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Shakespeare esteja conosco!
O relato de uma substituição plena de afeto
e amor ao teatro*

José Roberto Jardim e Paulo de Pontes no Teatro de Santa Isabel, em 18 de novembro. Foto: Marcos Pastich

Tay Lopez substituindo Paulo de Pontes no dia 19 de novembro. Foto: Arquivo pessoal

Terminou neste domingo, 26 de novembro, a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN). Infelizmente, o Satisfeita, Yolanda? não conseguiu acompanhar de perto a programação, pois não havia recursos para arcar com o trabalho da crítica. É uma pena. Pode ser tema de conversas e reflexões vindouras.

Mas, desde o dia 16, histórias aconteceram: nos palcos e fora deles. Muitas, nem ficamos sabendo, são quase restritas, tiveram como cenário coxias, plateias, bares pós-espetáculo. Mas uma delas, em especial, nós soubemos e achamos que merecia ser registrada.

Sueño é um espetáculo livremente inspirado em Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, com direção e dramaturgia do pernambucano Newton Moreno, um dos homenageados do FRTN ao lado de André Filho.

A peça de 2h30 de duração, dois atos, estreou em São Paulo em novembro de 2021, na retomada do teatro presencial, nos jardins do Teatro João Caetano. Em agosto deste ano, fez uma temporada no Itaú Cultural.

Um dos destaques do elenco é o pernambucano Paulo de Pontes, que voltou ao Recife há alguns anos, depois de duas décadas morando em São Paulo. Paulinho, como é conhecido, brilha em cena. E havia uma grande expectativa por sua apresentação em casa, no Teatro de Santa Isabel.

Imaginamos que seria uma consagração, merecida. Mas as coisas nem sempre estão no nosso controle. E no dia 18 de novembro, logo depois da primeira cena de Paulo de Pontes, o espetáculo foi interrompido. O ator passou mal e não conseguiu continuar a peça.

Mesmo assim, no dia seguinte, o espetáculo aconteceu: Paulo de Pontes foi substituído por Tay Lopez, ator pernambucano que mora em São Paulo, mas tinha acabado de gravar um filme na Paraíba e estava de férias na cidade. Lopez fez uma leitura encenada do texto.

Diante dessa história cheia de inesperados e de ode ao teatro e a sua efemeridade, pedimos ao ator Tay Lopez que, no calor do momento, na segunda-feira, dia 20 de novembro, escrevesse um relato de experiência. Queríamos ouvir como foi viver tudo isso, deixar essa história registrada e compartilhá-la com outras pessoas.

É esse o texto que postamos aqui.

Obrigada, Tay Lopez, por atender ao convite de Newton Moreno e ao nosso.

Paulo de Pontes está bem.

Infelizmente, não conseguimos registros de imagem profissionais da sessão do dia 19 de novembro, então publicamos fotos amadoras, feitas de celulares por amigos que estavam na plateia.

“Shakespeare esteja conosco! O relato de uma substituição plena de afeto e amor ao teatro” *

Por Tay Lopez

Sábado, 18 de novembro, Festival Recife do Teatro Nacional, importantíssimo festival da cidade, que foi retomado bravamente este ano.

O cenário é o Teatro de Santa Isabel, lugar tão significativo para a cidade e para mim: me recordo quantas histórias vivi nesse teatro!

Peça: Sueño, do consagrado autor e amigo Newton Moreno, homenageado pelo festival juntamente com André Filho.

No foyer do teatro, um encontro festivo. Amigos de longa data, afetos, abraços. Feliz em estar na cidade de férias. Feliz em estar com minha mãe para vermos juntos uma peça que tanto gosto e que eu já tinha visto duas vezes em São Paulo. Há 2 anos, na estreia, retomada do teatro presencial, vi a montagem no Teatro João Caetano. E, há poucos meses, em agosto, revi na sua segunda temporada, no Itaú Cultural.

Espetáculo começa no Santa Isabel. Paulo de Pontes, irmão, amigo, confidente, entra em cena com seu Shakespeare maravilhoso. Plateia na mão.

