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Dramaturgo inglês Mike Bartlett diminui grandeza da heroína de Eurípedes
Crítica do espetáculo Medea

Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão). Foto: Murilo Alvesso / Divulgação

A Cia do Sopro anuncia promover reflexões críticas acerca da condição da mulher nos dias de hoje com sua montagem de Medea, em sessões presenciais ainda neste domingo no Teatro do Sesc Pompeia, e em temporada online de 29 de novembro a 7 de dezembro. Infelizmente não percebo esse debate pelo viés crítico e político na cena. A versão contemporânea para o clássico de Eurípides, escrita em 2012 pelo escritor e dramaturgo inglês Mike Bartlett, 41, se mostra um pálido capítulo de novela.

Cruel, melancólica, ambígua, vingativa, apaixonada, monstruosa, desesperada, impulsiva, passional, traiçoeira, estranha. Todos esses adjetivos não dão conta da miríada de possibilidades, de nuances, de profundidade, de insondável que pauta a poesia de Eurípedes.

O propósito inflexível que move Medeia na vingança contra Jasão é esvaziada de sua essência da tragédia grega. Honra e reputação estão ligadas a questões públicas mais do que ao circuito privado.

A tragédia de Eurípedes amplia nosso entendimento sobre o páthos e a tímoria (a vingança) e o filicídio dessa personagem do século V a.C.. Naquela época, a mulher estava excluída da participação social no sistema democrático grego masculino, sem nenhuma possibilidade de ascender ao kléos (glória).

Medeia ajudou Jasão a conquistar o velocino de ouro, que para ele significava recuperar o trono aos descendentes usurpado pelo rei Pélias, tio de Jasão. Para isso ela matou o próprio irmão e abandonou do seu reino para seguir com o seu homem.  

A princesa Medeia, divina e humana, feiticeira com poder da cura, comete sua hýbris (desmedida do herói) quando transforma o dom da magia em instrumento de vingança. Ao matar os filhos ela tirava de Jasão tudo que ela lhe proporcionou: descendência, fama e glória. Confiscava o futuro.

O páthos de Medeia é um caminho sem volta. Ao ser traída ela perdera os amparos legais; na lei grega, a mulher não tinha direito sobre os filhos. E como estrangeira (bárbara) ela era uma ameaça.

Bem, conhecemos a história de Eurípedes e sabemos que existem milhares de interpretações dessa peça grega sob perspectiva das mais diversas, da psicanálise às questões de gênero. Então vamos à produção da companhia paulistana.

Do dramaturgo Mike Bartlett, aplaudimos com entusiasmo as montagens das peças Contrações (2013) com as atrizes mineiras Débora Falabella e Yara de Novaes, dirigidas por Grace Passô e Love, Love, Love (2018), do Grupo 3 de Teatro com direção de Eric Lenate, e elenco formado por Débora Falabella, Yara de Novaes, Augusto Madeira, Mateus Monteiro e Alexandre Cioletti.

Muitas obras clássicas têm versões contemporâneas trazendo o coração da peça para propor outras questões. Em Medea de Mike Bartlett o alicerce mitológico desmorona. Bartlett faz um deslocamento da trama para um bairro inglês da periferia, um conjunto habitacional com as casinhas todas iguais. A protagonista é uma mulher difícil, de poucos amigos, destroncada da sua origem.

Com tradução de Diego Teza, a peça tem no elenco Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão), Juliana Sanches (Pam), Maristela Chelala (Sarah), Plínio Meirelles (Andrew), Bruno Feldman (Nick Carter) e Zé Henrique de Paula como diretor convidado.

A produção da peça opta por um cenário e figurino inspirados no londrino periférico, mas isso não acrescenta camadas à montagem.

Maristela Chelala (Sarah), à esquerda, garante bons momentos da peça. Foto: Murilo Alvesso / Divulgação

As ótimas Juliana Sanches (Pam), Maristela Chelala (Sarah) iniciam o jogo de palavras, um embate verbal com um humor ferino e muito sarcasmo de Bartlett, que arranca algumas risadas da plateia. As duas personagens se alfinetam mutuamente e parte do público achou isso bem engraçado, estreia. Elas preparam o terreno falando da mulher que está prostrada após ter sido largada pelo marido.

