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Lançamento de livros
Mais dois títulos do teatro pernambucano

grupo gente nossa 1938 foto Acervo Projeto Memórias da Cena Pernambucana

A Pena e a Lei, de Ariano Suassuna – 1984 – Acervo Grupo de Teatro do SESC Caruaru

O teatro pernambucano já se vangloriou de ser o terceiro em produção no país, lá pela segunda metade do século 20. A historiografia teatral brasileira nunca prestou muito atenção em mais esse orgulho nordestino e sempre concentrou no Sudeste –Rio e São Paulo, principalmente – o mérito da trajetória do teatro brasileiro, suas conquistas, modernização, desconstrução. São campos de disputa constantes e os mais fortes (economicamente, politicamente, de articulação) deixaram suas marcas e seus livros. Esse cenário vem mudando nos últimos anos, graças a muitas mãos e muitas vontades.

Um lançamento duplo, que contempla o teatro na capital e no interior de Pernambuco coloca mais duas obras na prateleira dessa biblioteca, que ainda tem muito para contar. O Teatro no Recife da Década de 1930: outros significados à sua história, do jornalista, crítico e pesquisador teatral Leidson Ferraz e Grupo de Teatro do SESC Caruaru – Fazendo e Aprendendo, organizado pelos artistas Severino Florêncio, Moisés Gonçalves, Josinaldo Venâncio e Maylson Ricardo são dois livros que o Selo editorial do SESC Pernambuco, com apoio da CEPE, lança nesta segunda-feira (20 de dezembro de 2021), a partir das 19h, no hall do SESC Santo Amaro, no Recife, com show da cantora Andréia Luiza.

Leidson Ferraz, autor de vários títulos sobre a memória dessa arte em Pernambuco, é uma figura de destaque na recuperação desse caminho. Pesquisador incansável, organizou os quatro volumes da coleção Memórias da Cena Pernambucana. Atualmente é Doutorando em Artes Cênicas na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

A década de 1930, tão repleta de reviravoltas políticas e deslocamentos regionais de poder, sofreu no que se refere as artes cênicas uma desvalorização. O estudo do período foi sua dissertação de mestrado em história na UFPE. Ele mergulhou em arquivos esquecidos para resgatar alguns desses episódios. No livro, Leidson mapeia peças, e atuações de grupos e artistas independentes nos teatros do centro Recife e dos bairros de subúrbio, chamados “arrabaldes”. Explora as características da cena da época, ocupada principalmente por comédias, burletas e operetas.

Trajetórias do Grupo Gente Nossa e do Grêmio Familiar Madalenense (liderado pelos Irmãos Valença), ou de artistas como Samuel Campello, Elpídio Câmara, Barreto Júnior, Lenita Lopes e Valdemar de Oliveira, entre outros, estão no foco da pesquisa. Mas a obra “busca ir além do discurso que ocupa posição dominante no campo historiográfico nacional, sempre a abordar o ‘modo antigo’ de se fazer teatro em suas tão depreciadas contradições”.

Para isso, Ferraz trabalhou com as ideias de campo e capital simbólico do sociólogo Pierre Bourdieu, que iluminam os espaços ocupados, suas hierarquias e lutas internas.

O design do livro é assinado por Claudio Lira e traz imagens raras, de críticos, artistas nacionais e internacionais que estiveram no Recife, como Clara Weiss, Procópio Ferreira, Jayme Costa, Alda Garrido e Dulcina de Moraes, e técnicos daquele período, além de uma descrição pormenorizada do repertório e ficha apresentados por companhias locais e visitantes na década de 1930.

O teatro no interior

Severino Florêncio, Moisés Gonçalves, Josinaldo Venâncio e Maylson Ricardo, atuam na equipe de Cultura do SESC Caruaru e conhecem muito bem os meandros desse grupo, fundado em 1980, pelo ator, diretor e professor teatral Severino Florêncio, com o espetáculo de criação coletiva Fuga de Lampião.

O coletivo se tornou uma escola de formação de artistas e técnicos importante cena teatral em Caruaru e na região. O livro traça um paralelo entre o grupo e o Teatro caruaruense; aponta as montagens exibidas nos dois teatros da cidade (o Rui Limeira Rosal, do SESC, e o João Lyra Filho, da municipalidade); traz as participações em festivais pelo Brasil e reconhecimentos de premiação.

O livro Grupo de Teatro do SESC Caruaru – Fazendo e Aprendendo tem prefácio de José Manoel Sobrinho, diretor teatral e gestor cultural com experiências no SESC e em órgãos públicos da Cultura, que atesta que os autores “amplificam as experiências e vivências da trupe, disseminam parte relevante dos saberes construídos e dão amplitude para as novas gerações entenderem a força e o papel significativo que o teatro teve e tem para uma cidade da dimensão de Caruaru”. O design também é de Claudio Lira,

Cada livro custa R$ 40 (quarenta reais). A coordenação editorial do SESC Pernambuco é do Gerente de Cultural da instituição, Rudimar Constâncio. O selo á publicou 34 livros.
O SESC Santo Amaro fica na Rua Treze de Maio, 455, Santo Amaro.

