Na famosa concepção de Roland Barthes, “a crítica não é uma ‘homenagem’ à verdade do passado, ou à verdade do ‘outro’, ela é construção da inteligência do nosso tempo”. [1] Os enfrentamentos da crítica com a obra não perseguem a descoberta de uma verdade cifrada, mas potências interpretativas para dialogar com assuntos atuais. Assim pode ser na construção de vários caminhos.
“Problemática, polêmica, ameaçada de falência e de estar à margem do seu próprio universo de atuação, ela não se cala. Sob olhares desconfiados por todos os lados ela permanece, há séculos, como pedra, sobrevivendo aos que não lhe querem. Maldita, é infalível e independente. Se não há mais lugar para ela aqui, encontra acolhimento ali, transita, transmuda, se move. A crítica não está falida, não está morta e pertence mais ao mundo da arte do que muitos eventos que se autodenominam artísticos. Ela está apenas em crise. Bom para ela: este é o seu habitat natural”[2]. Começa dessa forma um artigo de 2008 da crítica e pesquisadora Daniele Avila Small.
A crítica aceita novas configurações e merece ser discutida no contexto de aproximação com artistas e público. É o que propõe a 1ª Mostra DocumentaCena, promovida pela DocumentaCena – Plataforma de Crítica, que ocorre de 8 a 10 de novembro, e o Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro, de 11 a 13, ambos em Curitiba.
A ideia na mostra é que artistas, pesquisadores e críticos possam acompanhar peças teatrais de artistas curitibanos, conversas com os grupos, uma oficina de crítica e dramaturgia, além do lançamento de publicações especializadas em teatro.
Ilíada – Canto XIII, com direção de Octávio Camargo e performance da artista Katia Horn; Os Pálidos, da Cia Senhas de Teatro, com direção de Sueli Araujo, e A Maldita Raça Humana, da Companhia Teatro de Breque, com direção de Nina Rosa Sá, integram o repertório de peças e exibem diferentes linguagens e gerações do teatro de Curitiba. Após as sessões, os grupos se dispõem a conversar sobre os trabalhos com o público.
Daniele Avila Small, fundadora e editora da revista eletrônica Questão de Crítica está na curadoria da Mostra DocumentaCena ao lado de Luciana Romagnolli, fundadora e editora do site Horizonte da Cena. Essa é a primeira mostra realizada pela DocumentaCena – Plataforma de Crítica, coletivo formado pelo site Horizonte da Cena (Belo Horizonte/MG), pelo blog Satisfeita, Yolanda? (Recife/PE) e pela revista eletrônica Questão de Crítica (Rio de Janeiro/RJ).
“Claro que me aborrece deixar os criadores aborrecidos comigo. Seria mais fácil continuar a dar e receber palmadinhas nas costas”, escreveu o crítico português Jorge Louraço, no Manifesto (2006) Como fazer inimigos. Para depois perguntar, no mesmo artigo, “como garantir que o crítico não se deixa influenciar pelos amigos? É difícil. Cada vez que ele dá uma opinião sincera, tem de pedir desculpa, ou aceitar o desafio para o duelo e arranjar um padrinho de armas”. Muitas críticas pelo caminho e 10 anos depois, ele ministra As Mãos Sujas de Sangue, Oficina de Crítica e Dramaturgia.
No encontro de três dias no Centro Cultural Sesi Heitor Stockler de França (8 a 10 de novembro) o dramaturgo e crítico teatral Jorge Louraço, vai dissecar várias possibilidades da criação cênica. Sua proposta é edificar a relação da crítica teatral com a adaptação dramatúrgica. Para isso será analisado o texto Macbeth, de Shakespeare. Os participantes irão colaborar na re-escrita de uma cena da peça.
No dia 10 de novembro, às 16h, na Casa Selvática, acontece o lançamento da Trema! Revista, de Pernambuco, e do Caixa de Pont[o] – Jornal de Teatro, de Santa Catarina.
Depois da Mostra, começa o Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de Teatro, na CAIXA Cultural Curitiba. O exercício da crítica de teatro e seus desafios na atualidade são os temas-chaves do fórum. Especialistas nacionais e internacionais (pensadores de Portugal, Espanha, Uruguai e Argentina), participam da empreitada.
