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Retrô 2011

Os artistas aguardaram: apoio, resultados dos editais atrasados, pagamento de fomentos. Como – ainda bem-diz a música de Marcelo Camelo (Casa pré-fabricada), “nessa espera, o mundo gira em linhas tortas”. Os caminhos não serem retos não é, definitivamente, ruim para a arte. Se o atraso no resultado do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) prejudicou a cena teatral pernambucana em 2011, serviu também ao propósito de mostrar que o teatro continua sendo uma arte de resistência; e que é possível sim levar ao palco produções de qualidade, a duras penas, mesmo sem incentivos oficiais. Para 2012, se as promessas e os prazos de editais forem realmente cumpridos, é bem provável que tenhamos um panorama de peças mais amplo, pelo menos em quantidade. Qualidade não foi o problema.

No Janeiro de Grandes Espetáculos, que começa na próxima quarta-feira, teremos pelo menos três estreias: Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth, Caxuxa, da Duas Companhias, e O pássaro de papel, com direção de Moncho Rodriguez e produção de Pedro Portugal e Paulo de Castro. Para o Magiluth, que tem sete anos de atividades, 2011 foi um ano de aprimoramento e, mais ainda, de alargar as possibilidades criativas. Estrearam a peça O canto de Gregório, sem apoio estadual ou municipal, “o que não é um mérito, é porque fazer teatro é mais forte do que a gente, mas é muito difícil”, conta Pedro Wagner, que interpreta Gregório. Ainda participaram do projeto Rumos Itaú Cultural, que possibilitou, através de edital, intercâmbios entre grupos.

Magiluth vai estrear Aquilo que meu olhar guardou para você. Foto: Thaysa Zooby

O Magiluth trabalhou com o Teatro do Concreto, de Brasília. E daí surgiu o novo espetáculo, que tem direção de Luis Fernando Marques, do grupo paulista XIX de Teatro. O grupo passa por um momento limite. “Eles já não são um grupo ‘de novos’. E precisam se manter. Espero que eles consigam esse equilíbrio de produção. Além de ser artista, tem que ter estrutura de produção, gestão”, complementa o professor Luís Reis.
Caxuxa, outra estreia, é uma remontagem, uma adaptação do texto de João Falcão. “Foi uma ideia de Claudio Ferrario. Fizemos essa peça, um musical, há 20 anos”, conta Lívia Falcão, que fez parte do elenco de Divinas, ao lado de Fabiana Pirro e Odília Nunes, que estreou ano passado.

Luiza Fontes, Regina Medeiros e Sofia Abreu estão no elenco de O pássaro de papel. Foto: Pedro Portugal

Ao longo de 2012, outras produções estão previstas. Jorge de Paula, Thay Lopes e Kleber Lourenço devem trabalhar a partir de um texto de Luiz Felipe Botelho, com direção de Tiche Vianna, do Barracão Teatro, de Campinas. Rodrigo Dourado está na direção de Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases, que tem no elenco Fátima Pontes e Leidson Ferraz. A Cênicas Companhia de Repertório, que fez o infantil Plutf – O fantasminha, está em fase de pré-produção do espetáculo baseado na formação de clowns, e deve montar outro infantil.

Cinema é uma coprodução entre a Cia Clara e o Espaço Muda. Foto: Nilton Leal

Jorge Féo, do Espaço Muda, está trabalhando em parceria com Anderson Aníbal, da Cia Clara, no projeto Cinema, com estreia prevista para abril. A Fiandeiros deve abrir o seu espaço, na Boa Vista, para a realização de temporadas, planeja fazer o infantil Vento forte para água e sabão, e ainda vai lançar o Núcleo de Teatro Novelo, com alunos saídos dos cursos ministrados pela companhia. Breno Fittipaldi e Ana Dulce Pacheco devem estrear, em maio, Encontro Tchekhov, também sem incentivos.