 A Medea de Fani Feldman tem cabelos vermelhos, um jeito desleixado de se vestir, uma fala meio confusa, com argumentos pouco consistentes. Os diálogos entre as três faíscam e acende a falsa cumplicidade feminina. A poesia de Eurípides foi embora na troca de farpas entre as mulheres.

Essa Medea perturbada, deseducada, instável que jura vingança inspira pouca empatia. E reforça um antigo clichê de desequilíbrio feminino diante de conflitos. A peça fica menor e Medea é diminuída.

Jasão também encolhe nesse texto de Bartlett. O herói conquistador, no sentido de vencedor, vira um mulherengo, um motoqueiro de meia idade metido a boyzinho, guiado pelo pênis, um estereótipo do homem que troca a companheira por uma noiva rica mais jovem.

Em Eurípides Jasão tem suas razões – ao se casar com a filha do rei de Corinto, Jasão afiança o futuro real para os filhos -, mesmo que não concordemos. A cena em que Jasão sucumbe a luxúria sexual, diante da sedução da protagonista é risível vergonha alheia.

Nick Carter, de Bruno Feldman, não parece o poderoso do pedaço, mas uma figura temerosa com as ameaças de uma inquilina. O ator David Uander, que faz Tom, o filho emudecido pela separação de Medea e Jasão, é uma graça.

Os cigarros utilizados na peça me parecem totalmente dispensáveis. Fuma Jasão, Andrew e Medea sem que esse gesto pareça essencial ao desdobramento da ação e ainda fazendo da plateia fumante passiva. Pelo amor…

O poder das personagens é diluído. Falta a grandeza do clássico. Medeia é filha de um rei. Ela é uma bruxa, uma feiticeira bárbara. Quando Medea de Bartlett se diz uma bruxa não funciona, e ela ostenta outras inconsistências.

Há um protofeminismo na peça de Eurípides. Nela, Medeia é perigosa e força vital de cada cena. Ela desafia as leis gregas que exigia que a mulher se escondesse e calasse diante do infortúnio.

A ação descritiva nas últimas cenas do espetáculo de Juliana Sanches, para contar o aconteceu no casamento, não tem a mesma força que as iniciais. Sua febril movimentação não reforça o horror do episódio, mas pode ser ajustada.

O final da peça parece problemático. Medéia de Eurípides é neta do deus Sol. O dramaturgo grego utiliza a estratégia do deus ex machina para salvar a protagonista. Uma carruagem de fogo leva Medeia a um santuário. A solução de Bartlett de apelar um deus chega como pouco criativo.

Essa tentativa de discutir as questões de opressão feminina não funcionou nesta produção de Medea. Pelo menos não para mim.

Medea
Ficha Técnica
Texto: Mike Bartlett
Tradução: Diego Teza
Idealização: Fani Feldman e Cia. do Sopro
Direção: Zé Henrique de Paula
Elenco: Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão), Juliana Sanches (Pam), Maristela Chelala (Sarah), Plínio Meirelles (Andrew) Bruno Feldman (Nick Carter) e David Uander (TOM)
Preparação: Inês Aranha
Trilha Original: Fernanda Maia
Assistência de direção: Marcella Piccin
Iluminação: Fran Barros
Cenário: Bruno Anselmo
Figurino e visagismo: Daniel Infantini
Direção de vídeo, montagem e fotografia: Murilo Alvesso
Direção audiovisual – Murilo Alvesso | Câmeras – Murilo Alvesso, Jorge Yuri e Ju Lima | Som Direto – Tomás Franco | Assistênica de câmera e Grafismos – João Marcello Costa | Produção Audiovisual – Assum Filmes
Concepção do projeto: Fani Feldman e Bruno Feldman
Produção: Quincas e Cia. do Sopro
Direção de Produção: Fani Feldman e Rui Ricardo Diaz
Assistente de Produção: Laura Sciulli
Realização: ProAc | Quincas I Cia. do Sopro
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Agradecimentos e apoios: Teatro do Núcleo Experimental, Teatro Santa Cruz/ Raul Teixeira, teatro FAAP/ Cláudia Hamra, Cláudia Miranda, Tati Marinho/ Casa dos Achados – Brechó, Refúgios Urbanos/ Bárbara Tegone, Una Muniz Viegas/ Cristiane Viegas, Jairo Leme, Marina Feldman, e Ariel Moshe.
Cia. do Sopro: Fani Feldman, Rui Ricardo Diaz, Plínio Meirelles, Osvaldo Gazotti e Antonio Januzelli.