Rui Pina Coelho (Portugal) e Óscar Cornago (Espanha) debatem as transformações da crítica na Península Ibérica, enquanto o teórico Jorge Dubatti (Argentina) e a crítica María Esther Burgüeño (Uruguai) tratam do mesmo tema na América Latina. A mesa com Bernardo Borkenztain (Montevidéu), Welington Andrade (São Paulo) e a encenadora Sueli Araújo (Paraná) trata de poderes e legitimação. Patrick Pessoa e Mariana Barcelos (Rio de Janeiro), Daniel Toledo (Minas Gerais) e Jorge Louraço (Portugal) trabalham com o pêndulo do crítico como artista e espectador.
[1] BARTHES, Roland. O que é a crítica. In: Crítica e verdade. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 163
[2] AVILA SMALL, Daniele. O que é, mais uma vez, a crítica? Breve estudo sobre a crítica de teatro. In: Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais. 10 de junho de 2008.
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SERVIÇO
MOSTRA DOCUMENTACENADe 8 a 10 de novembro de 2016
As Mãos Sujas De Sangue
Oficina de Crítica e Dramaturgia com Jorge Louraço (PT)
Esta oficina parte da análise de uma crítica teatral para a exploração das várias dimensões da realização cênica, estabelecendo a relação da crítica teatral com a adaptação dramatúrgica, culminando na simulação de uma adaptação teatral de Macbeth.
Centro Cultural Sesi Heitor Stockler De França
(Av. Marechal Floriano Peixoto, 458 – centro)
das 10h às 13h
ENTRADA FRANCA via inscrição através do email: sesicultura.hsf@sesipr.org.br
(enviar uma biografia de 5 linhas)Ilíada – Canto XIII
Ilíada, obra de tradição oral atribuída a Homero, é um dos mais importantes poemas épicos da Grécia Antiga. Trata da guerra de Troia, iniciada pelo sequestro de Helena (a mais bela mortal do mundo) por Páris, príncipe de Troia. Helena era a esposa de Menelau, o rei de Esparta, uma das principais cidades-Estado da Grécia. No canto XIII, Poseidon se apieda dos gregos e os motiva para a guerra. Nessa peleja os deuses gregos ficaram divididos. Do lado dos gregos (aqueus) estavam Hera, Atena, Poseidon, Hefesto, Tétis (mãe de Aquiles). E do lado dos troianos, Apolo, Afrodite, Ares, Ártemis, Leto. Zeus e Hades mantiveram-se neutros.Teatro Sesi Portão
(R. Padre Leonardo Nunes, 180 – Portão, Curitiba – PR)
às 19h30
Entrada franca.
Ficha Técnica
Direção: Octavio Camargo | Elenco: Katia Horn| Iluminação: Beto Bruel | Assistência, desenho de mapa e execução de luz: Daniele Regis | Cenografia: Eneas Lour | Figurino: Ricardo Garanhani | Captação de áudio: Filipe Castro | Arte gráfica: Foca Cruz | Fotografia e documentação: Gilson Camargo| Tradução: Manoel Odorico Mendes | Realização: Ilíadohomero Companhia de Teatro
Duração: 65 minutos | Classificação: 12 anos9 de novembro de 2016
Os PálidosDois clássicos de Luis Buñuel: O Anjo Exterminador e O Discreto Chame da Burguesia são os detonadores da peça Os Pálidos, que questiona sobre estados de inércia, paralisação e anestesia em um ato urgente de pensar o mundo e a cena. Com texto e direção de Sueli Araujo, o espetáculo ocorre em dois ambientes simultaneamente, dividindo a plateia e propondo um diálogo permanente com o público.
