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Grupo Experimental pontilha São Paulo de afetos

Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Espetáculo Pontilhados em apresentação na capital paulista. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

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Olhar fortuito entre personagens de Silvinha Góes e Everton Gomes. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

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Os invisibilizados reais e da ficção se misturam na Praça da Sé. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

A vida se manifesta no corpo. Na sua expansão, nos seus flagelos, dores, resistências. A vida se manifesta na cidade, que pulsa repulsa de memórias dos que ergueram seus edifícios, calçaram suas ruas, confundiram seus corpos com pedra, água, ar e cal. O espetáculo coreográfico Pontilhados – Intervenções Humanas em Ambientes Urbanos congrega um bando de subjetividades. Criado e dirigido por Mônica Lira, a montagem do Grupo de Dança Experimental, do Recife (PE), já passou por Porto Alegre (RS) em setembro e percorre as ruas de São Paulo neste fim de novembro.

Corpo humano e corpo-cidade. Pontilhados, encerra a trilogia de dançaIlhados, sob a direção e idealização da bailarina e coreógrafa Mônica Lira. A trilogia começou com Ilhados – Encontrando as pontes ;(2010)Compartilhados(2014).

Saindo do Palacete Tereza Toledo Lara, na Rua Quintino Bocaiúva, 22, Centro, munidos com fones de ouvido, embarcamos em outro tempo; outra dimensão se instala. Ganhamos as ruas. Seguimos a voz de comando de Jennyfer Caldas, nossa guia, que nos aponta os rumos das cenas para não nos dispersarmos em meio a profusão de episódios do teatro do real.

Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Patrícia Pina Cruz (frente) compartilha a ideia que existe amor em São Paulo. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

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Gardênia Coleto, Anne Costa e Rafaella Trindade. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Mesmo que você não enxergue, eles existem. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Mesmo que você não enxergue, eles existem. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

O espetáculo de dança contemporânea itinerante ao ar livre, que agrega poesia e tecnologia, tem dramaturgia de Silvinha Góes, texto lindo, poético, que carrega citações de Affonso Romano de Sant´Anna,Eduardo Galeano, Roberto Pompeu de Toledo,Mario Quintana, Hilda Hilst, Italo Calvino, Cássio Vasconcellos, Mário de Andrade, Erri de Luca.

Despertemos outros olhos, treinemos outros olhares, olhemos o mundo com outras lentes exige essa caminhada / mergulho no espaço urbano para testemunhar histórias de amores e saudades, porque são tantas.

Pois então, desconecte-se, desligue, desacelere, sinta as camadas. Para além dos fones de ouvidos tudo prossegue naquela velocidade estonteante dessa Sampã espinha dorsal das finanças, de negociações políticas, de imersões culturais. Ou como define Roberto Pompeu de Toledo; “a capital da vertigem: vertigem artística, industrial, geográfica, urbanística”

Enquanto duram essas travessias poéticas nos ligamos a pulsação e movimentos coreográficos dos artistas do Grupo Experimental: Gardênia Coleto, Rafaella Trindade, Everton Gomes, Kildery Kildery, Anne Costa, Silvia Góes e Jennyfer Caldas. Além do elenco pernambucano, a performance conta com os bailarinos e bailarinas selecionados por meio de uma residência artística realizada na capital paulista entre os dias 12 e 19 de novembro, no CRD – Centro de Referência da Dança: Alisson Lima, Ana Caroline Recalde, Bruna Amano, Giovanna Pantaleão, Gisele Campanilli, José Artur Campos, Julianna Granjeia, Kleber Candido, Mateus Menezes, Michele Mattos, Patrícia Pina Cruz, Vinícius Francês, Vitor Silva e Laís D’addio. Ivan Bernardelli, artista-pesquisador local, coreógrafo e diretor da Cia. Dual de Dança Contemporânea, colaborou no trabalho.

A Noiva nas escadarias da Igreja da Sé de São Paulo. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

A Noiva nas escadarias da Catedral da Sé de São Paulo. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Um noiva sozinha em frente à Catedral da Sé. Uma figura quase etérea. Podemos nos lembrar de Assombrações do Recife Velho, os contos que Gilberto Freyre compilou da tradição popular. Mas também remete à nubente largada, que perde suas alegrias de viver. As narrativas e as imagens dão possibilidades para múltiplas interpretações. Todas válidas.

A narração da peça e sua trilha sonora são transmitidas via antenas de rádio ao público. A trilha de Guillermo Ceballos Suin mistura música, poesia e sons ambientes. Os bailarinos e bailarinas, no entanto, nada escutam. A atriz Lilian Lima – da Cia. Do Tijolo – traça o roteiro histórico, afetivo, pungente, alegre, triste, cheio de humanidade.

A caminhada começa no Hexágono, obra erguida na Praça da Sé, e segue para a Catedral, de estruturas góticas e renascentistas. Ali, Dom Paulo Evaristo Arns desenvolvia religiosamente sua luta, denunciando torturas e crimes e livrando crianças da violência imposta na época da ditadura.

Ainda na praça, mendigos fictícios brigam por colchonetes e por sobrevivência, numa escalada de violência. Explodem em expressão de sofrimento ou de resistência e elaboram coreografias de muitos tipo de fé. Na primeira apresentação, um morador de rua tentou ficar com um dos colchões como prêmio. A produção agiu para reaver o material de cena.