Serviço
Presencial:
Estreia 26 de novembro
SESC Pompeia
26, 27 e 28 de novembro. (Sexta e Sábado 21h e domingo 18h)
Rua Clélia, 93 – Pompéia, São Paulo – SP.
Temporada online:
29 de novembro a 07 de dezembro, com sessões diárias, sempre às 21h00. (ingressos pelo Sympla)
Haverá bate-papo após as transmissões, nos dias 29/11 e 07/12. O link do Zoom estará disponível para acesso no Canal da Cia. do Sopro no YouTube.

 

 

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Medea contemporânea da Cia. do Sopro

 Fani Feldman (Medea) e Daniel Infantini (Jasão). Foto: Murilo Alvesso / Divulgação

Montagem se localiza na periferia de uma grande cidade. Foto: Murilo Alvesso @mualvesso

A Cia do Sopro quer discutir a situação da mulher atualmente Foto: Murilo Alvesso / Divulgação

A versão contemporânea de Medea (2012), de Mike Bartlett para o clássico de Eurípides, ganha montagem da Cia. do Sopro, com três apresentações presenciais de 26 a 29 de novembro no Teatro do Sesc Pompeia, e segue para temporada online de 29 de novembro a 7 de dezembro. Com tradução de Diego Teza, a peça tem no elenco Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão), Juliana Sanches (Pam), Maristela Chelala (Sarah), Plínio Meirelles (Andrew) e Bruno Feldman (Nick Carter) e Zé Henrique de Paula como diretor convidado.

O dramaturgo desloca o território e a realidade originais da Grécia antiga para um conjunto habitacional de subúrbio, que pode existir em qualquer parte do mundo. Medea foi largada pelo marido e está atordoada em seu lar conjugal, sem conseguir lidar com a situação, sem ânimo para trabalhar nem sossego para dormir. Seu filho perdeu a fala e ela planeja vingança.

Bartlett explora as engrenagens do universo masculino, mostra como os homens são incapazes de negar sua luxúria sexual. O autor busca tratar esse homem contemporâneo sem condescendência, por seus atos mordazes, ambivalentes, nem sempre justificáveis. Ao expor suas chagas diante de Jasão, Medea diz: “Eu divido os homens em três grupos: idiotas, tios e estupradores. Os idiotas precisam de uma mãe, os tios nos tratam como crianças e os estupradores querem nos foder, gostemos ou não”.

Nesta versão da tragédia clássica de Eurípedes, o autor Bartlett explora a “fúria privada que borbulha sob o comportamento público” e como, no mundo de hoje, uma mãe, alimentada pela raiva pela infidelidade, pode ser conduzida a cometer o crime contra o próprio filho.

A Cia do Sopro quer com a peça discutir a situação da mulher atualmente, e as condições e forças contrárias que sabotam a emancipação efetiva de direitos e lugar de fala. Formada por Fani Feldman, Rui Ricardo Diaz, Plínio Meirelles, Osvaldo Gazotti e Antonio Januzelli a Cia. do Sopro, que tem em sua trajetória os espetáculos A Hora e Vez e Como Todos os Atos Humanos.

“Medeia é um dos grandes clássicos do teatro grego”, discorre o diretor Zé Henrique de Paula. “A protagonista acuada, traída, vilipendiada, eviscerada por uma sociedade alicerçada pelo machismo estrutural fala integralmente aos dias de hoje. E infelizmente, fala demais ao Brasil de 2021, um país aterrorizado permanentemente por notícias diárias de abuso e feminicídio”.

Para Zé Henrique de Paula, “dirigir essa peça sendo um homem é exercitar a humildade e servir meramente de canal para que a voz – no nosso caso, o grito – das mulheres seja ouvido. Ouvido de verdade, o que significa permitir que esse grito, esse lamento, esse coro, sejam ferramentas de modificação de uma tremendamente injusta situação social”.

