Apesar de todas as tentativas de paralisar o pensamento, o abraço, a emoção; a pulsação humana ainda é possível. O filosofo Didi-Huberman defende a plena experiência no livro Sobrevivência dos vaga-lumes. Os vaga-lumes do título espelham as múltiplas formas de resistência da cultura, do corpo, da ideia e diante dos fulgores ofuscantes do poder da política, da mídia e do capitalismo. O Feteag – Festival de Teatro do Agreste escolheu o livro de Didi-Huberman como farol para seguir a caminhada na edição deste ano.
A partir da articulação do mapa programático de espetáculos e ações formativas, o Feteag se propõe a refletir sobre a resiliência de grupos e ideias que acendem novas trilhas e formas de existência. A curadoria, então, aposta em proposições que investigam artisticamente as questões sociais, identitárias, políticas e afetivas. O caráter humana é friccionado, tensionado em peças de teatro, a dança, performance, circo e outras linguagens.
Criado há 41 anos, o Feteag chega à 31ª (pois não foi realizado em alguns anos) e enaltece a resistência dos artistas e fazedores de cultura; o papel transformador dessas atuações. O programa ocorre de 16 e 30 de setembro, no Recife e em Caruaru, com espetáculos pernambucanos, de outros estados do Brasil e internacionais, além de atividades formativas.
Na programação estão Pela Nossa Pele, de Yael Karavan (Israel) e Rita Vilhena (Portugal). O espetáculo aponta para o lugar onde vivemos e adverte que somos natureza. E que ações humanas estão provocando as catástrofes no planeta Terra, como enchentes, crises de refugiados, incêndios florestais e pandemias.
O inquieto Grupo Magiluth, do Recife, apresenta dois trabalhos Luiz Lua Gonzaga e Estudo Nº1: Morte e Vida. Já o Grupo São Gens que vem furando a bolha e se apresentando em vários festivais com Narrativas Encontradas Numa Garrafa PET na Beira da Maré, tem uma cena que destaca o espaço urbano do Recife e sua relação com as margens, do ponto de vista da favela e seus fluxos.
A atriz Janaína Leite (São Paulo), articula de forma radical temas historicamente inconciliáveis como maternidade e sexualidade. Apresenta Stabat Mater, peça que a participação de sua mãe Amália Fontes e um ator pornô.
A Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru) faz seu protesto com Poeta Preto, um grito, um desabafo com o ator Rosberg Adonay, que revisita os medos, angústias de homem negro, e apresenta-se como porta voz de todos aqueles que foram e são silenciados todos os dias.
O Teatro Agridoce (Recife) participa do Feteag com Trans(passar), peça com Sophia William e Aurora Jamelo, que expõe a vivência da mulheridade trans, evidenciando as dificuldades sociais sofridas por essa população no Brasil.
Gabriela Holanda (Olinda), em Sopro D’Água aposta na dimensão aquática, na materialidade ancestral-geológica a partir da compreensão de que somos água. Enquanto a e Cia REC (Rio de Janeiro), usa baldes, água, sabão e espuma para realizar a ação de limpar como gesto performativo e político em Lavagem.
O Coletivo FusCirco (Fortaleza) expõe sua comicidade com A Risita. Odília Nunes (Afogados da Ingazeira), mostra seu encanto de palhaça e bonequeira com Decripolou Totepou. O músico Rubi (Brasília), encerra a programação com o show Nem Toda Pausa É Espera.
Além dos espetáculos, o Feteag 2022 oferece duas atividades formativas. No dia 22, a diretora, atriz e dramaturga Janaína Leite participa da conversa Conexões entre teatro e pesquisa, com mediação dos professores Luís Reis e Virginia Maria Schabbach. O encontro acontece das 14h às 15h, no Teatro Milton Baccarelli (Centro de Artes e Comunicação da UFPE), com acesso livre.
