetáculo será apresentado na festa de comemoração de dois anos do blog! Dia 26 de janeiro, às 21h, no Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife).

Ópera
Quando: Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quando: quinta a domingo, às 19h (até o dia 20)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?, no dia 26 de janeiro

Trecho de Ópera será apresentado na festa de dois anos do Satisfeita, Yolanda?

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Santos Fofos*

* POR TAY LOPEZ

Terra de Santo, novo espetáculo dos Fofos Encenam, estreia hoje no Sesc Belenzinho. Foto: João Caldas

A querida Yolanda Pollyanna Diniz me deu uma tarefa: escrever algo sobre a estreia do espetáculo Terra de Santo aqui em São Paulo. A primeira resposta foi negativa, pois não sou jornalista, não sou crítico e tenho um afeto muito grande pelos integrantes do grupo Os Fofos Encenam. Portanto, não gostaria de ser leviano com artistas que tanto admiro. Resultado: assisti ao espetáculo, e cá estou eu escrevendo algumas singelas palavras a respeito das emoções que a peça me provocou.

“Nos teus olhos eu vi o mundo inteiro Jesuíno.” É através desta frase que noto estar completamente mergulhado nas palavras de Newton Moreno e percebo-me num local onde só a arte é capaz de nos colocar. Aquele espaço de encantamento e poesia onde nos encontramos com nós mesmos. Logo no começo do espetáculo, somos convidados a entrar no alojamento de um grupo de cortadores de cana e, aos poucos, vamos percebendo o entorno: um radinho sintonizado numa transmissora local, mesas, uma pequena cozinha, um telefone público, um beliche, um grande telhado sobre nossas cabeças e objetos pessoais dispostos como num set de cinema, onde os personagens vão surgindo e fazendo valer toda aquela cenografia detalhista.

O público continua apenas como observador e assim vamos acompanhando a história contada como se estivéssemos mortos num espaço cheio de vida pulsante. Sinto-me assim, pois não existe uma relação direta de interação. Apesar de estarmos muito próximos dos atores, somos invisíveis.

A personagem responsável por nos colocar em contato com um fio de história, que começa a fisgar o espectador através de um anzol bastante carismático é Mariene (Kátia Daher). Com um humor sutil de figuras populares que habitam o universo dos canaviais nos envolvemos no enredo.

Dramaturgia é de Newton Moreno

De acordo com a sinopse, um grupo de mulheres ocupa terras de uma usina canavieira, alegando que é uma propriedade dada em cartório a um santo, espaço sagrado, onde rituais são realizados. A essas terras destinadas à cana elas nomeiam como ‘terra de santo’. As máquinas aproximam-se, mas elas, guardiães do lugar, não deixam as terras. Esse é o eixo principal da peça, e a partir dele se dá uma viagem poética e uma conversa com ‘mortos da sociedade da cana’, outras famílias e etnias e suas histórias de resistência ou rompimentos com espaços sagrados, tradições e fé.

Atravessamos uma porta e vamos para um “quintal”, onde a partir de agora, não me sinto mais como um morto que passa desapercebido. Somos olhados diretamente nos olhos e nos sentimos cheios de bençãos pelas figuras que nos recebem na cena. São quatro Santeiras (Carol Brada, Cris Rocha, Erica Montanheiro e Simone Evaristo). Pegam em nossas mãos e nos conduzem para a acomodação em torno do tablado que se apresenta em nossa frente. A Terra de Santo. Fica para trás a ambiência de um espaço coloquial e agora nos encontramos num cenário com cheiros, cânticos místicos, penumbras e luz de velas, típicas de um templo sagrado. Nesse templo, as Santeiras vão, ora representando, ora incorporando, ora apenas nos apresentando a história de seus antepassados a partir dos mortos que fazem, solenemente, ressurgir no espaço. Um passeio, através dos séculos, pela brasilidade que hoje conhecemos, apresentadas como um panorama sacro/social das histórias contadas por índios, judeus, cristãos e negros. História que nos chega aos olhos pela bela proposição de encenação dos diretores Newton Moreno e Fernando Neves.

