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Um palhaço magrelo, tímido e mandão

Ano passado, por conta da Mostra Aldeia Yapoatan, fizemos uma série de entrevistas sobre palhaços com alguns artistas da cidade. Como a Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude, que começou nesta quinta-feira (20), resolveu homenagear a linguagem do clown e os palhaços atuantes em Pernambuco, resgatamos aqui essas conversas.

A primeira foi com Anderson Machado, o palhaço Cavaco. Além de ser Doutor da Alegria, Anderson também tem a companhia Caravana Tapioca, ao lado da esposa Giulia Cooper, a palhaça Nina. Ontem, Cavaco comandou a Tarde e a Noite dos Palhaços, show de variedades que reuniu números de vários palhaços na abertura da Mostra Marco Camarotti.

O palhaço Cavaco

O palhaço Cavaco

ENTREVISTA // ANDERSON MACHADO, o palhaço CAVACO

Todo mundo pode ser clown? Como descobrir o seu próprio clown?
Creio que sim. Todos podem ser clowns, palhaços, excêntricos, hótxuas (indígena), bobos da corte e outros tantos substantivos criados pela humanidade no decorrer dos anos para dar nome a esse arquétipo do riso. Mas, para alguns, esse processo de descoberta pode ser muito mais doloroso do que para outros. Há de se ter coragem para retirar véus impostos pela mente coletiva, enfrentar regras que nos espremem em padrões de beleza e um sistema que nos cobra estarmos sempre “certos” enquanto, na verdade, “errar é humano”. É por isso e por tantas outras coisas que essa figura do palhaço é tão milenar: para mostrar as fragilidades do mundo. A plateia ri aliviada quando se reconhece. O palhaço, além de brincante, é o perdedor, às vezes pela inocência, às vezes pela imprudência. Ele é a sombra do homem, o excluído da sociedade, a exemplo do grande Carlitos de Chaplin. É um caminho longo de aprendizado, nunca acaba. O palhaço é como o vinho, quanto mais velho melhor. É preciso se conhecer muito bem, assumir seus defeitos mais sombrios a ponto de poder rir de você mesmo, poder voltar a ser criança, alcançar estados de pureza, para aí, então, depois de estar convencido do que está fazendo, poder convencer a plateia que te vê. E, ainda assim, entrar no palco ou picadeiro sabendo que sempre há o risco de que não se emocionem e nem riam com você. E, mesmo depois do fracasso, ter coragem de tentar novamente, fracassar, refletir e tentar, fracassar, fracassar, triunfar, fracassar e triunfar, até que os dias de triunfo começam a ser mais frequentes. A vida muda naturalmente, ou melhor, você muda o jeito de olhar a vida, problemas não são tão problemas, são possibilidades. Não tenho mais vergonha do meu sorriso largo, das pernas finas entre tantos outros benefícios que esse caminho me proporcionou. Não é fácil. É preciso dedicação e saber dar tempo ao tempo. Sorte a nossa é que existem grandes mestres do riso que nos servem de guias quando ministram uma oficina aqui, outra lá, nos motivam a arriscar, daí conhecemos outros de nós e assim vamos entrando no fluxo.

Quais são as características do seu clown e como elas se mostram dentro da dramaturgia dos espetáculos?
São muitas características. Acredito que o clown de cada um traz consigo tudo o que a pessoa é, ou seja, todos nós temos nosso lado sábio e o lado tolo, o lado infantil e o maduro, o triste e o feliz, enfim, depende da situação na qual nos encontramos na vida ou na cena. Com isso, o palhaço também vai reagindo de diversas formas conforme a dramaturgia de um roteiro ou conforme os jogos de improvisos que utilizamos em treinamentos e na criação dos espetáculos. Assim, começamos a testar reações, dilatar sentimentos e vamos guardando tudo que pode ser interessante. Comecei descobrindo um bobo, tímido, sorridente, que se acha lindo dançando, que faz malabarismo com a língua pra fora, sempre bem musical, tocando meu cavaquinho (que me deu o nome de palhaço Cavaco) e outros instrumentos experimentais. Era assim que eu brincava. Anos mais tarde tive que trabalhar com outro palhaço que, de tão mais bobo que eu, impulsionou-me a pesquisar meu ridículo sendo o mandão, o branco, o chefe e acabei descobrindo muitas coisas legais. Hoje em dia tento me colocar em situações diferentes em cada espetáculo. Num trabalho, brinco de ser um bravo domador de circo que é um pouco louco, conversando com uma pulga adestrada. Em outro, um vaqueiro frouxo que finge que ser um cangaceiro para conquistar uma moça. Também brinco de ser um professor de inglês simpático, atrapalhado, noutro um palhaço mais triste, sempre brincando de ser algo diferente, mais ou menos como a criança que brinca de polícia e ladrão, mamãe e filhinha. Mas todos têm a minha verdade, a minha essência. Creio que, quanto mais vivas forem as diversas emoções e reações em cena, mais o clown cativa a plateia.