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Funcultura ignora pandemia soterrado em burocracias*

Inscrição para edital foi feita presencialmente na capital ou por Sedex. Foto: PH Reinaux Secult PE

Artista fez protesto com cartazes. Nas redes sociais, muitos se manifestaram

Visualize o cenário: Pernambuco, 2020, pandemia da Covid-19, crise em muitos âmbitos, inclusive na cultura. A continuidade de um edital público para o setor – mesmo que o resultado seja prometido apenas para o mês de dezembro -, além de obrigação do poder público, é bem-vinda. Mas, para concorrer ao Funcultura Geral 2019-2020, Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, produtores culturais precisaram imprimir uma via de seus projetos, encaderná-la, rubricar todas as páginas, salvar duas vias em pen drive ou DVD e enviar por Sedex para a Fundarpe (ou, no caso de produtores da Região Metropolitana do Recife, se deslocar até a Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista).

“Percebemos a dificuldade dos produtores no estado inteiro, mas no interior isso se agrava pelas distâncias. Por aqui, fizemos a conta: um produtor gasta, em média, R$ 100 para conseguir enviar um só projeto. Para algumas pessoas, isso é muito dispendioso. O que ouvimos na reunião da Ripa (Rede Interiorana de Produtores, Técnicos e Artistas de Pernambuco) é que falta empatia por parte da Fundarpe, principalmente neste momento de pandemia”, entende Caroline Arcoverde, atriz e produtora do grupo Teatro de Retalhos, de Arcoverde, cidade do Sertão pernambucano.

“Falta empatia por parte da Fundarpe, principalmente neste momento de pandemia”
Caroline Arcoverde, atriz e produtora do Teatro de Retalhos e integrante da Ripa (Rede Interiorana de Produtores, Técnicos e Artistas de Pernambuco)

“Este ano, em especial, o Funcultura foi extremamente burocrático. Gastamos algo em torno de R$ 100, R$ 120 para cada projeto, sendo que estamos numa pandemia. Os artistas não têm esse dinheiro para investir. Já vi isso aqui na realidade da cidade – muitos dos produtores não enviaram projeto este ano porque não tiveram condições, não tinham dinheiro para fazer um projeto”, reforça André Vitor Brandão, produtor e bailarino de Petrolina, também no Sertão.

No estado que se orgulha de ter um dos maiores parques tecnológicos do país, os artistas e produtores de cultura precisam lidar com um formulário burocrático e as implicações financeiras da inscrição no edital, quando tudo poderia ser feito pela internet, como um cadastro. “Este é um momento em que todo mundo está sem perspectivas e a gente está precisando do que é direito nosso; esse edital é uma conquista, dinheiro público que precisa ser empregado na cultura, especialmente agora, com tanta gente desempregada, tantos espaços em vias de fechar”, pontua Daniela Travassos, atriz e produtora da Companhia Fiandeiros de Teatro, do Recife.

“Esse edital é uma conquista, dinheiro público que precisa ser empregado na cultura, especialmente agora, com tanta gente desempregada, tantos espaços em vias de fechar”
Daniela Travassos, atriz e produtora da Companhia Fiandeiros de Teatro

O edital publicado no fim de 2019, antes da pandemia, não foi alterado. Mas, diante da situação de crise e de isolamento social, as imposições burocráticas se tornaram insustentáveis e geraram muitos posts de protestos nas redes sociais, de artistas de várias linguagens.

“Há uns dois anos, tínhamos decidido dar um tempo na concorrência ao Funcultura, porque tem sido muito sofrido lidar com tamanhas exigências e limitar as ideias a tantas questões que não tem nada a ver com mérito artístico. E isso se agrava agora. Então, por exemplo, tentaram diminuir o papel, mas aumentaram outras exigências, como o pen drive ou DVD e o tamanho do arquivo. Mesmo que eu entregue um pen drive com um tamanho enorme, meu projeto cada currículo do meu projeto é limitado a ter 2MB e, se ultrapassar isso, simplesmente o projeto é eliminado”, explica a produtora da Fiandeiros.

Para quem nunca precisou preencher um formulário do Funcultura, as reclamações dos artistas podem parecer até prosaicas. Mas a burocracia do edital é uma questão real, que se arrasta há anos, sem avanços, ignorando a realidade para além dos muros da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco). “A gente perde um tempo absurdo formatando formulário, tipo de letra, parágrafo, alinhamento, inserção de linhas, tamanho de arquivo. Mas, para mim, o mais grave neste quesito é querer que a gente faça uma planilha de orçamento em Word. Deveria ser, no mínimo, em Excel. Isso facilitaria os cálculos, a incidência dos impostos. Se a gente modifica o valor de uma pequena rubrica, isso interfere no valor total. Então, você tem que ficar o tempo inteiro monitorando esses valores, porque o Word não é uma ferramenta de cálculo”, explica André Filho, diretor e produtor da Fiandeiros.

Leidson Ferraz, jornalista, ator e pesquisador de teatro, fez um protesto presencial, no momento da entrega do formulário na Fundarpe, com cartazes que carregavam dizeres como “Evolua, Funcultura! Cadê a prometida informatização?” ou “BuRRocracia excessiva! Exclusão de muitos”. “Um edital cultural tem que ser o mais simples, o mais fácil possível, para abarcar democraticamente todo mundo. Como imaginar artistas populares, do circo, de tantas manifestações, sendo obrigados a lidar com essa burocracia toda? Isso impõe que as pessoas tenham que contratar produtores que vão ganhar uma parcela do valor, já tão defasado. São imposições injustificáveis, que só fazem excluir uma grande maioria. O que deveria estar sendo julgado era o valor artístico de cada proposta”, avalia Ferraz.