Sede Da Ciasenhas de Teatro
(R. São Francisco, 35 – centro)
às 19h30
Entrada franca
Ficha Técnica
Dramaturgia e Direção: Sueli Araujo | Atuação: Anne Celli, Ciliane Vendruscolo, Greice Barros, Luiz Bertazzo e Rafa di Lari | Cenário e Figurino: Paulo Vinícius | Designer de Som: Ary Giordani | Designer de Luz: Wagner Corrêa | Direção de Produção: Marcia Moraes | Produção Executiva: Edran Mariano | Assistente de Produção: Mariana Freitas | Designer Gráfico: Adriana Alegria | Assessoria de Imprensa: Fernando de Proença | Fotos: Elenize Dezgeniski
Duração: 90 minutos | Classificação: 12 anos
8 de novembro de 201610 de novembro de 2016
A Maldita Raça Humana
Peça livremente inspirada no livro Dicas Úteis para uma Vida Fútil, de Mark Twain, A Maldita Raça Humana desmascara o bestial por trás do verniz altruísta do homem, trazendo o politicamente incorreto para a discussão em cena. A ironia é quem dá leveza ao enredo, construído com recortes aparentemente banais do cotidiano, mas que reunidos levantam uma suspeita: a sociedade não é tão inocente assim.
Teatro Sesi Portão
(R. Padre Leonardo Nunes, 180 – Portão, Curitiba – PR)
às 19h30
Entrada franca
Ficha Técnica
Direção: Nina Rosa Sá | Elenco: Rodrigo Ferrarini, Pablito Kucarz e Gabriel Gorosito | Luz: Nadja Naira | Sonoplastia: Marcelo Torrone | Cenário: Paulo Vinícius | Direção de Movimento: Carmem Jorge | Figurinos: Maureen Miranda | Direção de Produção: Michele Menezes | Dramaturgia: Criação Coletiva
Duração: 65 minutos | Classificação: LivreLançamento da Trema! Revista e do Caixa de Pont[O] – Jornal de Teatro
Casa Selvática
(R. Nunes Machado, 950 – Rebouças, Curitiba – PR)
às 16h
Entrada franca. -
Programação
IDIOMAS – FÓRUM IBERO-AMERICANO DE CRÍTICA DE TEATRO
Data: 11 de novembro (sexta-feira)
Horário: das 19h às 22h
TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS DA CRÍTICA CONTEMPORÂNEA – PENÍNSULA IBÉRICA – com Rui Pina Coelho (Portugal) e Óscar Cornago (Espanha). Mediação: Daniele Avila Small (Rio de Janeiro).Data: 12 de novembro (sábado)
Horário: das 10h às 12h30
PODERES E LEGITIMAÇÕES DA CRÍTICA DE TEATRO – com os críticos Bernardo Borkenztain (Montevidéu) e Welington Andrade (São Paulo) e da encenadora Sueli Araújo (Paraná). Mediação: Francisco Mallman (Paraná).Horário: das 14h30 às 17h00
CRÍTICA DE CURADOR E DE PESQUISADOR – com a curadora Paula de Renor (Pernambuco), Rodrigo Eloi da Silva (São Paulo) e a pesquisadora Michele Rolim (Rio Grande do Sul). Mediação: crítica Soraya Belusi (Minas Gerais).Horário: 18h
Lançamento do site DocumentaCena – Plataforma de críticaHorário: das 19h00 às 21h30
O CRÍTICO COMO ARTISTA E ESPECTADOR – com os críticos Patrick Pessoa e Mariana Barcelos (Rio de Janeiro), Daniel Toledo (Minas Gerais) e Jorge Louraço (Portugal). Mediação: Pollyanna Diniz (Pernambuco).Data: 13 de novembro (domingo)
Horário: das 11h às 13h30
TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS DA CRÍTICA CONTEMPORÂNEA – AMÉRICA LATINA. Com o crítico teórico Jorge Dubatti (Argentina) e a crítica María Esther Burgüeño (Uruguai). Mediação: Luciana Romagnolli (Minas Gerais).Serviço
Fórum: Idiomas – Fórum Ibero-Americano de Crítica de TeatroLocal: CAIXA Cultural Curitiba, Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Curitiba (PR)
Data: 11 a 13 de novembro de 2016 (sexta a domingo)
Horário: sexta, das 19h às 22h. Sábado, das 10h às 12h30, das 14h30 às 17h00, 18h00 e das 19h00 às 21h30. Domingo, das 11h às 13h30.
Ingressos: entrada franca mediante retirada de ingressos na bilheteria para a palestra do dia
Bilheteria: (41) 2118-5111 (de terça a sexta, das 12h às 20h, sábado, das 9h às 18h30, domingo, das 10h às 19h)
Classificação etária: livre para todos os públicos
Lotação máxima: 125 lugares (2 para cadeirantes)