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A máquina de fazer festas e… tiranos
Crítica do espetáculo Édipo REC

Jocasta (Nash Laila) coroa o DJ Édipo (Giordano Castro).Foto Camila Macedo / Divulgação

DESEJO DE SABER: Dançar até os pés ficarem inchados

Pompeia, SP, 28 de setembro de 2024. Dia seguinte à estreia do espetáculo Édipo REC, do Grupo Magiluth, do Recife

O desejo de poder é uma das forças motrizes das ações de Édipo, my love. Tem também o amor… um belo exercício de poder.

E a vida é decepcionante???

Mas será que somos gregas? A democracia foi forjada lá? E o teatro nasceu na Grécia? Gaguinho, personagem da atriz Odília Nunes em A Guará Vermelha, da Cia. do Tijolo, também contestou essa tese. O Corifeu de Édipo REC, na ressaca anos após a festa,  pondera que “já se fazia muito teatro em muitos lugares, nas mais variadas línguas, espalhados num território gigante e plural hoje singularizado na palavra África”.

Mas antes tem “a” festa e ela dura horas, muitas; anos, séculos. E como nos alimentamos desses estímulos de som, do banal ao mais potente, energia pura e outras pujanças de uma luz mágica de Jathyles Miranda que maneja as emoções, dessas que estão à flor da pele, mas busca o tutano.

Fazemos pose, se dói em algum ponto do corpo ninguém vai ver, até a queda final.

A música e o DJ, que será rei, as pequenas invejas e as grandes traições ocupam os espaços, se deslocam, traçam coreografias.

Na festa tão contagiante com suas drags provocadoras, adivinhadoras, somos levadas por tantas sensações e ambientes do poder macro ao micropoder. Do país Brasil, ao universo das nossas bolhas de tantas performances e multiplicações de imagens.

Mas afinal, do que você está falando?

De mim, bebê, pois cada uma fala de si e tenta valer sua narrativa, mesmo quando disfarça com os escudos da teoria.

Mário Sergio, no papel de Creonte, que ambiciosa ser o poderoso chefão. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Do fim da peça Édipo REC passando pelo  drink no templo da Pina Bo, das negociações da galera no Pompeu às tarefas prosaicas de limpar casa, preparar comida, e tentar elaborar algum pensamento sobre o 15º campeonato do Magiluth foram muitos tempos intercalados…. em apenas um dia.

Nem sabemos exatamente como chegamos naquele baile tão cheio de nuances, que o dono da sina só chega muitas poses depois.

Seguimos o Coro drag Erivaldo Oliveira e suas inflexões debochadas, seu modelito brilhante e botas de plataformas enormes.

Ainda na convivência, o clima se instala. Munido com sua máquina de captar imagens, Bruno Parmera de barba e boné (quase um disfarce) se projeta em Corifeu multiplicado por muitos clicks.

Creonte se apresenta ambíguo, quem é ele ?

Caímos na festa – o palco do Sesc Pompeia – com suas arquibancadas vazias e seu dancing lotado de espectadores/colaboradores que seguem o fluxo de Parmera, de Mário, de Erivaldo.

E são muitos climas de festa… a chegada de Pedro-Tirésias, num figurino deslumbrante, a dizer alguma verdade e celebrar outros teatros zecelsianos e muitos níveis de influências. A presença do Pedro Wagner traz uma liga, uma segurança, uma propriedade na cena; que o audiovisual permita que ele esteja muitas vezes no teatro. 

A atriz Nash Laila (Jocasta) na estreia, ao lado da diretora Cibele Forjaz. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Nash Laila como Jocasta. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Eu danço, tu danças, ela dança, nós dançamos, el_s dançam. E chega o “dono” da festa, o DJ Édipo (Giordano Castro), que conquistou sua Jocasta (Nash Laila) e apaziguou um país. Pelo menos por um tempo…

E que coisa mais linda a presença da atriz Nash Laila. Que coisa boa o Magiluth acolher uma intérprete depois de tantos anos sem a presença feminina no palco. Pareceu-me que o jogo ficou mais… delicioso. O que pode a atuação de uma mulher num elenco masculino? Muchas cosas, cariño. Inventa outras humanidades.

Enquanto dançamos, a máquina de fabricar “estados de felicidade” (que remete à peça Dinamarca) faz seu papel de explorar e questionar as imagens na sociedade contemporânea. A festança esconde, mas não anula com sua tecnologia, esse “clube” em crise existencial, aprisionado em ciclos de consumo, excessos que levam à sensação de vazio.

O jogo cênico com imagens gravadas e em tempo real promovem uma realidade nuançada e desafios interpretativos para quem observa ou se posiciona no palco. Muitas chaves são lançadas para quem busca significados. As ferramentas estão no ar.

 E como já pode ser considerado pré-histórico o costume de fotografar e partilhar vivências íntimas em álbuns de família discretamente… A narrativa visual da era digital é uma guerra extenuante e incessante de exposições públicas, cada qual “palestrando” sua saga no vasto anfiteatro digital da contemporaneidade.

O primeiro jorro / A primeira golfada, poucas horas depois da festa-peste saiu assim… Mas sem conectividade e com as memórias cheias dos meus equipamentos, o texto ficou grudado nas barreiras de saída…

Pedro Wagner- Tirésias em primeiro plano. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Desejo de saber: Pestes, enigmas, sinas.

SP, alguns dias após a estreia de Édipo REC

Traduzida como Édipo Rei em algumas versões (Mário da Gama Kury, Lilian Amadei Sais, Trajano Vieira e outros), e intitulada Édipo Tirano na edição publicada pela Todavia em 2017 (com tradução e comentários de Leonardo Antunes), a peça entrelaça incesto e patricídio. Esta, que é uma das mais renomadas tragédias gregas, foi escrita por Sófocles por volta de 429 a.C. e tem sido revisitada e recriada por artistas de diferentes épocas.

A obra explora a jornada de Édipo, rei de Tebas, em sua busca pela verdadeira identidade e pela solução do assassinato do antigo rei, Laio. A trama desvela gradualmente o terrível destino do protagonista, que, sem saber, matou seu pai e se casou com a própria mãe, cumprindo uma antiga profecia.