“Um edital cultural tem que ser o mais simples, o mais fácil possível, para abarcar democraticamente todo mundo”
Leidson Ferraz, jornalista, ator e pesquisador de teatro

Os valores do Funcultura também são questionados pelo artista. “O primeiro projeto que eu aprovei, em 2004, na área de publicações em teatro, tinha uma rubrica de R$ 50 mil. Hoje, o valor disponibilizado é R$ 40 mil. Desisti de colocar um projeto em livro, porque com esse valor é impossível fazer uma publicação com a qualidade que eu sempre fiz. O orçamento mais barato que encontrei, com uma gráfica boa, foi R$ 31 mil. Como vou pagar os outros profissionais envolvidos na produção de um livro?”, questiona.

Novo mundo caótico, velho formulário de papel

Como ignorar a realidade de pandemia que se instalou no país a partir de março? Em meio a tudo que tem acontecido no Brasil, os produtores que propuseram projetos de criação, circulação, festivais, mostras, precisaram pedir carta de anuência aos teatros e espaços culturais – ainda que eles estivessem (estejam) fechados. Como pensar a circulação internacional de um espetáculo quando muitos teatros no mundo não estão funcionando e fronteiras de vários países estão fechadas para os brasileiros?

As inscrições para o Funcultura Geral estavam previstas para acontecer de 14 a 30 de abril. Por conta da Covid-19, o prazo foi prorrogado – ficou valendo o período de 20 de julho a 3 de agosto. O edital, no entanto, não abarcou mudanças, mesmo que artistas de linguagens diversas, através das suas comissões setoriais (que formam o Conselho Estadual de Política Cultural) tenham proposto sugestões.

Paula de Renor diz que era preciso vontade política para mudar edital

No dia 8 de junho, a Comissão Setorial de Teatro reuniu cerca de 70 artistas para uma reunião virtual que durou quase quatro horas. A proposta é que o edital focasse em projetos menores. As verbas destinadas à itinerância nacional e internacional de espetáculos seriam remanejadas para outras ações. A rubrica de manutenção de espetáculos, por exemplo, subiria de R$ 60 para R$ 100 mil e a de programação de espaços de R$ 90 para R$ 180 mil, sendo que, nessa última, seriam contemplados até quatro projetos no valor máximo de R$ 45 mil.

O edital não teria exigências como carta de intenção ou anuência para atividades em equipamentos públicos e atividades formativas poderiam ser propostas em formato virtual. “A pandemia aconteceu, não podemos ter um olhar de normalidade para as coisas. Não dá para prever ações como se nada tivesse acontecido”, opina Paula de Renor, atriz, produtora e representante de Teatro e Ópera na Conselho Estadual de Política Cultural.

“A pandemia aconteceu, não podemos ter um olhar de normalidade para as coisas. Não dá para prever ações como se nada tivesse acontecido”,
Paula de Renor, atriz, produtora e representante de Teatro e Ópera na Conselho Estadual de Cultura

A burocracia, no entanto, impediu que o edital fosse alterado. “Para que isso acontecesse, era preciso vontade política, agilidade jurídica, para que encontrássemos uma adequação. Porque o problema é que o governador precisaria cancelar esse editar e fazer um decreto normatizando o outro. E não tínhamos certeza dessa agilidade, não houve empenho para encontrar uma solução jurídica”, explica Paula de Renor.

Na prática, o que pode acontecer é que as execuções dos projetos tenham que ser postergadas, como uma itinerância de espetáculo, por exemplo. O edital já prevê esse adiamento. “O que a gente queria era que esse dinheiro entrasse logo na cadeia da economia criativa, que ajudasse o maior número de artistas e impulsionasse a produção no estado”, finaliza a conselheira.

Promessa de informatização

De acordo com Aline Oliveira, superintendente do Funcultura, o próximo edital, que deve ser lançado em dezembro, deve contar com inscrições pela internet. “Conforme já foi anunciado no Conselho Estadual de Política Cultural, a gestão assumiu um compromisso de implementar as inscrições virtuais até o exercício de 2021 e fará todo o esforço possível para antecipar as inscrições virtuais já para os novos editais do Funcultura”, explica.

A superintendente admite que “estamos atrasados nesse processo”. “Mesmo com um sistema pronto, seria necessária uma estrutura de equipe e de tecnologias que infelizmente o Funcultura não teria condições de manter no momento. Desde 2019, a atual gestão da Fundarpe e do Funcultura têm estudado as ferramentas disponíveis no mercado para resolução do problema. Antes de decretar-se o estado de emergência em Pernambuco, em função da Pandemia da Covid-19, estavam sendo realizadas tratativas para contratação de serviços com o objetivo de modernizar o Funcultura. Entretanto, os decretos de contingenciamento e a próprio isolamento social dificultaram o avanço dos debates”, complementa.

ERRATA*
Matéria atualizada no dia 31 de agosto, às 11h24. Na fala de Daniela Travassos, onde constava “Mesmo que eu entregue um pen drive com um tamanho enorme, meu projeto é limitado a ter 2MB (…)”, a sentença correta é “Mesmo que eu entregue um pen drive com um tamanho enorme, cada currículo do meu projeto é limitado a ter 2MB (…)”. Pelo erro, o Satisfeita, Yolanda? pede desculpas aos leitores.

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Memorialista do teatro pernambucano

Leidson estuda teatro infantil em Pernambuco desde 1998. Foto: Ivana Moura

O marco zero na história do teatro para crianças no Recife foi a estreia da peça Branca de Neve e os 7 anões, a primeira que levou crianças para a cena, em 1939, no Teatro de Santa Isabel. Era um projeto do teatrólogo Valdemar de Oliveira, que superou todas as expectativas. Essa é uma das conclusões do pesquisador e jornalista Leidson Ferraz, depois de anos de investigação que rendeu o livro Teatro para crianças no Recife – 60 anos de história no século XX (vol. 1). A pesquisa já havia sido lançada em formato DVD, em 2013.

