Quando se fala em México, difícil não pensar logo na emigração. E em como as artes são influenciadas por esse problema e por tudo que as pessoas são capazes de passar na luta – pela sobrevivência e, principalmente, por um sonho nem sempre dourado do American style of life. Para uma nordestina como eu, difícil também não fazer comparações entre o que representava São Paulo para a minha região e o que representa os Estados Unidos para o México.
Um dos espetáculos internacionais do festival Cena Contemporânea, de Brasília, é Amarillo, do Teatro Línea de Sombra, do México. A companhia foi criada em 1993 e tem como principal característica a utilização de diversas linguagens contemporâneas. A última sessão do espetáculo foi ontem, no Teatro Nacional Claudio Santoro, na sala Martins Pena.
No caso de Amarillo, é difícil conseguir trilhar caminhos novos quando o tema é tão recorrente – já visto até em novela da Globo e filme na Sessão da Tarde. Mas o espetáculo dirigido por Jorge A.Vargas consegue surpreender o público. Se não pela temática, pela forma como se utiliza de artíficios tecnológicos e performáticos.
O vídeo projetado na parede é uma extensão do palco – ou melhor, é construído no próprio palco. Quando as mulheres dispõem galões de água no chão, a imagem que se vê na tela é videoarte; no palco, é instalação. O ritmo algumas vezes frenético do personagem que deixou a família com destino a Amarillo, mas promete que vai voltar, é o da dança contemporânea e performance. Não há limites entre o que é uma coisa ou outra.
De maneira muito simples, com símbolos como a areia, imagens belas e instigantes vão se formando. E o desenrolar das cenas apresenta a cruel realidade do deserto, a falta de água e o que ela faz com o organismo, as alucinações, a saudade de quem vai, os desafios e desesperança de quem fica. Depoimentos sofridos e ao mesmo tempo de superação de esposas de homens que emigraram e não deram mais notícias.
Quando uma atriz grávida assume um papel de protagonismo, os limites do corpo e do coração são colocados à prova. A música rouca cantada por Jesús Cuevas traz a angústia e melancolia necessárias à situação. A morte está sempre presente, como se fosse um destino quase inevitável. O sonho dourado agora é preto e os corpos estão no chão.
Amarillo não é uma obra que se deixa classificar. Não é só teatro, mas como eu disse, artes visuais, performance, teatro, dança. A narrativa mesmo que completamente fragmentada, não perde força. Pelo contrário, é alavancada pelas potencialidades de outras maniifestações artísticas.
Amarillo (México)
Criação e elenco: Raúl Mendonza, Alicia Laguna, Maria Luna, Vianey Salinas, Antígona González, Jesús Cuevas
Textos: Gabriel Contreras
Poema: Muerte, de Harold Pinter
Desenho de luzes e programação digital: Kay Pérez
Espaço: Jesús Hernández
Música original: Jorge Verdín – Clorofila
Voz, música e samplers: Jesús Cuevas
Produção executiva: Alicia Laguna
Direção: Jorge A. Vargas
Produção de teatro: Línea de Sombra y México en escena
O vídeo dá uma ideia de como é o espetáculo visualmente: