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Protagonismo da reflexão no Palco Giratório

Dinho Lima Flor em Ledores do Breu. Foto: Alécio Cézar/ Divulgação

Dinho Lima Flor em Ledores do Breu. Foto: Alécio Cézar/ Divulgação

O educador Paulo Freire (1921-1997) conecta as dramaturgias de PA(IDEIA) – pedagogia da libertação, do coletivo Grão Comum/ Gota Serena do Recife, e Ledores no Breu, da Cia do Tijolo, de São Paulo. Ambos os espetáculos integram a programação do projeto nacional Palco Giratório, que ocorre desta segunda-feira (24) até sexta (28) no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, no Recife. Além das peças, também estão agendados o Pensamento Giratório (troca de ideias sobre as duas montagens com os grupos), e um Seminário com pautas que versam sobre questões de gênero, sexualidade, dramaturgias, construção de narrativas, arte e ancestralidade.

O Palco Giratório Pernambuco, festival que acontecia geralmente no mês de maio, acabou em 2015 e não se fala mais nisso. Boca de siri. Um grande prejuízo para a recepção e produção artística do estado. Desde então, no Recife, esta é a maior ação do Palco nacional. A iniciativa do Sesc nacional é apontada como o maior projeto de circulação das artes cênicas no país e celebra 20 anos de atividades. E é realmente um fôlego chegar à cidade uma programação nesse formato, que amplifica a articulação do pensamento e a reflexão.

Daniel Barros e Júnior Aguiar atuam em Paideia

Daniel Barros e Júnior Aguiar atuam em Pa(ideia). Foto: Divulgação

Paulo Freire foi aquele filósofo e pedagogo que colocava em prática ideias como “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre” ou “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”. Que falta faz esse homem neste mundo de tanto obscurantismo.

PA(IDEIA) – pedagogia da libertação, a segunda da Trilogia Vermelha, investe cenicamente na prisão de Paulo Freire em 1964, além de falar do Brasil de hoje. A peça ganha ainda mais força com o desmonte de um sistema de educação que ocorre no país. Os atores Daniel Barros e Júnior Aguiar ressaltam essas contradições para provocar um diálogo reflexivo com a plateia.

Com atuação de Dinho Lima Flor e direção de Rodrigo Mercadante, Ledores no Breu costura histórias de leitores que se debatem na lama da compreensão e analfabetos ainda no século XXI. O pensamento e a prática do educador Paulo Freire e as obras do poeta Zé da Luz e do ficcionista Guimarães Rosa são matéria-prima do espetáculo. Ledores no Breu narra episódios como a do homem que matou o seu amor porque não sabia ler uma carta ou de outro que reelabora seu afeto a partir das letras do seu nome.

Em 20 anos do Palco Giratório é a primeira vez que um seminário desse porte entra no projeto. Arte e Ancestralidade – Povos Indígenas é a mesa de abertura. Outras discussões estão focadas em Negros e Quilombolas; Questões de Gênero e Sexualidade -Trans-Posições Artísticas: Diversidade Sexual e Representatividade Política com a mediação de Robéyonce, primeira advogada Trans de Pernambuco; Dramaturgias e a Construção de Narrativas; Gestão Cultural e Curadoria na Experiência do Sesc: Desafios e Oportunidades; Mapeando experiências e articulando sentidos: o trabalho de críticos e curadores dos festivais cênicos; e Acessibilidade, Mediação Cultural e Formação de Público.

Serviço:
Seminário 20 anos do Palco Giratório
Quando:De 24 a 28 de julho
Onde: Teatro Marco Camarotti

Ledores do Breu reflete sobre as repercussões do analfabetismo

Ledores do Breu reflete sobre as repercussões do analfabetismo. Foto: Divulgação

PROGRAMAÇÃO

Espetáculos:
Dia 25 – Espetáculo Pa(IDEIA) – pedagogia da libertação | 20h | R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia entrada)
Dia 26 – Ledores do Breu | 20h | R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia entrada)
Dia 27 – Pensamento Giratório | 20h – Acesso gratuito

