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Teatro em casa

A casa da atriz e arte-educadora Márcia Cruz, no bairro da Boa Vista, no Recife, será transformada em “espaço cultural” durante alguns dias da semana. “Quando idealizei isso, pensei na possibilidade de autonomia de fazer a minha arte junto com os meus amigos, dentro da minha casa, na desburocratização de processos. Claro que é fundamental o abraço que as instituições formais dão ao teatro, mas ele também pode ser mais simples, sem tanta burocracia”, conta Márcia.

Márcia Cruz resolveu abrir as portas de sua casa para o teatro

Márcia Cruz

Quando questionada sobre a exposição da sua privacidade, do espaço da sua casa, Márcia confessa que só agora, com os ensaios do projeto Teatro de Quinta, está tomando consciência real da dimensão dos conflitos entre espaço público e privado. “Ontem foi o dia do ensaio geral. Quando os atores foram embora, os móveis fora do lugar, pensei: meu Deus, o que eu fiz?”, brinca. “Mas está feito. Eu achei que tinha me preparado mais para isso. Não! De qualquer forma é invasivo. E considero que esse é um exercício importante para mim”, complementa.

No projeto Teatro de Quinta, a obra de um autor por mês servirá como base para a criação de até três atores. “Nesta primeira etapa vamos trabalhar com autores daqui, porque estão mais próximos. Eu convido, mas também aceito a proposta de autores. São eles que escolhem os atores. Depois disso, os atores tomam conta da criação, que é mediada e provocada por mim e pelo produtor e também ator Plínio Maciel. Porque há conflitos e limitações nesse processo de criação. O meu quarto, por exemplo, não será utilizado”, explica.

Para a estreia do Teatro de quinta, os atores Luciana Pontual, Fábio Calamy e Daniel Barros se debruçaram nos escritos de Cleyton Cabral. “É um projeto cheio de afetos. São atores que admiro e respeito. Inclusive, dedico meu primeiro livro à Luciana. Eles mergulharam no meu blog (cleytudo.blogspot.com) e no recém-lançado livro de contos Tempo nublado no céu da boca para criarem as cenas que veremos hoje. Será surpresa. Não quis assistir ensaios, nem sei quais textos estão trabalhando”, conta Cleyton.

Hoje, as cenas serão apresentadas em duas sessões que já estão com ingressos esgotados: às 20h e às 21h. Mas o projeto continua o mês inteiro, todas as quintas, a priori, somente com a sessão das 20h. As reservas são feitas através do e-mail casa17.maravilhas@gmail.com . Outra proposta de Márcia Cruz é que as programações não tenham preço estipulado dos ingressos, mas que os espectadores possam refletir sobre a questão do valor na obra de arte. “É uma postura política. Qual o valor que você dá ao trabalho do artista. Não estou aqui para julgar ninguém. Quem dá R$ 1 ou R$ 10, mas quero que as pessoas pensem sobre”, complementa.

O autor Cleyton Cabral e os atores Luciana Pontual, Daniel Barros e Fábio Calamy

Lua cheia – Já no dia 14, às 20h, a própria Márcia Cruz dá a largada do segundo projeto que será abrigado em sua casa: Lua cheia de histórias. Uma vez por mês, uma roda de contação de histórias será conduzida por um artista ou grupo; seguindo sempre o calendário da lua cheia. A primeira roda terá como tema o sagrado feminino. Os ingressos também não tem preço fixo e o esquema de reservas de entrada é o mesmo.

Por fim, o projeto Em(Re)Forma vai promover oficinas breves, sempre aos sábados, com duração de até quatro horas. O ator, bailarino e pedagogo Diorge Santos, por exemplo, será responsável pela oficina Corpo e movimento na infância no dia 24, das 8h às 12h; já a contadora de histórias Adélia Oliveira propôs a oficina Papelão de poesia, em que vai explorar o potencial criativo dos participantes através da poesia e da construção de esculturas em papelão, no dia 31, das 14h às 18h. Para cada oficina será cobrado o valor de R$ 50.

Por questão de segurança, o endereço certinho da casa só é informado para quem reserva a entrada através do e-mail.

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Amor de blog

“Oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei, disse a secretária eletrônica com voz de me coma de quatro. Eu não deixei nenhum recado, continuei mudo segurando o telefone na orelha. É tão engraçado, a gente para no tempo e fica viajando sem mala e sem avião, o passaporte era o telefone, pus no gancho e entrei no carro. Apenas uma luz acesa naquele edificiozão. O apartamento dela iluminado, as janelas abertas e apenas uma secretária lá dentro, eletrônica. Só pode ser uma patologia, só pode. Vou contar um segredo porque sou seu amigo e confio em você: tenho fixação pela secretária eletrônica. Eu sei que é a Vanessa, mas aquela voz, aquela voz parecia ser de outra pessoa. Eu ligava mais de trinta vezes por dia só para poder ouvir ela dizendo oi, no momento não posso atender, deixe seu recado após o sinal que em breve retornarei”. (Cleyton Cabral)

Gostou? Terça-feira, no Espaço Muda (Rua do Lima, 280, Santo Amaro) tem muito mais! Esse foi só um trechinho de um texto que ‘pesquei’ do blog Cleytudo; vários deles serviram de base para esta edição do Leia-se: Terça!, que está sob a direção de Rafael Almeida, e traz no elenco Evandro Lira, Fernanda Mélo, Luana Lira, Luciana Pontual e Thiago França.

“São textos sumários falando dos encontros e desencontros do coração, a descoberta do amor, as ilusões e desilusões amorosas. Os textos falam do cotidiano, mas de uma forma peculiar”, conta Rafael. A leitura dramática de Hoje quero falar de amor está marcada para 20h. E já estamos sabendo que na próxima edição, o texto também é de Cleyton, mas desta vez um infantil, que participou de uma série de leituras dramáticas no Sesc Santo Amaro no fim do ano passado (foi em janeiro deste ano!): O menino da gaiola. Ah, não tem cobrança de ingresso, tá? É “contribuição espontânea”!

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