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Salve, salve Cacilda!, guerreira

Atriz Isabella Lemos Foto: Luísa Bonin

“Uma pura chama ardendo diante de nós”, certificou o crítico Décio de Almeida Prado, sobre o impacto de várias atuações de Cacilda Becker Yáconis (Pirassununga, São Paulo, 1921 – São Paulo, São Paulo, 1969). O diretor italiano Ruggero Jaccobi comentou “que havia, por assim dizer, uma espécie de eletricidade na palavra e no gesto de Cacilda. Ela se movia pelo palco desencadeando uma série de choques elétricos… A isso veio se acrescentar a grande versatilidade, aquela curiosidade intelectual pela qual queria continuamente experimentar-se em alguma coisa diferente, da tragédia à comédia de humor, do drama sentimental a certas formas de vanguarda, dos papéis de velha ao de menino – como o famoso Pega Fogo. Não ficava satisfeita nunca”. O depoimento de Jaccobi está registrado no livro Uma atriz Cacilda Becker (organizado por Maria Thereza Vargas e Nanci Fernandes).

O monólogo Viva Cacilda! Felicidade guerreira! investiga algumas facetas dessa atriz brasileira. O filme-teatro é roteirizado e dirigido pela fotógrafa Lenise Pinheiro, inspirado no texto da montagem Cacilda!, de 1998, com dramaturgia e encenação de José Celso Martinez Corrêa. A iniciativa do Coletivo Takamakina de Teatro faz curta temporada online e gratuita a partir desta segunda-feira, Dia Internacional da Mulher.

O trabalho foi gestado durante a pandemia e gravado nas dependências do Teatro do Pequeno Ato, em São Paulo. O interlúdio, como a diretora prefere chamar, celebra os cem anos de nascimento de Cacilda Becker no próximo 6 de abril.

A atriz Isabella Lemos interpreta Cacilda numa narrativa intervalada por registros de áudios feitos pelo ator Marco Ricca, que assume várias vozes , dentre elas a do ator e diretor polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978). As músicas originais são de autoria do maestro Marcelo Pellegrini.

O interlúdio de Lenise, costura textos da peça de Zé Celso à visão feminina de Cacilda Becker na política e na vida doméstica. Nomes como o da encenadora Bia Lessa, da dramaturga Consuelo de Castro (1946-2016), da escritora Maria Clara Machado (1921-2001), e da dramaturga Leilah Assumpção são convocados na cena.

A encenadora arremata o trabalho com ensaios fotográficos autorais de seu arquivo e imagens inéditas capturadas no início dos anos 1990 no apartamento, então desocupado na Avenida Paulista, onde viveram Cacilda, Walmor Chagas, seus filhos e o cachorro Fió.

Lenise é fotógrafa especializada em teatro, uma das mais respeitada no país, e atua no campo desde 1982. É também iluminadora, cenógrafa e mantém um blog na Folha, Cacilda! Dirigiu em 2020 a peça Uma lei chamada mulher, de Consuelo de Castro, baseada na vida de Maria da Penha, que esteve em cartaz no Sesc Ipiranga, com Isabella no elenco.

Peça faz apresentações pelo canal Youtube. Foto: Luísa Bonin / Divulgação

Viva Cacilda! Felicidade guerreira!
Temporada de seis apresentações de 08 a 13 de março às 19hs.
Quando: De 8 a 13 de março, às 19h
Onde No YouTube
https://m.youtube.com/channel/UCKrZF3Y8K9Qj9E3Q5PcSYsA
Quanto: Grátis
Classificação 16 anos
Elenco Isabella Lemos
Direção Lenise Pinheiro
Duração 55 min.

Cacilda Becker e Filho. Foto: Chico Albuquerque (1955) In: Enciclopédia Itaú Cultural

Quando Cacilda Becker morreu, aos 48 anos, Carlos Drummond escreveu escreveu um comovente poema:

ATRIZ (Para Cacilda Becker)

“A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Piraçununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um dos mitos cênicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.”
Carlos Drummond de Andrade. junho de 1969.

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