Mike Bartlett é um dramaturgo aclamado da Grã-Bretanha. No Brasil já foram montadas as peças Love, Love, Love (2018), com direção de Eric Lenate, e elenco formado por Débora Falabella, Yara de Novaes, Augusto Madeira, Mateus Monteiro e Alexandre Cioletti, que traça um retrato político e provocador das idiossincrasias geracionais de uma mesma família, de 1967 a 2014; Contrações (2013) também com as atrizes mineiras do Grupo 3 de Teatro – Débora Falabella e Yara de Novaes – sob direção de Grace Passô, investiga os conflitos da vida pessoal em meio ao cenário corporativo e critica a degradação nas relações de trabalho. Bull, uma tentativa não tão bem-sucedida de Bartlett de abordar o bullying no ambiente corporativo,  foi encenada em 2014, com direção de Eduardo Muniz e Flavio Tolezani, com elenco composto por Bruno Guida, Cynthia Falabella, Muniz e Tolezani.

Medea. Foto: Murilo Alvesso / Divulgação

Ficha Técnica
Texto: Mike Bartlett
Tradução: Diego Teza
Idealização: Fani Feldman e Cia. do Sopro
Direção: Zé Henrique de Paula
Elenco: Fani Feldman (Medea), Daniel Infantini (Jasão), Juliana Sanches (Pam), Maristela Chelala (Sarah), Plínio Meirelles (Andrew) Bruno Feldman (Nick Carter) e David Uander (TOM)
Preparação: Inês Aranha
Trilha Original: Fernanda Maia
Assistência de direção: Marcella Piccin
Iluminação: Fran Barros
Cenário: Bruno Anselmo
Figurino e visagismo: Daniel Infantini
Direção de vídeo, montagem e fotografia: Murilo Alvesso
Direção audiovisual – Murilo Alvesso | Câmeras – Murilo Alvesso, Jorge Yuri e Ju Lima | Som Direto – Tomás Franco | Assistênica de câmera e Grafismos – João Marcello Costa | Produção Audiovisual – Assum Filmes
Concepção do projeto: Fani Feldman e Bruno Feldman
Produção: Quincas e Cia. do Sopro
Direção de Produção: Fani Feldman e Rui Ricardo Diaz
Assistente de Produção: Laura Sciulli
Realização: ProAc | Quincas I Cia. do Sopro
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Agradecimentos e apoios: Teatro do Núcleo Experimental, Teatro Santa Cruz/ Raul Teixeira, teatro FAAP/ Cláudia Hamra, Cláudia Miranda, Tati Marinho/ Casa dos Achados – Brechó, Refúgios Urbanos/ Bárbara Tegone, Una Muniz Viegas/ Cristiane Viegas, Jairo Leme, Marina Feldman, e Ariel Moshe.
Cia. do Sopro: Fani Feldman, Rui Ricardo Diaz, Plínio Meirelles, Osvaldo Gazotti e Antonio Januzelli.

Serviço
Presencial:
Estreia 26 de novembro
SESC Pompeia
26, 27 e 28 de novembro. (Sexta e Sábado 21h e domingo 18h)
Rua Clélia, 93 – Pompéia, São Paulo – SP.
Temporada online:
29 de novembro a 07 de dezembro, com sessões diárias, sempre às 21h00. (ingressos pelo Sympla)
Haverá bate-papo após as transmissões, nos dias 29/11 e 07/12. O link do Zoom estará disponível para acesso no Canal da Cia. do Sopro no YouTube.

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Crise e Insurreição, uma mostra de experimentos cênicos do Grupo XIX de Teatro

Feminino Abjeto 1. Foto: Laio Rocha / Divulgação

Plantar Cavalos. Foto: Giorgio D’Onofrio / Divulgação

Memórias de Cabeceira. Foto: Eduardo Figueiredo / Divulgação

O Projeto XIX Ano 19: Crise e Insurreição é uma mostra com os experimentos cênicos criados nos núcleos de pesquisa do Grupo XIX de Teatro, de São Paulo, orientados por Janaina Leite, Juliana Sanches, Luiz Fernando Marques, Rodolfo Amorim e Ronaldo Serruya. A trupe completa 19 anos neste estranho ano de 2020. Com a pandemia da Covid-19, o coletivo comemora com apresentações online, grátis, entre os dias 12 e 22 de novembro, por meio da plataforma Zoom. Cada espetáculo faz duas apresentações.