Como se dá a relação entre atuação e improviso para o clown?
Às vezes atuamos com um roteiro que deve ser seguido à risca para que a história/mensagem seja passada, e em outras o roteiro é mais flexível, permite momentos de improviso que podem até virar cenas únicas em nosso espetáculo. Mas, em todos os casos, creio que o que deva prevalecer é a verdade. Fico incomodado de deixar passar certos comentários da plateia, um cachorro passando no espaço cênico, uma criança invadindo o palco. Se não interajo com o imprevisto, a cena perde força. Sem falar que são nos momentos de improviso que a plateia mais delira com os risos. Um bêbado que entra em cena, um adereço que quebra e a plateia admira a criatividade da solução que o palhaço deu ao problema. Também gosto muito de números com voluntários, pois possibilitam que o improviso aconteça com alguém da plateia que nunca atuou, onde tudo pode acontecer, inclusive nada. E aí o palhaço existe, no risco, na corda bamba, entre o roteiro e o improviso, a verdade e a mentira, o acerto e o erro.

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca

Os palhaços Cavaco e Nina, da Caravana Tapioca

Quando a Caravana Tapioca foi criada? O que ela pesquisa?
A Caravana Tapioca tem cinco anos e foi fundada por mim em parceria com Giulia Cooper. Dois paulistas que vieram pra cá seduzidos pela riqueza cultural pernambucana. Morando por aqui, decidimos juntar nossas experiências na área, a fim de tocar a companhia e pesquisar o circo, o teatro e a música sob a ótica do palhaço, combinando assim as habilidades circenses e musicais com dramaturgias teatrais. Hoje em dia temos três espetáculos e três números que já rodaram por muitos estados brasileiros. Todos as nossas criações podem ser apresentadas tanto em espaços abertos como em salas de teatro. Presamos manter nesses últimos trabalhos essa versatilidade para que pudéssemos viajar com os espetáculos de forma mais fácil e atingir diversos públicos. Já fizemos muitas turnês pelo Recife, Agreste e Sertão pernambucanos, ministrando oficinas e nos apresentando através de leis de incentivo, recursos próprios ou passando o chapéu. Acreditamos que a rua é uma excelente escola para o ator, já que conta com tantas interferências e desconfortos que não são comuns em salas de teatro. Sem falar também que assim asseguramos a democratização da arte, a formação de plateia, os encontros, o riso, entre tantos benefícios, o fato de podermos nos apresentar para pessoas que nunca tiveram oportunidade de ver um palhaço ao vivo e nunca assistiram a um espetáculo.

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Lugar de criança é no teatro!

Babau abre a Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude. Foto: Pollyanna Diniz

Babau abre a Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude. Foto: Pollyanna Diniz

No fim de 2009, o Sesc inaugurava o Teatro Marco Camarotti, uma homenagem ao professor, diretor, ator, encenador, escritor e arte-educador falecido em 2004. Desde então já havia um foco para o espaço: abrigar e tentar difundir a produção para a infância e juventude. Uma das ações nesse sentido é a Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude que está em sua 3ª edição e começa neste domingo (3).

A escolha dos espetáculos não é tarefa fácil – e não é só pela curadoria em si, pelas escolhas estéticas ou afins. Mas por conta da produção pouco numerosa mesmo. Problema enfrentado, aliás, pelo Janeiro de Grandes Espetáculos este ano. “Acho que ano passado tivemos uma produção forte no teatro adulto, mas sentimentos falta de mais espetáculos infantis”, explica Rodrigo Cunha, coordenador pedagógico do curso de interpretação para teatro do Sesc Santo Amaro.

“São muitos fatores. Mas uma das coisas que percebemos é que a produção está muito amarrada ao Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura). Os projetos só são realizados quando aprovados. Mas existem sim vários grupos interessados no teatro para a infância”, complementa Ailma Andrade, supervisora de Cultura do Sesc Santo Amaro. “Não seria possível, por exemplo, fazer uma mostra seguindo alguma temática, por exemplo. Mas geralmente são grupos com um trabalho continuado neste segmento”, finaliza Ailma.