Todos estavam na expectativa em ver Sueño na cidade, mas o espetáculo é interrompido, pois Paulinho não conseguiu voltar ao palco depois da primeira cena. Ela passou mal e precisou ser atendido por especialistas em um hospital próximo.

Vou ao camarim, procuro informações, me comunico com a família, com amigos e fico sabendo que, graças a Deus, não é nada grave. Volto para casa, durmo. Sonho com Paulinho. Estamos indo fazer um espetáculo juntos em algum lugar.

Acordo, procuro saber notícias sobre a saúde de meu amigo e recebo informações de que tudo está melhor, ele está bem, tinha sido só um susto. Fico aliviado.

Horas depois, o telefone toca. Newton Moreno me convida, sem rodeios, para uma tarefa. Na verdade, uma missão: substituir Paulo de Pontes. Não era um convite para encenar os mesmos personagens de Paulinho, o que seria impossível, mas para fazer uma leitura encenada.

Moreno me deixa muito à vontade para dizer não. Mas como dizer não para amigos tão queridos? Como não aceitar esse desafio? Como não homenagear Paulinho e tranquilizá-lo em saber que o espetáculo, de alguma forma, irá acontecer? Respondo que sim. E que essa decisão, na verdade, tinha que ser mais do grupo do que minha.

Newton fica feliz, agradece e já me manda o texto on-line. Domingo, 19 de novembro, 11h30, começo a ler a dramaturgia de Sueño.

Pouco tempo depois, decido parar. Vou à praia, mergulho no mar e volto. Tomo banho, almoço e sigo para o teatro.

Chegando lá, fui recebido com tanto amor, tanta atenção, que o mínimo que eu poderia fazer era tentar responder à altura. Tanta gente que admiro nesse elenco, nessa equipe.

Tay Lopez, José Roberto Jardim e Sandra Corveloni. Foto: arquivo pessoal

O espetáculo que seria às 16h foi transferido para às 20h.  Ensaiamos as cenas. Alguma ideia de marcação, de intenção, mas de liberdade e improviso.

Newton, como maestro, conduzindo tudo. Sandra Corveloni e José Roberto Jardim me ajudando nas cenas em que estaríamos juntos. Leopoldo Pacheco assessorando com os figurinos. Erica Rodrigues nos movimentos, Gregory Slivar nas intervenções musicais, Simone Evaristo na força puckiana. Almir Martines no olhar amoroso. Michele Boesche com palavras de encorajamento. Todos me passando confiança e acreditando que tudo daria certo.

Fui com serenidade, amor e espírito aberto para que a magia do teatro acontecesse naquela noite. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia”, frase de Shakespeare, primeiro personagem de Paulo de Pontes.

Findado o ensaio, vou ao camarim. Léo Pacheco faz a minha maquiagem. Separamos os figurinos.

Paulinho me manda mensagem. Já está em casa e se recuperando bem. Eu tenho que dizer que ainda nutria esperanças de que ele poderia fazer a peça, mas não.

Fazemos a famosa roda de teatro. Dedicamos a apresentação a Paulinho e jogamos ao etéreo a força que nos guiaria naquela sessão.

Eis que a sala é aberta, o público se acomoda. Terceiro sinal e lá vamos nós. O público é avisado da minha entrada em substituição e do fato de eu estar com o texto na mão.

Primeira entrada. O público, muito generoso, embarca na experiência de ver uma sessão única. Teatro já é único, mas nesse dia, mais do que nunca, seria único para os outros atores que estavam em cena também. Um elemento novo estava ali. Um novo corpo, uma nova voz, um novo ritmo. Sobretudo, a memória da contracena com um jogador tão pleno que é Paulo de Pontes.

Paulinho é gênio! E sei de perto a importância que essas apresentações em Recife tinham para ele. Puxei meu amigo em meus pensamentos e tentei trazê-lo para perto. Sim, estávamos juntos. E assim aconteceu. Primeiro ato, segundo ato, público disponível.

Foi emoção à flor da pele. Que texto belo o de Newton! Tantas camadas.