Seminário:
Inscrição gratuita:www.sescpe.org.br
24/07
14h | mesa –Arte e Ancestralidade – Povos Indígenas
Zeca Ligiéro, Vânia Fialho, Guila Xucuru e Fred Nascimento (mediação)
19h | mesa –Arte e Ancestralidade – Negros e quilombolas
Fernanda Júlia, Samuel Santos, Lara Rodrigues, Maria Bianca (mediação)

25/07
14h |Questões de Gênero e Sexualidade –Trans-Posições Artísticas: Diversidade Sexual e Representatividade Política
Dodi Leal, Marcondes Lima, Robeyoncé (mediação)

26/07
14h |Dramaturgias e a construção de Narrativas:(Des)territorializando espaços e (Re)inventando dramaturgias
Rodrigo Dourado, Mônica Lira, Eliana Monteiro, Anamaria Sobral (mediação)

27/07
14h| mesa 01 – Gestão Cultural e Curadoria na Experiência do Sesc: Desafios e Oportunidades
Maria Carolina Fescina, André Santana, Rita Marize e Raphael Vianna
16h| mesa– Mapeando experiências e articulando sentidos: o trabalho de críticos e curadores dos festivais cênicos
Michelle Rolim, Fábio Pascoal, Nara Menezes e mediação de Pedro Vilela

28/07
14h |Acessibilidade / Mediação Cultural / Formação de Público
Felipe Arruda, Bernardo Klimsa, Emanuella de Jesus e Andreza Nóbrega (mediação).

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É urgente ouvir Paulo Freire

Daniel Barros e Júnior Aguiar atuam em Paideia

Daniel Barros e Júnior Aguiar atuam em pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação

A pedagogia de Paulo Freire para alfabetizar adultos com consciência foi recebida como uma arma mortífera pela ditadura militar brasileira. Seu método defende que “não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.

E foi com esse intuito que, em 1963, 300 trabalhadores foram alfabetizados em 40 horas, no município de Angicos (RN). Uma ação revolucionária que ficou conhecida como “Método Paulo Freire” e passou a inspirar o pensamento pedagógico em outros países. Mas no Brasil o programa não durou muito. Menos de três meses depois, já sob o regime militar, a iniciativa foi extinta. A proposta foi considerada subversiva pelos militares e Paulo Freire ficou encarcerado no 14º Regimento de Infantaria, no Recife.

Foram 72 dias na prisão. Certa vez, um capitão do presídio lhe fez o pedido de aplicar o método para os recrutas, pois disse que havia muitos analfabetos entre eles. Ao que o educador respondeu que era exatamente por conta do método que estava ali.
paideia22a

pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação trata da prisão do educador no Recife, seu exílio por 16 anos pela América Latina, Europa e África e narra suas experiências na volta ao Brasil. É o segundo espetáculo da Trilogia Vermelha, do Coletivo Grão Comum / produtora Gota Serena. A primeira é h(EU)stória – o tempo em transe, com foco em Glauber Rocha; e a terceira – pro(FÉ)ta – O bispo do povo – vai visitar a trajetória de Dom Helder Camara.

Os atores Daniel Barros e Júnior Aguiar protagonizam esse espetáculo político, que defende a educação como canal de mudança da humanidade. O espetáculo faz uma sessão hoje (22), no Espaço O Poste, às 20h.

A peça parte de uma longa declaração prestada por Paulo Freire em 01/07/1964 e registrada no inquérito. O pedagogo narra sua trajetória acadêmica e, principalmente, sua posição no mundo como ser crítico, reflexivo e atuante. No espetáculo, a plateia integra uma grande sala de aula. A montagem também utiliza áudios de depoimentos como o do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes.

A prática dialética defendida por Paulo Freire nos mais de 40 livros salvou milhões da alienação.
A atual situação da educação brasileira, com os constantes retrocessos promovidos pelo presidente catapultado por um golpe e seus asseclas – como a reforma do ensino médio feita sem consulta à sociedade – mostram a necessidade urgente de ouvir a voz de Paulo Freire. Ele que tanto lutou pelo diálogo, pelo caráter democrático da educação.

