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Garotinha filósofa

Mania de explicação, montagem da Cia Canguru de Teatro de Bolso e Bonecos, de Belo Horizonte

Filosofia é parar um pouco de ver televisão e escutar os próprios pensamentos. Dificuldade é a parte que vem antes do sucesso. Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo. Essas são algumas das definições dadas pela garotinha Isabel, personagem principal da montagem Mania de explicação, da Cia Canguru de Teatro de Bolso e Bonecos, de Belo Horizonte. A peça foi uma das atrações do último fim de semana do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco.

No sábado, o Santa Isabel estava lotado de crianças e pais que viram uma produção bem cuidada, caprichada, que consegue surpreender e ao mesmo tempo ser didática. É também um ótimo exemplo de como uma montagem infantil pode abarcar muitos temas – tem desde o nome das frutas e verduras, os animais e como tratar a dor, para as mais pequenas, até o meio-ambiente, conflitos com os pais, amizade, preconceitos, medo. Poderia ter virado só um “amontoado” de assuntos, mas a maneira como a peça se desenrola dá fluidez aos temas, que aparecem de forma natural.

Esteticamente, é de encher os olhos. O grupo, que fez uma adaptação do livro homônimo da escritora e roteirista Adriana Falcão, usa o teatro de bonecos, muita cor e delicadeza. A garotinha ruiva acordando, um lindo banho com muitas bolhas de sabão, um galo, uma tartaruga, uma centopéia, um cachorro brigão.

Texto é uma adaptação do livro homônimo da escritora e roteirista Adriana Falcão\

A manipulação pode ser feita por até três atores por vez – ou por um só, num jogo de cordas que parece muito difícil para dar vida e movimentos a tantos seres. A música também é muito importante na peça (as letras foram criadas por Adélia Nicolete, a partir do argumento do marido dela, Luís Alberto de Abreu), assim como as projeções (talvez o elemento menos bonito da montagem).

Ao apostar na repetição, já que a peça vai acontecendo à medida em que Isabel faz as suas conceituações e conversa com os seus amigos, entre eles um galo, e a cada definição uma lâmpada aparece na tela, a companhia corria o risco de deixar a encenação cansativa. Conseguem superar esse desafio com um ritmo de cena e sincronias perfeitas entre movimento, voz e projeção.

O grupo mineiro estreou a peça, que já foi vista por 70 mil pessoas, há seis anos, sob direção de Rodolfo Vaz. Ao Recife, a companhia trouxe seis atores manipuladores e um técnico. Um belo espetáculo para coroar um festival que conseguiu ampliar os seus horizontes e se consolidar. Representou também um respiro e um sopro de poesia tanto para pais quanto filhos.

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