– Colaborou Tatiana Meira

Alguns registros:

Carla Denise fez documentário sobre Hermilo Borba Filho

Leda Alves, viúva de Hermilo Borba Filho, acalenta o projeto de lançar um livro sobre a obra de Hermilo e o Teatro Popular do Nordeste (TPN). “Seria uma obra envolvendo vários pesquisadores”, conta. No último mês de dezembro, a dramaturga e jornalista Carla Denise lançou o DVD Coleção Teatro – Volume 3 – Hermilo Borba Filho, que além de entrevistas com atores, diretores, pessoas que conviveram com Hermilo, traz ainda uma entrevista antiga com o próprio diretor.

O livro TAP – Sua cena & sua sombra: O Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991), de Antonio Edson Cadengue, foi lançado em novembro. Esse regaste, fundamental para entender a trajetória do teatro em Pernambuco, está disponível em edição rica em detalhes e fotos. Outra publicação importante foi o livro Transgressão em 3 atos: Nos abismos do Vivencial, escrito por Alexandre Figueirôa, Stella Maris Saldanha e Cláudio Bezerra.

O Teatro Experimental de Arte de Caruaru comemora 50 anos em 2012 com muitos motivos para comemorar. Se neste ano o Festival de Teatro do Agreste (Feteag) não ocorreu por falta de apoio e recursos, a Câmara Municipal de Caruaru já aprovou, no mês de novembro, uma verba de R$ 100 mil para que a mostra seja realizada. O grupo deve ainda estrear O pagador de promessas e lançar um livro. Neste ano, pela primeira vez, o TEA participou do Festival de Curitiba.

A publicitária Lina Rosa Vieira está com a agenda lotada para 2012. Em junho, o Festival Internacional de Teatro de Objetos (Fito) será realizado em Belo Horizonte e deve passar por Florianópolis e Curitiba. Está quase certo que o Fito, que foi sucesso de público no Marco Zero, seja realizado aqui, em setembro, trazendo o espetáculo francês Transports Exceptionnels. Já está confirmado é que o Sesi Bonecos do Mundo virá a Pernambuco em novembro.

Lina Rosa Vieira deve trazer o Sesi Bonecos do Mundo e o Fito novamente ao Recife


Pé na estrada

O compromisso com o teatro de grupo está levando as produções pernambucanas para outras cercanias. Não são peças organizadas apenas para cumprir uma temporada, mas fruto da pesquisa, da investigação de uma linguagem e estéticas próprias de cada coletivo. O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, que estreou em 2010, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, rodou vários festivais do país e deve circular em 2012.

O grupo já está em fase de pesquisa para o novo projeto, que encerra a trilogia em homenagem ao diretor e professor Marco Camarotti. “Crescemos esteticamente. Começamos como um coletivo, mas não tínhamos organização de grupo, gestão. E conseguimos perceber o quanto isso é importante. Nós nos mobilizamos e conseguimos levar o público ao teatro”, conta o diretor Jorge de Paula.

Já o grupo O Poste Soluções Luminosas está comemorando a aprovação nos editais do Myriam Muniz e Procultura, que vão possibilitar que o espetáculo Cordel do amor sem fim, que estreou também em 2010 e passou por vários festivais, faça circulação por lugares cortados pelo Rio São Francisco. Nessas cidades, o grupo também fará formação e já deve começar a pesquisar sobre os jogos e brincadeiras das crianças do Nordeste e as africanas.

Circuito

Valmir Santos, curador deste ano do Festival Recife do Teatro Nacional, fez uma mostra ousada. Em vez de trazer grupos renomados, que de alguma forma sempre fazem parte do festival, como o Galpão e a Armazém Companhia de Teatro, optou por trazer peças que dificilmente viriam ao Recife, por conta da falta de apoio e das distâncias, e que compõem o repertório de alguns grupos com propostas e trabalhos estéticos interessantes. Vimos por aqui, por exemplo, duas montagens que depois foram premiadas pela Associação Paulista de Críticos de Arte: Luis Antonio – Gabriela, da Cia Munguzá, e O jardim (Cia Hiato).

