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Ao sabor das palavras

“Não que eu tenha adivinhado o que você deseja, e nem tenho pressa de saber; pois o desejo de um comprador é algo muito melancólico, algo que contemplamos como um segredinho pedindo para ser descoberto e que fazemos hora para descobrir”

“Já que não existe injustiça verdadeira nesta terra, além da injustiça da própria terra, que é estéril pelo frio e estéril pelo calor e raramente fértil pela doce mistura do calor e do frio, não existe injustiça para quem anda sobre a mesma porção de terra submetida ao mesmo frio ou ao mesmo calor ou à mesma doce mistura, e qualquer homem ou animal que pode olhar outro homem ou animal nos olhos é seu igual, pois eles andam sobre a mesma linha plana e reta de latitude, escravos dos mesmos frios e dos mesmos calores, ricos ambos e ambos pobres”

“O olhar passeia e pousa e pensa estar em terreno neutro e livre, assim como a abelha num campo de flores, como o focinho de uma vaca no espaço fechado de um pasto. Mas o que fazer com o próprio olhar? Olhar para o céu me torna nostálgico e fixar o solo me entristece, lamentar alguma coisa e lembrar que não a temos são motivos de desolação. Então, precisamos olhar na nossa frente, à nossa altura, qualquer que seja o nível onde o pé está provisoriamente colocado; foi por isso que, ao andar por onde andei ainda há pouco e onde estou parado agora, meu olhar tinha que esbarrar, mais cedo ou mais tarde, em qualquer coisa parada ou andando na mesma altura do que eu; ora, pela distância e as leis da perspectiva, todo homem ou todo animal está provisoriamente e aproximadamente à mesma altura do que eu”

Na Solidão dos Campos de Algodão

Texto: Bernard Marié Koltès
Tradução: Jackeline Laurence
Encenação: Antonio Guedes
Elenco: Edjama Freitas (Cliente)
                Tay Lopez (Dealer)
Cenografia: Doris Rollemberg
Execução de cenografia: Saulo Uchoa
Cenotécnica: Katia Virgínea, Júlio Cerza, Gaguinho e David Guerra
Figurino: Luciano Pontes
Iluminação: João Denys
Operação e montagem de luz: Dado Sodi
Assistente de Montagem: João Pedro Leite
Trilha Sonora: Marcelo Sena
Vídeo: Alan Oliveira e Rafael Malta
Assistente de Encenação: Alexsandro Souto Maior
Preparação de Elenco (corpo/voz): Érico José
Direção de movimento: Míriam Asfora
Produção Executiva: Luciana Barbosa
Realização: Companhia do Ator Nu

Na solidão dos campos de algodão
Quando: Estreia dia 8 de agosto, às 20h; temporada: quartas, quintas e sextas-feiras, até 24 de agosto, às 20h
Onde: Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro)
Quanto: R$ 20 e R$ 1o (meia-entrada)

Na próxima segunda-feira (6), o diretor Antonio Guedes vai receber alguns alunos de teatro e interessados no Sesc Santo Amaro para conversar sobre teatro contemporâneo. Será a partir das 20h. Entrada gratuita.

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Campanha no facebook!

Tão fofinho, né?! Vamos aderir!

Tem ator fazendo campanha no facebook para ver quem dá bola! (Já vimos campanhas de todo tipo no face! Mas, para mim, essa é inédita!) Cleyton Cabral, o dito cujo, nos contou essa história direitinho. As bolas de futebol (segundo ele, muitas delas) serão usadas no cenário do espetáculo que o ator está ensaiando. “É um texto meu, chamado Garrincha sem chuteiras. Será uma homenagem a Nelson Rodrigues, ao futebol e ao balé”, disse. 

Trata-se do primeiro monólogo de Cabral e a direção é de João Denys. “Estamos bem instigados”. Para quem se interessou, se compadeceu e quer fazer uma doação, ou só ficou curioso mesmo pra ver o que esses dois estão aprontando, Cleyton prometeu que vai atualizar um blog que criou para o processo. 