Nesse volume, ele passeia pela historiografia do teatro pernambucano de 1939 até a década de 1970 e junta raros registros fotográficos de peças, programas, anúncios publicitários, críticas publicadas em jornais e relatos sobre a produção infanto-juvenil do período.

O livro estará à venda no Sindicato dos Artistas de Pernambuco e na Federação de Teatro de Pernambuco, ambos sediados na Casa da Cultura.

Nessa segunda-feira, durante o lançamento do livro o autor fez uma breve explanação sobre o objeto do seu estudo e exibiu imagens históricas guardadas na publicação.

Nesta entrevista ele fala sobre o processo de trabalho, da paixão pela pesquisa em teatro,  do  projeto Teatro Tem Programa!, que vai compartilhar pelo site da Fundaj (Fundação Joaquim Nabuco), de polêmicas e da vida que segue.

Entrevista: Leidson Ferraz

Leidson Ferraz, pesquisador e jornalista. Foto: Ivana Moura

Leidson Ferraz, pesquisador e jornalista. Foto: Ivana Moura

Você é uma das poucas pessoas nesta cidade do Recife que talvez vá mais ao teatro do que eu. Talvez. Tenho a vantagem de viajar com frequência para festivais e isso aumenta minha performance. Então, quantos espetáculos você assiste por semana, mês, por ano? E de onde vem esse amor pelo teatro?
(Risadas). Ivana, eu não contabilizo quantos espetáculos vejo. Mas procuro assistir tudo o que está em cartaz. Acho que é a forma de me manter atualizado sobre nossa produção teatral brasileira. Gostaria de poder viajar mais para assistir espetáculos em outros lugares (faço isso minimamente, infelizmente, muito mais ao interior de Pernambuco), mas não tenho nem tempo nem dinheiro para tanto. Quanto ao amor ao teatro, é parte do que me faz viver. Já pensei em me afastar deste universo por algumas decepções, mas não consigo. Está dentro de mim. É como o ar que respiro. O teatro está nos meus poros.

Sua carreira como ator começou na infância, em Petrolina, Sertão de Pernambuco. Como foi essa trajetória?
No Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina, eu já interpretava esquetes a cada final de ano, numa Feira de Ciências que programavam. Mas o primeiro espetáculo teatral que vi de verdade foi a Paixão de Cristo da Nova Jerusalém, aos oito anos de idade. Aos nove, já me arvorei a escrever e dirigir A Paixão de Cristo com 50 amigos da rua que eu morava. E eu ainda interpretava Judas, Pilatos e o Demônio. Ou seja, fui sempre ousado! Depois, fui dançar Menudo – num grupo cover – e passei a ser um “artista profissional” (kkkk), pois ganhávamos bem fazendo festinhas de aniversário e outros eventos. Só me aproximei do teatro, de verdade, quando vim morar no Recife em 1988. Comecei indo ver tudo o que eu podia e a fazer cursos com Ida Korossy, no Colégio Decisão; Valdi Coutinho, no Arteviva, e Elmar Castelo Branco, no TUCAP. Daí, fui me profissionalizando aos poucos, em cursos, oficinas, palestras, seminários, vendo muitos espetáculos e atuando e dirigindo num grupo que criamos na Unicap (o Grupo Pedaços, com o qual fiz uma versão do musical Hair, entre outros trabalhos)… Tirei meu DRT como ator profissional em 1993.

Quais as montagens que você participou como ator, diretor ou outra função?
Estreei profissionalmente com Memórias da Emília, em 1995, com adaptação e direção de Luiz Felipe Botelho e produção de Pedro Portugal. Fiz teste para entrar no elenco. Em seguida, fui convidado para Auto da Compadecida, da Dramart Produções, com direção de Marco Camarotti, onde atuei durante 17 anos. Na sequência, trabalhei com José Manoel Sobrinho, Érico José, Vital Santos, Max Almeida, Claudio Lira, José Pimentel, Samuel Santos, participando também de várias leituras dramatizadas com outros diretores e ainda dirigindo alguns espetáculos, especialmente no SESC. No ano 2000, escrevi e dirigi, junto a Claudio Lira, o musical Alheio, um sonho que acalentei durante sete anos (após a experiência de estudar canto no Conservatório Pernambucano de Música durante um tempo) e que me deu enorme trabalho, pois era uma produção grandiosa. Inaugurei um teatro próprio no Cais José Mariano e fomos até para São Paulo, mas só pude manter a peça por três meses de vida. Era caríssima com elenco enorme de atores e cantores, além de toda a infraestrutura de som, luz, arquibancadas, microfonação, etc… Meu último trabalho como ator (e não pretendo voltar a atuar, pelo menos neste momento) foi Olivier e Lili: Uma História de Amor em 900 Frases, com direção de Rodrigo Dourado, pelo Teatro de Fronteira, que sobreviveu nos anos 2012 e 2013. Ou seja, há mais de três anos não volto aos palcos. Já enquanto assessor de comunicação de muitos espetáculos, perdi as contas de quantos fiz. Atualmente ando afastado por conta do Mestrado em História na UFPE.