Em Caruaru, Odília Nunes ministra a oficina Corpos brincantes – pensando a comicidade, de 26 a 30 de setembro, no Teatro João Lyra Filho. A oficina foca na prática e criação de cenas, a partir da experimentação de repertórios vivenciados pela orientadora. As inscrições podem ser feitas através deste link: https://forms.gle/nNwWSMzL8XDLcLPC6.
O FETEAG 2022 é uma realização do Teatro Experimental de Arte (TEA) e conta com incentivo do Funcultura e apoio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Fundação de Cultura de Caruaru e SESC PE.
O FETEAG 2022 é uma realização do Teatro Experimental de Arte (TEA) e conta com incentivo do Funcultura e apoio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Fundação de Cultura de Caruaru e SESC PE.
Este programa cênico integra a Cena Expandida, articulação que reúne o Cena Cumplicidades – Festival Internacional de Artes da Cena @ccumplicidades e cenacumplicidades.com.br (10 a 30 de setembro), o FETEAG – Festival de Teatro do Agreste – @feteag e feteag.com.br (20 a 30 de setembro); o FETED – Festival Estudantil de Teatro e Dança – @feted.pe (8 a 18 de setembro), o Reside – Festival Internacional de Teatro de PE – @residefestivalbr e residefestival.com.br (22 a 28 de setembro), e o Transborda – as linguagens da cena – @sescpe (1º a 17 de setembro), do SESC PE.
PROGRAMAÇÃO
16/09
Luiz Lua Gonzaga
Grupo Magiluth (Recife/PE)
Local: Largo da Imperial Matriz da Várzea (Paróquia Nossa Srª do Rosário – Recife)
Horário: 17h
17/09
Poeta Preto
Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru/PE)
Local: Teatro João Lyra Filho (R. Visc. de Inhaúma, 999 – Maurício de Nassau, Caruaru)
Horário: 20h
20/09
Pela Nossa Pele
Yael Karavan e Rita Vilhena (Portugal)
Local: Teatro Apolo-Hermilo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h
21/09
Stabat Mater
Janaína Leite (São Paulo/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h
22/09
Stabat Mater
Janaína Leite (São Paulo/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h
23/09
Poeta Preto
Trupe Veja Bem Meu Bem (Caruaru/PE)
Local: Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (Rua Mariz e Barros, 328, Bairro do Recife – Recife)
Horário: 20h
24/09
A Risita
Coletivo FusCirco (Fortaleza/CE)
Local: Academia das Cidades (R. Maria Antonieta, 578, Salgado – Caruaru)
Horário: 17h
Lavagem
Cia REC (Rio de Janeiro/RJ)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
25/09
A Risita
Coletivo FusCirco (Fortaleza/CE)
Local: Estação Ferroviária (Rua Silva Filho, s/n, Maurício de Nassau – Caruaru)
Horário: 17h
Lavagem
Cia REC (Rio de Janeiro/RJ)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
26/09
Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professora Cesarina Moura Vieira Costa (Rua Profª. Mirian Vieira Costa Vila do Rafael 2° Distrito – Vila Do Rafael, Caruaru)
Horário: 8h
Trans(passar)
Teatro Agridoce (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
27/08
Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professor José Florêncio Neto Machadinho (R. Olegário Bezerra, s/n, São Francisco – Caruaru)
Horário: 8h
Narrativas Encontradas Numa Garrafa PET na Beira da Maré
Grupo São Gens de Teatro (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
28/09
Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Presidente Kennedy (R. Antonio Teles, Agamenon Magalhães – Caruaru)
Horário: 10h
Sopro D’Água
Gabriela Holanda (Olinda/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
29/09
Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professora Teresa Neuma Pereira Pedrosa (Rua Maria Júlia da Conceição, s/n, Cedro – Caruaru)
Horário: 9h
Estudo Nº1: Morte e Vida
Grupo Magiluth (Recife/PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
30/09
Decripolou Totepou
Odília Nunes (Afogados da Ingazeira/PE)
Local: Escola Municipal Professor Leudo Valença (Rua Odilon Ramos da Silva, Rendeiras – Caruaru)
Horário: 8h
Show – Nem toda pausa é espera
Rubi (Brasília/DF)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Rua Rui Limeira Rosal, s/n, Petrópolis – Caruaru)
Horário: 20h
Entrevista: Fábio Pascoal – diretor do Feteag
– Fábio, o Feteag tem mais de 50 anos e nesse tempo festival mudou de perfil? Quais as marcas dessas mudanças, antes e de agora?