João Denys decidiu apostar no texto de Cleyton Cabral - vai dirigir o primeiro monólogo do rapaz

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Imperdível Senhora Carrar

Um pequeno tablado com uma janelinha suspensa, luz branca, gestual que atiça antigos sonhos, dez bons atores e uma direção primorosa para dar conta de problemas éticos e das utopias renovadas em Os fuzis da Senhora Carrar, com texto do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. A montagem é uma revisitação estética e histórica de outra encenação de Os fuzis… realizada em 1978, pelo Grupo Teatro Hermilo Borba Filho, com direção de Marcus Siqueira. E faz parte do projeto de pesquisa cultural Transgressão em três atos, desenvolvido pelos jornalistas Cláudio Bezerra, Alexandre Figueirôa e Stella Maris Saldanha, que protagoniza a peça.

Os Fuzis da Senhora Carrar leva à cena a história de Tereza Carrar, moradora de uma pequena vila de pescadores e mãe de Pedro e Juan. O tempo é de conflito entre pacifistas e soldados, entre homens comuns e revolucionários anti-franquistas. Mas nossa protagonista já perdeu o marido e faz qualquer coisa para não ver os filhos metidos na guerra. A peça foi escrita por Brecht em 1937, no período da Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939. Dizem que não existe dor maior do que perder um filho (a). Tereza tenta evitar essa dor. Não é tarefa fácil, os generais avançam e a perda da liberdade se faz sentir cada vez mais perto. Como manter a neutralidade diante de uma situação dessas? Mas como entregar seus jovens filhos a uma guerra sangrenta, da qual dificilmente se sobrevive?

Sabemos que Brecht imaginava que o teatro deveria servir como instrumento de transformação social e de reflexão crítica da plateia. Mas Senhora Carrar é a mais dramática das peças do dramaturgo alemão. É estruturada de forma linear e nos faz acompanhar a decisão trágica dessa mulher que, diante dos acontecimentos não encontra outra alternativa para se manter viva.

“Por quem lutar ou enlutar, Carrar?”, pergunta o encenador João Denys no programa da peça, em meio a uma avalanche de questionamentos que a própria montagem já desperta. Lá atrás, na ditadura do general Franco, as atrocidades e os terrores da guerra, o sacrifício humano e a barbárie. A guerra hoje é mais difícil. Existe uma letargia diante do capitalismo que dita destinos e as facilidades de comunicação sufocam o verdadeiro diálogo. Mas diante da intolerância, da miséria e da grotesca realidade cotidiana, da subserviência ou do torpor, a Senhora Carrar de Stella Maris Saldanha e de João Denys se insurge para lembrar da humanidade, sem romantismo ou heroísmo. Mas carregada de emoção.

Com seus rostos pintados de branco, os atores agem com a grandeza que o texto merece. A atuação de Stella Maris Saldanha como a protagonista Tereza é de tirar o chapéu. Voz clara, gestos firmes e nuances comoventes de uma mãe que luta enquanto pode para proteger seus filhotes. Ela sangra no palco e essa dor atinge o público. O ator Roger Bravo faz José, o filho de Tereza que quer ir para o front. Uma performance convincente. José Ramos faz o operário com garra e competência. Os três ficam a maior parte do tempo em cena. Alfredo Borba faz o papel do padre reacionário com destreza.

Também participam do elenco, em papeis menores mas não menos importantes: Ailton Brito, Evandro Lira, Karina Falcão, Socorro Albino, e Antonio Marinho. Enquanto não estão no palco, o elenco fica sentado na primeira fila. A direção de arte (cenário, figurino e maquilagem) é assinada pelo próprio João Denys. A sonoplastia, também de Denys, amplifica a carga das cenas. Um espetáculo ainda mais necessário neste começo de século 21.