Você vem sendo considerado um memorialista do teatro Pernambucano com registro, análise e disseminação do passado do teatro feito no estado. Você é realmente um empreendedor, um homem de muita força e fôlego. Como e quando surgiu essa preocupação com o registro, com a documentação sobre o teatro pernambucano?
Quando fui convidado a assumir a assessoria de comunicação do Projeto Memórias da Cena Pernambucana – O Teatro de Grupo, em 1998, por José Manoel Sobrinho, meu maior incentivador em tudo. Era uma ação da Feteape e me envolvi totalmente com ela. Foi ali, entrevistando artistas que estavam afastados da cena, mas com longa trajetória no teatro, que me atentei para a história do teatro pernambucano e a necessidade de mais registros sobre este tema.

Mas vamos destrinchar isso.
Você é um assessor de imprensa muito peculiar, que exerce muito bem essa função em diversos festivais, peças e ações voltadas às artes cênicas. Você veste a camisa mesmo, como integrante da produção. Essa é a melhor postura na sua opinião?
Não sei fazer de outra forma. Talvez por amar tanto o teatro e a dança, acabo me envolvendo mais do que devia. Às vezes tenho raiva desta minha postura, pois muitas vezes me deixo confundir nas funções. No entanto, acho que todo assessor de comunicação precisa abraçar sua causa. Ficar em casa só mandando e-mails, não dá! Acho terrível quem faz assim. É preciso conhecer a sua fonte de informação por completo.

Montagem de 1976 de Maria Minhoca. Foto: Divulgação

Montagem de 1976 de Maria Minhoca. Foto: Divulgação

Gostaria que você falasse sobre trabalho desenvolvido com as pesquisas sobre a produção teatral pernambucana.
A série de livros Memórias da cena pernambucana resgatou em quatro volumes a trajetória de quase 40 grupos de teatro de Pernambuco, desde a década de 1940. Gostaria de levantar três questões sobre isso.
A primeira: Com encontros/palestras/debates gravados a partir da memória de integrantes de grupos (e a memória é falha) você multiplicou em vários livros. Você se considera um estrategista ou um ótimo marqueteiro? Ou ambos?
É preciso lembrar que, quando eu, Rodrigo Dourado e Wellington Júnior lançamos o Volume 01 do Memórias da Cena Pernambucana, pouco se falava sobre a história do teatro pernambucano naquele momento. O projeto, inclusive, nasceu por conta disso. Ainda tínhamos reduzidas publicações nesta área e acho que, modéstia à parte, o Memórias abriu o caminho para isso. Tanto que ninguém lembrava do Grupo de Teatro Vivencial! A nossa capa, com Ivonete Melo maravilhosa em Repúblicas Independentes, Darling!, foi estratégica para isso. E o livro circulou pelo Brasil inteiro, pois fiz vários lançamentos e o distribui, gratuitamente, a universidades, centros de pesquisas, sedes de grupos teatros e centros de memória, além das unidades do SESC, pelo Brasil inteiro. Esse era o nosso objetivo. Quanto ao lance da memória, ela é falha, mas, especialmente a partir do Volume 02 (quando fiquei sozinho na empreitada), me arvorei a pesquisar minuciosamente cada depoimento e, confrontando com os dados que consegui na imprensa e em acervos particulares, procurar cada depoente para retrabalhar o depoimento dado (algo que já foi feito no Volume 01, mas timidamente). Para qualquer historiador isso é um crime, mas não tinha formação em história e tentei, ao máximo, chegar próximo do que havia de fato acontecido. Hoje sei que nada se dá bem assim. Mas foi uma tentativa, e acho que o material se aproxima bastante dos fatos e acontecimentos, para além dos aspectos metodológicos empregados para isso.

A segunda: A narrativa construída sobre esses grupos não recebeu confrontamentos de dados, mas reproduz relatos dos atores daquelas companhias. Atualmente, com o mestrando em História, que caminhos diferentes você adotaria para publicar esses trabalhos.
O confrontamento existiu com o material impresso que eu encontrava – e muitas pesquisas em acervos foram feitas, infelizmente sem espaço no livro para registrá-las como fontes pesquisadas – e também no diálogo com outras pessoas que não estavam nos debates. Muito depoimento foi mudado, Ivana. E felizmente as pessoas concordavam com seus esquecimentos ou equívocos a partir do que eu lhes apresentava. Isso foi legal, pois todos autorizaram as mudanças. No entanto, hoje, percebendo quais os interesses e procedimentos da historiografia, será que eu registraria os depoimentos na íntegra e colocaria milhares de notas de rodapé para corrigir ou esclarecer cada trecho? Alguém aguentaria ler isso? Não! Portanto, excesso de academicismo não é a minha praia. Sou um questionador de tudo isso e precisaria pensar melhor como eu faria. O importante é perceber que o depoimento oral é sempre melindroso para se lidar, ainda mais no calor de um encontro público. No entanto, é uma alternativa como registro da(s) história(s).

Terceira: Você acha que falta interesse, coragem, disposição, de outras pessoas para mergulhar nesse universo da pesquisa sobre o tetro pernambucano, já que temos poucas referencias ainda?
Sim. Há pouca gente interessada nisso. No entanto, acredito que a UFPE e o SESC têm cumprido um papel de disseminar este desejo de lidar com nossa história teatral. Atualmente tenho dois alunos do Curso de Interpretação para Teatro do SESC Piedade (onde dou aulas de história do teatro pernambucano), Amanda Spacca e Anderson Cleber, que estão trabalhando como estagiários comigo. Penso que podem se tornar ótimos pesquisadores. E de vez em quando recebo pedidos de material de alunos da UFPE. Acredito que devem surgir mais pesquisadores vindo destes lugares, em breve.

