“Quanto mais a gente se embrenhava pelo texto, mais percebia o quanto ele era necessário. Só com a força e a violência das palavras”. Essa foi uma das falas de um dos atores do grupo mineiro Galpão, referindo-se à escolha por encenar o texto Tio Vânia, de Anton Tchekhov, montagem que estreia aqui no Festival de Curitiba.
Com quase 30 anos de atuação, o grupo Galpão é conhecido principalmente (embora nunca tenha deixado de se apresentar nos teatros) pelo teatro de rua. Pelo encantamento que provoca ao levar a arte para tão perto das pessoas. Foi assim, por exemplo, com a peça Till, um herói torto, que abriu o Festival Recife do Teatro Nacional há dois anos.
Mas como grupo, e isso me parece ser o que faz com que os trabalhos da companhia sejam tão diferentes e únicos, eles queriam o desafio. Do teatro psicológico, com menos arroubos de emoção, com “implosões”, como disse uma das atrizes. Eles até pensaram em fazer uma dramaturgia decorrente do texto original, mas desistiram durante o processo. “O grupo queria enfrentar Tcheckhov. Não fazia sentido”, contou a diretora convidada pela companhia para montar a peça, Yara de Novaes. “Não sei se é realista, se não é, mas é a necessidade do Galpão agora”, complementa.
O grupo está na sua décima nova montagem. “Essa montagem significa muito. É mais um passo do Galpão no sentido de não se acomodar, de não estar satisfeito, fazendo uma coisa padronizada, uma marca que teria sucesso, uma fórmula”, conta o ator Antônio Edson, que faz o Tio Vânia.
Sobre o convite à Yara para fazer a direção, os atores disseram que acompanham o trabalho da colega mineira (que já morou no Recife) e que ela gosta de inquirir o tempo todo. Está sempre se perguntando o que é teatro, o que dizer, para que, como. “O Galpão é muito poderoso. Eles têm uma alquimia…e vi que como eles são trabalhadores, como não se negam ao trabalho, ao questionamento. Eles têm a humildade de quem quer aprender sempre. E por isso que são mestres”, finalizou a diretora.