É louvável a iniciativa do grupo Teatro Dubando, que homenageia o escritor Osman Lins pela passagem dos seus 90 anos, com o evento Leituras Cruzadas III: Lendo Osman Lins, de hoje a domingo no Teatro Hermilo Borba Filho, com entrada franca.
O programa incentivado pelo Funcultura/Governo do Estado de Pernambuco conta com palestras, leitura dramática, ensaio de espetáculo, exibição de curtas e debates.
Sabemos que o autor pernambucano de Vitória de Santo Antão merece muitas outras celebrações.
E que venham.
Numa entrevista feita por Esdras Nascimento, (publicada no Estado de S. Paulo em 24 de maio de 1969), Lins diz que o escritor tem, sim, uma missão social a cumprir. E que ela não deve ser confundida com o engajamento político, “sob nenhum pretexto, ser imposta pelo estado ou partidos. Isto não em nome de uma vaga liberdade do artista, e sim porque nenhuma instituição está em condições de impor, à conduta do escritor, leis e normas concebidas para outros tipos de atividades, Repito, com André Gide, que ‘uma literatura submetida é uma literatura envilecida’. O escritor não chega a certa orientação estética, a certas invenções, a certos experimentos, a determinadas descobertas, por acaso. Ele caminha duramente para tudo isso. Os livros de Kafka, resultado de toda sua existência, têm-nos ajudado enormemente a ter, do homem contemporâneo e de seus dilemas, uma visão que não seria tão clara se ele não tivesse existido. Ou se lhe houvesse imposto, ao invés de escrever O castelo, redigir algum romance trivial sobre patrões e operários. Não quero dizer que seja impossível a um romancista realizar um grande livro sobre tal assunto. Mas ele só o fará se chegar a isto. E seu trabalho, em nenhuma hipótese, deverá transpor para o papel a visão que os políticos têm do problema. Terá de ser, a sua visão, a visão do romancista, de um criador de ficção. Em todo caso, uma visão nova, pessoal, sem o que seria dispensável”.
Lins deixou, além de uma obra ficcional de importância, uma obra ensaística em que se posiciona com rara coragem sobre questões ainda hoje cruciais da realidade brasileira.
A postura ousada e na maioria das vezes solitária do autor se projeta na sua ficção. Ele combateu a censura, questionou as manipulações políticas na área da cultura, defendeu a educação, refletiu sobre as conjugações da indústria cultural e tornou os espaços na imprensa uma tribuna para defender suas ideias.
O percurso teatral de Osman é curto, mas marcante, e está em paralelo com sua ficção em prosa. Suas primeiras peças são mais tradicionais. No início da carreira, o autor investiu na linha cômico-popular e ganhou os aplausos do público e da crítica com Lisbela e o Prisioneiro. O drama realista Guerra do Cansa-Cavalo teve boa acolhida e até mesmo a recepção fria à montagem A Idade dos Homens – com sua crítica social urbana – gerou um bom debate na mídia.
Com as inovações da trilogia Santa Automóvel e Soldado, (composta pelas peças Mistério das Figuras de Barro, Auto do Salão do Automóvel e Romance dos Dois Soldados de Herodes) o autor redirecionou sua escrita dramática para o épico, depois de ter formulado uma teoria teatral que dava primazia ao texto teatral.
A programação ilumina pontos importantes da obra de Osman Lins.
PROGRAMAÇÃO
Leituras Cruzadas III: Lendo Osman Lins
Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife.
Fones: 3355 3321 e 3355 3319.
Entrada gratuita.
Dia 18 de julho (sexta)
Percursos da História
19h Abertura com coquetel
19h30 Palestra com Ângela Lins e Leda Alves sobre momentos significativos da vida e da obra de Osman Lins.
Debatedor: Fábio Andrade.
Dia 19 de julho (sábado)
Osman Lins em Cena
18h Ensaio aberto do espetáculo Perdidos e Achados (peça inspirada em narrativa homônima de Osman Lins), com o Teatro Dubando e participação especial do ator Tatto Medinni
19h20 Palestra com Luiz Carlos Vasconcelos (PB), sobre sua experiência ao montar a narrativa Retábulo, dirigindo o Grupo Piollin (PB); e Robson Teles, sobre as narrativas osmanianas da obra Nove, Novena. Debate aberto com o público ao final
Dia 20 de julho (domingo)
16h Leitura dramática da peça “Mistério das Figuras de Barro”, de Osman Lins, pela Companhia Fiandeiros de Teatro.
Direção: André Filho
16h30 Palestra O Teatro da Palavra de Osman Lins, com Ivana Moura
17h10 Exibição do curta metragem A Partida, direção de Sandra Ribeiro, além de Os Gestos, ambos inspirados em obras de Osman Lins
17h50 Palestra com Sandra Ribeiro e Adriano Portela. A diretora falará de sua experiência em filmar a obra osmaniana. Já o jornalista analisará o percurso da obra de Osman na cinematografia.
19h Palestra Cruzando Leituras, com Arnoldo Guimarães e Rosana Teles, sobre o universo melódico e poético de Osman Lins.
Debatedor: Lourival Holanda.