Qual a contribuição do jornalismo para as artes cênicas hoje?
Fundamental. Não só em termos de divulgação para o que está em cartaz (e ainda contamos com isso para que saibam que nós existimos!), mas como fonte primordial para a historiografia teatral. Ainda que encontremos equívocos tremendos na escrita de vários jornalistas, continua a ser um guia imprescindível para este trabalho.

Você ainda se considera um ator, diretor atuante e como funciona isso com a sua função de crítico?
Não sou crítico, Ivana. Gosto de escrever quando um espetáculo me instiga a isso. Sou jornalista e pesquisador do teatro, apaixonado pela arte que acompanho fervorosamente. Quanto a atuar e dirigir, quero mais não! Tô bem no meu lugar.

E atualmente como encara a faceta de pesquisador?
É o que me dá mais prazer. Se pagasse todas as minhas contas, só faria isso na vida. Adoro mergulhar no passado e confrontá-lo com o momento que vivo. Acho que me sinto pleno nesta função.

Branca de Neve e os Sete Anoes. Foto: acervo projeto Memórias da Cena Pernambucana

Branca de Neve e os Sete Anões. Foto: acervo projeto Memórias da Cena Pernambucana


Uma aulinha para os leitores: Quando você identifica o nascimento do teatro em Pernambuco?
Desde quando os jesuítas chegaram no Brasil. É uma longa trajetória que remonta àqueles tempos, tanto que a primeira peça de autor verdadeiramente brasileiro foi encenada no Recife, Amor Mal Correspondido, de Luiz Álvares Pinto, em 1780, no primeiro teatro do Recife, a Casa da Ópera (segundo informação dos pesquisadores Padre Jaime C. Diniz e Valdemar de Oliveira). E o teatro, com o passar dos séculos, sempre resistiu entre momentos de maior ou menor qualidade.

É possível fazer um rápido trajeto, até hoje? Apogeu e declínio. O Recife por exemplo já foi considerado o terceiro polo produtor das artes cênicas do país.
Essa questão de terceiro pólo foi também uma grande estratégia de marketing dos divulgadores dos espetáculos (já nos anos 1930 encontro tal referência e o produtor Bóris Trindade, por exemplo, usou isso com muita maestria nos anos 1980, disseminando esta frase entre colunistas que reproduziram tal ideia sem nem saber do que se tratava na realidade). Entretanto, é notório que até os anos 1930, Recife ainda era um pólo importante para o “Norte” do país (aqui compreendendo o Norte-Nordeste, segundo terminologia da época). Mas não podemos esquecer Manaus e Belém, que também eram palcos significativos, estratégicos pelos portos e a chegada de companhias internacionais ou vindas do Rio de Janeiro, a então capital da República. Bom, como qualquer lugar do mundo, Pernambuco continua a produzir bom e mau teatro e isso tem a ver com muitos aspectos, diálogos de maior ou menor criatividade por parte dos fazedores de arte e a relação conflituosa ou não com a política, a economia da época, a sociedade que consome cultura, os intercâmbios travados com produções de outros lugares, a cultura como um todo. Ninguém hoje vai dizer que Recife é a terceira cidade mais importante do nosso fazer teatral no Brasil, mas, sem dúvida, continua a ser uma das mais significativas, tanto que todos querem vir para cá.

O teatro pernambucano vai bem, obrigado?
Vai como sempre, com altos e baixos. Quando a gente lida com o passado, passa a compreender melhor que a vida é cíclica.
Sua pesquisa voltada para seis décadas de teatro para criança em Pernambuco cataloga essa produção. Como é isso enquanto método? E como você conceituaria essa pesquisa?
A minha pesquisa é um mapeamento historiográfico. Para além da dramaturgia, como normalmente é feito, tento abarcar as realizações como um todo. Me interessa o universo teatral em sua maior amplitude, por isso tantos assuntos permeiam toda esta trajetória, inclusive na relação da criança com o cinema, o rádio e a TV, as outras diversões, a produção de espetáculos, festivais, polêmicas da classe artística junto ao poder público, personalidades mais influentes, as realizações à margem dos palcos oficiais, etc. É um passeio pelo tempo, encarando-o como fragmentário, incompleto, plural. Cito David Lowenthal no começo, mas não parti de nenhum outro historiador conceitualmente. Este trabalho antecede minha ida ao Mestrado na UFPE e traz ainda um caráter bem cronológico e factual, o que não o desmerece. Apenas não traz a problematização conceitual tão perseguida pelo meio acadêmico.

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Leidson, você é uma das figuras no teatro que mais teve projetos aprovados e realizados no Funcultura. Seria possível desenvolver esses projetos sem o Funcultura? O que você pensa da concentração de projetos aprovados para algumas pessoas/empresas em todas as áreas? Que mudanças você proporia ao Funcultura?
Impossível fazer o que faço sem o FUNCULTURA. E agradeço demais a todas as comissões deliberativas que entenderem isso. Se sou um dos mais contemplados no edital, acredito que não. A questão é que meus projetos sempre ganharam visibilidade, talvez pelo cuidado com que eu os faço, talvez pela relação próxima que mantenho com a impressa. Mas já tive muitos nãos no FUNCULTURA também. Nem sempre ganho, e é preciso ressaltar isso. Quanto à concentração de pessoas/empresas, claro que sou contra. Ganhei, certa vez, três projetos de uma vez e quase enlouqueci. Não recomendo isso a ninguém. E acho que os que fazem o FUNCULTURA precisam conhecer muito bem o mercado cultural para saber se vai haver concentração ou não. É injusto quando temos tão pouca verba para tamanha produção no estado. Sobre as mudanças, tenho muitas propostas, mas a principal é alterar a lei original para que possamos ter não só apenas um aprovado por linha. Isso tem emperrado bastante.