Foi divertido, na medida do possível. Foi de verdade, com olhos e ouvidos presentes. Foi o que pude fazer. Foi teatro, jogo, “to play or not to play?”. Entre o “ser ou não ser”, escolhemos o ser e fomos. Um só corpo. Como o teatro tem que ser.

Sinto que só agora estou acordando desse grande Sueño. Torço muito para que o espetáculo volte ao Recife, com Paulo de Pontes no lugar que lhe cabe, mas preciso dizer o quanto foi uma experiência inesperada, louca e incrível. Teatro! Evoé!

Registro no palco do Teatro de Santa Isabel. Foto: arquivo pessoal

 

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Festival Recife 2016 divulga programação

Memórias de um cão é baseada na história de Quincas Borbas, obra de Machado de Assis. Foto: Arthur Chagas

Memórias de um cão é baseada na história de Quincas Borbas, obra de Machado de Assis. Foto: Arthur Chagas

A programação do 18º Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN) foi divulgada oficialmente nesta quinta-feira (10) pela Prefeitura do Recife. Nos últimos anos, o festival vem sofrendo com cortes orçamentários, crise de identidade e até mesmo com a ameaça de sua extinção. Em 2013, primeiro ano da gestão Geraldo Júlio, recebeu duras críticas; em 2014, não foi realizado. Ano passado, ocorreu a duras penas, com uma programação arranjada às pressas e sem recursos suficientes.

Nesta edição, 17 espetáculos de grupos de Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Ceará integram a programação, que começa no sábado (19) e segue até o dia 27 de novembro, nos Teatros de Santa Isabel, Apolo, Barreto Junior, Hermilo Borba Filho e Luiz Mendonça. O FRTN é uma realização da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Desde o ano passado, a Gerência de Artes Cênicas, sob a coordenação de Romildo Moreira, é a responsável pelo festival. Nos anos anteriores, a função era do Centro Apolo-Hermilo.

Em Nós, sete pessoas partilham angústias e esperanças enquanto preparam a última sopa. Foto: Guto Muniz

Em Nós, sete pessoas partilham angústias e esperanças enquanto preparam a última sopa. Foto: Guto Muniz

Latão volta ao Recife com peça sobre movimento grevista no ABC. Foto:

Latão volta ao Recife com peça sobre movimento grevista no ABC. Foto: Sérgio de Carvalho/divulgação

Entre os destaques da programação, o grupo Galpão, com o espetáculo Nós, dirigido por Márcio Abreu, um manifesto poético-político sobre o nosso tempo, com atuação impactante especialmente de Teuda Baura; o grupo Latão, que volta ao FRTN com O pão e a pedra, um espetáculo politicamente engajado, sobre a greve que aconteceu na região do ABC, em São Paulo, em 1979; e Memórias de um cão, do Coletivo Alfenim, que abre o festival.

Entre os espetáculos locais, Nossos Ossos, do Coletivo Angu de Teatro; MEDEIAPonto, com Augusta Ferraz; e Saudosear – A noite insone de um Palhaço, com Walmir Chagas.

Ainda na programação, o Conta Causos, do Doutores da Alegria. Os atores/palhaços Enne Marx, Fábio Caio, Greyce Braga, Juliana de Almeida e Tamara Floriano apresentam uma espécie de relato encenado das vivências dos palhaços nos hospitais.

Doutores da Alegria contam vivências dos hospitais. Foto: Léo Caldas

Doutores da Alegria contam vivências dos hospitais. Foto: Léo Caldas

Entre as ações formativas, o festival promove uma oficina/residência com o diretor e professor Sérgio de Carvalho, da Cia do Latão, sobre o teatro épico-dialético.

O homenageado da edição 2016 do festival é o Mamulengo Só-Riso, fundado há 42 anos em Olinda. Para celebrar o grupo, será instalada uma exposição, narrando a trajetória da trupe, no Centro Apolo Hermilo.