No artigo Édipo: a encruzilhada fatal, a psicanalista Maria Homem aponta que o texto dramatúrgico de Sófocles pode ser considerado o primeiro grande thriller ocidental, com várias reviravoltas, girando em torno de um crime central. “Quem matou Laio? Fio condutor do suspense. A essa camada se superpõe uma história de investigação de si mesmo, um processo – trágico – de desvelamento de si. O detalhe é que desde o início somos advertidos pelo cego que mais vê, Tirésias, de que o saber pode ser perigoso… [1]”

Édipo e Jocasta em sua festa. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Édipo REC, a 15ª montagem do grupo Magiluth reinterpreta a tragédia de Sófocles da perspectiva contemporânea e podemos pensar nos conceitos desenvolvidos por Jean Baudrillard, de que vivemos em um mundo de simulacros – cópias sem originais – onde a distinção entre realidade e representação se tornou borrada. Neste contexto, a “hiper-realidade” substitui a realidade “autêntica”, e os signos e símbolos se tornam mais reais do que aquilo que supostamente representam. Os indícios que nos guiam por esse caminho revelam-se na encenação, que enfatiza os processos de produção na tecnologia, mídia e cultura da imagem.

O espetáculo está dividido em dois atos: o primeiro é uma celebração exuberante que ecoa o excesso de estímulos visuais da nossa era; o segundo apresenta o desenrolar da tragédia inevitável.

O primeiro, com direito a esquenta-festa na temporada paulistana na área de convivência do Sesc Pompeia, começa enquanto o público aguarda para adentrar no teatro. Alguns personagens – Corifeu (Parmera), Coro (Erivaldo), Creonte (Mário Sérgio) e Mensageiro (Lucas) circulam. Os outros personagens só “aparecem” dentro do teatro.

O Coro-drag, equilibrado em suas plataformas e do alto da escada convoca: “Sejamos carnaval. Sejamos essa alegria devastadora embriagada…” para depois cravar “Vamos fazer dessa noite, a noite mais linda do mundo”, um refrão também da música A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), cantada por Odair José, que já faz um diálogo com outra canção popular inserida em Dinamarca, Quando Chegar o Amanhã, gravada por Leonardo Sullivan.

Neste trabalho comemorativo dos 20 anos de trajetória do Grupo Magiluth, a companhia realiza uma retrospectiva artística, tecendo habilmente elementos e temas de seus espetáculos anteriores na trama de Édipo REC. Esse processo de autorreflexão cênica está carregado de  referências sutis e explícitas a produções passadas. A dramaturgia expande as citações, abrangendo desde a mitologia grega até a cultura brasileira.

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Ainda no prólogo, o Coro-drag-Erivaldo, entre batidas de leque e toques de sarcasmo, afirma que ninguém poderá ser considerado feliz antes de ter vivido todos os dias até sua morte. Essa ideia constitui um dos pilares de qualquer versão de Édipo, sintetizando uma de suas reflexões mais profundas.

O Coro pergunta, responde, aconselha: “A vida é decepcionante? É decepcionante! Mas é isso que temos! Então finjam ter outra vida…”

O título Édipo REC reporta-se simultaneamente à cidade do Recife e ao ato de gravação (REC). Esta escolha expõe a combinação do mito clássico de Édipo com elementos contemporâneos da era digital, trazendo para a cena as pesquisas do diretor Luiz Fernando Marques – Lubi sobre as intersecções entre teatro e cinema. A obra esquadrinha o impacto da constante documentação e compartilhamento de nossas vidas nas redes sociais e outros meios digitais sobre nossa percepção da realidade e identidade.

Marques, em conjunto com o dramaturgo Giordano Castro e o elenco, desenvolve procedimentos cênicos que desafiam as convenções temporais e espaciais, criando um jogo complexo entre o passado mítico e o presente urbano. A não-linearidade cronológica da montagem aciona um dispositivo questionador da própria natureza do tempo no teatro e na vida.

A festa com o público no palco. Camila Macedo / Divulgação

O cenário transforma o palco em um ambiente frenético de celebração: luzes, fumaça, telões com projeção e música alta, envolvendo a plateia em uma experiência sensorial imersiva. Durante esse momento de “descontração”, muitas pequenas situações são expostas como o chamado para  dançar até os pés ficarem inchados, numa evocação ao nome Édipo ou quando o Coro faz menção a Édipo como elucidador de mistérios, homenageando a figura de Chico Science ao apontar que ele é aquele que fincou uma antena em meio às esculturas de lama e decifrou os enigmas.

A encenação de Édipo REC abraça e explora a noção de simulacro de maneira envolvente. A transformação do palco em uma boate com DJ e interação direta com o público cria uma hiper-realidade que engole tanto atores quanto espectadores. Esta reinterpretação encampa o poder avassalador da mídia e da cultura pop na formação das identidades. 

O uso de tecnologia audiovisual, com câmeras filmando e projetando cenas ao vivo, adiciona uma camada extra. Acompanhamos simultaneamente ao “real” e sua representação mediada. Esta dinâmica se estende à representação de Tebas como um “Recife-Pompéia fantasmagórico”, evocando uma ilusão de comunidade efêmera.

Em meio a esse fluxo, Édipo é coroado. Como diz um personagem: “Ele que é o próprio LSD – Luz, Som e Desejo!”

O jogo é intenso entre o elenco formado por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner, com a participação da atriz Nash Laila. Os personagens Corifeu, Coro, Édipo, Mensageiro, Tirésias, Creonte e Jocasta coexistem com figuras e dilemas contemporâneos.

O Corifeu convida o público a sair do teatro, sob o pretexto de que precisa filmar tudo novamente. Nesse segundo ato, enfrentamos a tragédia em sua essência. Tirésias, o sábio cego, reitera uma das frases mais lúcidas, belas e devastadoras da dramaturgia de todos os tempos: Nunca digas que uma pessoa foi feliz sem que tenha vivido o último dia de sua vida.

Vinte anos se passaram desde aquela grande festa, das juras de amor e da coroação de Édipo. O clima predominante é diametralmente oposto ao do primeiro ato. A peste se alastrou pela cidade, imperando o medo e a desconfiança. Tudo está à beira do abismo.

Essa tragédia festivo-pestilenta convoca para o teatro temas políticos e morais da nossa era. Questões éticas e suas consequências são abordadas, como o célebre episódio do fotógrafo que registrou a imagem de uma criança esquelética espreitada por um abutre. [2]

Parmera, o Corifeu, que capta as imagens. Foto: Camila Macedo / Divulgação

O Corifeu propondo a dancinha juntos na festa. Foto: Camila Macedo / Divulgação

As interrupções constantes do Corifeu (“Corta!”) e as mudanças abruptas de cena enfatizam a artificialidade da narrativa, tensionando qualquer noção de realidade coerente e unificada. 

A intensa interatividade e o uso extensivo de tecnologia podem, por vezes, obscurecer a fluidez e as questões filosóficas fundamentais da tragédia original. Há momentos em que o espetáculo corre o risco de priorizar o secundário. Já a apropriação da violência e do trauma levanta questões éticas sobre a estetização da barbárie no teatro. Um aspecto com muita possibilidade de discussão.