Participam da mostra os espetáculos Acorda, Alice! Através Da Tela, com direção geral de Juliana Sanches; Memórias de Cabeceira, com direção de Rodolfo Amorim; Plantar Cavalos Para Colher Sementes, com direção, concepção e pesquisa de Ronaldo Serruya; Feminino Abjeto 1, com direção e concepção de Janaina Leite; Feminino Abjeto 2, também com direção de Janaina Leite. Além da Mostra Abjeta III, com vários trabalhos estreados em ou processo, entre eles Tudo é Lindo em Nome do Amor, de Bruna Betito e Debora Rebecchi, um percurso irônicopelo mito do amor romântico.

Desde sua criação, o Grupo XIX de Teatro faz investigações importantes e ousa avançar nas possibilidades da cena como exercício estético e micropolítico. O espaço histórico da cidade de São Paulo guiou algumas produções, como o premiado Hysteria, que explora as complexas relações sociais da mulher brasileira na virada do século XIX. Uma viagem no tempo para questionar os mecanismos do poder. Hygiene, que trata dos trabalhadores que habitavam os cortiços do Rio no século XIX segue a mesma pisada.

Outras peças que são resultado da pesquisa autoral do grupo são Arrufos, Marcha Para Zenturo (em parceria com o Grupo Espanca), Nada Aconteceu, Tudo Acontece e Tudo Está Acontecendo, Estrada do Sul (em parceria com o Teatro Dell’Argine) e Teorema 21.

Com a pesquisa sobre habitação e moradia no Brasil a turma chegou à Vila Operária Maria Zélia. Da primeira residência até hoje, foram muitas ações, uma troca permanente com a comunidade e a inserção definitiva da Vila Maria Zélia no mapa cultural da cidade de são Paulo.

A criação colaborativa, o uso de espaços não-convencionais e a relação próxima ao público são marcas dessa trajetória. A “Vila” é hoje um espaço de pesquisa, difusão e formação que abriga projetos como os Núcleos de Pesquisa que acolhem anualmente cerca de cem artistas, além de diversos espetáculos e oficinas.

MOSTRA DE EXPERIMENTOS CÊNICOS

De 12 e 22 de novembro, por meio da plataforma Zoom.
Ingressoshttps://www.sympla.com.br/grupoxixdeteatro

Acorda Alice. Foto Anoca Freitas / Divulgação

ACORDA, ALICE! ATAVÉS DA TELA!
Dias 12 e 14 de novembro – Quinta-feira, às 21h, e Sábado, às 19h

O tempo atravessa o encontro dessas mulheres, das que chegam e das que já estavam lá. A passagem das horas gera insegurança. Como o tempo marcou a carne de cada uma delas? O espetáculo percorre os ciclos femininos, da menina, adolescente, adulta e anciã. Com o apoio uma das outras, elas seguem fazendo perguntas, numa dança de cumplicidade e sororidade em que a experiência de estarem juntas, valorizando cada uma delas é o que mais importa.

Ficha Técnica
Dramaturgismo: Juliana Sanches.
Texto: Acorda Coletivo.
Montagem audiovisual, edição e finalização: Val Hidalgo.
Direção Geral: Juliana Sanches.
Assistência de Direção Audiovisual: Alice Stamato.
Figurino: Juliana Sanches e Acorda Coletivo.
Iluminação: Acorda Coletivo.
Elenco: Alice Stamato, Cacau Fonseca, Carol Andrade, Ericka Leal, Jaqueline Beatriz, Joice Tavares, Juliana Roberta, Larissa Alves, Leticia Stamatopoulos, Lídia Engelberg, Lidi Seabra, Ligia Fonseca, Mahê Machado, Mariela Lamberti, Priscilla Nina, Rebecca Leão, Renata Dalmora, Rita Damasceno, Samira Aguiar e Victória de Paula.
Atrizes que estiveram no processo: Lorena Barreto, Paloma Dantas e Vanusa Di Santi.
Produção: Acorda Coletivo.
Realização: Acorda Coletivo.
Fotos: Anoca Freitas, Gabriela Burdmann, Giorgio D’Onofrio e Marília Apolônio.
Classificação: 14 anos.
Duração: 50 minutos.

MEMÓRIAS DE CABECEIRA
Dias 13 e 15 de novembro – Sexta e domingo, às 20h

Memórias de Cabeceira. Foto: Jonatas Marques / Divulgação

A memória dos atores sobre seus avós conduz essa experiência cênica, que propõe vasculhar os espaços de saudade também do público. Os atores investigam suas lembranças preciosas dos avós, desses netos-atores que visitam arquivos de um passado que aciona espaço/tempo de afeto comum a muitos de nós.

