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Sessão de Espaçamento na UFPE

Dança e arquitetura se cruzam em espetáculo experimental[

Dança e arquitetura se cruzam em espetáculo experimental

A ideia de juntar dança e arquitetura poderia soar incongruente. Afinal, a dança de natureza estética que traça na efemeridade o movimento através do tempo; e a arquitetura formada por materiais inorgânicos e que tem a estaticidade como marca, têm características muito distintas. O pesquisador, bailarino e coreógrafo pernambucanoCláudio Lacerda propôs cruzar essas propriedades e o resultado é o espetáculo experimental Espaçamento, que faz apresentação nesta terça (9), às 17h, o hall de entrada do Centro de Artes e Comunicação (CAC/UFPE), na Cidade Universitária.

Além do próprio Cláudio Lacerda dançam os bailarinos Juliana Siqueira e Jefferson Figueirêdo. A trilha sonora, neste dia, será produzida ao vivo pelos músicos Thiago Fournier, Publius, João Vasconcelos e Tiago Araújo.

A exibição finaliza a temporada nacional iniciada em 2013 e retomada no ano passado com sessões no espaço Octógono, da Caixa Cultural, e no Festival Cena Cumplicidades. Durante o mês de maio foram realizadas apresentações no Teatro Marco Camarotti. O projeto tem incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura.

Cláudio Lacerda

Jefferson Figueirêdo, Claudio Lacerda e Juliana Siqueira

O espetáculo parece o mesmo, mas vai mudando a cada nova apresentação. Altera o espaço. O acompanhamento sonoro, que, no início foi o silêncio, ganhou outras propostas: as trilhas podem ter músicas de J. S. Bach; composição eletrônica a partir de samples; intervenção de músicos ao vivo e subjetividade dos dançarinos, com narração em off. Além de projeção de vídeo, com imagens de obras arquitetônicas, gravações de ensaios e apresentações.

Claudio Lacerda destaca que o espectador torna-se autor, a partir de escolhas de pontos de vista e interpretações. “Ficou bastante claro que não podemos nunca subestimá-los –– com suas subjetividades, memórias corporais e bagagem de seus contextos socioculturais ––, independente de faixa etária, condição social, portador ou não de necessidades especiais, conhecedor ou não de artes. A experimentação ganha projeções a partir do contato com eles(as), gerando significados no mundo”, escreveu o pesquisador no artigo apresentado no VII CONGRESSO – ABRACE – Tempos de memória: Vestígios, Ressonâncias e Mutações, em Porto Alegre, em outubro de 2012.

SERVIÇO
Espetáculo Espaçamento
Quando: Terça (09/06), às 17h
Onde: Centro de Artes e Comunicação – CAC/UFPE
Duração: 50 min
Classificação: Livre
Entrada gratuita

Ficha técnica
Concepção, Direção e Coreografia: Cláudio Lacerda.
Bailarinos: Cláudio Lacerda, Jefferson Figueirêdo e Juliana Siqueira.
Iluminação: Eron Vilar.
Figurinos Paulinho Ricardo e o grupo.
Produção Executiva: Clarisse Fraga / Bureau de Cultura.
Trilhas sonoras/Composição eletrônica: Thiago Fournier.
Edição de som / trilha Bach e trilha subjetividade dos bailarinos João Vasconcelos.
Direção e Edição de Vídeo e fotografias: Val Lima.
Consultores durante o projeto de pesquisa: Jonatas Ferreira, Gentil Porto Filho e Arnaldo Siqueira.
Design gráfico; Fernanda Lisboa.

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O Solo do Outro em três coreografias

Ela sobre o silêncio, com Helijane Rocha

Até chegar a contemplar um campo de girassóis, essa mulher terá que se livrar das amarras, materiais e subjetivas, que a oprimem. Em Ela sobre o silêncio, Helijane Rocha começa o solo presa por 33 cintos, dos pés à altura da boca. Debate-se no chão, rola e passa a se livrar de alguns para levantar-se e tentar andar com suas próprias pernas.

Esses primeiros movimentos são de desespero, de quem está cerceado em sua liberdade. Ela solta, primeiro, os braços, e tenta equilibrar-se, depois liberta a boca. A boca que come; que fala, grita ou cala; a boca que beija. Não é fácil. Exige força e equilíbrio da bailarina.

Depois ela consegue desatar as pernas e pés e aparece nua em movimento de emersão de quem estava a afoga-se. Os braços querem o voo, buscam o Sol. Mas custa ter um pouco de desenvoltura na vida e ela cai. Passa por movimentos aflitivos. A coreografia aponta para as limitações impostas ao feminino. E a potência para a libertação em movimentos criativos.

A face da falta é a coreografia apresentada por Jefferson Figueirêdo

A face da falta é a coreografia de Jefferson Figueirêdo, de 22 anos, que dança a saudade do mestre Nascimento do Passo. Ele exibe técnica e desenvoltura nos movimentos desconstrução da dança popular em seu corpo. O bailarino começou a carreira aos 10 anos, e mostra essa vivência em imagens de arquivo numa televisão ou músicas de um MP3. Mas há uma quebra quando ele tenta tornar o público cúmplice dessa experiência, ao distribuir fotos da infância e falar sobre sua vida.