Embora por vezes corra o risco de se perder em seus  próprios labirintos, Édipo REC é um espetáculo tão provocador quanto potente em suas interpretações plurais e singulares. É a montagem que celebra os 20 anos do Grupo Magiluth, prosseguindo um trabalho de pesquisa importante de uma companhia que tem a coragem criativa para não deixar os clássicos intocáveis e mete a mão nessas obras para buscar a pulsação dos tempos atuais.

Lembrei de um espetáculo que assisti no Festival de Avignon, França, em 2023, que, embora não dialogue diretamente em temática com o trabalho do Magiluth, apresenta aproximações interessantes em dois aspectos: a celebração festiva e o uso inovador de recursos de projeção de imagem.

Extinction, dirigido por Julien Gosselin, apresenta-se como uma produção ambiciosa de cinco horas que desafia as convenções teatrais tradicionais. A peça inicia com um concerto de techno de uma hora, durante o qual cerveja flui gratuitamente e o público recebe convites para dançar.

Há uma radicalidade no uso de tecnologia visual em Extinction. Uma tela gigante exibe imagens em preto e branco, pontuando momentos de intensidade dramática. A transição para a representação principal é marcada por uma mudança na técnica de apresentação: os atores são vistos em parte na presença teatral e em imagens filmadas ao vivo e projetadas em preto e branco, com cinegrafistas invisíveis ao público. Baseado em textos de Thomas Bernhard, Arthur Schnitzler e Hugo von Hofmannsthal, o espetáculo explora temas complexos da sociedade vienense e suas reverberações. 

A alegria do primeiro ato. Foto: Camila Macedo/Divulgação.

A sisudez do segundo ato, quando Tirésias passa a real para Édipo. Foto: Camila Macedo / Divulgação

A dramaturgia de Giordano Castro e a cena de Lubi são ricas em intertextualidade, incorporando referências de filmes como Édipo Rex de Pasolini, Funeral das Rosas, de Matsumoto; Hiroshima, mon amour, de Alain  Resnais com roteiro da poeta Marguerite Duras. Além de filmagens num Recife soturno e desolado. Essas imagens, juntamente com outras, oferecem insights para significações e camadas que podem amplificar a recepção.

Há muito o que desenvolver sobre o diálogo entre o teatro e o cinema elaborado na montagem, especialmente a partir da questão lógica espectral e fantasmática dos que retornam da memória de outros tempos, bem como da sensação de solidão em meio a essa comunidade efêmera. No entanto, no momento, sinto-me exaurida. Registro apenas o desejo de retornar a esses assuntos e revisitar Édipo REC por outra perspectiva. Talvez depois de assistir ao espetáculo uma segunda vez, quem sabe.

O Édipo de Castro é arrogante, tirânico, que ostenta sua a húbris [3]; charmoso como alguns déspotas e meio infantil; reconhece por um lado seus traumas, mas ainda quer fazer valer o seu poder através de palavras e gestos, parecendo não entender que as “massas” abandonam os derrotados.

Por enquanto, encerro por aqui constatando que em Édipo REC o corpo assume a cidade numa pulsação alucinante. Levar a peça para a festa consagra o poder de ruptura com o tempo cotidiano, enquanto manifestação minúscula do encontro trágico na Antiguidade. E mesmo que não haja aqui o “incêndio das consciências”, na expressão de Roland Barthes, Édipo prossegue sendo o próprio enigma.

O Mensageiro (Lucas Torres), o amigo de Laio que testemunhou o assassinato. Foto: Camila Macedo / Divulgação

NOTAS

[1] HOMEM, Maria. Édipo: a encruzilhada fatal. In: SÓFOCLES. Édipo Tirano. São Paulo: Editora Todavia, 2017. E-book
[2] A fotografia “O abutre e a menina”, tirada por Kevin Carter em 1993 no Sudão, durante uma grave crise humanitária causada pela guerra civil, tornou-se um ícone do fotojornalismo e desencadeou um intenso debate ético. Carter acompanhava uma missão da ONU quando capturou a imagem de uma criança desnutrida com um abutre ao fundo. A foto, publicada no New York Times, ganhou o Prêmio Pulitzer em 1994, mas também gerou controvérsia sobre a ação do fotógrafo em não ajudar a criança. Carter enfrentou depressão devido às críticas e ao trauma de suas experiências, culminando em seu suicídio em 1994. Anos depois, descobriu-se que a criança era um menino chamado Kong Nyong, que sobreviveu à fome, mas faleceu adulto em 2006 devido a uma febre.
[3 A húbris ou hybris (em grego ὕβρις, “hýbris”) é um conceito grego que pode ser traduzido como “tudo que passa da medida; descomedimento” e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunçãoarrogância ou insolência (originalmente contra os deuses)… https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
 Na tragédia grega clássica, húbris era frequentemente uma deficiência fatal que causava a queda do herói trágico. Normalmente, o excesso de confiança levava o herói a tentar ultrapassar os limites das limitações humanas e assumir um status divino, e os deuses inevitavelmente humilhavam o ofensor com um lembrete agudo de sua mortalidade. https://www.merriam-webster.com/dictionary/hubris

Serviço:
Édipo REC
Quando: Até 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Dia 12/10, sábado, 17h. Dia 23/10, quartas, 20h
Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

Ficha técnica:
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

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Grupo Magiluth encena Édipo REC:
Quando a tragédia grega encontra o Big Brother

Édipo REC faz parte das celebrações dos 20 anos do Grupo Magiluth. Foto: Estúdio Orra / Divulgação

Pedro Wagner, Giordano Castro e a atriz Nash Laila. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Nash Laila e Giordano Castro. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Em um mundo dominado por câmeras e redes sociais, onde cada movimento é potencialmente gravado e compartilhado, como seria a história de Édipo, – aquele herói grego que sem saber, mata seu pai e casa-se com sua mãe, cumprindo uma profecia e enfrentando um destino devastador? O grupo Magiluth, celebrando seus 20 anos de trajetória, propõe essa instigante reflexão no novo espetáculo, Édipo REC, que estreia nesta sexta-feira, 27/09, no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo. A temporada vai até 26 de outubro, com apresentações de quinta a domingo. 

Imagine o Recife como uma Tebas futurista de 2024, onde o Coro da tragédia grega se transforma em uma onipresente câmera, capturando cada detalhe da vida do protagonista. É nesse cenário que o Magiluth reinterpreta o clássico de Sófocles, mesclando a ancestralidade do mito com a urgência contemporânea da exposição excessiva.

O Magiluth, grupo recifense conhecido por sua pesquisa continuada e provocações cênicas, completa duas décadas de uma jornada artística marcada pela experimentação e diálogo com diferentes linguagens. Ao longo desses 20 anos, o grupo desenvolveu 15 espetáculos, explorando desde clássicos da dramaturgia até criações autorais. Sua perspectiva singular combina elementos do teatro físico, da performance e das artes visuais, buscando novas formas de engajar o público e questionar as fronteiras do fazer teatral.