O Feteag foi criado em 1981 com o objetivo de expandir as ações de formação praticadas pelo TEA – Teatro Experimental de Arte, ou seja ele tem 41 anos, e sua atualização faz parte do próprio percurso do teatro, com foco principal na profissionalização, porém sem perder o seu grande norte que é a formação de público, desenvolvido através de um trabalho contínuo junto a classe estudantil, principalmente do ensino fundamental da rede pública de ensino.
– O que te motiva, o te move a tocar o Feteag? O que você busca com isso?
Nascido e criado nas coxias do teatro, seria impossível não desenvolver o gosto por ele, conforme Bourdieu, e realizá-lo é sempre me colocar em novos desafios, pois isso é o que move a vida.
– Qual a posição do seu festival no mapa da cidade (e do país) no que se refere à formação de público, a balançar as estruturas, a honrar a tradição nas artes cênicas ou traçar pontes com o contemporâneo?
Primeiro gostaria de lembrar que o FETEAG é uma ação conjunta de produtores, curadores e artistas, que juntamente com o público compõem o grupo de “fazedores de festivais”, como nos lembra Felipe de Assis do FIAC-BA, e o que procuramos é sempre nos colocar em risco, para que a cada edição possamos proporcionar uma nova experiência ao espectador, com uma curadoria que busca aprofundar o diálogo com a cena contemporânea nacional e internacional.
– Como você interpreta as políticas públicas para as artes da cena do Recife e de Pernambuco? O que é prioritário e urgente?
O Recife, Caruaru, Pernambuco e o Brasil andam a passos curtíssimos quando pensamos em políticas de incentivos culturais. Em Pernambuco temos um edital de fomento que se encontra estagnado, em termos de valores de aportes, há anos, e com uma lei de fomento via mecenato que não sai do papel e que poderia ser a salvação para as produções já consolidadas no calendário cultural, como os festivais, que a cada ano tem que concorrer com os iniciantes e que, sinceramente, acho isso muito desleal.
– Fale brevemente do “cardápio” dessa edição, os trabalhos. E como foi viabilizada a edição?
Para elaborarmos o “cardápio” de cada edição começamos a sonhar pelo menos 2 anos antes para assim podermos estabelecer parcerias importantes, como com os institutos internacionais. Esta edição foi pensada em 2020, quando já estávamos sondando possíveis atrações e está sendo viabilizada pelo edital Funcultura PE, nosso incentivador, e os apoios fundamentais da Prefeitura de Caruaru/Fundação de Cultura, SESC e Prefeitura do Recife/Secult que nos apoio via ação Cena Expandida.
– A praxe dos festivais em Pernambuco é tocar essas iniciativas na raça. Isso é motivo de orgulho ou preocupação?
É um motivo de MUITA preocupação, pois realizar um festival deve ser encarado como um trabalho e não um sacrifício, pois não temos a obrigação de fazê-lo, fazemos pois acreditamos na sua importância para nossa evolução enquanto profissional e humano.
– Neste ano, com previsão para os seguintes, o seu festival integra a Cena Expandida com mais quatro festivais. O que as artes da cena (e seu público) da cidade do Recife da cidade do Recife e de Pernambuco ganham com essa ação?
Esta é uma ação gestada desde 2018 e que finalmente colocamos para rodar e que busca, neste momento específico, mobilizar o público e trazê-lo de volta ao teatro, depois de um período muito difícil para as artes presenciais que foi a pandemia.
– Qual a pergunta que não quer calar? Tem resposta?
Melhor será o amanhã.