O Jardim, da Cia Hiato, de São Paulo, emocionou o público. Foto: Ivana Moura

Ainda assim, os grupos tradicionais não deixaram de vir ao Recife. A Armazém trouxe o novo trabalho Antes da coisa toda começar; bem antes disso, Marieta Severo e Andrea Beltrão apresentaram, finalmente, a peça de Newton Moreno, com direção de Aderbal Freire-Filho, As centenárias; Marco Nanini trouxe sua premiada Pterodátilos; e Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Débora Evelyn vieram ao Recife com Deus da carnificina.

Para 2012, a produtora Denise Moraes já promete novas produções. Velha é a mãe, com Louise Cardoso e Ana Baird, e direção de João Fonseca, deve ser apresentada no Recife de 9 a 11 de março, no Teatro de Santa Isabel. Já de 11 a 13 de março, Denise Fraga encena Sem pensar, direção de Luiz Villaça.

Muitos planos, pouco tempo

Muitas promessas e projetos, mas um prazo apertado. Afinal, este ano é de eleição municipal. Só no último mês de agosto, o diretor de teatro Roberto Lúcio assumiu oficialmente a Gerência Operacional de Artes Cênicas da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, e agora a correria é grande para que os projetos possam sair do plano das ideias. No fim de novembro, a gerência fez uma reunião com a classe (João da Costa nem de longe tem a aprovação dos artistas, como ficou claro nesse encontro). Maria Clara Camarotti, gerente de serviço de teatro, apresentou um plano que contempla, entre muitas ações, um seminário de políticas públicas para as artes cênicas, o lançamento de edital específico para ensaios dos grupos nos equipamentos da prefeitura, a elaboração de uma proposta de criação de uma escola técnica (que será apresentado ao governo do estado), a realização do Mascate: Mercado das Artes Cênicas, ações formativas em gestão, produção e elaboração de projetos, e a realização do Fórum dos Teatros.

Perdemos

José Renato Pécora
Faleceu em maio, aos 85 anos. Fundador do Teatro de Arena de São Paulo e responsável pela peça Eles não usam black-tie, que marcou os anos 1950. Morreu após sessão de 12 homens e uma sentença, dirigida por Eduardo Tolentino.

No mês de agosto, perdemos Ítalo Rossi


Ítalo Rossi

Mais de 400 montagens e 50 anos de carreira estão no legado de Ítalo Rossi, que morreu aos 80 anos, em agosto. Nascido em Botucatu, em São Paulo, seu último personagem foi no humorístico Toma lá dá cá, da Globo.

Enéas Alvarez
Jornalista, crítico de teatro, ator do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), advogado, padre da Igreja Siriana Ortodoxa de Olinda, Enéas Alvarez morreu aos 64 anos, em 21 de novembro. Há 20 anos, sofria com problemas de saúde agravados pela obesidade.

Sérgio Britto
Considerado um mestre do teatro brasileiro, o ator e diretor Sérgio Britto faleceu no dia 17 de dezembro, de problemas cardiorrespiratórios. Tinha 88 anos e 60 anos de carreira. Atuou e dirigiu mais de 130 peças e apresentava na TV o programa Arte com Sérgio Britto.

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Saiu o Myriam Muniz

Espetáculo da Fiandeiros fará circulação graças ao Myriam Muniz. Foto: Pollyanna Diniz

Saiu o resultado do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2011. O prêmio que concede um valor de até R$ 150 mil está dividido em duas categorias: para circulação ou para montagem e manutenção de atividades. O investimento divulgado foi de R$ 10 milhões.

Aqui do Recife, estão comemorando projetos como Noturnos, da Fiandeiros, que segundo Daniela Travassos disse no Facebook, vai circular por São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Niterói; e Cordel do amor sem fim, direção de Samuel Santos.