Quais os próximos passos?
Estou finalizando o projeto Teatro Tem Programa!, com mais de 700 programas de espetáculos teatrais do Recife e Olinda no século XX catalogados. A ideia é compartilhar tudo pelo site da Fundaj (Fundação Joaquim Nabuco), minha parceria nesta iniciativa. No mais, continuo no Mestrado em História na UFPE estudando O Teatro no Recife da Década de 1930 – Outros Significados à Sua História, outro tema que adoro.

Você é um homem muito bem relacionado, querido entre a classe. Gosta inclusive de dizer que consegue transitar pelos mais diversos núcleos do teatro em Pernambuco. Você já disse, com esse humor que lhe é peculiar que você é bem alto, seu abraço é grande. “Cabem todos junto a mim”. Mas também tem seus desafetos. Como você lida com isso?
Não que eu tenha muitos desafetos, mas não gosto de cultivar inimizades. Sofro com isso. Procuro, então, deixá-los distantes de mim. São poucos, felizmente. Prefiro pensar nos tantos amigos e colegas que fiz em toda a minha trajetória.

Em pelo menos dois episódios nós dois nos desconhecemos. O primeiro foi a publicação de uma carta à redação no Diario de Pernambuco em que dois gestores eram criticados.
A segunda foi uma crítica que escrevi para o Yolanda sobre o espetáculo Olivier e Lili: Uma história de amor em 900 frases [com o grupo Teatro de Fronteira, direção de Rodrigo Dourado], que causou polêmica e rupturas, mas nunca se botou os pratos na mesa para se falar disso.
Gostaria de falar sobre isso. O que ficou no seu coração desses dois episódios?

Sou leonino, Ivana, portanto, nunca esqueço por completo, confesso. Mas procuro seguir a vida. O alto-astral, para mim, é fundamental. E tento disseminar isso nas minhas convivências. Raramente vais me ver de cara feia. Não sou desse tipo.

Você já disse que encerrou minha vivência como intérprete em 2013, com a peça Olivier e Lili. Por quê?
Não tenho mais tempo para ensaiar, nem paciência nem tesão. E acredito que quando alguém quer ser ator, é preciso muita dedicação, entrega, sofrimento… Não estou mais disposto a tanto.

Bem, para encerrar, você soltou uma informação que está no seu livro: “Eu falo de um escândalo da gestão petista, quando João Paulo liberou R$ 150 mil para um espetáculo infantil, enquanto as artes cênicas locais minguavam patrocínio”. Você acha que é realmente um escândalo? Onde está o escândalo? Criticar e polemizar sobre essa questão agora, em plena campanha, não borra a imagem de um candidato? Que me parece que teve um tratamento mais cuidadoso com a cultura? Por exemplo, o que é essa gestão atual da prefeitura para a cultura? O consenso na área de teatro é que é desastrosa.
Escândalo foi na época, tanto que saíram matérias enormes nos jornais e era o que mais se falava nos teatros e, minimamente, na política. Afetou a todos que fazem teatro, dança e circo, porque, naquele momento, reclamávamos uma verba minguada pelo Prêmio de Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife. No entanto, nada mudou. Só ganhei mais desafetos e alguns créditos, por parte de alguns, por ter tido a coragem de denunciar algo que todos queriam falar, mas não o faziam. No entanto, essa minha fase de “Dom Quixote” passou. Já reclamei tanto do poder público, que cansei. Mas essa questão não veio agora, Ivana, está como um dos fatos do ano 2008 no meu livro Panorama do Teatro Para Crianças em Pernambuco (2000-2010)”. Não estou fazendo denúncia alguma neste momento de campanha, porque ela nem me interessa. Não sou partidário de nenhum candidato, e acho que todos são desastrosos ao segmento cultural, uns mais outros menos. Como desacredito cada vez mais dessa política que aí está, nenhum tem o meu voto. E minha vida segue sem eles.

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Memória da teatro infantil no Recife

 

Pesquisador e jornalista Leidson lança livro sobre produção para crianças em Pernambuco. Foto: Roberto MoreiraDias

Pesquisador Leidson Ferraz lança livro sobre produção para crianças na cidade. Foto: Roberto Moreira Dias

O jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz vem cavoucando a memória das artes cênicas pernambucana há mais de uma década. Nesta segunda-feira, (dia 29 de agosto de 2016), às 19h30, no Teatro Marco Camarotti, lança o livro Teatro Para Crianças no Recife – 60 Anos de História no Século XX (Volume 01). Nele, o estudioso faz um mapeamento histórico, abarrotado de fotos raras de peças, programas de espetáculos, personalidades ligadas ao universo cênico e anúncios publicitários.

A publicação também inclui trechos de críticas e artigos jornalísticos das produções para o público infantil no Recife. O registro aponta que a primeira montagem feita por e para crianças ocorreu em 1939, pelo Grêmio Cênico Espinheirense, que estreou em 5 de março daquele ano a temporada de Branca de Neve e os 7 Anões, no Teatro de Santa Isabel. O projeto foi idealizado pelo teatrólogo Valdemar de Oliveira.