A peça, dirigida pelo paulista Luiz Fernando Marques, o Lubi, marca o quarto trabalho da parceria entre o diretor e o grupo. Édipo REC joga com a cronologia e questiona a percepção de tempo no teatro, convidando o público a investir em uma experiência que vai da euforia de um reino em festa à tensão crescente de uma tragédia inevitável.

Erivaldo Oliveira na fase festa do espetáculo. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Lucas Torres e Bruno Parmera. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Na busca por referências cinematográficas, o grupo se inspirou em obras emblemáticas. Édipo Rex (1967), de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), foi uma influência crucial, com sua atualização do mito para a Bolonha dos anos 1960 e sua estrutura narrativa em flashbacks. O experimentalismo de Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto (1932-2017), com seu mergulho no mundo noturno das drags de Tóquio, serviu como referência poética. Além disso, o grupo buscou inspiração em Hiroshima, meu amor (1959) de Alain Resnais (1922-2014), Cinema Paradiso (1990) de Giuseppe Tornatore (1956-); e Cabaret (1972) de Bob Fosse (1927-1987), ampliando o diálogo entre teatro e cinema.

No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner e a atriz Nash Laila, conhecida por trabalhos audiovisuais do grupo. Juntos, eles dão vida a personagens que transitam entre o mítico e o contemporâneo, explorando as nuances do humano em diferentes tempos e espaços.

Édipo REC questiona o poder da imagem na sociedade atual. Como pontua o diretor Luiz Fernando Marques, no material de divulgação: “O Édipo acredita tanto nessa projeção que criou para si mesmo, de que é um tirano, que não consegue mais enxergar a sua verdadeira essência. O mesmo acontece hoje, já que as pessoas montam as suas vidas para as redes sociais, independente daquilo que elas estejam de fato vivendo.”

O processo de criação do espetáculo contou com o apoio do FETEAG (Festival de Teatro do Agreste), um dos mais importantes eventos teatrais do Nordeste. O festival proporcionou ao Magiluth uma residência artística, oferecendo espaço para ensaios e suporte financeiro aos artistas durante o período de desenvolvimento da peça. Esta parceria permitiu ao grupo aprofundar sua pesquisa e experimentação, além de desenvolver um processo pedagógico, abrindo os ensaios para observadores interessados no processo criativo.

O espetáculo promete ser uma experiência provocativa, mesclando elementos de vídeo mapping, trilha sonora original e uma cenografia que dialoga diretamente com a linguagem cinematográfica.

O Magiluth convida o público a refletir: em uma era de hiperexposição, quanto tempo dura uma tragédia? 20 anos? Uma vida inteira? Ou talvez, na era do REC perpétuo, por toda a eternidade? Édipo REC revisita um clássico, reinventando-o para nossos tempos, indagando nossa relação com a imagem, a memória e a identidade em um mundo cada vez mais mediado por telas e câmeras.

Mário Sergio Cabral com a camisa do Santa Cruz Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

SERVIÇO
Édipo REC
Quando: De 27/9 a 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Exceto dias 6 e 27/10. Dia 12/10, sábado, 17h. Dias 9 e 23/10, quartas, 20h. Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

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A cidade é um corpo marginal , repleto de poesia
Crítica de Miró: Estudo nº 2

Estudo N°2 – Miró. Erivaldo Oliveira e Bruno Parmera. Foto: Ivana Moura

O Grupo Magiluth, um dos mais atuantes do Brasil, está celebrando 20 anos de trajetória e, por isso, tem apresentado nos últimos meses algumas das peças de seu repertório no Recife. A trupe tem se notabilizado pelas experimentações e busca de uma linguagem que pulse as inquietações destes tempos. Em seus dois últimos trabalhos, Estudo N°1 – Morte e Vida e Estudo N°2 – Miró, enfatiza a importância de “concretizar” na cena o estudo da prática teatral, expandindo sua linguagem singular que combina jogo cênico e crítica social, ironia e humor, pesquisa e performance. Na peça-palestra Miró – Estudo N°2, a trupe investiga a tênue e complexa fronteira entre inteprerte e personagem.

Uma cena exemplifica a transformação de um coadjuvante em protagonista: durante uma abordagem policial violenta, três jovens da periferia são interpelados, e um deles é agredido com um tapa no rosto por um dos policiais. Esse ato de violência faz com que o jovem se torne o protagonista da cena. E o que dizer disso tudo? O Magiluth dá um curto-circuito para de uma apatia social e apontar para o público, que assiste passivamente, sem esboçar reação.

Miró: Estudo N°2 é o 12º trabalho desse grupo e estreou em abril de 2023, no Itaú Cultural, em São Paulo. Mais do que uma biografia cênica, o espetáculo é uma experiência sensorial e poética que nos convida a perceber a cidade como um corpo vivo, feito de carne e concreto, sonhos e escombros. 

Miró da Muribeca, nome artístico de João Flávio Cordeiro da Silva (1960-2022), foi um poeta marginal do Recife, que fez das ruas da cidade seu palco, vendendo seus livros nas pontes e praças, declamando versos que falavam da realidade dura da periferia. Sua poesia, inicialmente lírica, ganhou contornos políticos ao denunciar a violência, o preconceito e a desigualdade que marcam a vida dos pobres e negros nas grandes cidades brasileiras.

No palco, os atores Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Bruno Parmera investigam o processo de criação de um personagem teatral, se revezam nos papéis de protagonista, antagonista, coadjuvante e figurante, numa estrutura que questiona as possíveis hierarquias do teatro e a relação entre arte, cidade e resistência, desestabilizando esses papéis com o protagonismo de um poeta que deu voz aos invisibilizados.

A encenação explora a linguagem híbrida que tem sido uma das marcas do Magiluth, conectando teatro, performance, música, vídeo e poesia. Essa pesquisa de linguagem do grupo é muito importante, e quem acompanha a trajetória dessa trupe percebe as tentativas de ampliar e aprofundar a linguagem própria do grupo. As cenas se sucedem num fluxo fragmentado, como lampejos de memória, evocando a trajetória de Miró e a história do Recife, com a cidade como personagem, revelando suas contradições e encruzilhadas.

Erivaldo Oliveira assume o papel de Miró, buscando uma comunhão com a essência inquieta e a criatividade febril do poeta, sem apagar o Erivaldo. Em cena, Miró ganha potência para denunciar a especulação imobiliária que destruiu o conjunto habitacional da Muribeca, onde viveu, para celebrar a palavra e para rir e chorar diante das grandezas e mazelas da vida na periferia.