Em 2009, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça considerou o educador pernambucano como anistiado político, com pedido de desculpas oficiais pelos erros cometidos pelo Estado contra ele. No ano passado, o governo golpista de Temer tentou manchar o nome do educador com algumas manobras na biografia de Paulo Freire. Ficamos com uma frase do pedagogo: “Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário.”

 Ficha Técnica

pa(IDEIA) – pedagogia da libertação

Atores: Daniel Barros e Júnior Aguiar
Pesquisa, Roteiro, Encenação e Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West. Com participações de Glauco César II, Aline Borba, Otiba, Geraldo Maia, Paulo Marcondes, Rodrigo Samico, Publius, Hugo Linnis e Amarelo
Operação de áudio e luz: Roger Bravo
Identidade Visual do cartaz: Arthur Canavarro
Terapeuta Corporal: Mônica Maria
Maquiadora: Luanna Barbosa
Vídeo: Ricardo Maciel
Teaser: Nilton Cavalcanti
Fotografias:  Rogério Alves, Amanda Pietra e Diego di Niglio
Idealização e Produção Geral: Coletivo Grão Comum e Gota Serena
Parceiros e Colaboradores: Márcio Fecher (Gota Serena), Asaías Lira (Zaza), Ingrid Farias, Alexandra Jarocki, Amanda Cristal, Isabelle Santos, Daniel Fialho, Charles Firmino, Jeferson Silva, Quiercles Santana, Rafael Amâncio, Espaço Cênicas, Centro Apolo-Hermilo, Teatro Arraial Ariano Suassuna, Galeria MauMau – Sala Monstro.

Serviço

PA(IDEIA) – PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO

Quando: 22 de abril (sábado), às 20h
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 9 8484-8421

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Arte ambiciosa de Glauber Rocha

Junior Aguiar e Márcio Fecher em H(Eu)Stória - O Tempo Em Transe

Junior Aguiar e Márcio Fecher em H(Eu)Stória – O Tempo Em Transe

O espetáculo h(EU)stória – o tempo em transe emana de um movimento de intimidade – as cartas entre Glauber Rocha e o intelectual pernambucano Jomard Muniz de Britto – para traçar um perfil do cineasta projetado no mapa do Brasil (e do mundo) de um determinado período. Com atuações dos atores Júnior Aguiar e Márcio Fecher, a encenação investiga as feridas e decepções do mentor do Cinema Novo. A peça não dá conta de todas as complexidades dessa figura patrulhada tanto pela direita como pela esquerda brasileira. A visão apocalíptica de mundo fez Glauber se consumir em seu próprio fogo, como constatou o poeta Ferreira Gullar.

A montagem, do Coletivo Grão Comum em conjunto com a produtora Gota Serena, é a primeira parte da Trilogia Vermelha. As outras duas encenações celebram Paulo Freire (Pa(Ideia) – Pedagogia Da Libertação) e Dom Helder Camara (com estreia prevista para 2018). h(EU)stória – o tempo em transe tem sessão nesta sexta-feira (21) na sede do coletivo O Poste, na Boa Vista. Amanhã, sábado (22), será exibido Pa(Ideia) – Pedagogia Da Libertação.

No fundo a peça fala do Brasil e tem muito a dizer sobre os dias atuais

No fundo a peça fala do Brasil e tem muito a dizer sobre os dias atuais

Os atores recebem o público oferecendo o tchai (bebida indiana) na entrada do local da apresentação. Os incensos e o altar-oferenda salientam o tom apocalíptico e profético do protagonista. Os dois começam a peça vestidos de branco e fazem as oferendas no altar dos santos protetores para contar o percurso revolucionário do menino nascido em 14 de março de 1939, às 3:40, em Vitória da Conquista. E que morreu em 22 de agosto de 1981.

Sabemos que a cabeça de Glauber fervilhava de ideias e seu cinema foi nutrido por discursos políticos incendiários, que suas ações desafiaram o poder estabelecido no Brasil. O artista criticou, em algum momento da vida, tanto a direita quanto a esquerda. Seu pensamento e suas ações eram complexas.