São essas mães, as Santeiras, responsáveis por nos nos colocar diretamente em contato com nossa própria ancestralidade, formação social, econômica e religiosa. Um espetacular retrato histórico e filosófico do Brasil muito bem alinhavado por um dramaturgo que dispensa elogios. Surgem então metáforas que nos obrigam a ver o mundo através de nossos próprios olhos e que também nos fazem percorrer os labirintos de nosso pensamento em forma de sinapses constantes que trazem à tona as nossas memórias pessoais e despertam um confronto direto com o que hoje chamamos de homem contemporâneo.

Se me percebo um morto invisível no primeiro movimento do espetáculo, me percebo um morto com voz no segundo e ao blackout final resta a pergunta: onde está a minha terra sagrada e o que fazer para que ela não seja destruída? Sim. As reflexões políticas propostas pelo poético espetáculo do grupo de teatro Os Fofos Encenam me põem em contato com algo mais amplo do que a contemplação de uma trajetória épica/trágica de um personagem em busca de sua completude. Terra de Santo nos provoca um dilatar da pupila.

Um elenco, sem dúvidas talentoso, nos presenteia com uma obra que transcende o ato teatral. A pesquisa e processo colaborativo deste grupo inquieto de artistas é bastante perceptível, dando extrema propriedade à toda equipe a respeito daquilo que está sendo dito no sagrado espaço do fazer teatral. Se em Assombrações do Recife Velho, me sinto como uma criança perante o medo das almas que nos assombram e em Memória da Cana, num diálogo bastante intenso com o Pai; em Terra de Santo, me vejo tendo uma sincera e silenciosa conversa com a grande Mãe que nos gerou. Colocando-me num embate direto com a maturidade e com o reconhecimento de uma fertilidade espiritual que nos habita e nos faz caminhar. Colocando-me frente aquilo que nos constrói ou nos destrói.

* texto do ator Tay Lopez. Ele viu ontem uma apresentação só para convidados da peça Terra de santo, do grupo Os fofos encenam. A montagem entra em cartaz hoje, no Sesc Belenzinho.

Serviço:
Terra de santo, da Cia Os Fofos Encenam
Quando: hoje, às 19h. Amanhã (14), às 16h30.
Temporada: terças e quartas-feiras, às 20h30. Sábados, às 21h. Domingos, às 17h. (Exceto dia 28/10 – Unidade fechada ) até 11/11.
Onde: Sesc Belenzinho, São Paulo
Quanto: R$ 24 e R$ 12

Montagem fica em cartaz no Sesc Belenzinho até novembro

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Um diretor livre de amarras

João Fonseca, diretor

Conheci pessoalmente o diretor João Fonseca ano passado, quando estive no Rio para fazer uma matéria sobre Tim Maia – Vale tudo, o musical. Acompanhada por dois colegas, estivemos na casa do diretor, um apartamento pequeno e charmoso. Lembro que, enquanto, conversávamos, meus olhos se desviavam para os DVDs que ele guardava na sala… Falamos sobre a montagem, sobre musicais, sobre Tiago Abravanel, mas não tive oportunidade de comentar mais a própria carreira do diretor.

Com uma produção tão intensa, não iria faltar chance; ela veio agora, com a apresentação de R&J de Shakespeare – Juventude interrompida, no Teatro de Santa Isabel, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos. Do aeroporto, indo de São Paulo de volta ao Rio, o diretor conversou comigo sobre a peça, sobre novas montagens, Os fodidos privilegiados, Abujamra, direção, sobre a vontade de vir ao Recife.

Em R&J de Shakespeare…, João Fonseca trabalhou com quatro jovens: Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio, João Gabriel Vasconcellos e Felipe Lima. Diz que uma das coisas que mais chama atenção na montagem é o jogo que se estabelece com a plateia, já que são esses quatro rapazes que irão interpretar a história do casalzinho proibido mais famoso da dramaturgia mundial.