SERVIÇO
Os Fuzis da Senhora CarrarNeste sábado, às 21h
Teatro Hermilo Borba Filho.
Ingresso R$ 10.

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A estupidez da guerra

Foto: Val Lima/Divulgação

Um pequeno tablado com uma janelinha suspensa, luz branca, gestual que atiça antigos sonhos, dez bons atores e uma direção primorosa para dar conta de problemas éticos e das utopias renovadas em Os fuzis da Senhora Carrar, com texto do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. A montagem é uma revisitação estética e histórica de outra encenação de Os fuzis… realizada em 1978, pelo Grupo Teatro Hermilo Borba Filho, com direção de Marcus Siqueira. E faz parte do projeto de pesquisa cultural Transgressão em três atos, desenvolvido pelos jornalistas Cláudio Bezerra, Alexandre Figueirôa e Stella Maris Saldanha, que protagoniza a peça.

Os Fuzis da Senhora Carrar leva à cena a história de Tereza Carrar, moradora de uma pequena vila de pescadores e mãe de Pedro e Juan. O tempo é de conflito entre pacifistas e soldados, entre homens comuns e revolucionários anti-franquistas. Mas nossa protagonista já perdeuo marido e faz qualquer coisa para não ver os filhos metidos na guerra. A peça foi escrita por Brecht em 1937, no período da Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939. Dizem que não existe dor maior do que perder um filho (a). Tereza tenta evitar essa dor. Não é tarefa fácil, os generais avançam e a perda da liberdade se faz sentir cada vez mais perto. Como manter a neutralidade diante de uma situação dessas? Mas como entregar seus jovens filhos a uma guerra sangrenta, da qual dificilmente se sobrevive?

Sabemos que Brecht imaginava que o teatro deveria servir como instrumento de transformação social e de reflexão crítica da plateia. Mas Senhora Carrar é a mais dramática das peças do dramaturgo alemão. É estruturada de forma linear e nos faz acompanhar a decisão trágica dessa mulher que, diante dos acontecimentos não encontra outra alternativa para se manter viva.

“Por quem lutar ou enlutar, Carrar?”, pergunta o encenador João Denys no programa da peça, em meio a uma avalanche de questionamentos que a própria montagem já desperta. Lá atrás, na ditadura do general Franco, as atrocidades e os terrores da guerra, o sacrifício humano e a barbárie. A guerra hoje é mais difícil. Existe uma letargia diante do capitalismo que dita destinos e as facilidades de comunicação sufocam o verdadeiro diálogo. Mas diante da intolerância, da miséria e da grotesca realidade cotidiana, da subserviência ou do torpor, a Senhora Carrar de Stella Maris Saldanha e de João Denys se insurge para lembrar da humanidade, sem romantismo ou heroísmo. Mas carregada de emoção.

Com seus rostos pintados de branco, os atores agem com a grandeza que o texto merece. A atuação de Stella Maris Saldanha como a protagonista Tereza é de tirar o chapéu. Voz clara, gestos firmes e nuances comoventes de uma mãe que luta enquanto pode para proteger seus filhotes. Ela sangra no palco e essa dor atinge o público. O ator Roger Bravo faz José, o filho de Tereza que quer ir para o front. Uma performance convincente. José Ramos faz o operário com garra e competência. Os três ficam a maior parte do tempo em cena. Alfredo Borba faz o papel do padre reacionário com destreza.

Foto: Val Lima/Divulgação

Também participam do elenco, em papeis menores mas não menos importantes: Ailton Brito, Evandro Lira, Karina Falcão, Socorro Albino, e Antonio Marinho. Enquanto não estão no palco, o elenco fica sentado na primeira fila. A direção de arte (cenário, figurino e maquilagem) é assinada pelo próprio João Denys. A sonoplastia, também de Denys, amplifica a carga das cenas. Um espetáculo ainda mais necessário neste começo de século 21.

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