Confira aqui a lista de aprovados:

http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/11/Relação-selecionados_Prêmio-Funarte-de-Teatro-Myriam-Muniz_2011.pdf

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Quando alguém deixa de existir

Daniela Travassos como a artista de uma música só. Fotos: Pollyanna Diniz

Falando em Palco Giratório, fiquei me perguntando quando teremos a oportunidade de ver novamente o trabalho Paralelas do tempo – A teatralidade “do não ser”, fruto de uma pesquisa do grupo Fiandeiros, aprovada pelo Funcultura, sobre moradores de rua. Na realidade, não era necessariamente para virar uma montagem, mas a companhia tem nas mãos três textos e um belo “experimento” cênico sob a direção de André Filho.

Atores passaram pela experiência de ir para as ruas

Não sei vocês, mas eu tenho (ops, tinha!) um pouco de preconceito quando ouvia que uma peça abordava o tema ‘moradores de rua’. Vai ver foi trauma de um espetáculo que vi na época do colégio e saí horrorizada: eram os moradores de rua na visão de uma classe média elitista, que nem sabia do que estava falando.

A Fiandeiros sabia que corria esse risco e, por isso mesmo, foi preciso sofrer na pele. Foram para as ruas eles mesmos como mendigos, sentiram medo, viram o problema de perto, conheceram histórias, foram ignorados até por “conhecidos”.

Essa experiência resultou em três textos e, consequentemente, quadros dramatúrgicos apresentados na sede do grupo, na Boa Vista, no dia 21 de maio. Depois da encenação, ainda teve um debate bem interessante, quando os atores tiveram a oportunidade de contar como foi o processo do trabalho.

No primeiro quadro, intitulado Salobre, Manuel Carlos e Daniela Travassos interpretaram um ex-palhaço e uma garota que só sabia tocar uma música na sanfona. Ele foi queimado na rua; ela o salvou. Ele perdeu os filhos; ela era a única companhia. Tudo o que tinham estava em malas e sacos. Na memória. Mas “qual o mapa de saída deste lugar?”, quando estamos falando de “gente que se perdeu no tempo de voltar”. Mas é impossível não aplaudir o palhaço e ele nos traz a esperança, mesmo que incerta, de um amanhã.

Manuel Carlos e seu ex-palhaço

No segundo, O presente, acompanhamos duas mulheres vítimas de uma enchente, que se encontraram há dez anos. Uma delas é cega (Kellia Phayza) e espera pela filha que nunca chega. A outra (Paula Carolina) se tornou a única companhia, a guia, o ombro, a cúmplice. Nos sacos carregados de um lado para o outro, “só o que o tempo botou e isso é muita coisa, porque é o mundo todo”. Elas não sabem para onde ir e sentem falta do tempo em que conseguiam sonhar. Mas é mesmo preciso ser moradora de rua para se sentir assim?

Kellia Phayza e Paula Carolina no segundo quadro do experimento

O último quadro, A cura, encenado por Jefferson Larbos, foi o que mais me causou estranhamento e certa “repulsa”. Tratou de uma realidade muito comuns às ruas: a loucura e as drogas. Talvez seja o mais distante porque é o que menos fazemos questão de ver, o mais visceral, aquele homem numa situação tão deplorável conversando com um manequim em momentos de violência ou solidão.

Jefferson Larbos em A cura

O grupo conseguiu atuações bastante tocantes e foi além do tema proposto. Não trouxe ao palco só histórias de moradores de rua, mas tratou de solidão, abandono, traumas sexuais, medo, violência, tempo. Um espetáculo que merecia ser visto nos teatros – ou mesmo no próprio espaço da Fiandeiros. Porque faz com que mude algo, com que pelo menos o assunto seja discutido e, quem sabe, possamos enxergar quem deixou de existir, mesmo estando ali, na nossa frente.

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Política não vai ao teatro

Peça Minha cidade foi contemplada, mas ainda não recebeu o fomento às artes cênicas da Prefeitura do Recife

Há um paradoxo na cadeia produtiva do teatro no Recife. Mais ousados para experimentar e construir uma linguagem cênica própria, os grupos tomam força, iniciativas alternativas surgem; os festivais conseguem se consolidar. Economicamente, no entanto, essa arte dos palcos e das ruas está enfraquecida. Relegada a segundo plano pelas políticas culturais, principalmente por parte da Prefeitura do Recife.