O espetáculo faz opções. E não expõe todas as facetas de Glauber. Algum elogio feito aos militares na época da ditadura não são citados na peça. Creio que mais do que não revelar as incoerências desse que é considerado o gênio do cinema brasileiro, a intenção me parece de amplificar a fragilidade humana em sua intimidade, seus conflitos internos e suas dores de se sentir incompreendido e mal interpretado.

A peça expora os arroubos de Glauber, como por exemplo os insultos proferidos durante o Festival de Veneza contra o o francês Louis Malle, para quem perdeu com A Idade da Terra o Leão de Ouro. Mas a montagem não se preocupa em reproduzir as várias versões da verdade ou do fato jornalístico, com seus “inúmeros” lados. É Glauber e suas motivações, ferido e com a carne exposta que vemos.

A dupla materializa as angústias e desejos do cineasta baiano num espetáculo-manifesto, com alta dose de emoção. Prolixo, até barroco, às vezes exagerado, é uma encenação de uma potência singular para pensar o Brasil de ontem e de hoje.

Ficha Técnica

h(EU)stória – o tempo em transe

Atores: Júnior Aguiar e Márcio Fecher
Pesquisa, Roteiro, Encenação e Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Geraldo Maia
Audiovisual: Gê Carvalho Galego e Márcio  Fecher
Operação de áudio e luz: Felipe Hellslaught
Identidade Visual do cartaz: Arthur Canavarro
Terapeuta Corporal: Mônica Maria
Maquiadora: Luanna Barbosa
Vídeo: Ricardo Maciel
Fotografias: Arthur Canavarro, Filipe Mendes (Bugiu), Igor Souto e Moacir Lago
Idealização e produção geral: Coletivo Grão Comum e Gota Serena
Parceiros e Colaboradores: Daniel Barros, Asaías Lira (Zaza), Ingrid Farias, Quiercles Santana, Samarah Mayra, Marisa Santanafessa, Soraya Silva, Rebeka Barros, Espaço Cênicas, Centro Apolo-Hermilo, Teatro Arraial Ariano Suassuna.

pa(IDEIA) – pedagogia da libertação

Atores: Daniel Barros e Júnior Aguiar
Pesquisa, Roteiro, Encenação e Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West. Com participações de Glauco César II, Aline Borba, Otiba, Geraldo Maia, Paulo Marcondes, Rodrigo Samico, Publius, Hugo Linnis e Amarelo.
Operação de áudio e luz: Roger Bravo
Identidade Visual do cartaz: Arthur Canavarro
Terapeuta Corporal: Mônica Maria
Maquiadora: Luanna Barbosa
Vídeo: Ricardo Maciel
Teaser: Nilton Cavalcanti
Fotografias: Rogério Alves, Amanda Pietra e Diego di Niglio
Idealização e Produção Geral: Coletivo Grão Comum e Gota Serena
Parceiros e Colaboradores: Márcio Fecher (Gota Serena), Asaías Lira (Zaza), Ingrid Farias, Alexandra Jarocki, Amanda Cristal, Isabelle Santos, Daniel Fialho, Charles Firmino, Jeferson Silva, Quiercles Santana, Rafael Amâncio, Espaço Cênicas, Centro Apolo-Hermilo, Teatro Arraial Ariano Suassuna, Galeria MauMau – Sala Monstro.

Serviço:

H(EU)STÓRIA – O TEMPO EM TRANSE
Quando: 21 de abril (sexta), às 20h
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 9 8484-8421

PA(IDEIA) – PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO
Quando: 22 de abril (sábado), às 20h
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 9 8484-8421

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O homem da educação

Daniel Barros e Júnior Aguiar em pa(IDEIA) - Pedagogia Da Libertação. Foto: Trema! Festival

Daniel Barros e Júnior Aguiar em pa(IDEIA) – Pedagogia Da Libertação. Foto: Trema! Festival

O desmonte de políticas culturais por parte do governo interino que se aboletou no poder exibe seus tentáculos. A educação treme com as ações do titular interino da pasta, político pernambucano que fez cortes em programas estratégicos. Não dá para ter orgulho dessa realidade.