Mesmo sabendo que é muito comum essa aproximação, essa ligação com a vida do artista, na dança contemporânea, penso que nesse caso, perde o impacto, com as conversas e a paradas para manipular os controles da TV.

Januária Finizola em Sobre mosaicos azuis

Na terceira coreografia parece que passou um furacão pelo espaço, com tantos pratos, xícaras e pires quebrados. Januária Finizola, 36 anos, apresenta movimentos para remeter à loucura em Sobre mosaicos azuis. A fragmentação sentida pela personagem esquizofrênica é transmitida em compassos que se quebram e subverte o ritmo.

Mas o solo também questiona até onde vai a loucura de cada um e num determinado momento, a bailarina encara o público, imita gestos de alguns espectadores e revela que “de perto ninguém é normal”, como já alardeou Caetano Veloso. Ela também brinda com o público antes de a taça cair. O trabalho foi inspirado no livro Todos os cachorros são azuis (editora 7 Letras, 2008), de Rodrigo Souza Leão.

As criações foram erguidas a partir do vocabulário coreográfico de Ivaldo Mendonça, que divide a direção artística do projeto com Arnaldo Siqueira. E as apresentações prosseguem neste e no próximo fim de semana.

SERVIÇO
O Solo do Outro
Quando: Sextas e sábados, às 20h, até o dia 17.
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Quanto: Ingressos: R$ 5 (preço único).
Informações: (81) 3355-3320.

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Deleite coreográfico dentro da piscina

Foto: Hans von Manteuffel/ Divulgação

Em Palavra úmida, a água é mais que o suporte para o elenco da Cia. dos Homens exercitar a liberdade de movimentos e criação. Passa a ser um elemento, quase um código, uma chave, uma palavra mágica de uma viagem entre passado acalentador e futuro incerto. Digo melhor, da memória do útero, de onde todos nós saímos, ao pavor de que a água, esse bem da humanidade, acabe pela ação predatória dos próprios humanos. Isso é um pouquinho da leitura que se pode fazer da encenação da Cia. dos Homens, que está em temporada, no Clube Líbano Brasileiro, no Pina.

A trupe comandada por Cláudia São Bento ergueu uma estrutura coberta com tenda plástica preta formando uma caixa cênica. O público fica alojado numa arquibancada de 200 lugares. A estreia, tinha pouca gente. Do lado, corria uma partida de futebol society, com direito aos gritos de guerra dos atletas. É, os espaços mais experimentais também trazem suas inconveniências. Mas não chegou a atrapalhar. Quando a sessão começou, o público ficou magnetizado, entre curiosidade, apreensão e torcida para que tudo desse certo. Afinal, o projeto é pra lá de interessante. A proposta, esse mergulho literal da companhia no estado líquido, merece arquibancada lotada.

No início do espetáculo, de costas para o público, Cláudia São Bento segurava Maria São Bento, sua filha de 12 anos. Da perspectiva da plateia não dava para ver que tinha uma garota em seu colo, antes de iniciar a apresentação. Nem que os outros bailarinos estavam dentro da piscina. Luz, música e tudo começou a ser revelado. A mãe bailarina faz o movimento iniciático para sua garotinha, que boia entregue, sem medo.

Pioneira na dança contemporânea em Pernambuco, a Cia. dos Homens é uma das poucas que vem sistematicamente trabalhando com pesquisas de movimentos, que investigam novas possibilidades da dança em sintonia com esses tempos. Há muitos momentos belos da encenação.

É poderosa a evocação do mito de Narciso, com os bailarinos à beira da piscina encantados com suas próprias imagens. As brincadeiras de crianças com suas boias são divertidas. Há também solos e coreografia em grupo na beira da piscina, como a assinada por Airton Tenório e dançada por Cláudia (Sinal de trânsito). Outra em que prevalece a composição do grupo formado por Ana Paula Ferrari, Paula Stuhrk, Isabel Ferreira, Fernanda Lobo e Jorge Sabino.

E há coreografias emocionantes. Uma delas é depois que ouvimos o poema Na água, de Eduardo Baszoczyn, quando o elenco volta e flutua em movimentos delicados, fluidos, que escondem pela técnica o esforço de um ano de treinamento duro e todas as dificuldades de se mexer dentro d’água.

* Texto publicado originalmente em 3 de abril de 2008, no Diario de Pernambuco

SERVIÇO
O espetáculo Palavra úmida fica em cartaz até 6 de fevereiro, no Clube Líbano, no Pina. A temporada Começou dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos, mas prossegue às quintas e sextas-feiras, às 21h, e aos sábados e domingos, com sessões às 17h e às 21h. As arquibancadas comportam apenas 150 pessoas a cada apresentação.

Da equipe anterior, atuam na atual montagem Cláudia São Bento, Ana Paula Ferrari e Isabel Ferreira. Os homens são Jefferson Figueiredo, o cubano Luís Rúben Gonzalez e Allan Delmiro, o mais novo na trupe. A temporada foi viabilizada com recursos do Funcultura.

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