A produção infanto-juvenil dos anos 1940, 1950, 1960 até final dos anos 1970, é visitada como um painel deste segmento tanto na produção amadora quanto profissional. O autor destaca os repertórios, festivais, artistas, técnicos e projetos dirigidos à infância e juventude no Recife. Mas não faltam as polêmicas.

Branca de Neve e os Sete Anões. Foto: Acervo projeto memorias da cena pernambucana

Branca de Neve e os Sete Anões. Foto: Acervo projeto Memórias da Cena Pernambucana

A edição tem 216 páginas e conta com design bem colorido de Claudio Lira e orelha assinada pelo dramaturgo e diretor Luiz Felipe Botelho. Foi numa montagem de Botelho, Memórias da Emília, de 1995, adaptada da obra de Monteiro Lobato, que Leidson ingressou no palco como ator profissional.

A impressão do livro é da Gráfica Santa Marta e a obra recebe o incentivo do Funcultura e a parceria cultural do SESC Pernambuco. A publicação custa R$ 25 e foi lançada originalmente em DVD em 2013. Parte dos exemplares já foi doado a bibliotecas como da UFPE, SESCs, Central do Estado e Arquivo Público Estadual, além de instituições de pesquisa e sedes de companhias teatrais.

O Volume 02 já está preparado, mas ainda falta incentivo para poder ser publicado.

Leidson Ferraz é organizador da coleção Memórias da Cena Pernambucana, em quatro volumes, e do livro Panorama do Teatro Para Crianças em Pernambuco (2000-2010), além da pesquisa Um Teatro Quase Esquecido – Painel das Décadas de 1930 e 1940 no Recife. Atualmente prepara o projeto de salvaguarda de programas teatrais, Teatro Tem Programa!, com mais de 750 deles já catalogados.

SERVIÇO
Lançamento do livro Teatro Para Crianças no Recife – 60 Anos de História no Século XX (Volume 01)
Quando: Nesta segunda-feira, dia 29 de agosto, às 19h30, dentro da VI Mostra Marco Camarotti de Teatro Para a Infância e Juventude
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua 13 de Maio, 455, Santo Amaro. Fone: 3216 1728),
Quanto: R$ 25, o exemplar

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Das rendas da amizade e do amor

Atrizes Zuleika Ferreira e Celia Regina no espetáculo Sebastiana e Severina. Fotos: Pedro Portugal

Atrizes Zuleika Ferreira e Celia Regina no espetáculo Sebastiana e Severina. Fotos: Pedro Portugal

Duas amigas rendeiras, moradoras do interior da Paraíba sonham com um príncipe encantado. É tempo de festa para o padroeiro de Umbuzeiro, São Sebastião, quando aparece um forasteiro na cidade. O problema é que ambas ficam interessadas no mesmo homem e com isso a amizade delas fica balançada. E elas passaram a disputar a atenção do bandoleiro de todas as formas. Desde cantar, fazer rendas e até conclamar os poderes mágico de Dona Zefinha, a feiticeira da cidade. A versão pernambucana da peça Sebastiana e Severina, assinada por Claudio Lira, fica em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho aos sábados e domingos, às 16h, a partir deste final de semana.

“Fiquei encantado pela obra por me proporcionar uma volta ao interior. Lembrei muito da minha meninice, das festas de reis de São José do Egito, cidade dos meus pais onde vivi grande parte da minha infância”, relembra o encenador Claudio Lira, natural de Petrolina, no Sertão.

Esse drama amoroso é recheado de saudade de um Brasil mais profundo. O espetáculo Sebastiana e Severina é inspirado no livro do escritor e ilustrador pernambucano André Neves, publicado em 2002, pela editora DCL. O autor passava as férias escolares na cidade de Umbuzeiro, na casa de sua avó, quando era criança. Essas lembranças das festas do padroeiro serviram de inspiração para a história.

“O mais interessante do texto de André Neves foi vê-lo tratar o homem do interior não só no âmbito da seca, do sofrimento, mas também pelo lúdico, abordando, inclusive, suas alegrias”, diz Claudio Lira.

Em cena, os atores-músicos Célia Regina, Demétrio Rangel, Luiz Manuel e Zuleika Ferreira cantam e tocam instrumentos e expõem o processo da criação, pois eles interpretam uma trupe que chega para contar a história das solteironas. Uma espécie de oratório guarda e revela os elementos da encenação.

A montagem busca destacar o que o “interior” tem de belo. E para isso incorpora a alegria das manifestações populares, a arte do cavalo-marinho e do mamulengo e as brincadeiras de rua.

Sebastiana e Severina traz clima de festa de interior

Sebastiana e Severina traz clima de festa de interior

SERVIÇO
Sebastiana e Severina
Quando: sábados e domingos, às 16h, até dia 10 de maio
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife. Fone: 3355 3321)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (crianças até 10 anos, estudantes, professores e maiores de 65 anos).
Realização: Claudio Lira e Teatro Kamikaze

Ficha Técnica
Assistência de direção, trabalho de construção prosódica e direção de produção: Andrêzza Alves
Assistência de Produção: Ivo Barreto
Iluminação: Játhyles Miranda
Direção Musical e Preparação Vocal (canto): Demétrio Rangel
Direção de Arte: Marcondes Lima
Preparação Corporal: Quiercles Santana
Programação Visual: Claudio Lira
Assessoria de Comunicação: Leidson Ferraz
Mestres Artesãos:
Máscara:
Giorgio De Marchi
Calçados: Expedito Seleiro
Malas: Zé das Malas

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