No palco do Teatro Arraial, a educação é tema de luta e resistência como algo essencial para vida e direito de todos em pa(IDEIA) – Pedagogia da Libertação. A peça enfoca a trajetória de um personagem que ficou para a História como exemplo de homem público, o educador pernambucano Paulo Freire, autor d’A Pedagogia do Oprimido.

A encenação é resultado de uma pesquisa realizada pelo ator e diretor Júnior Aguiar, que considera Paulo Freire um revolucionário ao máximo. Ele criou um método que alfabetizava em 45 dias. Uma reviravolta na vida de muitos pobres, que passaram a ter o direito ao voto no processo de redemocratização.

Política, dialética e amor são as chaves utilizadas pelos atores Daniel Barros e Júnior Aguiar para atingir a libertação através das ideias, para compor essa figura. A montagem expõe momentos dos 70 dias da prisão de Freire no Recife após o golpe de 1964 e também relata o exílio do pedagogo, que durou 16 anos

pa(IDEIA) é o segundo espetáculo da Trilogia Vermelha, formada pelas peças h(EU)stória – O tempo em transe, sobre o cineasta Glauber Rocha, que já estreou e pro(FÉ)ta – O bispo do povo, sobre o bispo Dom Hélder Câmara.

Paulo Freire foi preso no Recife e exilado.

Paulo Freire foi preso no Recife e exilado.

SERVIÇO
1º temporada do espetáculo pa(IDEIA) – pedagogia da libertação
Quando: Dias 1º, 2, 15, 16, 22, 23, 29 e 30 (sextas e sábados de julho – exceto 8 e 9), às 20h
Onde: Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da aurora, Boa vista)
Quanto: R$ – 20,00 (inteira) e R$ – 10,00 (meia)
Indicação Livre
Informações: 99534.6054 / 99790.8251 / 3184.3057 (Teatro)

Ficha técnica
Atores-criadores – Daniel Barros e Júnior Aguiar
Pesquisa, roteiro, iluminação e encenação – Júnior Aguiar
Música Original – Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West. Com participações de Glauco César II, Aline Borba, Otiba e Geraldo Maia
Terapeuta Corporal – Mônica Maria
Operador de luz e áudio – Roger Bravo
Identidade Visual – Arthur Canavarro
Teaser – Nilton Cavalcanti
Fotografias – Diego di Niglio, Amanda Pietra e Trema! Plataforma de Teatro
Idealização e Produção – Grão Comum e Gota Serena
Parceiros/Colaboradores – Márcio Fecher, Asaías Lira, Quiercles Santana, Galeria MauMau – Sala Monstro, Centro Apolo-Hermilo, Espaço Cênicas, Rafael Amâncio.

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Por uma pedagogia da libertação

Junior Aguiar e Daniel Barros. Fotos: Amanda Pietra

Daniel Barros e Junior Aguiar. Fotos: Amanda Pietra

O pernambucano Paulo Freire (1921-1997), autor da Pedagogia do Oprimido, defende em sua obra que o estudo é uma ponte para habilitar o aluno a “ler o mundo”. A educação é uma avenida para os mais pobres trespassarem a “cultura do silêncio” e mudarem a realidade, “como sujeitos da própria história”. Seu pensamento pedagógico é assumidamente político. E é a partir dessa posição que o Coletivo Grão Comum ergue o espetáculo pa(IDEIA) – pedagogia da libertação, que faz sua estreia nesta terça-feira, no Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h, dentro da programação do Trema! Festival de Teatro.

Os atores Daniel Barros e Júnior Aguiar investigam e incorporam o papel o patrono da educação brasileira, que se contrapunha à escola conservadora como modelo de acomodação e defendia a pedagogia libertária, com ética, política e consciência.