“Isso é um angu de caroço que não tem tamanho. Porque ao menos o Governo do Estado, através da Fundarpe, tem o Funcultura, que embora precise ser aprimorado, é um modelo melhor. Na prefeitura, o regime é outro. O diálogo inexiste. O Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) aprova projetos para que possamos captar junto à empresas e aí ela tem desconto de ICMS (ISS/erro nosso e não do entrevistado!). Na esfera federal, com empresas do porte da Petrobras, isso pode funcionar. Mas não na esfera municipal, com produções e empresas menores”, explica André Filho, diretor da companhia Fiandeiros.

“Nós discutimos o SIC há dez anos e nada acontece”, diz Paula de Renor, uma das produtoras do Janeiro de Grandes Espetáculos (festival realizado pela Associação de Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco). “A Secretaria de Cultura do Recife não tem dinheiro e, consequentemente, não tem força e nem autonomia. Há um distanciamento visível entre a Fundação de Cultura, que detém o dinheiro, e a secretaria. Nesse governo, não se encontrou o lugar da cultura”, complementa.

As reclamações sobre o SIC são apenas a ponta do iceberg. A Prefeitura do Recife também acumula dívidas. O Prêmio de Fomento às Artes Cênicas, que destina anualmente uma verba de R$ 100 mil para ser dividida entre cinco produções – que podem ser teatro, dança e circo – está com o seu pagamento atrasado há mais de um ano. O resultado da edição 2009 foi divulgado em março do ano passado, mas até agora os contemplados não receberam os pagamentos.

O valor de R$ 100 mil é o mesmo desde que o fomento foi criado, em 2001, pelo ex-prefeito João Paulo. “Quando falamos nos festivais pelo país afora que o nosso fomento tem esse valor, as pessoas não acreditam! Destinar R$ 20 mil para realizar uma montagem é um desrespeito com a classe”, afirma André Filho.

Ainda sem ter o prêmio depositado na conta bancária, Ana Elizabeth Japiá decidiu que continuaria o projeto de montar o espetáculo infantil Minha cidade, que estreou em setembro do ano passado. Resultado: está pagando um empréstimo e ainda tem dívidas para quitar. “Acreditei que a Prefeitura do Recife honraria suas dívidas. Nós só conseguimos pagar a estrutura material da peça, mas não os serviços. É um constrangimento e nós perdemos o nosso crédito”, diz.

Mesmo com o pagamento do fomento de 2009 atrasado, a Prefeitura lançou o de 2010, que teve as suas inscrições encerradas, de acordo com o edital, no dia 28 de fevereiro. “Nós pretendemos reunir os contemplados de 2009 e entrar com uma ação para que esse edital de 2010 seja cancelado até que o anterior seja pago, o que é lógico”, finaliza.

Espetáculo Ato, do Magiluth, nunca recebeu a verba de circulação do projeto Recife Palco Brasil

Como é difícil fazer cultura no Recife

Já faz parte do cotidiano da produtora Paula de Renor. Ela acorda, senta na mesinha ao lado do telefone. As ligações são para a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e para a Prefeitura do Recife, que estão devendo ao festival Janeiro de Grandes Espetáculos. “Nós realizamos projetos, assinamos convênios. E, embora seja previsto, não existe um prazo real para que os pagamentos sejam feitos”, avalia.

“Há uma cobrança de profissionalismo por parte dos produtores, mas o governo não faz o mesmo. Todos os grupos locais que participaram do festival ainda esperam pagamento. As pessoas acreditam que o governo não pagou, porque confiam na gente. Mas, ainda assim, diariamente recebemos e-mail, as pessoas querem prazos e nós não temos”, diz. O Governo do Estado deve R$ 250 mil ao festival e a Prefeitura do Recife quitou 60% da dívida total de R$ 85 mil.