Os ingressos para as apresentações do festival custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL 2016

19/11 (sábado)
Memórias de um Cão – Coletivo Alfenim – PB
Teatro de Santa Isabel, às 20h
Duração: 1h20 / Indicado para maiores de 14 anos

20/11 (domingo)
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 / Livre para todos os públicos

HARU – A primavera do Aprendiz – Rapha Santacruz Produções – PE
Teatro Barreto Júnior, às 16h30
Duração: 60 min / Livre para todos os públicos

Nossos Ossos – Coletivo Angu de Teatro – PE
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 1h20 / Indicado para maiores de 14 anos

21/11 (segunda)
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo, às 16h30
Duração: 1h10 / Livre para todos os públicos

MEDEIAPonto – Grupo Pharcas Sertanejas – PE
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 1h10 / Indicado para maiores de 14 anos

O Mascate, a Pé rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas com Objetos – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 60 min / Indicado para maiores de 14 anos

22/11 (terça-feira)

O Mascate, a Pé rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas com Objetos – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 60 min – Indicado para maiores de 14 anos

H(EU)stória – O tempo em transe – Júnior Aguiar – PE
Teatro Barreto Jr, às 20h
Duração: 1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

23/11 (quarta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

24/11 (quinta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Saudosear – A noite insone de um Palhaço – Walmir Chagas – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 / Indicado para maiores de 14 anos

Walmir Chagas é dirigido por Moncho Rodriguez. Foto: Pedro Portugal

Walmir Chagas é dirigido por Moncho Rodriguez. Foto: Pedro Portugal

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração:1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

25/11 (sexta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Dois idiotas sentados cada qual em seu barril – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr, às 20h
Duração: 50 min – Indicado para todos os públicos

26/11 (sábado-feira)
O menino e a cerejeira – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr. , às 16h30
Duração: 60 min / Livre para todos os públicos

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Medida por medida – Teatro Popular de Ilhéus – BA
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30h – Indicado para maiores de 12 anos

Dia 27/11 (domingo)
Vento forte para água e sabão – Cia Fiandeiros de Teatro – PE
Teatro de Santa Isabel, às 16h
Duração: 55 min – Livre para todos os públicos

Sebastiana e Severina – Kamio Kaze – PE
Teatro Barreto Junior, às 16h30
Duração 1h10 – Indicado para todos os públicos

Fishman – Grupo Bagaceira – CE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 – Indicado para maiores de 14 anos

Fishman, do grupo cearense Bagaceira. Foto: Lina Sumizono

Fishman, do grupo cearense Bagaceira. Foto: Lina Sumizono

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Teodorico Majestade – Teatro Popular de Ilhéus – BA
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30 / Indicado para todos os públicos

Programação Extra:

Dia 20/11
Exposição Mamulengo Só-Riso
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Abertura: às 10h
Entrada franca

Dia 22/11
Leitura Dramatizada
Medéia – O Evangelho – Albemar Araújo
Adaptação da obra de Eurípides
Teatro Joaquim Cardozo, às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 23/11
Conta Causos – Doutores da Alegria – PE.
Teatro Joaquim Cardozo, às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 26/11
Lançamentos: Livros, revista e o projeto: Teatro tem programa.
Com: Paulo Vieira, Pedro Vilela e Leidson Ferraz.
Centro Apolo Hermilo, às 15h. Entrada Franca.

Programação formativa:

De 16 a 19/11
Oficina/residência: O teatro épico-dialético
Ministrada por: Sérgio de Carvalho – SP
Local: Centro Apolo/Hermilo
Das 9 às 13h. Participação gratuita.

Dia 20/11
Seminário de Crítica Teatral – 2016
Tema Geral: A arte secreta do teatro – encontros infinitos
Como se forma e se quebra tradição teatral: Mestres e discípulos do teatro russo
Palestrante: Helena Vassina
Mediador: Diego Albuck
Local: Centro Apolo Hermilo

Dia 21/11
A arte solitária do autor – a criação dramatúrgica
Palestrantes: Paulo Vieira e João Denys
Mediador: Vinícius Vieira

Dia 22/11
A arte secreta da crítica – o exemplo de Sábato Magaldi
Palestrantes: Bruno Siqueira, Astier Basílico e Ivana Moura.
Mediadora: Isabelle Barros

Dia: 26/11
Mesa de debates: Pesquisa de grupo / investimentos e resultados
Palestrantes: Sérgio de Carvalho; Luiz Reis e Rudimar Constâncio.
Mediador: Romildo Moreira
Centro Apolo/Hermilo, às 09h30

