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Antônio Abujamra, o eterno provocador

Antônio Abujamra é festejado com debates, show, espetáculo e leitura no Itaú Cultural

Ator e diretor paulista Antônio Abujamra (1932-2015) deixou marcas de irreverência nos palcos e nas telas; na história do teatro brasileiro. O Itaú Cultural inicia suas atividades cênicas de 2021 com uma homenagem a esse homem do teatro com Antônio Abujamra – A Voz do Provocador. A programação online ocorre de 18 a 21 e de 25 a 28 de fevereiro, de quinta-feira a domingo, com conversas, encenações inéditas e música. O legado de Abujamra é celebrado no ano em que se comemora três décadas de fundação da Cia Os Fodidos Privilegiados, criada pelo ator e diretor no Rio de Janeiro.

Abu, de Cabo a Rabo é a mesa que abre a programação – no dia 18 (quinta-feira), às 20h, e conta com a participação do crítico teatral e professor Edélcio Mostaço para distinguir a trajetória desse artista influenciado pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), de inteligência brilhante, sensível, de humor ácido e que não renunciava à autoironia. A conversa será mediada pela diretora, roteirista e produtora de teatro e eventos Márcia Abujamra, sobrinha do ator, que idealizou essa mostra junto com o Itaú Cultural.

Cia Os Fodidos Privilegiados – Exorbitâncias e O Casamento, a Renovação do grupo é o tema da segunda mesa (sexta-feira, 19, também às 20h), com as atrizes Filomena Mancuzzo, Guta Stresser e Paula Sandroni, e o diretor João Fonseca. Eles apresentam histórias e gravação de cenas de espetáculos.

Fundada em 1991, no Rio de Janeiro, a Cia Os Fodidos Privilegiados montou três peças naquele ano: Um Certo Hamlet, A Serpente e Phaedra. Em 1995, juntou 60 atores em cena no espetáculo Exorbitâncias. Em 1997, o grupo estreou O Casamento, de Nelson Rodrigues.

O Casamento, montagem de 1997. Foto Chico Lima / Divulgação

Coroa para o povo

O Veneno do Teatro, espetáculo criado Antônio Abujamra e interpretado por ele por mais de 10 anos, ganha nova versão, interpretado pelo ator Elias Andreato e com roteiro e direção de Marcia Abujamra, nos dias 20 e 21 (sábado e domingo), às 20h. A encenação junta trechos de histórias biográficas da encenação original com trecho de vídeos de espetáculos que Abujamra dirigiu e depoimentos de arquivo de alguns artistas, a exemplo de Antunes Filho, Alcides Nogueira e Felipe Hirsch.

Crítico teatral e professor Edélcio Mostaço e diretor e dramaturgo Sérgio de Carvalho. Fotos: Reprodução do Facebook

A mesa Antônio Abujamra e o teatro épico no Brasil ocorre na quinta-feira, dia 25, às 20h, conduzida pelo dramaturgo e encenador Sérgio de Carvalho, fundador da Companhia do Latão. Carvalho vai focar na importância do trabalho de Antônio Abujamra em diálogo com o movimento de renovação da cena brasileira.

A leitura online de Um outro Hamlet, com companhia Os Fodidos Privilegiados, avança para a montagem do espetáculo Hamleto – que o grupo prepara para 2021, para celebrar seus 30 anos de fundação – dá prosseguimento ao programa Antônio Abujamra – A Voz do Provocador, na sexta-feira e no sábado, dias 26 e 27, às 20h.

Com direção de João Fonseca e de Johayne Ildefonso, Hamleto se baseia no texto escrito em 1972 pelo italiano Giovanni Testori (1923-1993), com adaptação de Antônio Abujamra, que dá novos rumos à história de Hamlet, de Shakespeare, com ingredientes políticos e de deboche. Sugere uma relação homossexual entre Hamlet e Horácio, e permite que o protagonista ceda as riquezas da coroa para o povo no ato de sua morte.

O Teatro Dissonante de Antônio Abujamra: A Temporada Carioca é o título do último debate, no sábado, 27, às 17h, com participação do professor André Dias.

No domingo, 28, às 20h, o encerramento da programação Antônio Abujamra – A Voz do Provocador é com o show online Abujamra Presente, com o músico André Abujamra, filho caçula do diretor. Cantor, compositor, guitarrista, percussionista, pianista, produtor musical com mais de 70 trilhas feitas para cinema, onde também tem trabalhos como ator e diretor, André Abujamra apresenta um repertório sacado de seus quatro discos – Mafaro, Homem Bruxa, Omindá e Emidoinã.

Antônio Abujamra – A Voz do Provocador acontece pela plataforma Zoom e os ingressos podem ser reservados via Sympla. Informações pelo site www.itaucultural.org.br.