Os grupos pernambucanos que se destacaram no Janeiro de Grandes Espetáculos também aguardam outra decisão da Prefeitura do Recife. Luciano Alabarse, coordenador do Porto Alegre em Cena, fez um convite para que fosse realizada uma mostra paralela só com espetáculos de teatro, dança e música do Recife durante o festival gaúcho. As passagens seriam pagas através do convênio Recife Palco Brasil, idealizado para que grupos pernambucanos pudessem fazer uma circulação nacional, mas a Secretaria de Cultura ainda não deu uma posição definitiva.

O Recife Palco Brasil foi a concretização de um pleito feito por anos pelos artistas da cidade. Foi criado em 2007, no governo do ex-prefeito João Paulo. No primeiro ano, disponibilizou R$ 50 mil para serem divididos entre três grupos; e R$ 100 mil em 2008, para 15 companhias. Em 2009, quando João da Costa assumiu a prefeitura, houve a promessa de que a Apacepe receberia R$ 30 mil para viabilizar o projeto, o que não aconteceu.

O Grupo Magiluth, em atuação há sete anos na cidade, aguarda desde então o pagamento do Recife Palco Brasil. O grupo receberia verba de passagens para apresentar o espetáculo Ato em Porto Alegre, Brasília, Maranhão e Fortaleza. A companhia gastou cerca de R$ 15 mil, mas não recebeu o valor. “Nunca ganhamos incentivo público para montar nenhum espetáculo e tiramos esse valor do nosso próprio bolso, com a promessa de que seria pago”, conta o ator Giordano Castro.
“Em 2010, o convênio foi realizado através de passagens e quatro grupos conseguiram circular, mas o valor não aumentou. Este ano, ainda não temos resposta. É um retrocesso para a classe que lutou tanto por esse convênio”, afirma Paula.

Pouco investimento se reflete nos equipamentos

Os poucos investimentos da administração municipal no teatro se refletem também nas condições das casas de espetáculos. O grupo Magiluth fez uma temporada recente com o espetáculo O canto de Gregório no Teatro Hermilo Borba Filho e pode comprovar a precariedade dos equipamentos. “Os refletores e o som estão defasados, sucateados”. conta o ator Giordano Castro.

“Os teatros Apolo e Hermilo precisam dividir os poucos equipamentos que têm. Além disso, as pessoas que trabalham nesses locais precisam de aperfeiçoamento técnico”, conta Viviane Bezerra, que fez uma residência de três meses ano passado no Apolo Hermilo com a Trupe de Copas para a montagem de Quase sólidos.

Com o Teatro do Parque fechado para uma reforma que ainda não começou, o recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça precisaria abarcar uma demanda de produções que não tem espaço na cidade, mas a casa ainda não dispõe de uma equipe técnica e administrativa completa para operar.

Ano passado, durante as comemorações pelos 160 anos do Teatro de Santa Isabel, a classe artística já mostrava a insatisfação diante da “ausência” de uma política cultural específica para a área por parte da Prefeitura do Recife. O estopim da crise foi a programação da semana comemorativa, que não contemplava as artes cênicas pernambucanas. “Mas esse foi apenas o ponto de partida. A nossa manifestação, que reuniu uma parcela significativa da classe artística, foi para que a prefeitura estruturasse uma política pública”, afirma o diretor Samuel Santos.

Confira o e-mail enviado para a Prefeitura do Recife pela reportagem e as respostas da secretaria de Cultura do Recife:

1) Qual a previsão para que o fomento às artes cênicas, que teve o resultado divulgado em março do ano passado, seja pago? Existe alguma previsão do montante desse fomento – R$ 100 mil, para ser dividido entre cinco grupos – ser aumentado?

O prêmio de Fomento às Artes Cênicas será pago até o final desse mês. A ampliação do prêmio para a próxima edição será proposta pela Secult/FCCR ao Conselho Municipal de Política Cultural.