O espetáculo nos provoca a repensar as relações entre centro e periferia, entre a cidade oficial dos cartões-postais e a cidade real dos becos e favelas. Miró é a encarnação poética dessa cidade à margem, ou dessa porção da urbe, feita de carne e sonho, que resiste e se reinventa a cada dia. Sua poesia é indissociável de que ele foi – poeta, negro, periférico, das ruas onde viveu e amou, das pontes onde declamou seus versos.

Giordano Castro. Foto: João Maria Silva Jr/ Divulgação

Com Miró, o Magiluth celebra a força da poesia como arma de combate num mundo cada vez mais prosaico e desencantado. 

A encenação fragmentada articula realidade e ficção, biografia e poesia. As rupturas e repetições na linguagem cênica podem ser lidas como metáforas dos ciclos de violência e resistência que marcam a experiência de quem vive à margem. Grita a dimensão política do espaço urbano e a necessidade de reinventá-lo a partir do periférico. 

Nesse sentido, a destruição do conjunto habitacional da Muribeca, onde Miró viveu, surge como símbolo dos processos de exclusão e apagamento que caracterizam o desenvolvimento urbano no Brasil. A especulação imobiliária aparece como força antagonista, que expulsa os pobres para os abismos da cidade e da cidadania, conectando-se com lutas históricas pelo direito à moradia e à cidade.

Conhecido por incorporar referências e citações de seus trabalhos anteriores em suas novas montagens, esse procedimento do Magiluth sugere uma compreensão do fazer teatral como um processo contínuo e interconectado, onde cada obra não é apenas uma resposta às questões e inquietações do mundo atual, mas também estabelece um diálogo com a própria trajetória artística do grupo. Ao revisitar e ressignificar elementos de suas obras passadas, o Magiluth cria uma narrativa metateatral,.

Na apresentação no Teatro do Parque, ontem, 20 de maio, durante o Festival Palco Giratório, no Recife, algumas falas dos atores foram perdidas, – seja por terem sido pronunciadas em volume baixo, sem projeção, ou por terem sido sobrepostas por músicas ou sons, ou por existir um problema de acústica no teatro -, o que dificultou o entendimento de algumas passagens. Como a poesia de Miró é um elemento central do espetáculo e deve ser ouvida pelo público, é importante que o grupo fique atento a essas questões pontuais para garantir a melhor experiência possível para a plateia.

Ficha Técnica:
Miró: Estudo nº2, do grupo Magiluth
Direção: Grupo Magiluth
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Atores: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira e Giordano Castro
Stand in: Mário Sergio Cabral e Lucas Torres
Fotografia: Ashlley Melo
Design gráfico: Bruno Parmera
Colaboração: Grace Passô, Kenia Dias, Anna Carolina Nogueira e Luiz Fernando Marques
Realização: Grupo Magiluth

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O Magiluth desnuda as engrenagens do colapso
Crítica do espetáculo Estudo Nº1: Morte e Vida

Temporada comemorativa dos 20 anos do grupo. Foto: Vitor-Pessoa

                                           Por Ivana Moura

“Não faltaram alertas. As sirenes apitaram o tempo todo. A consciência dos desastres ecológicos é antiga, viva, fundamentada, documentada, provada, mesmo desde o início da chamada ‘era industrial’ ou ‘civilização da máquina’. Não podemos dizer que não sabíamos.  Contudo, existem muitas maneiras de saber e de ignorar ao mesmo tempo”, pondera o filósofo francês Bruno Latour no seu livro Diante de Gaia: Oito Conferências sobre a Natureza no Antropoceno (Ubu Editora, 2020), um dos mais contundentes manifestos sobre as alterações climáticas que assombram nosso presente. Para Latour, vivemos um momento de profunda ruptura, em que as certezas da modernidade desmoronam diante de Gaia, essa força indomável que reage às agressões humanas e nos obriga a repensar radicalmente nossa relação com a Terra.

É nesse cenário de urgência e perplexidade que se insere Estudo Nº1: Morte e Vida, um mergulho visceral nas entranhas do nosso tempo, conduzido por um grupo de artistas-pesquisadores que se lançam no desafio de atualizar a obra de João Cabral de Melo Neto à luz das urgências do presente. Nessa travessia, o Grupo Magiluth – formado pelos atores Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Lucas Torres e Pedro Wagner (que não está no elenco desta montagem) – mobiliza um arsenal de recursos cênicos e dramatúrgicos para expor as engrenagens do capitalismo global e seus impactos sobre a vida humana e o planeta. A peça está em cartaz no Teatro Arraial Ariano Suassuna como parte das comemorações dos 20 anos de trajetória da trupe recifense.

Com direção de Luiz Fernando Marques e direção musical de Rodrigo Mercadante, o Magiluth implode as fronteiras entre o teatro, a performance e a instalação para dissecar as vísceras expostas de um sistema que produz morte e desigualdade em escala mundial. No palco-mundo, os “severinos” do nosso tempo ganham carne, osso e grito: refugiados climáticos, trabalhadores precarizados, populações deslocadas pela seca, pelas guerras e pela fome.

Ao longo do espetáculo, somos chacoalhados por imagens que nos arrancam da zona de conforto e nos obrigam a encarar a realidade crua da crise que nos devora. Das enchentes que arrasaram o sul do Brasil à elevação do nível dos oceanos que ameaça engolir nações insulares como Kiribati, o Magiluth cartografa a geografia desigual dos desastres ambientais, expondo como eles atingem de forma desproporcional os mais pobres e marginalizados. Uma radiografia implacável da insustentabilidade do modelo de desenvolvimento predatório que rege nossa civilização.

Ressoa no palco as consequências da crise climática no Rio Grande do Sul, que são devastadoras: mais de 1 milhão de pessoas impactadas, mais de cem mortos e desaparecidos. Um cenário de guerra alertado pela ciência há décadas e que hoje é parte da nova (e grave) realidade do clima. Uma realidade que se impõe de forma brutal, escancarando a negligência e a ganância dos políticos abutres que historicamente trataram a questão ambiental com desprezo no Brasil.

É importante lembrar que Estudo Nº1: Morte e Vida estreou em janeiro de 2022, em um momento de grande tensão política no país, às vésperas de uma eleição presidencial decisiva. Naquele contexto, o espetáculo já trazia em suas camadas de sentido uma reflexão sobre o papel crucial do Nordeste e de seu povo na resistência democrática, como ficou evidente com a vitória de Lula sobre Bolsonaro, graças em grande parte aos votos nordestinos.