Entrevista // João Fonseca

Adaptações da obra de Shakespeare são bem difíceis. Porque você escolheu trabalhar com esta do americano Joe Calarco? O que ela tem de diferente?
Essa adaptação de Joe Calarco estreou em Nova York há uns 15 anos. E eu fiquei muito curioso, porque era muito interessante fazer Romeu e Julieta com quatro homens. Fiquei com aquela curiosidade. Quando o Pablo (Sanábio) me procurou para fazer um trabalho, eu falei desse texto. Nós lemos e resolvemos na hora. A habilidade do texto é impressionante. Centrar a história de Romeu e JUlieta num colégio interno de meninos e ter esses quatro meninos, que se reúnem para ler, para brincar de fazer Romeu e Julieta, e conseguir contar a história toda só com esses quatro é muito bom.

Como foi o processo de trabalho?
Trabalhamos durante 45 dias, exaustivamente. Oito horas por dia. O texto é bastante difícil. A tradução é do Geraldinho Carneiro, que é poeta. Ele fez uma tradução fluente, mas sem perder a poesia. Os textos são longos e como então dizer esses textos de maneira natural? Cada um faz mais de um personagem e troca de personagem com muita rapidez. João Gabriel Vasconcellos, por exemplo, faz Romeu, a criada e o pai de Julieta. É um exercício para ator incrível, essa possibilidade de fazer vários personagens. E é um atrativo para o público.

R&J de Shakespeare - Juventude interrompida Foto: Luiz Paulo

Romeu e Julieta é, talvez, a história mais conhecida de Shakespeare. Como torná-la ainda atrativa, surpreendente?
A história é ótima. E é bom, porque todo mundo já sabe o final! Eles morrem, todo mundo conhece. Ou melhor, as pessoas acham que conhecem o texto, mas na realidade, muitas não conhecem. E tem todos os elementos de uma peça completa: comédia, drama, ação. É a melhor história de amor de todos os tempos. Mas acho que uma das coisas que mais chama a atenção do público é o jogo que se estabelece. São quatro garotos e se estabelece um jogo com a plateia. Quatro atores representando e como é que eles vão resolver essa história, como vão criando. Não existem figurinos e cenários para Romeu e Julieta, por exemplo. O casaquinho da escola vai virar saia, turbante, a régua vira uma espada, o esquadro vira máscara. E também só de serem quatro homens, já causa um frisson a mais. A peça estreou um ano atrás, exatamente.

Qual a reação das pessoas com esse romance protagonizado por homens?
No começo, quando tem o primeiro beijo, as pessoas sentem um estranhamento, porque estão vendo dois meninos, mas, ao final, eles não vêem mais isso. O que importa é a história de amor. A plateia, sem querer, faz um exercício de tolerância, esquece que são dois homens.

Quais são os seus próximos projetos?
Estou estudando e preparando projetos. Mas posso te dizer que com Os Fodidos privilegiados vamos remontar dois espetáculos de Nelson Rodrigues: O casamento e Escravas do amor, em virtude das comemorações do centenário. Vamos reestrear no Festival de Curitiba. Os elencos são quase originais e vou trabalhar novamente com (Antônio) Abujamra. Vamos remontar, com pequenas mundanças. Vou até atuar.

O casamento, de Nelson Rodrigues, com Os fodidos privilegiados

Você falou no Abujamra. Eu queria saber da importância do Abujamra para a sua carreira.
Abujamra é meu pai, minha mãe, meu tudo. Sou diretor por causa dele. Ele me deu todas as chances, porque eu era ator. Foi ele quem me estimulou, me deixou ser diretor e me ensinou. A minha faculdade é Abujamra.

Mas você tinha intenção de ser diretor?
Não! Não tinha a menor pretensão. E acredito que, para ser diretor, não é você quem escolhe, você é escolhido. As pessoas confiam em você e querem você. E até hoje eu digo: “porque está todo mundo olhando para minha cara?” (Risos) Várias pessoas confiando em você num processo. Quando comecei a dirigir, percebi que a minha melhor vocação é essa. Apesar que eu gosto de estar me exercitando. É importante que eu nunca esqueça como é atuar. Acho que vou dirigir melhor dessa forma, quando eu me coloco atuando de novo, faço parte, tenho essa cumplicidade.