Ficha Técnica:
Direção: Rodolfo Amorim.
Elenco: Bruno Canabarro, Cleuber Gonçalves, Natália Ribeiro e Vinícius Titae.
Dramaturgia, Figurinos e Cenografia: Coletivo Analógico de Teatro.
Duração: 50 minutos.
Classificação: Livre.

PLANTAR CAVALOS PARA COLHER SEMENTES
Dias 14 e 15 de outubro – Sábado, às 21h30, e Domingo, às 18h

Plantar Cavalos. Foto: Jonatas Marques / Divulgação

Plantar Cavalos Para Colher Sementes é uma peça-manifesto de caráter performativo livremente inspirada no manifesto Falo Por Minha Diferença, do ativista chileno Pedro Lemebel. É a denúncia de um corpo que está morrendo, e que precisa gritar para se manter vivo. O trabalho dirigido por Ronaldo Serruya promove uma espécie de confronto para abalar a perversa estrutura que engendra discursos e mecanismos racistas, homofóbicos, misóginos e transfóbicos, e tensionar em nós o que é reprodução da norma e incapacidade de desprogramar o previsto.

Ficha técnica:
Direção, concepção e pesquisa: Ronaldo Serruya.
Assistente de direção: Bruno Canabarro.
Manifestantes: Ailton Barros, Ana Vitória Prudente, Be Gonzales, Camila Couto, Carlos Jordão, Gabi Costa, Ericka Leal, Mateus Menezes, Patrícia Cretti, Tatiana Ribeiro.
Iluminação: Dimitri Luppi Slavov.
Fotos e vídeos: Jonatas Marques.
Produção: Gabi Costa, Mateus Menezes e Tatiana Ribeiro.
Realização: Grupo XIX de Teatro.
Agradecimento especial: Vana Medeiros.
Classificação: 16 anos.
Duração: 50 minutos.

FEMININO ABJETO 1 + bate-papo com diretora e performers
Dia 20 de novembro – Sexta-feira, às 20h

Feminino Abjeto. Foto Jonatas Marques / Divulgação

O conceito de “abjeção” proposto por Julia Kristeva para investigar as representações do feminino e a a obra da artista espanhola Angélica Liddell são as inspirações do trabalho, orientado por Janaina Leite. Performado por mulheres e duas pessoas não-binárias, o espetáculo, tomou por eixo principal a figura de uma mãe “mais arcaica que real”, como campo de recusa, mas também identificação em relação a certa “transmissão da feminidade”. O espetáculo estreou em 2017.

Ficha Técnica:
Direção e concepção: Janaina Leite.
Performers/autorXs: Bruna Betito, Cibele Bissoli, Débora Rebecchi, Emilene Gutierrez, Flo Rido, Gilka Verana, Juliana Piesco, Letícia Bassit, Maíra Maciel, Oli Lagua, Ramilla Souza e Sol Faganello.
Assistência de direção: Tatiana Caltabiano.
Dramaturgismo: Janaina Leite e Tatiana Ribeiro.
Preparação Stiletto: Kaval.
Preparação Haka: Allan Melo.
Iluminação: Afonso Alves Costa.
Operação de som: Marina Meyer.
Fotografia: Laio Rocha.
Câmera: Roberto Setton, Camila Couto e Vinicius Vitti.
Edição: Sol Faganello.
Classificação: 18 anos.
Duração: 90 minutos.

FEMININO ABJETO 2
Dia 22 de novembro – Domingo, às 19h

Feminino Abjeto 2. Foto: André Cherri / Divulgação

Em 2018, Janaina Leite propôs uma nova investigação a partir da figura da mãe, agora em um núcleo de pesquisa composto por 34 homens e duas pessoas não-binárias. Se o masculino se constrói como “reatividade ao feminino”, como propõe Safiotti, em Feminino Abjeto 2, analisou as relações com as figuras arcaicas de pai e mãe, a fim de encontrar a gênese de uma virilidade que se confunde com violência e autoritarismo. O espetáculo estreou em dezembro do mesmo ano, cumpriu duas temporadas na Vila Maria Zélia, no Teatro de Container da Cia Mungunzá́ (Luz/São Paulo) e se apresentou no Sesc Belenzinho na mostra Dramaturgias 2.