Agora, em maio de 2024, na temporada comemorativa dos 20 anos do Magiluth, as questões ambientais abordadas na peça ganham ainda mais relevância e urgência, diante da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

Mas Estudo Nº1: Morte e Vida não se limita a um diagnóstico sombrio do presente. Ele é, sobretudo, um grito de alerta e convocação, que nos desafia a reimaginar radicalmente nossa relação com a natureza, com os outros seres e com o próprio sistema econômico que nos governa. Ao atualizar a obra de João Cabral à luz das urgências do nosso tempo, o Magiluth reafirma o papel da arte como trincheira de luta por um mundo mais justo e sustentável, capaz de fabular outros futuros possíveis a partir dos escombros do Antropoceno.

Essa postura implica em reconhecer que não há saídas fáceis ou individuais para a crise sistêmica que vivemos, e que precisamos construir coletivamente novas formas de existência e coexistência na Terra. Formas que passam necessariamente por uma reinvenção radical de nossa relação com os outros seres, com os ecossistemas e com os próprios limites do planeta. Uma reinvenção que exige criatividade, coragem e compromisso ético-político, para além das fórmulas prontas e das soluções de mercado.

É nesse sentido é preciso prestar atenção e dar visibilidade às histórias, práticas e modos de vida que brotam nas brechas e nas ruínas do capitalismo. Modos de vida que muitas vezes são invisibilizados ou desqualificados pelos discursos hegemônicos, mas que carregam consigo sementes de resistência e reinvenção.

Cena do canavial, trabalhador da cana dança Michael Jackson. 

Sugiro que o espetáculo do Magiluth se alinha a uma postura ético-estética de habitar as contradições do presente e de buscar saídas coletivas para a crise que nos assola. Uma postura que se traduz na própria forma fragmentária e multivocal da encenação, que recusa as narrativas lineares e totalizantes em prol de uma dramaturgia mais aberta e porosa, em condições de acolher diferentes vozes, saberes e modos de existência.

Ao mesmo tempo, ao trazer para o palco os corpos e as histórias dos “severinos” do nosso tempo – os refugiados climáticos, os trabalhadores precarizados, as populações deslocadas pela seca e pela fome -, o Magiluth parece abraçar a densidade poética desses modos de vida que resistem e reexistem nas margens do capitalismo. Modos de vida que carregam consigo não apenas o testemunho da catástrofe em curso, mas também a potência de outros mundos possíveis.

Bruno Latour no prefácio de Diante de Gaia, escrito para a edição brasileira lançada em 2020, fala que, naquele momento, o Brasil enfrentava uma verdadeira “tempestade perfeita”, com a sobreposição de múltiplas crises – sanitária, política, ecológica, moral e religiosa. Um cenário agravado pela postura negacionista e irresponsável do governo Bolsonaro, que não apenas negligenciou a gravidade da pandemia, mas também aprofundou o desmonte das políticas ambientais e o ataque aos direitos dos povos indígenas e das populações mais vulneráveis.

Na estreia de Estudo Nº1: Morte e Vida em janeiro de 2022, vivíamos em meio às incertezas de um ano eleitoral decisivo para os rumos do país. Naquele momento, a cena em que os atores entoam “olé, olé, olá, Severino, Severino” ganhava uma conotação política explícita, com o público progressista respondendo com o grito de “Lula lá”. Uma manifestação espontânea da esperança de que a eleição de Lula representasse uma inflexão no enfrentamento das crises que assolavam (e ainda assolam) o Brasil.

Passados dois anos, e com Lula novamente à frente do governo, o espetáculo ganha novas camadas de sentido em sua temporada comemorativa dos 20 anos do Magiluth. Se, por um lado, a cena do “olé, olé, olá”” perde protagonismo, por outro ela se reveste de uma dimensão histórica, como um lampejo da memória de um tempo que não podemos esquecer. Um tempo em que a própria possibilidade de vislumbrar outros futuros parecia ameaçada pela sombra do autoritarismo.

Paralelamente, as questões das migrações e da crise climática, que já estavam presentes no espetáculo desde sua estreia, ganham ainda mais relevância e urgência no contexto atual.

Mudar nossa ideia sobre a Terra, sobre a vida, sobre nós mesmos. Eis o desafio que o Magiluth nos lança, com a coragem de quem sabe que a arte não pode mais se dar ao luxo da inocência.  E é nessa travessia incerta, feita de perguntas sem resposta e de gestos de reinvenção, que o teatro se faz trincheira e semente, luto e luta, morte e vida severina. Um teatro que nos ajuda a fabular outros mundos, antes que seja tarde demais.

Serviço
Espetáculo Estudo nº1: Morte e Vida
Teatro Arraial Ariano Suassuna (Rua da Aurora, 457, Boa Vista – Recife-PE)
Dias: 9, 10, 11, 12, 16, 17, 18 e 19 de maio de 2024
Horários: Quintas, sextas e sábados, às 20h; Domingos, às 17h
R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), à venda no Sympla
Classificação indicativa: 16 anos

Leia Mais. A crítica da temporada de estreia em 2022:  Ensaio nº 1: Morte e Vida. 2022.

 

Este texto integra o projeto arquipélago de fomento à crítica, com apoio da Corpo Rastreado.

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A retomada do Festival Recife do Teatro Nacional

Viva o povo brasileiro. Foto Annelize Tozetto / Divulgação

Se eu fosse Malcolm. Foto: Rogerio Alves / Divulgação

É ambiciosa a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional que se desenrola entre 16 e 26 de novembro na capital pernambucana. Essa programação, da retomada, junta 28 espetáculos, sendo 15 produções do estado e 13 montagens nacionais inéditas no Recife, que estarão espalhadas pelos teatros de Santa Isabel e Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, Barreto Júnior e Luiz Mendonça. Além de ocupar as ruas da cidade, com apresentações no Morro da Conceição e na Avenida Rio Branco e nos mercados públicos de São José, Afogados, Água Fria e Casa Amarela. Esta edição mais que dobra em quantidade de peças da última, em 2019 (e talvez a mais reduzida, que aglutinou 12 obras cênicas) e tem como meta reavivar em tom maior um festival muito importante para cidade.

A 22ª edição do programa alimenta um clima festivo e de resistência, como a assumir um respiro depois desses últimos anos de pandemia e de pandemônio. E sintoniza com algumas pautas urgentes desse mundo problemático. Há uma diversidade de assuntos, das guerras ao protagonismo feminino, do sagrado ancestral indígena às mudanças climáticas, dos grandes gênios como Shakespeare e Garcia Lorca, passando pelo brasileiro João Ubaldo Ribeiro, ao poeta recifense periférico Miró da Muribeca.

É lógico que os recortes curatoriais poderiam ser outros. Um festival também é feito de possíveis. Dos recursos reservados para essa finalidade, disponibilidades dos grupos teatrais para compor a programação, escolhas e combinações entre produto artístico e espaço para pensamento crítico. Enfim, uma rede de negociações, interesses expostos e secretos, recortes curatoriais (mesmo quando são por chamamento púbico), prioridades de investimento.