Olhando a programação, o que disse a supervisora de Cultura do Sesc se confirma. Este ano, a mostra presta homenagem, por exemplo, ao grupo Mão Molenga Teatro de Bonecos, que tem 27 anos de trajetória. Será uma ótima oportunidade para rever ou conhecer de forma mais ampla o grupo – só do repertório do Mão Molenga serão cinco montagens: Babau ou a vida desembestada do homem que tentou engabelar a morte (3), Fio mágico (10), Era uma vez (12), A cartola encantada (19) e Algodão doce (17 e 24).

E a mostra tem ainda Seu rei mandou… (7), da Cia Meias Palavras (leia aqui as críticas ao espetáculo); Pindorama, caravela e malungo (9), do Quadro de Cena; Baú encantado: Conta daí que eu conto de cá (14), com Adriano Cabral e Hilda Torres; As Levianinhas em pocket show para crianças (16), da Cia Animé (também já escrevemos sobre o espetáculo); Passaredo (21), do grupo Proscênio; e a estreia Le Petit Grandezas do Ser (23), da Companhia Circo Godot de Teatro.

Seu Rei Mandou..., espetáculo da Cia Meias Palavras

Seu Rei Mandou…, espetáculo da Cia Meias Palavras

Os ingressos para os espetáculos da mostra custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada), mas escolas públicas com prévio agendamento não pagam. O agendamento pode ser feito através do telefone (81) 3216-1728.

Confira a programação:

03/3, às 16h
Babau ou a vida desembestada do homem que tentou engabelar a morte, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Sinopse: Babau é um espetáculo que ilustra o processo de criação dos mamulengueiros de Pernambuco. Mostra como esses artistas desenvolvem suas práticas e técnicas, a importância e a graça da arte do mamulengo e a difícil realidade na qual os mestres populares estão inseridos. O universo do espetáculo é baseado na vida e obra de bonequeiros reconhecidamente virtuosos, misturando informações obtidas em conversas com mestres Zé Lopes e Zé Divina. O elo entre vários mamulengueiros é Babau, um boneco que passa de geração em geração pelas mãos dos mestres. Ele é o personagem que sempre consegue enganar a morte, numa situação inversa a de seus manipuladores e criadores, muitos dos quais morrem esquecidos e miseráveis.
*O ESPETÁCULO CONTARÁ COM OS RECURSOS DE ÁUDIODESCRIÇÃO E TRADUÇÃO EM LIBRAS.
Faixa etária indicativa: 8 anos

07/3, às 10h
Seu Rei Mandou…, da Cia Meias Palavras
Sinopse:Inspirado pela tradição oral, o espetáculo narra, com música ao vivo, humor e poesia, a trajetória de tirania, bravura, esperteza e bonanças de três reis através das histórias: A Lavadeira Real, O Rato que roeu a Roupa do Rei de Roma e O Rei chinês Reinaldo Reis. Todas recontadas e criadas pelo escritor, ator, palhaço, bonequeiro e contador de histórias Luciano Pontes, pesquisador desse ofício desde 2005, acompanhado pela flauta e tambor do músico Gustavo Vilar.
Faixa etária indicativa: 06 anos

09/3, às 16h
Pindorama, caravela e malungo, do Grupo Quadro de Cena
Sinopse: Pindorama, caravela e malungo é uma história sobre uma expedição às águas profundas da formação do povo brasileiro. História cheia de bichos, de coisas de mar, de índio, de negro e de branco, de heróis, de bonecos, de verdade verdadeira e de mentira que virou verdade, que se aninham ao universo infanto-juvenil para lembrar da poesia da origem do Brasil.
*O ESPETÁCULO CONTARÁ COM OS RECURSOS DE ÁUDIODESCRIÇÃO E TRADUÇÃO EM LIBRAS.
Faixa etária indicativa: Livre

Fio mágico conta a história de um garoto que descobre que pode adiantar o tempo. Foto: Mão Molenga

Fio mágico conta a história de um garoto que descobre que pode adiantar o tempo. Foto: Mão Molenga

10/3, às 16h
Fio mágico, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Sinopse: A peça é uma parábola sobre o tempo e a importância de se viver e aprender com cada experiência vivida. Conta a história de um menino impaciente, que recebe o dom de adiantar o tempo manipulando o fio de sua própria vida. Esta montagem foi contemplada com o Prêmio Funarte Myriam Muniz 2007.
Faixa etária indicativa: 6 anos