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Festival Recife mais uma vez na corda bamba

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

O Festival Recife do Teatro Nacional, que começa neste sábado (21) e vai até o dia 29, chega à 17ª edição. Em sua configuração geral, não apresenta uma proposta curatorial, nem traz a excelência da cena brasileira contemporânea, propostas que acompanharam a história do festival. O FRTN foi, ao longo dos anos, um instrumento para fazer chegar ao Recife montagens que dificilmente estariam nos palcos pernambucanos se dependessem apenas de bilheteria ou, sendo mais otimista, que levariam algum tempo para chegar, tendo que depender dos incentivos à circulação, como Myriam Muniz, Caixa Cultural e Petrobras.

Grande parte da programação do festival este ano é formada por montagens locais que estrearam agora em 2015 ou no ano passado. Uns dizem que é um festival da resistência, da coragem. Vamos destrinchar isso melhor…

Em 2014, o Festival Recife do Teatro Nacional não aconteceu por decisão da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR). A determinação foi anunciada sem haver um diálogo com quem faz teatro na cidade e isso provocou perplexidade e polêmica. A justificativa foi econômica. Falou-se em edições bienais. Falou-se em classe teatral para discutir o planejamento e o formato do festival nos anos seguintes.

Vale relembrar o que dizia o release enviado aos jornalistas sobre o cancelamento do evento:

“A partir deste ano o Festival Internacional de Dança do Recife (FIDR) e o Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN), ambos promovidos pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura (Secult) e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR), passam a ser bienais, em caráter de alternância. Desta maneira, em 2014 será realizada a 19ª edição do Festival dedicado à dança, em 2015 será a vez da 17ª edição do Festival do Teatro, e assim sucessivamente.

A decisão foi tomada pela Secretaria de Cultura e pela Fundação de Cultura Cidade do Recife no intuito de possibilitar um planejamento adequado a estas iniciativas, uma vez que a gestão reconhece o importante papel que estas ações cumprem na formação dos realizadores das artes cênicas, no intercâmbio entre diferentes expressões artísticas e ainda na formação de plateia. Contudo, são também Festivais que requerem volumes maiores de recursos da pasta e que precisam ser ajustados às demandas dos respectivos segmentos, garantindo investimento significativo para a produção do Teatro e da Dança na capital pernambucana.”

Palavras ao vento.

A ideia de tornar os festivais bienais, ainda bem, não foi à frente, mas continua faltando, justamente, planejamento. Até 2013, o FRTN era realizado através do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, ligado à Secretaria de Cultura. É preciso que se diga que houve, inclusive, nos dois encontros realizados pela Gerência de Artes Cênicas, ligada à Fundação de Cultura, para discutir as ações da gerência, uma reivindicação da classe artística para que o festival fosse realizado pela Gerência e não pelo Apolo-Hermilo. Mas tudo isso com a antecedência necessária ao planejamento, obviamente.

Não foi o que aconteceu. No fim do mês de julho, o Gerente de Artes Cênicas da Prefeitura, Romildo Moreira, recebeu das mãos do Presidente da Fundação de Cultura, Diego Rocha, a incumbência de fazer o FRTN. Para se ter uma ideia, o Festival Internacional de Dança do Recife, já coordenado pela gerência, e que aconteceu em outubro, estava completamente estruturado.

Além do pouquíssimo tempo para a produção de um festival que já não havia acontecido no anterior justamente “no intuito de possibilitar um planejamento adequado”, o presente de grego recebido pela Gerência de Artes Cênicas veio também com a notícia de que, ao invés do recurso de R$ 400 mil com o qual o festival foi produzido em 2013, agora seriam apenas R$ 200 mil.

Resultado? O FRTN ficou sem a possibilidade de fazer as convocatórias por edital, iniciativa que começou no festival de 2013 (que, convenhamos, não é atraente nem para as grandes companhias nem para os grupos mais experimentais) e sem verbas para trazer espetáculos relevantes do teatro brasileiro deste ano. Quer dizer, a cena contemporânea que permitisse a atualização do público do Recife para um teatro que está sendo criado, impregnado de todas as tendências da cena mundial.