De todo modo e preciso destacar a relevância deste festival para a cidade, tanto para o público quanto para os artistas do Recife. Lembro que já ouvi mais de uma vez o depoimento do ator, diretor e dramaturgo Giordano Castro, do Grupo Magiluth, que salienta a relevância para a formação dele mesmo, de sua trupe e dos artistas da cidade ao apontar o Festival Recife do Teatro Nacional como preponderante na construção de caminhos estéticos, éticos e políticos. Não é pouco.

A primeira versão do FRTN ocorreu em 1997, levando ao Recife um panorama de parte da produção cênica brasileira. Nessa edição inaugural algumas peças chegavam para tensionar certezas. Entre os espetáculos participantes estavam Para Dar um Fim no Juízo de Deus, encenada por José Celso Martinez Corrêa, Ensaio para Danton, de Sérgio de Carvalho, Rua da Amargura, do grupo Galpão na montagem de Gabriel Villela, as produções recifenses Duelo com encenação de Carlos Carvalho e a versão teatral controversa de A Pedra do Reino, do romance de Ariano Suassuna encenada por  Romero de Andrade Lima; entre outros.

Miró: Estudo nº 2 , do Grupo Magiluth. Foto: Joao Maria Silva Jr/ Divulgação

 

Yerma Atemporal. Foto Divulgação

O FRTN começa nesta quinta-feira com o musical carioca Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé), produzido pela Sarau Cultura Brasileira. A versão cênica do romance Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), é dirigida por André Paes Leme, tem 30 músicas originais compostas por Chico César, e direção musical e trilha original  assinada por João Milet Meirelles (da banda BaianaSystem). Ambientada em Itaparica, na Bahia, a montagem expõe um período de 400 anos, 1647 a 1977, acompanhando uma alma em busca da identidade brasileira, que encarna em personagens invisibilizadas nesse percurso histórico. Três figuras – Caboclo Capiroba, o Alferes e Maria Dafé -, destacam a força da ancestralidade na luta contra a escravidão e por uma igualdade e justiça social até hoje.

A produção local é majoritária nesta edição, pois ficou represada nos três anos sem festival e graças à articulação dos artistas que convenceram a equipe coordenadora do festival que pode ser uma boa ideia de dar uma centralidade aos trabalhos locais, ou seja, ter muitas peças pernambucanas num festival nacional pernambucano. 

Miró: Estudo nº 2, do Magiluth, celebra o poeta e a literatura de Miró da Muribeca, um homem negro e periférico que instalou em seu corpo performático o Recife como seu mundo. Com suas palavras feitas de amor e revolta o artista deslocou a margem para o centro do protagonismo. A partir de Miró, o Magiluth reflete neste espetáculo os lugares dos sujeitos numa peça teatral e para além dela.

Yerma – Atemporal revisita Garcia Lorca numa perspectiva do papel da mulher na sociedade contemporânea, da obsessão da protagonista em ser mãe e dos desejos femininos. A peça tem tradução e adaptação de Simone Figueiredo, e direção dela junto com Paulo de Pontes.

A performance cênico-musical Se eu fosse Malcom, percorre o legado de Malcolm X, uma das mais potentes vozes no combate à segregação racial, num trabalho  atravessado por outras ativistas feito Elza Soares, Lélia González e bell hooks. Com Eron Villar e Dj Vibra.

Grande Prêmio Brazil, performance urbana de Andréa Veruska e Wagner Montenegro,  apresentam duass personagens, Salário Mínimo e Custo de Vida, em quatro sessões nos mercados públicos da cidade.

Livremente inspirada em Gil Vicente, a montagem O Auto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório com direção de Antonio Rodrigues traz para a atualidade a discussão de moral, convenções sociais e religiosidade da dramaturgia.

O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste. Foto Ayane Melo

Severino e Sebastião vivem um romance homoafetivo e são perseguidos pela pequena comunidade quilombola evangelizada do Sertão pernambucano onde moram. O espetáculo O Irôko, a Pedra e o Sol utiliza referências da cultura de matriz africana, ancestralidade corporal e vocal. A montagem do grupo O Poste Soluções Luminosas tem elenco formado inteiramente por artistas negros. A trilha sonora foi composta e é tocada ao vivo pelo Grupo Bongar. 

Ao Paraíso tem texto e direção de Valécio Bruno, inspirado no conto Eu, agente funerário, de Hermilo Borba Filho. É a história do herdeiro de uma funerária à beira da falência, mas que vê seu  destino mudar após a chegada de um misterioso andarilho. O espetáculo é o resultado da pesquisa vencedora do edital O Aprendiz em Cena 2020.

Solo Para um Sertão Blues, é baseado no livro de título homônimo, da escritora Cida Pedrosa. O trabalho musical leva para a cena as vozes, climas e memórias de mulheres catadoras de algodão da região do sertão de Pernambuco. A direção é de Cláudio Lira.

Com classificação livre (crianças a partir de 4 anos), o espetáculo Enquanto Godot Não Vem versa sobre o tempo, sobre o que fazemos do nosso tempo. Enquanto esperam um mestre, os três Palhaços, Dodo, Dunga e Cadinho, refletem sobre as pulsações da vida nos dias de hoje.

Vento Forte para Água e Sabão. Foto: Rogerio Alves / Divulgação –

Alguém para fugir comigo. Foto: Divulgação

Fazem parte do repertório do Festival as montagens Deslenhar, do grupo Teatro Miçanga, Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (leia texto aqui), Pedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas, Narrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (leia crítica aqui), o infantil Céu estrelado, do grupo Pedra Polida, além de Vento forte para água e sabão, do Grupo Fiandeiros, fundado por um dos homenageados da 22ª edição do festival recifense, André Filho,

Duas sessões de leitura dramatizada integram o evento:  Justa, com texto de Newton Moreno, também homenageado do festival, encenado por Fabiana Pirro e Ceronha Pontes; e O Sonho de Ent, com texto de André Filho, encenado pela Cia Fiandeiros.

Cabaré Coragem, com o Grupo Galpão. Foto: Mateus Lustosa /Divulgação

Nacionais e inéditos

O tema desta edição é Teatro e Democracia e está presente na peça de abertura Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé) e de alguma forma em todas as montagens.

O Grupo Galpão, coletivo mineiro que já participou de várias edições do festival, desde a primeira, comparece com dois espetáculos inéditos: De tempo somos, um musical que celebra a história da companhia, e Cabaré Coragem, que reafirma a arte como lugar de identidade e permanência, e chama o público para compartilhar um repertório de músicas interpretadas ao vivo com números de variedades e danças, fragmentos de textos da obra de Brecht e cenas de dramaturgia própria.

