Quando soube que o 15º Festival do Teatro Nacional iria abrir com mais uma homenagem a Luiz Gonzaga pensei: Mais uma. A curadoria apostou no fluxo, nada contra a maré. Centenário, musical, Luiz Gonzaga, a primeira participação de João Falcão num festival que já existe há tanto tempo. Depois fiquei assuntando. O festival resolveu abrir com uma atração que contagiasse o público. E os coordenadores pegaram a maré e surfaram bem.
João Falcão sabe juntar como poucos um punhado de clichês que ele transforma numa cena deslumbrante. Sua linguagem é direta e poética. Umas perguntas bestas e respostas tolas com ele funcionam super bem. Isso não é defeito. É estilo. Tem isso na peça A máquina, A dona da história, nas peças lá atrás que ele fez com seu grupo recifense, como Pequenino grão de areia e Muito pelo contrário.
Na peça Gonzagão – A lenda o dramaturgo e encenador juntou um bando de ator bom, que canta, dança, interpreta, tem sinergia. E que confiam tanto um no outro que isso possibilita que eles se joguem no espetáculo sem medo. E isso é mais uma marca de Falcão. Além do elenco talentoso, cheio de energia, com corpo e voz disciplinados para a empreitada, com domínio cênico, o encenador contou com músicos danado de bons.
É certo que nessa dramaturgia João Falcão evita os conflitos. Como por exemplo na relação de Gonzagão e Gonzaguinha. Ele tem um olhar mais generoso e acho que prefere contar e cantar a alegria, a esperança, a possibilidade de mostrar que todos tem uma estrela. As peças do diretor que assisti sempre me deram esse conforto, creio que resultado de sua visão positiva da vida.
Além de uma trupe que incendeia o palco, de uma dramaturgia que agrada ao grande público, das músicas bem tocadas e cantadas, de atores cativantes, de um figurino que vem da tradição mas que puxa para o romantismo, de cenário, adereços, e luz que criam um clima para alimentar a alegria.
As pessoas ao meu lado, do outro lado, atrás, nas frisas e camarotes aplaudiram em cena aberta a cada música cantada, tocada, desafiada. (Eu só gosto de aplaudir ao final, é meu jeito). Exagero ou não isso deve ter sido muito bom para o elenco e para o diretor pernambucano que no final estava bem emocionado. Ser acarinhado assim em sua terra. Isso não tem preço (E isso é um clichê!!! Mas tá valendo).
Na saída do teatro, outra fila já estava formada para a segunda sessão. Dos que já tinham visto, muita gente comemorando. Poucos, muito poucos, enciumados, invejosos, torcendo contra. Acontece nos melhores lugares. Deve ter gente que não gostou. Normal. Gonzagão – A lenda é um espetáculo para divertir e toca mais quem gosta das músicas de Luiz Gonzaga e menos das de Madonna. Ou quem uma memória afetiva dessas músicas. Eu gostei muito. ACho que cumpriu a função de abrir um festival que quer agradar o Recife num final de gestão.