Ficha técnica:
Direção e dramaturgismo: Janaina Leite.
Performers/autores: Alexandre Lindo, André Medeiros Martins, Andrea Sá, Carlos Jordão, Chico Lima, Dante Paccola, Diego Araújo, Eduardo Joly, Filipe Rossato, Guilherme Reges, Gustavo Braunstein, Jeffe Grochovs, João Duarte, João Pedro Ribeiro, Leonardo Vasconcelos, Lucas Asseituno, Marco Barreto, Nuno Lima, Thompson Loiola.
Assistência de direção e dramaturgismo: Ramilla Souza.
Iluminação: Maíra do Nascimento e Marcus Garcia.
Criação e operação de som e trilhas: Eduardo Joly.
Fotografia: André Cherri, Michel Igielka, Liz Dórea, Flaviana Benjamin, Carol Rolim, Mateus Capelo.
Vídeos: André Cherri; Diego Araújo, Guilherme Dimov, Victor Rinaldi; Filipe Rossato, Gabriel Pessoto, Fernanda Wagner, Marina Rosa, Juba Bezerra (Poro Produções).
Arte original: Miguel Sanchez; Andrés Nigoul (Duo Dinâmico).
Núcleo de Comunicação: Thompson Loiola (99 Comunicação) e Alexandre Lindo.
Núcleo de Produção e Projetos: João Pedro Ribeiro, Thompson Loiola, Ramilla Souza, Lucas Asseituno, André Medeiros Martins.
Classificação: 18 anos.
Duração: 90 minutos.

MOSTRA ABJETA III
Dia 21 de novembro – Sábado, das 14h às 18h

Feminino Abjeto. Mostra Núcleos de Pesquisa 2017 Foto Jonatas Marques / Divulgação

Já realizada no Teatro de Contêiner e no Teatro Centro da Terra, a Mostra Abjeta junta cenas autorais desdobradas a partir ou em relação à experiência de Feminino Abjeto 1. Entre trabalhos em processo ou já estreados, essa mostra propõe uma versão on-line desses experimentos, revelando a apropriação singular de cada artista a partir das questões originais, mas desdobradas em trabalhos que exploram performance e gênero no teatro.

Ilariê, de Ramilla Souza: Ramilla tem um obsessão pela Xuxa dos anos 90. Ela revisita suas memórias de infância e a construção da própria subjetividade a partir dessa referência.
Duração: 20 minutos.

Chef Psi – Como Comer Como Como, de Maíra Maciel: Chef psi é uma estranha psiquiatra e chef de cozinha que tenta preparar o prato perfeito. Nessa preparação, ela traz memórias e pensamentos sobre o processo de transformação do animal na comida e da comida no corpo das pessoas.
Duração: 35 minutos.

Corpo Errado, de Florido Fogo: Abrir os buracos da corpa para negar a entrada das expectativas cisgêneras koloniais. Imagens de horror, deboches, delírios e monstruosidades para acessar dramaturgias da trans-fisicalidade ancestro/futura e eufórica.
Duração: 40 minutos

Não Ela: O Que é Bom Está Sempre Sendo Destruído, de Oliver Olívia e Lucas Miyazaki: Um retrato de um casal que começou a morar junto ao mesmo tempo em que um deles começou seu processo de transição de gênero: um homem cisgênero que percebe seu então companheiro trans masculino. É a exposição de um texto-depoimento-carta inteiro de autoria do dramaturgo cisgênero. Uma peça sobre transfobia, machismo, misoginia e amor.
Duração: 25 minutos.

Tudo é lindo em nome do amor, com Debora Rebecchi e Bruna Betito

Tudo é Lindo em Nome do Amor, de Bruna Betito e Debora Rebecchi: É uma travessia cênica através do mito do amor romântico. Para essa versão remota, duas atrizes invocam clichês do nosso imaginário amoroso e compartilham com o público uma festa de casamento virtual. A experiência pretende abrir caminhos para questionar papéis de gênero e os modos como fomos ensinados a amar.
Duração: 40 minutos

Salivas, de Emilene Gutierrez: O trabalho parte de uma escavação individual onde a carne-gordura-baba-vísceras tomam o espaço central, pornograficamente explícitos, do processo. É tentativa de tornar corpo uma espécie de subjetividade feminina, buscando encontrar possíveis caminhos/espaços entre a origem e o fim das coisas, dos desejos, dos abismos.
Duração: 35minutos

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