O Clows de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, leva para as ruas do Morro da Conceição algumas personagens do clássico Ubu Rei, de Alfred Jarry. Sátira política do espetáculo Ubu – O que é bom tem que continuar.

 Com dramaturgia e direção geral de Newton Moreno, Sueño, da Heroica Companhia Cênica, desloca Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, para uma América Latina em que vigorava o autoritarismo e é ainda assombrada pelas ditaduras de ontem, mas que sempre sonha com liberdade.

Tatuagem, musical da paulistana Cia da Revista, faz uma adaptação para o teatro do filme homônimo do pernambucano Hilton Lacerda, que resgatou a irreverência do grupo de teatro Vivencial. A Direção da peça é de Kleber Montanheiro.

Pelos quatro cantos do mundo. Foto: Divulgação

O solo autobiográfico Azira’i resgata a vivência da atriz Zahy Tentehar com a mãe, Azira’i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Ancestralidade, amor e sagrado se irmanam no espetáculo, que tem direção é assinada por Denise Stutz e Duda Rios.

Entre os infantis estão na programação Pelos quatro cantos do mundo, da Cia Teatral Milongas, do Rio de Janeiro, que leva ao palco a jornada de uma criança síria refugiada em busca do pai. Boquinha: E assim surgiu o mundo, que trata, como o título aponta, da origem e grandeza do universo; com o Coletivo Preto, da Bahia, e texto do ator Lázaro Ramos.  

Enquanto a trupe de Nuno, formada por Ana, Nico, Jonas, Olivia e Suriá, os A.N.J.O.S. do título da peça, buscam algo que se perdeu, ou que um deles perdeu, eles utilizam dança e circo para conduzirem o público por uma aventura engraçada. com a Cia Nau de Ícaros, de São Paulo, espetáculo de dança e circo.

Confira a programação completa abaixo.

Oficinas

A parte formativa do FRTN inclui cinco oficinas gratuitas, entre os dias 15 e 23 de novembro. Júlio Maciel, do Grupo Galpão, comanda O Ator e o Trabalho em Grupo, no dia 15 (das 9h às 13h, no Teatro Hermilo Borba Filho) com foco nas práticas de trabalho e experiências de escuta, atenção, presença e criação coletivas.

Produção e Gestão de Grupos, com Gilma Oliveira, também do Grupo Galpão, ocorre no dia 16 de novembro, ainda no Hermilo, das 14h às 18h. Na pauta estão alguns princípios norteadores da produção cênica, relacionados a contratos, planejamento, orçamentos, liberações, cargas, roteiros, checklists, cronogramas e logística de viagens, entre outros.

O ator, palhaço, dramaturgo e diretor Duda Rios, um dos fundadores da Barca dos Corações Partidos toca a Oficina Criativa de Atuação e Movimento, entre os dias 21 e 25, das 9h às 13h, no Paço do Frevo. O trabalho busca  potencializar o exercício criativo, a partir da investigação do movimento, da incorporação da natureza (Máscara Neutra) e da construção de universos teatrais particulares surgidos em improvisações.

O dramaturgo pernambucano premiadíssimo e homenageado da edição deste ano do Festival, Newton Moreno, ministra de 21 a 23 de novembro, das 14h às 17h, a Oficina de Dramaturgia, dedicada ao processo de criação do texto teatral, a partir do estudo de caso de alguns textos/processos.

A artista carioca Maria Lucas vai trabalhar a construção de narrativas cênicas individuais e em grupo na Oficina Corpo-Coro, a partir de histórias pessoais, utilizando como ponto de partida três perguntas: de onde venho, quem sou e o que me move? A oficina é direcionada para pessoas com poucas oportunidades de acesso às artes, pessoas trans, LGBTs, pretas e indígenas e se realiza de 17 a 19 de novembro das 14h às 17h, no Paço do Frevo.

As inscrições podem ser feitas no link: https://forms.gle/DTtU2YkbMz5gGacb9.

Sueño, de Newton Moreno. Foto Divulgação

Tatuagem, dirigida por Kleber Montanheiro. Foto: Rodrigo Chueri Divulgação

22º Festival Recife do Teatro Nacional

De 16 a 26 de novembro

Acesso gratuito, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível

 Programação

Dia 16 (quinta-feira)

19h – Abertura + Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira, (RJ), no Teatro do Parque

 Dia 17 (sexta-feira)

12hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de São José

19hViva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira (RJ), no Teatro do Parque

20h – Se eu fosse Malcom, de Eron Villar e DJ Vibra (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

20hDe tempo somos, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça.

Dia 18 (sábado)

16hVento forte para água e sabão (infantil), do Grupo Fiandeiros (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (RJ), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

20hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro Santa Isabel

Dia 19 (domingo)

16hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro de Santa Isabel

16hEnquanto Godot não vem, da Cia 2 em Cena (PE), no Teatro Barreto Júnior

17h – O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste Soluções Luminosas (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (MA), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

Dia 20 (segunda-feira)

19hMiró: Estudo nº 2, do Grupo Magiluth (PE), no Teatro do Parque

19hDeslenhar, do grupo Teatro Miçanga (PE), na área externa entre os teatros Hermilo e Apolo

20hÓrfãs de Dinheiro, solo de Inês Peixoto (MG), no Teatro Apolo

Dia 21 (terça-feira)

20h – Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 22 (quarta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Afogados

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), no Morro da Conceição

18h – Leitura dramatizada Justa, com Fabiana Pirro e Ceronha Pontes, na Faculdade de Direito

19hYerma – Atemporal, de Simone Figueiredo e Paulo de Pontes (PE), no Teatro do Parque

20hPedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas (PE), no Teatro de Santa Isabel

Dia 23 (quinta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Água Fria

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), na Avenida Rio Branco

19hAuto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório (PE), no Teatro do Parque

21hSolo para um Sertão Blues, de Cláudio Lira (PE), no Teatro Apolo

21hNarrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 24 (sexta-feira)

11hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Casa Amarela

15hBoquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

19h – Leitura dramatizada O Sonho de Ent, da Cia Fiandeiro (PE), na sede da companhia (Rua da Saudade, 240, Boa Vista)

20hContestados, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

21hAo Paraíso, de Valécio Bruno (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 25 (sábado)

15h – Boquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

17hA.N.J.O.S (infantil), da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20h – “Interior”, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Tatuagem”, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

20h – “Contestados”, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

Dia 26 (domingo)

16hCéu estrelado (infantil), do grupo Pedra Polida (PE), no Teatro Apolo

17hA.N.J.O.S, da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20hInterior, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19hTatuagem, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

 

 

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