A comemoração será do jeito que eles mais gostam: no palco. O Magiluth celebra nove anos neste fim de semana com duas apresentações. Neste sábado, às 16h, encenam o espetáculo mais recente, Luiz Lua Gonzaga, no Parque Dona Lindu, dentro do projeto Aldeia Yapoatan. Já no domingo fazem a festa no Teatro de Santa Isabel com Viúva, porém honesta, texto de Nelson Rodrigues.
A vida anda bastante movimentada para o grupo e só deve piorar, ainda bem, já que eles aprovaram três projetos no Funcultura. É a certeza da circulação dos espetáculos do repertório e da manutenção da pesquisa do coletivo que, entre outras características, gosta de investir em criação de dramaturgia e experimentação de linguagens.
Dia desses, voltando do Festival Internacional de Londrina (Filo), o diretor Pedro Vilela respondeu uma entrevista por e-mail. Usamos um trechinho na primeira edição do Jornal Aldeia Yapoatan e aproveito para publicar aqui no blog na íntegra.
Entrevista // Pedro Vilela
Como os objetivos iniciais do Magiluth foram mudando ao longo dos anos?
Interessante falarmos sobre nossos objetivos iniciais, pois o norte principal do grupo permanece. Quando nos reunimos há quase dez anos, tínhamos como foco principal de ação a manutenção de um coletivo de atores que pudesse desenvolver atividade de pesquisa continuada, sendo o grupo um único mecanismo de sobrevivência e trabalho. Hoje é gratificante poder ver que estamos conseguindo atingi-lo e, para isso ao longo de nossa trajetória, precisamos colocar em prova a todo momento escolhas e caminhos. Outro ponto de atenção diz respeito ao aprofundamento e consolidação de uma linguagem que acreditamos, fruto de horas de trabalho em sala de ensaio. Talvez o maior exercício deste período tenha sido compreender nossas necessidades e alinharmos o caminho para atendê-las.
Qual a maior dificuldade em manter um grupo?
Estar em grupo significa risco e crise cotidianos, exercitando diariamente a convivência e a sobrevivência. É compreender o exercício de pensamento coletivo e, ao mesmo tempo, lutar para se solidificar economicamente, uma vez que somos uma empresa. Vivemos numa cidade com políticas culturais inexistentes e os grupos teatrais, por suas especificidades de criação, não conseguem ter autosustentação, necessitando de parcerias. Poderia descrever páginas e páginas sobre a palavra dificuldade, mas hoje pensamos prioritariamente nas estratégias para enfrentá-la!
Qual a importância e desafio de manter uma sede?
Ter uma sede modifica drasticamente de maneira positiva o trabalho do grupo. É a representação física da possibilidade de pesquisar diariamente, de congregar ideias e, inclusive, de discutir a geografia da cidade, uma vez que estamos inseridos no coração do Recife. Entretanto, viemos numa cidade em que não existe nenhuma política de ocupação de espaço e os grupos ficam expostos à especulação imobiliária. Vivemos num local onde vemos diversos imóveis sendo sucumbidos pelo tempo, desabando, virando ponto de drogas e não temos nenhuma ação por parte do poder público para que coletivos artísticos ocupem, reformem e desenvolvam ações. E com os valores de locação subindo a cada dia, não podemos afirmar por quanto tempo teremos espaço.
O que une o grupo artisticamente hoje? Esteticamente o que preocupa vocês? Sobre o que vocês querem falar?
Acho que o que mais nos une é o amor que temos pelo nosso ofício. Antes de tudo, somos um grupo de pessoas que não conseguem viver sem ver, discutir, refletir sobre o teatro e seus rumos. E temos no Magiluth a concretização dum trabalho investido durante anos. Pensar o rumo do teatro contemporâneo brasileiro, reconhecer-se como cidadãos que possuem através da arte o desejo de modificar nossa realidade, isso nos move. Um teatro que seja um respirar do seu tempo e que possa tratar e modificá-lo nos interessa.
Quais as metas para o próximo ano?
Temos espetáculos ainda muito vivos em relação à possibilidades de circulação e apresentações. Acredito que nossa comemoração dos 10 anos será através do que temos interesse, o encontro com nosso público. Então iremos circular durante todo o ano com espetáculos e iniciar o processo de nosso novo trabalho, que ainda não temos um tema fechado, mas muitos “desejos” em relação à linguagem.
Serviço:
Luiz Lua Gonzaga
Quando: sábado (14), às 16h, no Parque Dona Lindu
Quanto: Gratuito
Viúva, porém honesta
Quando: domingo (15), às 19h
Quanto: R$ 30 E R$ 15 (meia-entrada)
Viúva, Porém Honesta – 9 anos Grupo Magiluth – 15/09/13 from Grupo Magiluth on Vimeo.