A atriz Juliette Binoche conquista o público e não a crítica em Avignon, diz o portal da RFI (Rádio Francesa de Informação Internacional). Seu espetáculo Senhorita Júlia, de August Strindberg, entusiasmou a plateia, mas não convenceu, no entanto, os críticos.
A famosa intérprete, Oscar de melhor coadjuvante em 1997 por seu papel no filme O Paciente Inglês, não pisava num palco de teatro francês desde 1988. E esse retorno foi cercado de muita expectativa. Juliette Binoche, aos 47 anos, chegou a comentar que estava com muito receio antes da estreia.
A adaptação contemporânea da peça do sueco Strindberg, escrita em 1888, feita pelo diretor francês Frédéric Fisbach, não conseguiu, segundo alguns críticos teatrais, “transmitir a densidade do texto, que trata não somente da paixão de uma aristocrata por seu empregado, mas principalmente da luta de classes e da relação de forças entre um homem e uma mulher”.
Fisbach colocou o conflito num apartamento moderno, “onde os convidados dançam freneticamente e os amantes discutem numa cozinha branca”, no lugar da família aristocrática da Escandinávia.
Para uns, Binoche conseguiu encarnar uma Júlia moderna, personagem trágica e complexa, contracenando com o ator francês Nicolas Bouchaud. Para outros, a caixa branca de vidro de Fisbach afastou o espectador da problemática principal da peça, a instabilidade das relações amorosas.
A crítica do Le Monde foi dura com relação à peça, apesar de destacar o trabalho de Binoche. O jornal diz que a atriz caiu numa armadilha nesse seu retorno ao teatro francês, depois da apresentação de A Gaivota, de d’Anton Tchekhov, exibida em 1988.
“O espetáculo é uma catástrofe”, prossegue o Le Monde. E a primeira razão apontada é própria escolha do texto. “Mademoiselle Julie é, na verdade, uma armadilha. Escrita em 1888 pelo sueco August Strindberg (1849-1912), ela fez escândalo na sua criação, em 1906, porque quebrou um tabu”.
Quando Strindberg escreveu o texto, diz a crítico do Le Monde, Miss Julie representava a última palavra da modernidade.
Mas “Mademoiselle Julie atravessou o século 20 com um gosto de enxofre que fascinou os diretores e ainda mais atrizes, sonhando com o papel de uma mulher em uma busca desesperada por liberdade. É porque o papel mais promete que faz… Hoje, a peça aparece em toda a sua nudez: instável, lotada de um pântano psicológico que relega Strindberg muito atrás de seu grande contemporâneo norueguês Henrik Ibsen”.
“… Assim vai o tempo em teatro, que pede, se quer enfrentar Miss Julie em 2011, para concentrar-se sobre ela um olhar firme ou iconoclasta. Não é o caso de Frédéric Fisbach”.
“… Juliette Binoche atua bem. Mas ela não pode lutar contra a encenação de Frédéric Fisbach. Nem contra essa impossível Julie, cuja a armadilha se fecha sobre ela. Apesar dela”.
Senhorita Júlia fica em cartaz no Festival de Avignon até 26 de julho. Depois, a peça deverá ser apresentada no Teatro Odéon em Paris e deverá fazer uma turnê em Londres e no Japão em 2012.