Há sofrimento ali normatizado. Pontilhados diz a a isso não. A vida humana precisa se reconhecer humana.

Há tempo para saudar as estátuas do apóstolo Paulo e do Padre José de Anchieta. E seguimos rumo à rua do Ouro, enquanto a audição sopra no ouvido coisas bonitas como “Uma cidade nasce do encontro, um olhar e outro olhar, um corpo e outro corpo, uma pedra e outra pedra, eu e você… Respire… Sinta o chão…” ou as reflexões poéticas de Affonso Romano de Sant´Anna, que defende “O amor – esse interminável aprendizado.”

De volta ao cruzamento da rua Quintino Bocaiúva com a rua José Bonifácio, encontramos o Palacete Tereza Toledo Lara com damas na varanda. No palacete funcionou a Rádio Record, onde o sambista Adoniran Barbosa criou algumas composições.

Depois de passar pela escultura de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares em posição de alerta, portando uma arma de defesa chamada mukwale, símbolo de poder, usada por grandes guerreiros africanos, a performance de Kildery Kildery já é outra. De denúncia, de revolta, de não conciliação com o branco opressor, com o sistema opressor.

Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Depois de encontrar Zumbi, a postura é de guerrilha. Foto: Rogério Alves /423 / Divulgação

Preto e branco

O negro encara o branco. Foto: Ivana Moura

Delicadezas e precariedades, tensão no trânsito, problemas de moradia, caos urbano. Megalópolis e seus contrastes. Articulando passado e presente, sugerido pelo áudio e pela história da cidade, a peça propõe a cada espectador a erguer sua própria fabulação de memórias reais e poéticas.

Muita vida acontece nesse percurso … um casal flerta aos passos da dança na despedida do dia paulistano. Madona distribui corações para insinuar que o amor é livre e outra mulher misteriosa surge e desaparece pelas ruas movimentadas em meio à multidão.

Mônica Lira, essas imagens inundam a memória, numa perseguição de entendimentos outros que passam pela pele e osso, comprime o coração para saber que ele (o coração) existe. Esses Pontilhados embalam os sonhos e incitam para a luta. É uma peça forte e dura. Amorosa e que grita por questões urgentes. Da humanidade perdida, da humanidade que anseia ser reencontrada. Muito potente essa busca, esse caminhar, esse devir.

Silvinha Góes

Silvinha Góes nas escadarias da Catedral da Sé. Foto: Ivana Moura

Poderia falar de quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, da circunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recobertos os tetos; mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado…

A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata.
Italo Calvino
As Cidades Invisíveis

<img class=”wp-image-20067″ src=”http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/11/L3070684.jpg” alt=”L3070684″ width=”600″ height=”398″> Gardênia Coleto interage com público. Foto: Ivana Moura

São Paulo… Norte, Sul, Nordeste, Noroeste, Sudoeste, Sudeste, acima, abaixo, dentro, portos vastos além dos que aqui se inscrevem, aparecem, cravados de memórias singulares… Pernambuco, Recife, em que sentido está? De que lado você dança? Você samba de que lado? Recife, cidade pedra… São Paulo, cidade alada… Concreta de imensidões… Distâncias irmãs como somos, caminhantes do antes e agora, entre ruas que nunca desvendaremos inteiras, nem se estivessem nuas… Como as veias de um corpo, ruas que nos ligam ao mundo e ao centro de nós… Olhe em volta… Como estão suas mãos? Chegou a hora de viver em sua pele, horizonte com o fora, o nosso encontro no agora…

Texto-poesia de Silvinha Góes

zumbi

Kildery Kildery encontra a estátua de Zumbi dos Palmares. Foto: Ivana Moura

Liberdade abre as asas sobre nós, tem poesia isso, mas isso sufoca, vejo sempre uma águia gigante roubando o espaço acima da minha cabeça, vejo sempre a asa me comprimindo, e por isso eu gostaria de voar porque subiria acima dessa eventualidade. (S.G.)

SERVIÇO:
Pontilhados
Rumos Itaú Cultural 2017-2018
Entre os dias 28 e 30 de novembro
Saída: Palacete Tereza Toledo Lara (R. Quintino Bocaiúva, 22, Centro, São Paulo (SP)
Horário: 17h
Duração: 60 minutos
Quantidade de fones: 50 unidades
Ingresso: distribuição gratuita dos fones por ordem de chegada (50 pessoas)
Obs: para obter o fone a pessoa deixará o documento para resgatar com a entrega do fone à produção
Entrada gratuita

Figuras estranhas

Figuras estranhas, parecem vindas do passado. Foto: Ivana Moura

Polícia

Dançarino de frevo encara o carro da polícia. Foto: Ivana Moura

Pateo do colégio

Pateo do Collegio, marco zero da capital paulista. Foto: Ivana Moura

Pateo 3

Coreografia no Pateo. Foto: Ivana Moura

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Transeuntes param para assistir à dança. Foto: Ivana Moura

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Existe amor em São Paulo, não é Kildery Kildery?! Foto: Ivana Moura

É frevo meu bem

É frevo meu bem. Foto: Ivana Moura

é frevo, eu disse frevo

É frevo, eu disse frevo. Foto: Ivana Moura

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