Um espaço de encantamento foi armado no fim de semana no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O público teve oportunidade de apreciar a sofisticação técnica do russo Viktor Antonov, um virtuosi na manipulação das marionetes de fios; o teatro italiano Girovago & Rondella, que cria personagens excepcionais com as mãos; os Poemas visuais do espanhol Jordi Bertran, os divertidos personagens criados com partes do corpo dos grupos peruanos Hugo y Ines e La Santa Rodilla. Mas além dessas atrações internacionais, o Sesi Bonecos do Mundo reuniu bonequeiros populares como Chico Simões, do Distrito Federal, Mestre Tonho de Pombos, Mestre Zé de Vina de Glória do Goitá (considerado o mais vigoroso atualmente), Mestres Waldeck de Garanhuns e Josivan. Eles fizeram demonstração de como se constrói e manipula os mamulengos e divertiram com seus brinquedos nas barracas.
O grupo paulista XPTO trabalha com uma estética mais contemporânea, mas desta vez o diretor Osvaldo Gabrieli foi buscar inspiração no popular. A trupe exibiu o espetáculo O teatrinho de Dom Cristóvão, um texto picante de Federico Garcia Lorca, em que expõem com humor figuras trapaceirass e traidoras, como o velho rabugento Dom Cristobal e Dona Rosinha. A encenação Caetana, da Duas Companhias, arrancou elogios da plateia que encarou a chuva no sábado, ao contar a história de Benta, que tenta driblar a morte.
As chuvas e as temperaturas baixas alteraram a disposição dos paulistanos de sair de casa. O festival Sesi Bonecos do Mundo, que montou uma quadra cenográfica dentro no Ibirapuera, foi visitado por número bem menor do que era esperado.
“Oito mil pessoas assistiram ao Sesi Bonecos do Mundo em São Paulo. Se este número parece grande para as costumeiras plateias de teatro de marionetes, para o Festival que ampliou as possibilidades de acesso à arte titereteira é pequeno. É que, mesmo tendo escolhido o período de maior seca na região, uma frente fria surpreendeu a estação. Agora, o Festival segue para o Rio. E a previsão é de sol para o fim de semana”, diz a publicitária pernambucana Lina Rosa Vieira, idealizadora e produtora do evento.
As duplas sessões durante três dias no Teatro do Sesi, na Avenida Paulista, foram lotadas. No primeiro dia os grupos peruanos Hugo y Ines e La Santa Rodilla mostraram que há muitas possibilidades de exploração artísticas do corpo, transformando mãos, pés, joelhos, barrigas e outras partes em personagens da vida cotidiana. A trupe italiana Girovago & Rondella exibiu dois personagens absolutamente sedutores, apresentando números de circo. O russo Viktor Antonov deixou o público feliz com seu desfile de bonecos de fio: uma bailarina hindu, o halterofilista, macacos acrobatas, um camelo, os detalhes são preciosos para comunicar com a público.
Nas apresentações no teatro, o projeto adotou ações de libra e audiodiscrição. “Dentre tudo, o que mais me emocionou foi a inclusão dos cegos e surdos no projeto”, conta Lina. Ela chorou quando viu um garotinho cego feliz ao tocar nos bonecos do Viktor, enquanto sua mãe explicava quem era aquela criatura.
Uma baixa do Sesi Bonecos foi Gulliver, da Cia Viaje Inmóvel, do Chile. A trupe chegou, mas o grande cenário não.
A abertura com o desfile do grupo mineiro Giramundo levou seus monstros, princesa, dragão, sapo, entre outros personagens, para brincar com crianças e adultos e reforçou a ideia que cada um possui seus monstrinhos. O Giramundo apresentou suas Torres Andantes de Bonecos. O conjunto de 9 torres, 30 bonecos de vara e 2 bonecos de mochila, apresenta várias formas de construção de bonecos gigantes.
A exposição dos 40 anos do Giramundo também é deslumbrante. Personagens dos 33 espetáculos fazem parte da mostra, reunidos por peças e com dados históricos da montagem.