A montagem faz parte da Trilogia Vermelha, que distingue a vida e obra de três nordestinos; o cineasta baiano Glauber Rocha, com o montagem h(EU)stória – O tempo em transe; Paulo Freire e o bispo cearense Dom Helder Câmera, com pro(FÉ)ta – O bispo do povo. h(EU)stória estreou em 2014, no Teatro do Arraial.

“São espetáculos que valorizam formas híbridas de narração (mesclando o lírico, o épico e o dramático). Encenações que reacendem e contribuem para dimensionar a importância do teatro político na sociedade brasileira e na América Latina”, explica Júnior Aguiar. O ator e diretor aponta que as obras reabrem novos “diálogos dialéticos-críticos-criativos” sobre as dimensões da nossa identidade contemporânea.

A peça explora os quatro dias de interrogatório a que Paulo foi submetido no Recife. “Identifiquei que no momento do Golpe de 1964, Freire estava em Brasília, a convite de Jango, para aplicar a Pedagogia do Oprimido no Brasil. E é deste ponto dramatúrgico que o espetáculo começa sua narrativa”, comenta Aguiar. O espetáculo está dividido em três partes e 16 cenas. (1ª parte – Prisão por 70 Dias; 2ª Parte – Exílio por 16 Anos e a 3ª Parte – Redemocratização).

Como afirma o educador Paulo Freire, não existem territórios neutros.

Como afirma o educador Paulo Freire, não existem territórios neutros.

Quando exilado, Freire viaja o mundo e chega à África. O território no Brasil e na América Latina é de confronto. Um clima hierático é instalado na segunda parte da peça, com a evocação do poder dos ancestrais. A plateia se transforma numa grande sala de aula. E é revelada a história de Dona Maria, que tinha o sonho de aprender a ler. É retratada como exemplo do papel da velha educação castradora, que reprova e exige a reprodução de que está estabelecido.

Nas relações com o real e o político, o Coletivo mira a ignorância paralisante, a alienação submissa e a opressão inaceitável.

A pesquisa, a encenação, o roteiro e a iluminação também são assinados por Aguiar, que idealizou o projeto e tem a figura do cineasta Jomard Muniz de Britto como inspiração.

Com poucos recursos visuais em cena – acessórios que remetem a outros símbolos, como tecido vermelho, bandeira do Brasil, malas, livros e artefatos religiosos – a dramaturgia textual ganha destaque. A costura do argumento se dá por trilha sonora com depoimentos de arquivos, como os de Paulo Freire e do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes – que também foi preso e exilado na época da repressão.

“As palavras de Paulo Freire são vivas de ideias transformadoras, elas movem nossa consciência e esclarecem dimensões que nos tornam mais lúcidos, mais éticos e mais humanos”, condensa o diretor.

E como já defendeu o  professor de estudos teatrais na University of Kent, Canterbury, Inglaterra, Patrice Pavis, (no artigo Uma redefinição do teatro político, publicado na revista Sala Preta, da Universidade de São Paulo): “Nesses tempos pós-modernos e pós-dramáticos, nesses momentos de desânimo sociopolítico, é preciso coragem para recusar as facilidades do teatro de entretenimento e de conforto, esse teatro que arrisca pouco e se conforma rapidamente à moda e ao mainstream. É preciso, em suma, a coragem de engajar a vida na recusa das injustiças, na confiança dos poderes da arte e na vontade irrepreensível de pensar sobre o real”.

Ficha Técnica
Atores: Daniel Barros E Júnior Aguiar
Encenação, Roteiro E Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Leo Vila Nova, Juliano Muta, Tiago West, Glauco César Ii. Participação Especial dos Intérpretes: Geraldo Maia E Otiba.
Operador De Som E Luz: Roger Bravo
Elementos Cenográficos: Alexandra Jarocki, Isabelle Santos E Amanda Cristal
Tease: Gê Carvalho Galego
Programação Visual: Arthur Canavarro
Idealização E Produção: Grão Comum

SERVIÇO
Espetáculo pa(IDEIA) – pedagogia da libertação
Quando: Terça-feira, 03/05, às 20h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quanto: R$ 20 e R$ 10

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