Serviço:

Antônio Abujamra, a Voz do Provocador
Quando: De 18 a 21 e de 25 a 28 de fevereiro (quinta-feira a domingo)
Onde: No site do Itaú Cultural: www.itaucultural.org.br  

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Ao desobedecer, Antígona ensina sobre a liberdade

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Antígona desafia o poder injusto do Estado. Fotos: Matheus José Maria / Divulgação

Os garotos que estavam sentados na fileira da frente saíram eufóricos. O casal mais intelectual reclamou do procedimento que entendeu como didático da encenação de Antígona, com Andrea Beltrão e direção de Amir Haddad. Fiapos de conversas, trechos de comentários davam conta do talento e da versatilidade da atriz, da simplicidade dos dispositivos cênicos, da facilidade de entender o emaranhado de maldições, desditas entre deuses e homens. O meu amigo reclama porque a tragédia Antígona está esburacada e outros mitos entram no mote. É mesmo, para injetar gás nessa saga temporal da heroína, Haddad /Beltrão também foram buscar ingredientes em As Bacantes, de Eurípedes, nas peças da Trilogia Tebana de Sófocles – Édipo Rei e Édipo em Colono, além da tradução que dá título ao espetáculo, feita por Millôr Fernandes (1923–2012).

Andando pelo Paulista para pegar o metrô fui recolhendo esses vestígios de recepção. Todos têm razão. A razão de cada um. A interpretação de cada um. A curta temporada gratuita da tragédia de Sófocles, na sede do Itaú Cultural dava o que o falar para um público diversificado, mas já versado no exercício da cidadania cultural.

Antígona é uma das belas a atuais tragédias gregas. Escrita há 2.500 é aberta a leituras contemporâneas. Qualquer calouro de Direito é convidado a se inteirar da peça para refletir sobre o embate entre direito natural e direito positivo, entre o que é moral e legal, a legitimidade do poder soberano, o decreto tirânico de Creonte.

Esse rei dá a ordem de que ninguém pode sepultar Polinices, na visão régia, o traidor da pátria. Ocorre que Antígona, filha do incesto de Édipo e Jocasta, é irmã de Polinices e Etéocles, que se mataram na briga pelo trono de Tebas. Antígona se posiciona contra a leis injustas do estado. A personagem é inspiração feminista por combater o patriarcado. Essa obra clássica e aberta a múltiplas interpretações aponta desde sempre para o futuro.

Haddad mago do teatro popular, envolvido há quase 30 anos com o grupo Tá na Rua, sintonizou suas antenas de comunicação direta com plateias diversas para o espírito da peça, que chega despojada e repleta de uma língua prosaica do mundo contemporâneo.

Andrea Beltrão

Andrea Beltrão interpreta Antígona e todos os personagens do espetáculo.

Um varal genealógico dá conta da linhagem de deuses e mortais, seus destinos trágicos, pelejas, martírios, tiranias, vícios e virtudes. Essa quadro materializa os recuos e avanços temporais das relações da personagem-título até Zeus, e expõe a ascensão e queda da cidade de Tebas.

Nessa saga interpretativa, Andrea salta de um a outro personagem, assume a voz do coro e encarna Édipo, Ismênia, Jocasta, Creonte, e os outros… A partir de poucos acessórios – echarpe, sapatos, cadeira e microfone – e recursos poderosos de corpo e voz a atriz constrói todas as figuras dessa tragédia, bem como comenta.

Nesse percurso e alternância de figuras a carga trágica do texto primeiro se dilui, mas é abastecido pela pulsação desse mundo contemporâneo que nos chega vorazmente em telinhas e telões. De violências, tensões e guerras, intolerâncias de todas as ordens, machismo e todas as políticas com os seus podres poderes.

Não esqueçamos dos avisos de Sófocles: “Apenas o governante que respeita as leis de sua gente e a divina justiça dos costumes mantém a sua força, porque mantém a sua medida humana”. Remédio para aplicar direto na ferida.

Se esbarrarem com Antígona por aí não hesitem em abraçá-la. Ela pode estimular sua coragem adormecida.

Ficha Técnica

Autoria: Sófocles
Tradução: Millôr Fernandes
Dramaturgia: Amir Haddad e Andrea Beltrão
Direção: Amir Haddad
Com: Andrea Beltrão
Iluminação: Aurélio De Simoni
Figurino: Antônio Medeiros
Direção de Movimento: Marina Salomon
Cenário e Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque
Desenho de Som: Raul Teixeira
Operação de luz: Diego Diener
Camareira: Conceição Telles
Administração: Laura Gonsalves
Mídias Sociais: Nicolle Meirelles
Produção Executiva: Ricardo Rodrigues
Direção de Produção: Carmen Mello
Produção: Boa Vida Produções
Realização Turnê: Trigonos Produções Culturais

SERVIÇO
Antígona
Com Andréa Beltrão
1º de abril (domingo), às 19h. Último dia da temporada que começou em 23 de março
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos 
Sala Itaú Cultural (224 lugares)

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