2) Existe algum projeto para que o Recife Palco Brasil seja institucionalizado, alguma verba pré-definida para este apoio? Este ano, o diretor do festival de Porto Alegre propôs aos artistas da cidade, durante o festival Janeiro de Grandes Espetáculos, a realização de uma semana de artistas pernambucanos durante o festival, que é internacional, um dos maiores do país. A Prefeitura disse que apoiaria com passagens para os artistas, mas até agora isso não se concretizou. Vocês vão ajudar de alguma forma? Qual a importância de uma ação dessas?

O Recife Palco Brasil é um projeto de Apacepe em parceria com o Janeiro de Grandes Espetáculos, logo, não cabe à Prefeitura institucionalizar o projeto. Como fazemos desde 2007, vamos apoiar mais uma edição do Palco Brasil. O valor do apoio será definido de forma a permitir a participação dos artistas pernambucanos no Festival de Porto Alegre.

3) Ainda há uma dívida do ano de 2009 do Recife Palco Brasil, quando artistas viajaram (como o grupo Magiluth) e a prefeitura prometeu que apoiaria. Mas isso nunca foi feito. Existe alguma previsão para que esse pagamento seja realizado?

Em 2009, o Recife Palco Brasil recebeu, via Apacepe, um apoio da Prefeitura no valor de R$ 30 mil (empenho de número 3784). O referido empenho, no entanto, foi cancelado porque a entidade não entregou a prestação de contas referente ao patrocínio.

4) Sabemos que os nossos teatros estão sucateados. Soube, por exemplo, que está sendo realizada uma licitação para a compra de duas mesas de luz – uma para o Santa Isabel e outra para o Teatro Apolo; mas só o Centro Apolo Hermilo tem dois teatros e não um. A última reforma da casa, inclusive com compra de equipamentos técnicos, foi em 2000. Existe alguma previsão de compra de material técnico suficiente para essas casas?

Nenhum teatro administrado pela prefeitura está “sucateado”. O Santa Isabel e o Luiz Mendonça estão à altura, em termos de conservação, dos melhores palcos do país. O Barreto Júnior e o Apolo/Hermilo têm problemas pontuais, mas que, nem de longe, os transformam em casas de espetáculo “sucateadas”. Além das duas mesas de som/luz já licitadas, vamos investir no reforço da iluminação do Apolo/Hermilo e na reforma e ampliação da caixa cênica do Teatro do Nascedouro.

5) O teatro do Parque está fechado (o que dificulta ainda mais que as montagens circulem pela cidade), mas até agora a reforma não começou. Porque? Existe uma previsão?

A reforma do Teatro do Parque começará no segundo semestre de 2011 e abrigará, entre outras obras, a recuperação da caixa cênica, do telhado e da cabine cinematográfica. O término das obras está previsto para janeiro de 2012.

6) O Teatro Luiz Mendonça está funcionando com pessoal emprestado, principalmente do Santa Isabel. Existe alguma previsão para que o Teatro Luiz Mendonça tenha a sua própria equipe administrativa e técnica?

Só poderíamos contratar funcionários para o Dona Lindu depois da aprovação, pela Câmara de Vereadores, da criação dos cargos correspondentes à sua estrutura funcional. Isso se deu apenas na semana passada. Os funcionários serão contratados nos próximos dias.

7) Os artistas reclamam que, há dez anos, discutem o SIC. Existe alguma previsão para que o SIC seja reavaliado? Vocês estudam alguma mudança nesse modelo?

Embora o assunto tenha sido tratado na matéria publicada na edição de hoje (16/05) do DP (Diario de Pernambuco), reiteramos que já está em atuação uma comissão de reformulação do Sistema de Incentivo à Cultura, iniciativa do Conselho Municipal de Política Cultural, e que inclusive já se iniciou o debate sobre o tema, em consonância com as diretrizes do Ministério da Cultura.