12/3, às 15h
Era uma vez, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Sinopse: Um grupo de bonecos resolve encenar uma adaptação do tradicional conto de fadas Rapunzel. Acontece que a bruxa, orgulhosa da sua beleza, decide inverter os papeis. Tenta de todas as formas ser a princesa da história e provoca um rebuliço geral na Companhia de Bonecos. A verdadeira princesa, indignada, decide defender seu posto. Trava-se uma disputa bem humorada pelo papel de princesa. Entre mágicas, números musicais, aparições fantasmagóricas e brincadeiras a história toma rumos inesperados.
Público alvo – Crianças a partir dos quatro anos de idade.
Faixa etária indicativa: Livre

14/3, às 10h
Baú Encantado: conta daí que eu conto de cá, com Adriano Cabral e Hilda Torres
Sinopse: Traz a história de dois idosos que nunca largaram o “faz de conta” e para tanto quando se encontram transformam-se em duas crianças: Aninho e Didinha (processo que resgata a infância dos próprios atores). Toda história será contada com muita ludicidade: o texto das Sete Saias da Lua será norteador; em paralelo serão contadas histórias de autores pernambucanos e a última intervenção será das crianças que também contarão estórias.
Faixa etária indicativa: Livre

Palhaças-cantoras-divertidíssimas! As Levianinhas em pocket show para crianças. Foto: Pollyanna Diniz

Palhaças-cantoras-divertidíssimas! As Levianinhas em pocket show para crianças. Foto: Pollyanna Diniz

16/3, às 16h
As Levianinhas em pocket show para crianças, da Cia Animé
Sinopse: Além do repertório infantil, a banda de palhaças apresenta algumas canções que agradam a todas as idades, a exemplo de Biquíni de bolinhas amarelinho. Com histórico de sucesso com seu pocket show para adultos, agora a Companhia apresenta a versão para crianças do espetáculo.
*O ESPETÁCULO CONTARÁ COM TRADUÇÃO EM LIBRAS.
Faixa etária indicativa: Livre

19/3, às 16h
A Cartola Encantada, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Sinopse: A peça começa com o Sapinho que decide realizar um show de mágicas com sua cartola encantada. Apesar de todos os seus esforços, algo sai errado e ao invés de coelhos, o que sai da cartola é um rato vilão que vem sabotar o show. Personagens como a macaca Heleninha, flores, abelhas e uma cobra dançarina conduzem a história.
Faixa etária – Crianças a partir dos quatro anos de idade.

21/3, às 10h
Passaredo, do Grupo Proscênio (Sesc Surubim)
Sinopse: Utilizando o universo do diálogo entre o humano e aves, Passaredo conta de forma lúdica uma ‘história de gente e pássaro’ – as mais lindas (ou não) relações que estabelecemos com a natureza. Além da poesia e vida de Luiz Gonzaga, o espetáculo se apropria de elementos trágicos para contar a saga fictícia de um pequeno “herói”, que por causa da sua amada, aventura-se no sertão em busca do seu amor.
Faixa etária indicativa: 10 anos

23/3, às 16h
Le Petit – Grandezas do Ser, da Cia Circo Godot de Teatro
Sinopse: Livremente inspirado na mais famosa personagem de Antoine de Saint-Exupéry, Le Petit Grandezas do Ser apresenta um universo fabular em que a corrida contra o relógio, a fidelidade a um amigo doente e o medo da solidão são os princípios dramatúrgicos para ações que fundam uma narrativa lúdica e poética, a qual, abolindo por completo o uso da palavra, como um filme mudo, propõe uma diversidade de imagens, sonoridades e situações.
Faixa etária indicativa: 8 anos

17/3 e 24/3, às 16h
Algodão Doce, do Mão Molenga Teatro de Bonecos
Sinopse: A peça marca os 25 anos de trabalho da companhia pernambucana Mão Molenga Teatro de Bonecos. É um espetáculo infanto-juvenil de teatro-dança e de formas animadas, onde atores-manipuladores, bailarinos, bonecos e objetos ilustram o processo de construção da chamada Civilização de Açúcar. As situações dramáticas e as criações coreográficas baseiam-se nesse rico imaginário. Sua concepção foi criada a partir de dados históricos, das narrativas populares e de elementos presentes em manifestações espetaculares genuinamente nordestinas como o Mamulengo e o Cavalo-Marinho.
*O ESPETÁCULO CONTARÁ COM TRADUÇÃO EM LIBRAS.
Faixa etária indicativa: 8 anos

Algodão doce tem bonecos com textura de algodão doce e ainda bonecos maiores do que os manipuladores. Foto: Ivana Moura

Algodão doce tem bonecos com textura de algodão doce e ainda bonecos maiores do que os manipuladores. Foto: Ivana Moura

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