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Is love all we need?

Love, love, love está em cartaz no Royal Court. Fotos: Johan Persson/divulgação

No mês passado, Denise Fraga esteve no Recife com a peça Sem pensar. E o que me chamou mais atenção é que o texto era de uma garota inglesa bastante jovem, acho que 19 anos, que fez um curso no Royal Court Theatre. Em Londres, a peça fez bastante sucesso. Achei o texto de Anya Reiss – Spur of the moment, no original – mais interessante por ela não ter experiência na escrita dramatúrgica do que pela obra em si. É simplesmente porque aquela carpintaria teatral, toda aquela discussão familiar, embora bem feita, me soava antiquada. Talvez seja a ideia, também antiga, de que os jovens deveriam estar desconstruindo, quebrando regras, e não se enquadrando tão bem a elas.

Estive ontem no Royal Court Theatre (na realidade, no Jerwood Theatre Downstairs) para ver Love, Love, Love, texto do também jovem autor Mike Bartlett. A peça estreou em 2010 e voltou em cartaz. As críticas são, em sua maioria, bem boas. Mike Spencer, do The Telegraph, escreveu: “it strikes me as Bartlett’s best work to date, with deeper characterisation, more personal themes, and scenes of extraordinary intensity and emotional truth shot through with dark humour”. O teatro estava lotado – alguns jovens na plateia, mas principalmente, muitas pessoas de meia-idade.

Para um autor que diz “We’ve got to get away from the idea that it’s good to go to the theatre. It isn’t church. There’s nothing innately good about it. Most theatre is still really bad” acho que, na prática, ele ainda encara o teatro de forma muito tradicional. Em alguns momentos, pensei que estava vendo uma novela e não uma peça de teatro. A direção é de James Grieve.

São três atos. A montagem começa nos anos 1960. Henry (Sam Troughton), um cara certinho que gosta de música clássica, marcou um encontro com Sandra (Victoria Hamilton). Mas Kenneth (Ben Miles), o irmão “vadio” dele está no sofá e deixou a casa toda uma bagunça. Resultado, quando Sandra chega, é por Ken que ela se interessa. Ela está totalmente integrada àquela geração onde tudo era permitido, fumar maconha, dormir na grama e dançar ao som de qualquer coisa, até dos Beatles.

Ben Miles interpreta Kenneth

No segundo ato, os anos passam. Estamos na década de 1990 e agora Sandra e Ken estão casados (embora o primeiro ato termine com: “are your ready for adventure?”; bom, não deixa de ser uma) – Sandra usa roupas de secretária executiva e têm dois filhos: Jamie (George Rainsford) e Rosie (Claire Foy). É um dos atos mais pesados. Porque é aqui que eles percebem que não estão vivendo a vida que queriam, há uma traição e eles se separam. E os adolescentes estão perdidos no meio disso tudo. Ácho que o jornalista do The Telegraphy fala principalmente desse ato.

Segundo ato: George Rainsford (Jamie), Victoria Hamilton (Sandra) e Claire Foy (Rosie)

Depois de outro intervalo, se a mudança cenográfica já tinha sido gigante do primeiro para o segundo ato, aqui é mais ainda. Antes os dois cenários eram salas (bem diferentes uma da outra), e agora é um terraço. Rosie tem 37 anos e volta de Londres para conversar com os pais – ela percebeu que seguiu os conselhos que eles deram a ela e que isso não a levou a lugar nenhum. Não tem uma carreira, uma casa, uma relação, filhos. Enfim. E o casal que estava separado tem um reencontro.

A atuação de Victoria Hamilton é muito boa, principalmente pela forma como ela passa da comédia ao drama. Assim como Claire Foy, uma linda atriz, também de muito talento. A iluminação é assinada por James Farncomble e o cenário – que no primeiro ato quase não tem profundidade -, é de Lucy Osborne. A mudança dos anos também é interessante – mudam as músicas, as roupas; embora no terceiro ato a caracterização seja bem mais difícil – porque os atores não parecem ter a idade que deveriam.

Terceiro ato

O humor de Love, Love, love assim como em Spur of the moment, é muito bom – tem ironia. Mas o texto em si – são pais que não deram atenção aos filhos, que acharam que podiam fazer tudo o que quisessem, mas que ao final só fizeram se aliar ao sistema – o que há de novo? Até a opção por fazer a montagem de forma cronológica não nos surpreende. Sim, All we need is love. Mas um pouquinho de transgressão não seria nada mal também.

O trailler de Love, love, love

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