O Janeiro de Grandes Espetáculos, realizado em janeiro deste ano, só recebeu 60% do apoio financeiro prometido pela Prefeitura. Qual a previsão para que esse pagamento seja realizado?

O Janeiro de Grandes Espetáculos recebeu 70% do pagamento em março. A parcela final, condicionada à prestação de contas, foi encaminhada para pagamento no dia 12 de maio. O total do patrocínio é de R$ 85 mil.

Confira também a resposta da Fundarpe sobre o atraso no pagamento da verba destinada ao Janeiro de Grandes Espetáculos:
“Desse valor devido, R$ 100 mil já foram empenhados e pagos no início do ano. Falta o pagamento de R$ 150 mil que está entre as pendências da Fundarpe, mas isso está sendo estudado e a previsão é de que, até junho, esteja tudo pago”.

(Essa matéria faz parte da série Dívida cultural, que está sendo publicada no Diario de Pernambuco e no www.diariodepernambuco.com.br)

Aproveite para votar na nossa enquete! Deixe a sua avaliação sobre a política pública para a área de artes cênicas empreendida pela Prefeitura do Recife.

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Quer ser ator? Vá estudar!

Está aberta a temporada para as inscrições nos cursos teatrais oferecidos pelas instituições ou grupos da cidade. O Sesc Santa Rita, por exemplo, vai oferecer os módulos I e II do curso de Iniciação ao teatro. As aulas serão dadas por Célia Cardoso até o mês de julho: o primeiro módulo, terças e quintas, das 14h às 17h, e o segundo, segundas e quartas-feiras, das 15h às 18h. A mensalidade custa R$ 48 por mês e a taxa de matrícula é de R$ 5. Comerciários e dependentes pagam metade. Outras informações pelo telefone (81) 3224-7577.

Lá no Muda (Rua do Lima, 280, Santo Amaro), Jorge Féo vai começar as aulas do curso A simplicidade de atuar no dia 16 de março. São seis meses de duração, com aulas segundas e quartas-feiras, das 20h às 22h. Durante o curso, os alunos vão preparar uma montagem que será apresentada no Galpão do próprio espaço. A matrícula é R$ 20 e a mensalidade custa R$ 100. Vocês podem saber mais informações com o próprio Féo (81 8839-4008) ou através do e-mail muda280@gmail.com .

Na Escola de Teatro Fiandeiros, já vai começar a segunda turma. As inscrições estão abertas e seguem até 19 de março. As aulas iniciam no dia 5 de abril. Na grade, disciplinas como história do teatro, interpretação e análise de texto dramático. A mensalidade custa R$ 100 e a inscrições para a seleção R$ 10. As inscrições podem ser feitas quartas, quintas e sextas, das 18h às 21h30, e aos sábados, das 14h às 17h30. Informações: (81) 8694-9234/ 3077-0369.

O Totem, que abriu novo espaço na Avenida Cruz Cabugá, também está com atividades de formação. Mas, nesse caso, são oficinas curtas. Até este sábado, das 15h às 17h, a cantora e atriz paraibana Mayra Montenegro (não vale esquecer o nome da professora, né?! sorry!) está ministrando a oficina O canto do ator, que propõe exercitar a expressão vocal, não apenas ligada ao canto, mas também a linguagem falada e gestual. Também até o sábado, mas das 19h às 22h, o diretor, ator e professor de teatro Robson Haderchpek está fazendo a oficina Treinamento Pré-Expressivo, tomando por base o trabalho de “erradicação de bloqueios”, desenvolvido por Jerzy Grotowski. A prática será desenvolvida a partir dos princípios do treinamento energético e do estudo de elementos técnicos (Pantera, Samurai, Cochi e Jogos com Bastões). Será realizado ainda um experimento com base na codificação corporal de imagens e na ritualização da cena. Para a primeira oficina, o investimento é de R$ 60 e, para a segunda, de R$ 80. As aulas já começaram, mas quem quiser participar, até hoje ainda dá tempo! Informações: (081) 8867-9316 e 3463-3739.

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