Uma boa pergunta é: para onde foi o dinheiro que seria destinado ao FRTN do ano passado? Bem, a não realização do festival no ano passado deixou um hiato que a edição de 2015 não vai preencher. Teremos outra lacuna este ano, da forma como o festival está sendo realizado. Infelizmente. Não teremos as principais companhias no festival nem os experimentos que dificilmente excursionam em caráter comercial.

O olhar do espectador que não circula por festivais de teatro, nacionais e internacionais, foi prejudicado pela decisão da Secretaria que, por sinal, vem demonstrando que não tem garra ou cacife para lutar por mais verbas para sua pasta. Não, não adianta o prefeito Geraldo Julio alardear que a cultura é prioridade, se a sua gestão está fazendo aquele que já foi um dos festivais mais importantes do país, perder pertinência. Alardear que “a produção pernambucana será a grande atração” é querer fazer os artistas pernambucanos de trouxa. A produção pernambucana precisa sim ter representação no Festival Recife do Teatro Nacional. Isso ninguém discute. Mas, para a classe artística e para o público, a importância do FRTN não é levar à cena a produção local. Para isso, já existem outros caminhos, inclusive o Janeiro de Grandes Espetáculos que, mais uma vez, está lutando por verba.

O FRTN precisava acontecer? Sem dúvidas nenhuma. Isso era vital para que o festival não desaparecesse. Mas, justamente para que o festival não morra, é preciso bradar aos quatro cantos que ele não poderia ser realizado assim: sem prioridade, planejamento, orçamento.

Programação

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

O FRTN este ano homenageia o jornalista, ator e diretor Valdi Coutinho, profissional que durante mais de duas décadas assinou uma coluna crítica de teatro no jornal Diario de Pernambuco.

O festival segue até o dia 29 de novembro, com 16 produções, nacionais e locais, sendo 13 espetáculos pernambucanos (dez adultos e três infantis). Os três espetáculos visitantes são Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP); o Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA); e Presente de Vô, do grupo Ponto de Partida (MG).

A comissão de seleção dos espetáculos não teve muitas opções para fazer as escolhas, já que as propostas esbarravam em cachês e estruturas para trazer os espetáculos. O trabalho foi dirigido por Romildo Moreira e teve a participação de representantes de órgãos e entidades da classe teatral. São eles: Jorge Clésio (Secretaria de Cultura de Pernambuco); Andrea Morais Borges (Secretaria de Cultura do Recife); Ivo Barreto (Centro Apolo Hermilo); Ivana Moura (Apacepe); Roberto Xavier (Feteape) e Ivonete Melo (Sated/PE). Certamente voltaremos a tratar sobre esse assunto.

Programação 17º FRTN

Sábado (21):

Solenidade de Abertura com o espetáculo Rei Lear, da Remo Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 20h

Domingo (22):

Salada Mista, com a Cia. 2 Em Cena (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Como a Lua, da Mambembe Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 16h30

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

Obsessão, Produção de Simone Figueiredo (PE) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Segunda-feira (23):

Na solidão dos campos de algodão, da Cia. do Ator Nu (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Terça-feira (24):

Soledad, com Hilda Torres (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

A Receita, de O Poste Soluções Luminosas (PE) / Teatro Apolo, às 20h30

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Quarta-feira (25):

O canto do cisne, com Manoel Carlos (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Quinta-feira (26):

Cabaré Diversiones, com Vivencial Diversiones (PE) / Teatro Apolo, às 19h

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Salmo 91, com a Cênicas Cia. de Repertório (PE) / Espaço Cênicas Cia. de Repertório, às 20h30

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Sexta-feira (27):

Angelicus Prostitutus; da Matraca Grupo de Teatro (PE) / Forte das Cinco Pontas (Museu da Cidade do Recife), às 20h

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Sábado (28):

 Sistema 25, com produção de José Manoel (PE) / – Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h e 21h30

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA) / Teatro Apolo, às 19h

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Domingo (29):

As Travessuras de Mané Gostoso, Cia Meias Palavras (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

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