É porque, às vezes, o diretor é visto como um “ser superior”…
E não é nada disso! Não existe nada mais importante para um diretor do que o ator. O ator é o meu
instrumento de trabalho.

Você conseguiria definir a sua linha de trabalho, as suas características, como diretor?
A gente vai tentando…sempre me considero experimentando. Você vai adquirindo experiência e escolhendo caminhos. Gosto de dirigir tudo. Não tenho um gênero. Mas tenho algumas características. Gosto de trabalhar com poucos elementos, por exemplo, no palco vazio, só com cadeiras; e em trabalhos que estabeleçam esse jogo teatral. Isso é o mais importante, é o que acontece em R&J de Shakespeare. O menino vai se matar com uma régua e todo mundo vai acreditar. E essa régua está para o teatro como o efeito especial está para o cinema.

Durante a carreira, você teve que fazer muitas concessões?
Não, nunca fiz concessões. Não diferencio os projetos. Nunca dirigi uma coisa na qual não acreditasse. Sempre dirigi ou porque quero trabalhar com alguém ou porque quero falar aquilo, independente de ser um projeto armado com um elenco reunido só para aquela peça, se com uma companhia de repertório. Esses meninos de R & J eu conheci na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e agora eles estão se projetando, mas não eram conhecidos, não tinham carreira em televisão nem nada disso. E me dá muito prazer trabalhar com jovens que não têm essa projeção. E a gente nunca sabe o futuro de um projeto, se vai dar certo ou não. Eu não procuro esse guia, de porque vai ser com essa pessoa, vai ser sucesso garantido ou não. O próprio Tim Maia, o elenco não tinha ninguém conhecido. O Tiago Abravanel ninguém conhecia e deu certo. A peça está em cartaz no Rio. Mas deixa eu dizer, eu queria muito ir ao Recife também. A passagem estava comprada, mas aconteceram uns imprevistos. O pessoal do festival é super atencioso, carinhoso. E adoro o Santa Isabel. Tenho um carinho enorme por esse teatro.

Tim Maia - Vale tudo, o musical

Quando foi a última vez que você esteve aqui?
Se não me engano, foi com os Fodidos privilegiados, em 2006. A gente participou do Palco Giratório e apresentou três espetáculos no Santa Isabel.

Você dirigiu também Maria do Caritó, texto de Newton Moreno. O que acha dele?
É mais uma paixão pernambucana. Tenho muita admiração pelo Newton. Ele é um talento enorme. Com Maria do Caritó, Newton consegue fazer o que eu almejo na direção. Ele faz uma obra popular, acessível, mas de um refinamento, inteligência; fala de coisas importantes, tocando com profundidade as coisas. É de uma sabedoria popular. Eu digo que Maria do Caritó é um trabalho em que sou só uma parte de grandes coisas. Os atores são especiais, o texto, o cenário, o figurino, a equipe.

Maria do Caritó, texto de Newton Moreno

E Nelson Rodrigues?
É difícil, com Nelson, sair dos clichês. Ele é o meu autor favorito. É o que talvez eu mais dirigi. Fiz O casamento, Escrava do amor e A falecida. Nelson era muito moderno, arrojado, propôs e trouxe coisas para o teatro que não existiam. Desde Vestido de noiva. Era difícil aceitar. Em A falecida, ele propõe que não se usasse cenário. E ele entra de uma maneira na questão familiar! Que é muito chocante! Como ele lida com pai e filha, filha e mãe, indo de encontro. Chegar a isso era difícil. Porque não é um teatro realista. Joga com as paixões. E as pessoas não queriam: “a família brasileira não é uma perversão”. Em A vida como ela é e nas tragédias cariocas, ele retrata muito bem um cotidiano; mas é também capaz de falar da família como um todo, da instituição.

Serviço:
R&J de Shakespeare – Juventude Interrompida
Quando: hoje e amanhã, às 20h30
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quanto: R$ 10 (preço único)
Informações: (81) 3355-3322

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